Ao contrário do que poderia se supor, pensar em outra língua faz a tomada de decisão ser bem diferente, dizem os especialistas. Você quer...
Ao contrário do que poderia se supor, pensar em outra língua faz a tomada de decisão ser bem diferente, dizem os especialistas.
Você quer julgar um risco de forma mais clara e isenta? Sem preconceito? Pensar em outro idioma pode ajudar. Pelo menos é o que sugere o estudo publicado online na Psychological Science, no último dia 18.
Através de um experimento com 300 pessoas dos EUA e Coreia descobriu-se que pensar em uma segunda língua reduz profundamente tendências enganosas que influenciam de modo indesejado a forma como os riscos e benefícios são percebidos.
"Pode ser intuitivo que as pessoas façam as mesmas escolhas, independentemente da língua que estejam usando, ou que a dificuldade de utilizar uma língua estrangeira faria tomar decisões menos sistemáticas. Descobrimos, contudo, que o oposto é verdadeiro: Usar uma língua estrangeira reduz os preconceitos na tomada de decisão", escreveu a equipe de psicólogos liderados por Boaz Keysar, da Universidade de Chicago.
Segundo os pesquisadores, o raciocínio humano é formado por dois modos distintos de pensamento: um que é sistemático, analítico e intensamente cognitivo, e outro que é rápido, inconsciente e emocionalmente carregado.
Desse modo, é plausível que as exigências cognitivas de pensar em uma linguagem não-nativa e não-automática deixaria as pessoas com pouca folga mental o que, em última análise, aumentaria a sua dependência a um pensamento rápido e rasteiro. E isso reduziria o uso de uma intuição pouco confiável.
A pesquisa também mostra que as reações emocionais às palavras emocionalmente carregadas são silenciado em línguas não-nativas. É bastante plausível que tudo isso leve o indivíduo a deliberar mais.
Para investigar essas possibilidades, a equipe de Keysar desenvolveu vários testes baseados em cenários propostos originalmente pelo psicólogo Daniel Kahneman, que em 2002 ganhou o Prêmio Nobel de Economia por seu trabalho sobre a teoria do prospecto, que descreve como as pessoas intuitivamente percebem o risco.
Kahneman mostrou em um de seus exemplos que, dada a opção de salvar hipotéticas 200 de 600 vidas, ou tendo uma chance de salvar todas as 600 vidas ou mesmo nenhuma, as pessoas preferem salvar as 200. Porém, quando o problema é apresentado em termos de perda de vidas, muitas pessoas preferem mais a chance de apostar tudo-ou-nada, em vez de aceitar uma perda garantida de 400 vidas.
Ou seja, mesmo que a decisão seja objetivamente a mesma, as pessoas são avessas ao risco quando se trata de ganho mas aceitam melhor o risco em se tratando de perdas.
Mas essa tendência se manteria se a decisão fosse pensada em outra língua? Os pesquisadores tinham duas hipóteses que trariam resultados complemente opostos. Se o pensamento em uma segunda língua fizesse as pessoas pensarem menos sistematicamente, a equipe de Keysar supunha que a tendência seria ampliada. Por outro lado, se o pensar em uma segunda língua promovesse a deliberação, a tendência seria diminuída.
A primeira experiência envolveu 121 estudantes americanos que aprenderam japonês como uma segunda língua. Para alguns uma escolha hipotética foi apresentada em inglês: Para combater uma doença que mataria 600.000 pessoas, os médicos poderiam ou desenvolver um medicamento que salvaria 200.000 vidas, ou um medicamento com uma chance de 33,3% de salvar 600.000 vidas e de 66,6% de não salvar nenhuma vida.
Quase 80% dos estudantes escolheram a opção mais segura. Porém, quando o problema foi enquadrado em termos de perda ao invés de salvar vidas, a escolha da opção de segurança caiu para 47%. Ao considerar a mesma situação em japonês, no entanto, o número de opção segura-girava em torno de 40%, independentemente de como as escolhas foram abordadas. O papel do instinto pareceu reduzido.
Em outros dois experimentos subsequentes em que a situação hipotética envolvia a perda do emprego, ao invés de morte, administrado a 144 falantes nativos de coreano da Chung Nam National University, da Coreia, e 103 falantes de inglês no exterior estudando em Paris, encontrou-se o mesmo padrão de deliberação reforçada.
Assim, ao mesmo grupo de estudantes coreanos foi apresentada uma série de apostas hipotéticas de baixa perda e alto ganho. Quando se oferecia as apostas em coreano, apenas 57% aceitavam. Quando eram oferecidas em inglês, esse número subia para 67%, mais uma vez sugerindo deliberação elevada em uma segunda língua.
Também testaram como funcionaria a relação no mundo real. Para isso recrutaram 54 estudantes da Universidade de Chicago que falavam espanhol como uma segunda língua. Na experiência, cada um recebeu 15 dólares em notas de um dólar, cada um dos quais poderiam ser mantidos ou apostados em um sorteio. Se eles perdessem um lance, eles perderiam o dólar, mas se voltassem a vencer receberiam o dólar e mais US$ 1,50 - uma proposta que, ao longo de uma sequência maior de apostas, provavelmente seria rentável.
Quando o processo foi conduzido em Inglês, apenas 54% dos estudantes quiseram apostar, número que subiu para 71% quando apostaram em espanhol.
Os pesquisadores acreditam que uma segunda língua oferece um distanciamento cognitivo útil de processos automáticos, promovendo o pensamento analítico e reduzindo a reação emocional irracional.
Via Wired
[Via BBA]
Você quer julgar um risco de forma mais clara e isenta? Sem preconceito? Pensar em outro idioma pode ajudar. Pelo menos é o que sugere o estudo publicado online na Psychological Science, no último dia 18.
Através de um experimento com 300 pessoas dos EUA e Coreia descobriu-se que pensar em uma segunda língua reduz profundamente tendências enganosas que influenciam de modo indesejado a forma como os riscos e benefícios são percebidos.
Você tomaria as mesmas decisões em uma língua estrangeira como se fosse em sua língua nativa?
Frase inicial do abstract do artigo The Foreign-Language Effect - Thinking in a Foreign Tongue Reduces Decision Biases
"Pode ser intuitivo que as pessoas façam as mesmas escolhas, independentemente da língua que estejam usando, ou que a dificuldade de utilizar uma língua estrangeira faria tomar decisões menos sistemáticas. Descobrimos, contudo, que o oposto é verdadeiro: Usar uma língua estrangeira reduz os preconceitos na tomada de decisão", escreveu a equipe de psicólogos liderados por Boaz Keysar, da Universidade de Chicago.
Segundo os pesquisadores, o raciocínio humano é formado por dois modos distintos de pensamento: um que é sistemático, analítico e intensamente cognitivo, e outro que é rápido, inconsciente e emocionalmente carregado.
Desse modo, é plausível que as exigências cognitivas de pensar em uma linguagem não-nativa e não-automática deixaria as pessoas com pouca folga mental o que, em última análise, aumentaria a sua dependência a um pensamento rápido e rasteiro. E isso reduziria o uso de uma intuição pouco confiável.
A pesquisa também mostra que as reações emocionais às palavras emocionalmente carregadas são silenciado em línguas não-nativas. É bastante plausível que tudo isso leve o indivíduo a deliberar mais.
Para investigar essas possibilidades, a equipe de Keysar desenvolveu vários testes baseados em cenários propostos originalmente pelo psicólogo Daniel Kahneman, que em 2002 ganhou o Prêmio Nobel de Economia por seu trabalho sobre a teoria do prospecto, que descreve como as pessoas intuitivamente percebem o risco.
Kahneman mostrou em um de seus exemplos que, dada a opção de salvar hipotéticas 200 de 600 vidas, ou tendo uma chance de salvar todas as 600 vidas ou mesmo nenhuma, as pessoas preferem salvar as 200. Porém, quando o problema é apresentado em termos de perda de vidas, muitas pessoas preferem mais a chance de apostar tudo-ou-nada, em vez de aceitar uma perda garantida de 400 vidas.
Ou seja, mesmo que a decisão seja objetivamente a mesma, as pessoas são avessas ao risco quando se trata de ganho mas aceitam melhor o risco em se tratando de perdas.
Mas essa tendência se manteria se a decisão fosse pensada em outra língua? Os pesquisadores tinham duas hipóteses que trariam resultados complemente opostos. Se o pensamento em uma segunda língua fizesse as pessoas pensarem menos sistematicamente, a equipe de Keysar supunha que a tendência seria ampliada. Por outro lado, se o pensar em uma segunda língua promovesse a deliberação, a tendência seria diminuída.
A primeira experiência envolveu 121 estudantes americanos que aprenderam japonês como uma segunda língua. Para alguns uma escolha hipotética foi apresentada em inglês: Para combater uma doença que mataria 600.000 pessoas, os médicos poderiam ou desenvolver um medicamento que salvaria 200.000 vidas, ou um medicamento com uma chance de 33,3% de salvar 600.000 vidas e de 66,6% de não salvar nenhuma vida.
Quase 80% dos estudantes escolheram a opção mais segura. Porém, quando o problema foi enquadrado em termos de perda ao invés de salvar vidas, a escolha da opção de segurança caiu para 47%. Ao considerar a mesma situação em japonês, no entanto, o número de opção segura-girava em torno de 40%, independentemente de como as escolhas foram abordadas. O papel do instinto pareceu reduzido.
Em outros dois experimentos subsequentes em que a situação hipotética envolvia a perda do emprego, ao invés de morte, administrado a 144 falantes nativos de coreano da Chung Nam National University, da Coreia, e 103 falantes de inglês no exterior estudando em Paris, encontrou-se o mesmo padrão de deliberação reforçada.
Usar uma língua estrangeira diminui o efeito do enquadramento (framing).E a pesquisa foi mais além. Segundo a teoria do prospecto, a possibilidade de pequenas perdas superam a promessa de ganhos maiores, um fenômeno chamado de aversão míope a perdas e enraizado nas reações emocionais à ideia de perda.
Trecho da pesquisa
Assim, ao mesmo grupo de estudantes coreanos foi apresentada uma série de apostas hipotéticas de baixa perda e alto ganho. Quando se oferecia as apostas em coreano, apenas 57% aceitavam. Quando eram oferecidas em inglês, esse número subia para 67%, mais uma vez sugerindo deliberação elevada em uma segunda língua.
Também testaram como funcionaria a relação no mundo real. Para isso recrutaram 54 estudantes da Universidade de Chicago que falavam espanhol como uma segunda língua. Na experiência, cada um recebeu 15 dólares em notas de um dólar, cada um dos quais poderiam ser mantidos ou apostados em um sorteio. Se eles perdessem um lance, eles perderiam o dólar, mas se voltassem a vencer receberiam o dólar e mais US$ 1,50 - uma proposta que, ao longo de uma sequência maior de apostas, provavelmente seria rentável.
Quando o processo foi conduzido em Inglês, apenas 54% dos estudantes quiseram apostar, número que subiu para 71% quando apostaram em espanhol.
Eles fazem mais apostas em língua estrangeira porque esperam ganhar no longo prazo, e são menos afetados pela aversão tipicamente exagerada a perdas.
Os pesquisadores acreditam que uma segunda língua oferece um distanciamento cognitivo útil de processos automáticos, promovendo o pensamento analítico e reduzindo a reação emocional irracional.
Via Wired
[Via BBA]
Muito interessante. Mais uma razão para estudar outra língua.
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