Prévia de pesquisa etnográfica exclusiva com os motoristas mais bem qualificados da Uber revela o que pensa esses profissionais e esboça um ...
Prévia de pesquisa etnográfica exclusiva com os motoristas mais bem qualificados da Uber revela o que pensa esses profissionais e esboça um perfil.
Nosso levantamento etnográfico, com questionário semi-estruturado que servirá de sondagem para uma outras pesquisas mais aprofundadas, traz a tona um verdadeiro zeitgeist (espírito do tempo) vivido por essa classe. Conheça um pouco do que pensa essa nova classe que, aos milhares, trafegam nas ruas da capital federal preenchendo as lacunas da mobilidade urbana.
Em meados de setembro desse anos a Uber lançou uma categoria de seu serviço denominada UBerX VIP, a qual é oferecida a quem completar 20 viagens ou mais no mês.
Motoristas dessa categoria ouvidos afirmaram que o cliente também precisa ser bem qualificado para ter essa opção disponível. Ou seja, aqui não é a qualidade do carro que importa, essa é uma categoria que, em tese, uniria heavy users do serviço com os melhores motoristas (pelo menos na opinião dos clientes).
Desse modo, temos aqui um grupo peculiar de “profissionais” que não são aventureiros, mal-educados e nem uberistas de primeira viagem. Pelo contrário, são motoristas que encaram o desafio de, apesar de guiarem várias horas por dia, conseguir obter subjetivas notas altas de quem eles transportam, o que é conseguido com uma lábia digna de um bom vendedor, além de uma direção segura, conforto e um carro higienizado.
Mas ao tecermos um perfil mais elaborado do perfil desse “profissional autônomo” percebe-se que eles talvez já estejam vivendo a realidade de Lacie Pound - a jovem e bonita personagem do episódio Nosedive de Black Mirror, série da Netflix, que era obcecada por sua nota em uma sociedade que todos davam notas a todos, já que uma reputação social garantiria descontos no aluguel do apartamento para o qual ela planejava ir -, mas ao contrário da ficção, onde tudo dá errado e sua reputação despenca, esses uberistas conseguem manter a reputação em alta, o que lhes garante mais viagens com passageiros com notas mais elevadas - o que infere serem passageiros “que não dão problema” - com um desconto menor por parte da Uber (que normalmente é de 25%).
Cabe ressaltar que, apesar das entrevistas, a nota desse pesquisador que há mais de um ano usa o serviço como passageiro continua alta (4,94), o que poderia indicar que a participação no levantamento não chega a ser um completo estorvo - ainda que a entrevista seja sempre autorizada pelo condutor -, principalmente levando-se em conta que os motoristas também avaliam os usuários. Mesmo assim, devido ao onipresente receio de queda na nota, sempre resta a dúvida se a participação não seja mais uma tática de “agradar o cliente”. Mas especula-se que talvez seja por estarem carentes de alguém que os escute com a atenção devida. Afinal, é uma reclamação bastante ouvida dos motoristas de que a empresa “não os escuta”. Principalmente entre os que deram nota 4 de 5 para a Uber, como o relato a seguir, por exemplo:
Alguém, para quem eles não precisem falar o que eles imaginam que o cliente queira ouvir. Talvez por simples curiosidade. O fato é que ninguém, da amostra, se recusou a participar da entrevista. Além disso, na maior parte, nota-se um envolvimento emocional com os temas abordados. Quando, por exemplo, era perguntado se o uberista confiava no presidente (em uma escala de 1-desconfia totalmente até 5-confia totalmente), muitos perguntavam se não havia a opção “menos um”, ou seja, se havia algo pior do que “desconfia totalmente”, o que dá a medida do momento de total descrédito da presidência para essa categoria, o que reflete bem o que aponta as pesquisa feitas entre a população em geral. Também é notável que essa piada tenha se repetido algumas vezes por diferentes motoristas, também estendida à pergunta relativa ao “Congresso Nacional”. Todavia, os “Partidos políticos”, “Sindicatos” e o “Governo Federal” não têm o que comemorar já que não estão com desempenho muito melhor.
Agora, se tem uma classe com prestígio entre os os uberistas ouvidos, essa é sem dúvida a dos bombeiros. E olha que nem tivemos um evento tão marcante como os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York, onde os combatentes do fogo foram consagrados no panteão dos heróis nos EUA. Talvez por estarem ligados a salvamento e menos ligados à repressão policial, essa instituição é uma referência para todas as outras.
Outra constatação da pesquisa é a indefinição na hora de apontar um candidato para ocupar a Presidência da República em 2018 na pesquisa espontânea. Todavia, quando sugerimos nomes para um eventual segundo turno, onde o motorista poderia escolher mais de um candidato, surge uma clara predileção por Jair Bolsonaro e outros menos com perfil descolado dos políticos tradicionais e não vinculados ao noticiário da Operação Lava Jato, como Doria e Joaquim Barbosa. Contudo, a maioria ainda segue apoiando o regime democrático com mais de 70% são contrários à volta da ditadura militar.
Outro dado que se mostra uma péssima notícia para o ex-presidente Lula, é a enorme rejeição a seu nome, passando de 70%, seguido de longe por Marina (37%), Alckmin(33,3%) e o próprio Bolsonaro (25,9%). Talvez por haver uma identificação de causa e efeito ao longo período de mandato petista e a tempestade perfeita de crise política, econômica e moral que se seguiu desde o último governo Dilma.
A conjuntura atual também não anima o uberista, já que para eles o governo Temer não é melhor nem pior que o governo da ex-presidenta. Destarte, a Uber tem se mostrado uma boia para manter pais de família (a grande maioria deles é de homens) com alguma renda (a maior parte começou a dirigir para a Uber por causa do desemprego (mais de 80% acredita que a Uber cria bem mais empregos do que tira) ou como renda extra, cerca de um terço deles tem na Uber sua única fonte de renda). Os aposentados ouvidos, por sua vez, entram para Uber para se manterem ativos.
Os uberistas da pesquisa também creem que a Uber cria bem mais empregos do que tira de outras categorias, o que o CADE parece comprovar por meio de um estudo.
Eles também estão cientes de que a Uber já testa protótipos de carros sem motorista nos EUA, porém, acreditam que vai demorar muito tempo para a tecnologia do carro autônomo chegar no Brasil ou, mais especificamente, o serviço Uber sem motorista chegar em Brasília. Isso lembra um pouco o cenário do quanto os taxistas deviam achar que um app como o Uber demoraria a chegar no Brasil (a Tesla já deve importar seus modelos com AutoPilot para o Brasil ainda esse ano)...😬
A primeira sondagem ouviu 41 motoristas entre 09/setembro e 07/novembro. Essa sondagem serviu de base para a pesquisa sobre o clima organizacional da Uber que está em andamento e que já ouviu mais de 30 uberistas - e a prévia de algumas questões levantadas você já vê aqui.
Outra constatação, é que há uma maioria de católicos entre os motoristas, seguido pelos evangélicos. Curiosamente, apesar de ser uma amostra reduzida, houve dois que se diziam católicos e evangélicos ao mesmo tempo.
Por enquanto, é ampla a maioria de homens. Apenas uma mulher respondeu nossa pesquisa. Por enquanto...
Fonte: Pesquisa Cabeça do Uberista UberX VIP - Levantamento feito pelo Blog Brasil Acadêmico
[Visto no Brasil Acadêmico]
Nosso levantamento etnográfico, com questionário semi-estruturado que servirá de sondagem para uma outras pesquisas mais aprofundadas, traz a tona um verdadeiro zeitgeist (espírito do tempo) vivido por essa classe. Conheça um pouco do que pensa essa nova classe que, aos milhares, trafegam nas ruas da capital federal preenchendo as lacunas da mobilidade urbana.
Em meados de setembro desse anos a Uber lançou uma categoria de seu serviço denominada UBerX VIP, a qual é oferecida a quem completar 20 viagens ou mais no mês.
Para ser um usuário uberX VIP, é preciso ter feito 20 ou mais viagens durante o mês anterior. No primeiro dia de cada mês, desde que os requisitos tenham sido atendidos no mês anterior, o status será automaticamente adicionado à conta.
Retirado do site da empresa.
Motoristas dessa categoria ouvidos afirmaram que o cliente também precisa ser bem qualificado para ter essa opção disponível. Ou seja, aqui não é a qualidade do carro que importa, essa é uma categoria que, em tese, uniria heavy users do serviço com os melhores motoristas (pelo menos na opinião dos clientes).
Escolaridade (completa ou incompleta). Fonte: Dados produzidos pelo autor. |
Desse modo, temos aqui um grupo peculiar de “profissionais” que não são aventureiros, mal-educados e nem uberistas de primeira viagem. Pelo contrário, são motoristas que encaram o desafio de, apesar de guiarem várias horas por dia, conseguir obter subjetivas notas altas de quem eles transportam, o que é conseguido com uma lábia digna de um bom vendedor, além de uma direção segura, conforto e um carro higienizado.
Mas ao tecermos um perfil mais elaborado do perfil desse “profissional autônomo” percebe-se que eles talvez já estejam vivendo a realidade de Lacie Pound - a jovem e bonita personagem do episódio Nosedive de Black Mirror, série da Netflix, que era obcecada por sua nota em uma sociedade que todos davam notas a todos, já que uma reputação social garantiria descontos no aluguel do apartamento para o qual ela planejava ir -, mas ao contrário da ficção, onde tudo dá errado e sua reputação despenca, esses uberistas conseguem manter a reputação em alta, o que lhes garante mais viagens com passageiros com notas mais elevadas - o que infere serem passageiros “que não dão problema” - com um desconto menor por parte da Uber (que normalmente é de 25%).
Maioria católica seguida de perto pelos evangélicos. |
Cabe ressaltar que, apesar das entrevistas, a nota desse pesquisador que há mais de um ano usa o serviço como passageiro continua alta (4,94), o que poderia indicar que a participação no levantamento não chega a ser um completo estorvo - ainda que a entrevista seja sempre autorizada pelo condutor -, principalmente levando-se em conta que os motoristas também avaliam os usuários. Mesmo assim, devido ao onipresente receio de queda na nota, sempre resta a dúvida se a participação não seja mais uma tática de “agradar o cliente”. Mas especula-se que talvez seja por estarem carentes de alguém que os escute com a atenção devida. Afinal, é uma reclamação bastante ouvida dos motoristas de que a empresa “não os escuta”. Principalmente entre os que deram nota 4 de 5 para a Uber, como o relato a seguir, por exemplo:
“Só não dou cinco porque a empresa não nos escuta. E se escutasse poderia fazer pequenas melhorias. Fora a questão da empresa ficar com 25% para ela.”
Alguém, para quem eles não precisem falar o que eles imaginam que o cliente queira ouvir. Talvez por simples curiosidade. O fato é que ninguém, da amostra, se recusou a participar da entrevista. Além disso, na maior parte, nota-se um envolvimento emocional com os temas abordados. Quando, por exemplo, era perguntado se o uberista confiava no presidente (em uma escala de 1-desconfia totalmente até 5-confia totalmente), muitos perguntavam se não havia a opção “menos um”, ou seja, se havia algo pior do que “desconfia totalmente”, o que dá a medida do momento de total descrédito da presidência para essa categoria, o que reflete bem o que aponta as pesquisa feitas entre a população em geral. Também é notável que essa piada tenha se repetido algumas vezes por diferentes motoristas, também estendida à pergunta relativa ao “Congresso Nacional”. Todavia, os “Partidos políticos”, “Sindicatos” e o “Governo Federal” não têm o que comemorar já que não estão com desempenho muito melhor.
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- Confiança nas intituições (e algumas pessoas)
- Os uberista avaliam: Notas de 1 a 5
Bombeiros 🚒 4,7 😃 Igrejas ✟ 2,6 😔 Forças armadas 💂 4,1 😃 Meios de comunicação (TV, Rádio, Jornais impressos) 📺 2,4 😔 Empresas 🏢 3,1 😉 ONGs 🆘 2,6 😔 Polícia 👮 3,6 😉 Bancos 💵 3,1 😉 Escola Pública 🏫 3,1 😉 Judiciário ⚖ 2,8 😔 Presidente da República 🔰 1,4 😠 Governo Federal ⛫ 1,7 😠 Sistema Eleitoral 🎩 2,1 😔 Governador 🎽 1,6 😠 Sindicatos 👷 1,5 😠 Sistema Público de Saúde 🚑 1,9 😠 Congresso Nacional 📣 1,4 😠 Partidos Políticos 🙋 1,2 😠 Ministério Público Federal ⚖ 3,4 😉 Polícia Federal 🚓 4,2 😃 Sérgio Moro 🚿 4,1 😃 Técnico da Seleção ⚽ 3,9 😉 CBF ⚽ 2,0 😔 Seleção Brasileira ⚽ 3,7 😉
Agora, se tem uma classe com prestígio entre os os uberistas ouvidos, essa é sem dúvida a dos bombeiros. E olha que nem tivemos um evento tão marcante como os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York, onde os combatentes do fogo foram consagrados no panteão dos heróis nos EUA. Talvez por estarem ligados a salvamento e menos ligados à repressão policial, essa instituição é uma referência para todas as outras.
Outra constatação da pesquisa é a indefinição na hora de apontar um candidato para ocupar a Presidência da República em 2018 na pesquisa espontânea. Todavia, quando sugerimos nomes para um eventual segundo turno, onde o motorista poderia escolher mais de um candidato, surge uma clara predileção por Jair Bolsonaro e outros menos com perfil descolado dos políticos tradicionais e não vinculados ao noticiário da Operação Lava Jato, como Doria e Joaquim Barbosa. Contudo, a maioria ainda segue apoiando o regime democrático com mais de 70% são contrários à volta da ditadura militar.
Dando seta para direita: Desilusão política leva uberistas para os “apolíticos”. Apesar disso, a maioria “ainda” é contra a volta da ditadura militar. |
Outro dado que se mostra uma péssima notícia para o ex-presidente Lula, é a enorme rejeição a seu nome, passando de 70%, seguido de longe por Marina (37%), Alckmin(33,3%) e o próprio Bolsonaro (25,9%). Talvez por haver uma identificação de causa e efeito ao longo período de mandato petista e a tempestade perfeita de crise política, econômica e moral que se seguiu desde o último governo Dilma.
A conjuntura atual também não anima o uberista, já que para eles o governo Temer não é melhor nem pior que o governo da ex-presidenta. Destarte, a Uber tem se mostrado uma boia para manter pais de família (a grande maioria deles é de homens) com alguma renda (a maior parte começou a dirigir para a Uber por causa do desemprego (mais de 80% acredita que a Uber cria bem mais empregos do que tira) ou como renda extra, cerca de um terço deles tem na Uber sua única fonte de renda). Os aposentados ouvidos, por sua vez, entram para Uber para se manterem ativos.
O mais querido: Em Brasília, o Flamengo é o time da maioria. |
Os uberistas da pesquisa também creem que a Uber cria bem mais empregos do que tira de outras categorias, o que o CADE parece comprovar por meio de um estudo.
Eles também estão cientes de que a Uber já testa protótipos de carros sem motorista nos EUA, porém, acreditam que vai demorar muito tempo para a tecnologia do carro autônomo chegar no Brasil ou, mais especificamente, o serviço Uber sem motorista chegar em Brasília. Isso lembra um pouco o cenário do quanto os taxistas deviam achar que um app como o Uber demoraria a chegar no Brasil (a Tesla já deve importar seus modelos com AutoPilot para o Brasil ainda esse ano)...😬
A primeira sondagem ouviu 41 motoristas entre 09/setembro e 07/novembro. Essa sondagem serviu de base para a pesquisa sobre o clima organizacional da Uber que está em andamento e que já ouviu mais de 30 uberistas - e a prévia de algumas questões levantadas você já vê aqui.
Outra constatação, é que há uma maioria de católicos entre os motoristas, seguido pelos evangélicos. Curiosamente, apesar de ser uma amostra reduzida, houve dois que se diziam católicos e evangélicos ao mesmo tempo.
Por enquanto, é ampla a maioria de homens. Apenas uma mulher respondeu nossa pesquisa. Por enquanto...
Fonte: Pesquisa Cabeça do Uberista UberX VIP - Levantamento feito pelo Blog Brasil Acadêmico
[Visto no Brasil Acadêmico]
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