Pela primeira vez, a China superou ligeiramente os EUA no número de artigos mais citados, uma medida-chave do impacto da pesquisa, de acordo...
Pela primeira vez, a China superou ligeiramente os EUA no número de artigos mais citados, uma medida-chave do impacto da pesquisa, de acordo com o Instituto Nacional de Política Científica e Tecnológica do Japão (NISTEP).Esse marco ofereceu novas evidências de que a bolsa de estudos da China, conhecida por sua quantidade crescente, a ponto de já haver superado os EUA quantitativamente, conforme também já mencionamos aqui, está conseguindo conquistar respeito por sua qualidade (e no prazo previsto na postagem anterior sobre o tema).
Fonte: Science
Visto no Brasil Acadêmico
Apesar dos estudiosos em cientometria discordarem sobre a melhor metodologia para medir o impacto das publicações, é fato que, ainda que outras métricas sugiram que os EUA ainda estão à frente, não chega a ser motivo para comemorar.
No novo relatório, o NISTEP analisou os 1% de artigos mais citados, a nata habitada por muitos ganhadores do Prêmio Nobel. Porém, há um complicador nesse estrato. Muitos desses artigos de elite têm autores de vários países, o que complica a análise.
Em um estudo, o NISTEP usou um método chamado “contagem fracionária” para dividir o crédito. Dessa forma, por exemplo, se uma instituição finlandesa e quatro norueguesas tiverem contribuído para um artigo, a Finlândia recebe 20% do crédito e a Noruega 80%.
Seguindo esse critério, a China foi responsável por 27,2% dos artigos mais citados publicados em 2018, 2019 e 2020, e os EUA por 24,9%.
Em seguida veio o Reino Unido, com 5,5%; O Japão ficou em 10º lugar (ressalta-se que os pesquisadores dos EUA ainda estavam um pouco à frente quando o NISTEP usou um método menos refinado que credita igualmente todos os países que contribuíram para um artigo altamente citado, independentemente de quantas de suas instituições estivessem envolvidas).
Cao Cong, estudioso de política científica do campus da Universidade de Nottingham em Ningbo, China, diz que a metodologia pode exagerar as contribuições da China para artigos de coautoria internacional.
“A questão é quem – os chineses ou seus colaboradores internacionais – liderou os estudos.”
Cao Cong. Universidade de Nottingham, Ningbo. China
Ainda assim, a crescente produção chinesa dos artigos mais citados é “notável”, diz o NISTEP; 20 anos atrás, ela ocupava apenas o 13º lugar na métrica de contagem fracionária.
Em 2016, a China ultrapassou os EUA tornando-se a líder em número de artigos publicados. Mas os críticos ressalvaram que a qualidade da pesquisa chinesa, em função das políticas de incentivo – agora sendo eliminadas – que ofereciam recompensas profissionais para autores com base no grande número de artigos publicados, era precária.
Também observaram que as fábricas de artigos com sede na China, que fornecem aos pesquisadores vagas de autoria em troca de dinheiro, parecem estar crescendo em número. Ainda assim, o novo estudo mostra que a China está ficando melhor em fazer o tipo de ciência de alto nível que é citada por muitos pesquisadores.
Outras medidas de impacto ainda colocam os EUA à frente. O State of US Science and Engineering 2022, um relatório publicado pela US National Science Foundation (NSF) em janeiro, abordou um problema com relatórios como os do NISTEP: ao contar números de artigos altamente citados, eles favorecem os grandes países e aqueles que gastam mais na pesquisa, assim como os grandes países tendem a se sair melhor no ranking de medalhas olímpicas.
A NSF, em vez disso, mediu a parcela de artigos de cada país que são altamente citados, o que permite comparações entre países, independentemente de quanto eles publicam. Sua análise mostrou que os periódicos dos EUA eram altamente influentes:
- Dos publicados em 2018, mais do dobro acabou entre os 1% dos artigos mais citados, conforme o esperado com base na produção total do país.
- A China publicou 20% mais artigos citados do que o esperado. (Vários países, incluindo Canadá e Reino Unido, que publicam menos artigos no geral, ficaram à frente dos Estados Unidos e da China nessa medida.)
Os EUA e a China estavam essencialmente ligados em mais um estudo, publicado na Scientometrics em 2019 por Wagner e colegas, que usou um método diferente. Como o novo relatório do Japão, descobriu que a China publicou um pouco mais de artigos no top 1% mais citado do que os EUA naquele ano. Mas em uma pontuação para números reais versus esperados de tais artigos, a margem entre os dois países não foi estatisticamente significativa.
Outro artigo, publicado por Wagner e outros em 2020, concluiu que a pesquisa da China é um pouco mais inovadora do que a média mundial. Esse estudo rastreou a frequência com que as listas de referência dos artigos incluíam combinações atípicas de periódicos em campos díspares como proxy de ideias inovadoras.
No entanto, o impacto das publicações é apenas uma medida da proeza científica de um país. Os EUA ainda lideram em outros indicadores, como gastos com pesquisa e número de doutorados concedidos.
Mas a China lidera outros, como pedidos de patentes – e há poucas dúvidas de que o empreendimento científico da China está alcançando o resto do mundo em uma velocidade sem precedentes.
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