Você já se perguntou o que realmente significam aqueles emojis que seu filho adolescente usa nas mensagens? Ou por que, de repente, uma simp...

📺 A Série "Adolescência": Um Fenômeno Cultural que Revelou Códigos Ocultos
Lançada em março de 2025, a série britânica “Adolescência” (título original: “Adolescence”) rapidamente se tornou um fenômeno cultural, não apenas por sua abordagem técnica inovadora – cada um dos quatro episódios é filmado em uma única tomada contínua – mas principalmente por seu tema central perturbador e atual.
A trama se desenvolve em Yorkshire, Inglaterra, quando Jamie Miller, um adolescente de 13 anos, é preso sob a acusação de ter assassinado sua colega de classe, Katie Leonard. Sem revelar detalhes que possam estragar a experiência de quem ainda não assistiu, a série mergulha nas complexas dinâmicas sociais adolescentes, revelando como a comunicação digital entre jovens pode esconder significados muito mais profundos e, por vezes, preocupantes do que os adultos conseguem perceber.
O diretor Philip Barantini e o roteirista Jack Thorne criaram uma obra que, segundo a crítica especializada, é “um estudo sobre culpa, percepção e as forças invisíveis que moldam as vidas jovens” (REDDIT, 2025). Com 99% de aprovação no Rotten Tomatoes e elogios do site RogerEbert.com, a série transcende o simples entretenimento para se tornar um importante alerta social.
“Adolescência não é apenas um drama criminal, é um estudo sobre culpa, percepção e as forças invisíveis que moldam vidas jovens.” – Crítica no Reddit, março de 2025
O que tornou "Adolescência" particularmente impactante foi sua revelação de como emojis, siglas e outros códigos digitais são utilizados por adolescentes como uma linguagem paralela, inacessível aos adultos. Essa linguagem codificada não foi inventada para a série – como confirmou uma delegada brasileira especializada em crimes digitais: "Os emojis não foram inventados pela série. Eles são usados por grupos reais de jovens britânicos, muitas vezes como códigos velados para escapar da supervisão de pais e professores" (BAHIA NOTÍCIAS, 2025).
❤️💜💛 O Código dos Corações: Quando Emojis Escondem Mais do que Revelam
Um dos aspectos mais comentados da série foi a revelação dos significados ocultos por trás dos emojis de coração. No segundo episódio, um personagem explica como adolescentes usam corações de cores diferentes para transmitir mensagens específicas:
Emoji | Cor | Significado na Série | Interpretação Adulta Comum |
---|---|---|---|
❤️ | Vermelho | Amor | Amor, carinho, afeição |
💜 | Roxo | Excitação sexual, “horny” | Admiração, apoio |
💛 | Amarelo | “Estou interessado, você está interessado?” | Amizade, alegria |
💖 | Rosa | “Estou interessado, mas não em sexo” | Amor fofo, carinho |
🧡 | Laranja | “Você vai ficar bem” (consolação) | Amizade calorosa |
🤍 | Branco | “Pureza” ou “Estou disponível, mas sou seletivo” | Paz, pureza, simplicidade |
Esta tabela ilustra perfeitamente o abismo comunicacional entre gerações. Enquanto um adulto pode interpretar um coração roxo como um gesto inocente de admiração, para muitos adolescentes, esse mesmo símbolo pode carregar conotações sexuais explícitas.
“Vermelho significa amor; roxo, excitação sexual; amarelo, 'estou interessado, você está interessado?'; rosa, 'estou interessado, mas não em sexo'; laranja, 'você vai ficar bem'; branco, 'pureza' ou 'estou disponível, mas sou seletivo'”, explica um personagem na série, revelando um código que muitos pais desconhecem completamente (USA TODAY, 2025).
É importante ressaltar que esses significados não são universais nem estáticos. Como destaca o blog especializado Emojipedia: “Os significados dos emojis são altamente contextuais e podem variar significativamente entre diferentes grupos etários, comunidades online e até mesmo entre amigos próximos” (EMOJIPEDIA, 2025).
🔍 Além dos Corações: Outros Códigos da Série
A linguagem codificada revelada em “Adolescência” vai muito além dos emojis de coração. A série também expõe outros símbolos e conceitos frequentemente utilizados em certos círculos online, particularmente aqueles associados à chamada “manosfera” ou “machosfera”– comunidades online predominantemente masculinas que frequentemente promovem visões misóginas.
Entre os códigos mais perturbadores está o conceito “80/20”, uma distorção da Regra de Pareto aplicada a relacionamentos. Esta teoria, popular em fóruns “incel” – abreviação de “involuntary celibate” ou “celibatário involuntário”, às vezes representados por “grãos de feijão” por lembrarem do grão de café e fazendo uma alusão a um meme que depreciava as mulheres –, sugere que 80% das mulheres estão interessadas em apenas 20% dos homens, criando uma suposta “desigualdade” no mercado de relacionamentos. Essa teoria é representada pelo emoji “Nota 100”.
Outros emojis com significados recontextualizados incluem (a lista vai além dos emojis da séria):
- 🔥: Usado para indicar atratividade sexual
- 👀: “Estou observando”, stalking discreto ou interesse em drama social
- 🍒: Referência sexual à virgindade
- 💊: Referência às “pílulas” da cultura incel (red pill, black pill). Fazendo uma alusão ao filme Matrix onde a verdade era acessada ao se tomar uma pílula vermelha.
- 💯: Alusão à teoria dos 80/20, que defende que 80% das mulheres se interessam por apenas 20% dos homens.
- 🗿: Para os redpills, a estátua da Ilha de Páscoa (os Moais) é popular por exibir um queixo largo, que seria uma característica do ideal masculino.
- 🧨: Incel. Explosão de uma pílula vermelha.
- 💥: Incel.
- 🍆: Pênis.
- 🔌: Pênis.
- 🍑: Nádegas.
- 🌮: Vagina.
- 🍒: Seios.
- 🍜: Nudes.
- 🌽: Pornografia.
- 👉👌: Relação sexual.
- 😯: Relação sexual.
- 👅: Relação sexual.
A série também introduz termos como “hipergamia” (crença de que mulheres buscam parceiros de status superior), “looksmaxing” (esforços para maximizar a aparência física) e os estereótipos “Chad” e “Stacy” (termos pejorativos usados em comunidades incel para descrever homens e mulheres convencionalmente atraentes).
Como explica a National Geographic Portugal: “A comunicação entre adultos e jovens é prejudicada por códigos crípticos e pela falta de literacia emocional. Os emojis já não são inocentes: podem esconder significados perturbadores” (OBSERVADOR, 2025)(O GLOBO, 2025)(NATIONAL GEOGRAPHIC PORTUGAL, 2025).
🌐 Códigos Adolescentes no Mundo Real: Muito Além da Série
A comunicação codificada entre adolescentes não é exclusividade da ficção. Muito antes de “Adolescência” trazer o tema para os holofotes, jovens de todo o mundo já desenvolviam seus próprios sistemas de códigos para comunicação digital. Essa prática reflete tanto a busca por identidade e pertencimento quanto a necessidade de privacidade em um mundo onde adultos têm acesso crescente às interações online.
Abreviações e Códigos Numéricos: A Linguagem Paralela
Além dos emojis, adolescentes frequentemente utilizam abreviações e códigos numéricos para comunicar mensagens que preferem manter longe dos olhos adultos. Alguns exemplos comuns incluem:
Código | Significado | Uso |
---|---|---|
ASL | Age/Sex/Location (Idade/Sexo/Localização) | Identificação básica em chats |
POS | Parent Over Shoulder (Pai/Mãe olhando por cima do ombro) | Alerta para ter cuidado com o que escreve |
CD9 | Code 9 - Parents Around (Código 9 - Pais por perto) | Alerta para mudar de assunto |
99 | Parents Gone (Pais saíram) | Sinal de que é seguro voltar ao assunto anterior |
143 | I Love You (Eu te amo) - 1 letra, 4 letras, 3 letras | Declaração de amor codificada |
1174 | Party Meeting Place (Local de encontro para festa) | Código para organizar encontros |
420 | Referência à maconha | Código para uso ou interesse em cannabis |
PAW | Parents Are Watching (Pais estão observando) | Alerta para ter cuidado |
PIR | Parent In Room (Pai/Mãe no quarto) | Alerta para ter cuidado |
Esses códigos evoluem constantemente, adaptando-se à medida que os adultos os descobrem. Como observa um estudo da Universidade de Western Australia: “Há uma longa história de pânico moral em torno da linguagem juvenil. Definir ou proibir emojis não resolverá as questões mais profundas em jogo” (UWA, 2025).
A Evolução Histórica dos Códigos Adolescentes
É importante lembrar que a criação de linguagens codificadas por adolescentes não é um fenômeno novo nem exclusivamente digital. Antes dos smartphones e redes sociais, jovens já desenvolviam gírias, símbolos e códigos para comunicação exclusiva entre pares.
Nos anos 1980 e 1990, adolescentes usavam códigos em pagers (como 143 para “I love you”), linguagens de sinais em salas de aula, e até mesmo escrita codificada em diários. O que mudou foi a velocidade com que esses códigos se disseminam e evoluem na era digital.
Como destaca o estudo “Emoji Unite: Examining the Rise of Emoji as an International Language”: “Os emojis representam apenas a mais recente iteração de uma longa tradição de comunicação simbólica entre jovens, mas com alcance e impacto sem precedentes devido à natureza global das plataformas digitais” (RESEARCHGATE, 2023).
🧠 O Que a Ciência Diz: Estudos sobre Comunicação Adolescente
A comunicação codificada entre adolescentes tem sido objeto de crescente interesse acadêmico, com pesquisadores de diversas áreas buscando compreender suas implicações psicológicas, sociais e culturais.
Perspectiva Psicológica: Identidade e Pertencimento
Do ponto de vista psicológico, a criação e uso de códigos exclusivos é parte fundamental do desenvolvimento adolescente. Segundo pesquisadores da Frontiers in Communication, “os emoticons integram a troca de emoções na comunicação interpessoal das redes juvenis, reforçando a interação relacional” (FRONTIERS IN COMMUNICATION, 2024).
A psicologia do desenvolvimento há muito reconhece que adolescentes buscam estabelecer identidades separadas de seus pais, e a linguagem é uma das ferramentas mais poderosas nesse processo. Os códigos digitais representam uma extensão natural dessa necessidade desenvolvimentista.
Um estudo publicado na Science Direct analisou “a variedade de palavras e emojis usados para expressar sentimentos negativos, neutros e positivos” e descobriu padrões distintos entre diferentes grupos etários, sugerindo que os emojis funcionam como marcadores geracionais de expressão emocional (SCIENCE DIRECT, 2023).
Perspectiva Sociológica: Linguagens Exclusivas e Dinâmicas de Poder
Sociólogos observam que a criação de linguagens exclusivas por adolescentes também reflete dinâmicas de poder. Em um mundo onde adultos controlam a maioria dos aspectos da vida adolescente, códigos secretos representam uma forma de resistência e autonomia.
Como explica o artigo “Academic Language in an Emoji World”: “Muitos emojis têm significados ocultos atribuídos por certas populações, que podem ser muito diferentes do significado original pretendido. Essa ressignificação representa uma forma de resistência cultural e afirmação de identidade de grupo” (ERIC, 2024).
O Papel dos Emojis na Comunicação Emocional
Particularmente interessante é o papel dos emojis na comunicação emocional entre adolescentes. Um estudo publicado no PubMed Central destaca que “os emojis são usados em estudos de saúde mental para avaliar satisfação com o sono, estados emocionais e flutuações de humor” (PUBMED CENTRAL, 2024).
Essa função emocional dos emojis é especialmente relevante para adolescentes, que frequentemente enfrentam desafios na expressão verbal de emoções complexas. Como observa o estudo “Emoji in youth mental health and emotional well-being”: “Os emojis têm o potencial de desempenhar um papel fundamental na comunicação de informações relacionadas à saúde mental em áreas como autodivulgação” (RESEARCHGATE, 2023).
A revisão sistemática “A Systematic Review of Emoji: Current Research and Future Perspectives” conclui que os emojis não são apenas decorativos, mas “desempenham funções linguísticas e emocionais complexas, particularmente em contextos onde a comunicação não-verbal tradicional está ausente” (FRONTIERS IN PSYCHOLOGY, 2019).
👨👩👧👦 Implicações para Pais e Educadores: Entre o Pânico e a Compreensão
A revelação dos códigos de comunicação adolescente em “Adolescência” gerou reações diversas entre pais e educadores. Enquanto alguns expressaram alarme e preocupação, especialistas recomendam uma abordagem mais equilibrada.
Evitando o Pânico Moral
Como destaca o artigo da Universidade de Western Australia, “Adolescence has sparked fears over teen slang - but emoji don't cause radicalisation”, é importante evitar o pânico moral em torno da linguagem juvenil. Jornalistas produziram uma enxurrada de artigos prometendo decodificar o “significado oculto” da linguagem adolescente, mas essa abordagem pode ser contraproducente (UWA, 2025).
O artigo argumenta que “definir ou proibir emojis não resolverá as questões mais profundas em jogo” e que o foco deve estar na compreensão dos contextos sociais e emocionais em que esses códigos são utilizados.
Equilíbrio Entre Supervisão e Privacidade
Um dos maiores desafios para pais e educadores é encontrar o equilíbrio entre supervisão adequada e respeito à privacidade dos adolescentes. Como observa o Yahoo Lifestyle, “os adolescentes usam emojis com camadas de humor e ironia, o que lhes permite falar sobre tópicos sensíveis ou até mesmo tabus sem explicitar nada” (YAHOO LIFESTYLE, 2025).
Essa comunicação codificada pode ser uma forma saudável de explorar identidade e estabelecer limites, mas também pode, em alguns casos, mascarar comportamentos preocupantes.
Estratégias para Promover Diálogo Aberto
Em vez de focar apenas na decodificação de emojis e gírias, especialistas recomendam que pais e educadores priorizem o desenvolvimento de canais de comunicação abertos e honestos com os adolescentes.
Como sugere o estudo “Emojifying youth mental health research”, os próprios emojis podem ser utilizados como ferramentas para iniciar conversas sobre temas emocionais difíceis: “Abraçar os emojis como uma ferramenta independente de linguagem tem imenso potencial para a pesquisa de saúde mental juvenil, especialmente em pesquisas baseadas na comunidade” (PUBMED CENTRAL, 2024).
Reconhecendo Sinais de Alerta
Embora seja importante evitar o pânico moral, pais e educadores devem estar atentos a sinais de que a comunicação codificada pode estar associada a comportamentos prejudiciais ou ideologias extremistas.
Como alerta o LADbible em entrevista com um especialista após o lançamento de “Adolescência”, existem “palavras-código preocupantes da 'manosfera'” que podem indicar exposição a conteúdo misógino ou extremista (LADBIBLE, 2025).
A chave está em distinguir entre códigos normais de comunicação adolescente e aqueles que podem sinalizar problemas mais sérios, como envolvimento com grupos extremistas, comportamento predatório ou ideação suicida.
🎓 Conclusão: Decodificando Sem Demonizar
A série “Adolescência” prestou um importante serviço ao trazer à tona o tema da comunicação codificada entre adolescentes, mas é essencial que nossa resposta como sociedade seja equilibrada e informada.
Os emojis e códigos usados por adolescentes não são inerentemente problemáticos – eles são ferramentas de comunicação que refletem necessidades desenvolvimentistas fundamentais: busca por identidade, desejo de privacidade, estabelecimento de limites e expressão emocional.
Como observa o estudo “Exploring the Impact of Emojis on Paralanguage in Social Media Communication”: “Os emojis desempenham um papel crucial na transmissão de emoções, promoção de engajamento e adição de personalidade às mensagens” (RESEARCHGATE, 2025).
A verdadeira questão não é decifrar cada emoji ou abreviação, mas compreender o contexto mais amplo em que essa comunicação ocorre. Isso inclui reconhecer os desafios únicos que os adolescentes enfrentam na era digital, as pressões sociais a que estão submetidos e as formas como a tecnologia tanto facilita quanto complica seu desenvolvimento.
À medida que a comunicação digital continua a evoluir, também devem evoluir nossas abordagens para compreendê-la e orientá-la. Isso requer um equilíbrio delicado entre supervisão e confiança, entre proteção e autonomia.
Como sociedade, nosso objetivo deve ser decodificar sem demonizar, compreender sem invadir, e orientar sem controlar – reconhecendo que a linguagem codificada dos adolescentes é apenas mais um capítulo na longa história da comunicação humana, constantemente adaptando-se às novas tecnologias e contextos sociais.
📚 Referências
Fontes Acadêmicas
Fontes Jornalísticas
Fontes sobre a Série
Ver também: Algospeak: A linguagem usada pelas mídias sociais para burlar a patrulha da IA
Visto no Brasil Acadêmico
Comentários