O NHS britânico é um caso de amor que une trabalhistas e conservadores. E que tinha, na figura da monarca recém-falecida, sua maior defensor...
O NHS britânico é um caso de amor que une trabalhistas e conservadores. E que tinha, na figura da monarca recém-falecida, sua maior defensora. O SUS foi inspirado no NHS mas não conseguiu atingir o grau de eficiência que seu congênere europeu. Talvez falte a mesma coesão nacional em sua defesa.
O Barão de Beveridge, elaborou em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, o Report on Social Insurance and Allied Services, conhecido como Plano Beveridge, visando libertar o homem da necessidade.
É por isso que nas Eleições 2022 resolvemos apoiar uma candidata que leva a bandeira do SUS como plataforma, queremos eleger para nossa assembleia distrital a Silene da Saúde, nº 70111. Sabemos que a carreira política não é fácil e está muito mal-amada e mal-afamada, não é de hoje, como pude constatar em levantamentos feitos por nós.
Fonte: Drauzio Varella, Wikipedia, El País, Brasil Acadêmico, Nursing Times
Visto no Brasil Acadêmico
Recomendou que o governo inglês deveria encontrar formas de combater os cinco grandes males da sociedade:
- a escassez,
- a doença,
- a ignorância,
- a miséria e
- a ociosidade.
Beveridge seguiu o modelo do “seguro doença” do alemão Otto von Bismarck (1883), seguro este que passou a ser uma contribuição obrigatória, feita por todos os trabalhadores, com o objetivo de financiar os cuidados de saúde.
O Plano Beveridge é considerado o responsável pelo surgimento do plano da assistência social moderna.
Foi um período no qual a Grã-Bretanha viu a assistência médica como essencial para enfrentar os “cinco gigantes” que Beveridge declarou que deveriam ser erradicados durante a reconstrução do pós-guerra. Como nem sempre é a ordem que traz o progresso foi justamente o advento da guerra que forneceu as condições que provavelmente não teriam ocorrido em tempos de paz.
E se compadecendo dos mutilados que voltavam do campo de batalha é que a jovem Elizabeth, famosa por sua coragem em não fugir de Londres enfrentando como seus súditos os bombardeios nazistas, passou a defender a o Serviço Nacional de Saúde (NHS) universal e gratuito.
O serviço não foi esquecido durante a abertura dos jogos de Londres quando um estranho desfile de enfermeiras e médicos empurrando macas com pacientes ligados a frascos de soro, e as iniciais NHS no centro do campo, lembraram ao mundo uma das conquistas mais caras aos britânicos (em vários sentidos). Não pudemos fazer o mesmonas Olimpíadas do Rio, ainda que seus profissionais merecessem a mesma distinção.
Todo político no Reino Unido está ciente que cogitar em defender algum elemento de gestão privada no NHS equivaleria a dar um tiro no pé. Pois essa é uma dos poucos fatores de união nacional, em uma sociedade polarizada politicamente, como a brasieleira, e o único modo de abordar a instituição é para prometer melhoras ou defendê-la.
Não foi por outra razão que quando o ex-presidente do EUA, Donald Trump, sugeriu uma visita de Estado ao Reino Unido – certamente mal informado – que o NHS estaria na mesa de negociação em um eventual futuro tratado comercial bilateral, não houve político local que não rejeitasse a proposta.
A ideia de colocar o serviço público para concorrer em pé de igualdade com os planos de saúde não agradou. Porque uma das razões do orgulho com que se defende o NHS é que os britânicos comparam seu sistema de saúde ao que existe do outro lado do Atlântico, como também pode ser visto no documentário Sicko, sob a óptica de quem defende reformas no sistema de saúde dos EUA.
“Todo mundo, rico ou pobre, mulher ou criança, poderá usar este serviço. Não se cobrará por nada, salvo algumas exceções. Não se exigirá nenhum tipo de seguro. Mas não se trata de uma instituição de caridade. Todos vocês estão pagando, como contribuintes, e servirá para acabar com as preocupações econômicas em tempos de doença.”Panfleto explicativo do NHS, distribuído aos milhões em 1948.
Felizmente, a rainha Elizabeth – conhecida por seu zelo com o serviço público em contraste com seu sucessor, Charles III, que tem um olhar para questões mais externas, como a ecologia – ainda teve tempo de conceder ao NHS, em 2021, a Cruz de George – a mais alta honraria civil do país – em reconhecimento pelos 73 anos de trabalho dedicado, inclusive durante a pandemia de Covid-19.
A rainha como chefe de Estado dando exemplo e apoiando o NHS. |
“A rainha dedicou sua vida ao serviço público e foi nosso momento de maior orgulho quando ela premiou a equipe do NHS com a George Cross.”
Amanda Pritchard. Executiva-chefe do NHS England
Vislumbrei o que é o NHS ao ajudar a prestar socorro a uma transeunte em Londres – onde pude ser orientado por telefone por uma atendente que falava português do Brasil – durante uma curta temporada que estive por lá. E também pude constatar a importância e a grandeza do nosso Sistema Único de Saúde (SUS) quando uma amiga britânica veio ao Brasil para poder fazer cesariana (pois lá, essa prática não é preconizada pelo sistema e só é autorizada em situações especiais) e parentes estadunidenses precisaram de um atendimento no SUS de madrugada e ficou boquiaberto com o fato de receber ajuda especializada e tomografia computadorizada sem desembolsar sequer um dólar mesmo ser contribuinte do sistema (como contei aqui).
Nosso SUS foi inspirado no NHS e instituído em 1988, como resposta à diretriz constitucional de direito à saúde. E quando comparados, estudos apontam que o SUS está abaixo do NHS em capacidade médica/hospitalar, próximo ao NHS em acesso, saúde da mulher e controle de doenças crônicas, e abaixo no controle de doenças transmissíveis.
Monografia de 2016, mostra que nosso sistema enfrenta os interesses das grandes empresas ligadas ao mercado de seguros privados de saúde. Essa influência é de tal ordem que o serviço público chega a financiar planos de saúde privados para seus funcionários. Falta crença não só por parte da população, mas também da Administração no potencial que o sistema único pode desenvolver.
O NHS, entretanto, é um sistema pequeno comparado ao SUS. É bem mais fácil organizar a saúde num país com 67 milhões de habitantes, dono de um império colonial até ontem, com um dos níveis educacionais mais altos do mundo e renda per capita quase 4 vezes superior à nossa.
Dr. Drauzio Varella – Médico oncologista e escritor
Mas fora da política não há salvação, solução ou remédio. E, apesar de republicano, precisamos de uma rainha que apadrinhe (neste caso, amadrinhe) a causa da saúde pública. E traremos aqui a palavra de nossa candidata em uma conversa franca, passar a mão na cabeça, mas com propostas e posicionamentos. Para que você, leitor eleitor do DF, possa entender o porquê de estarmos com Silene.
Fonte: Drauzio Varella, Wikipedia, El País, Brasil Acadêmico, Nursing Times
Visto no Brasil Acadêmico
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