Documentário em vídeo e livro são publicados pelo Supremo Tribunal Federal como resposta aos atos golpistas de 08 de janeiro de 2023.
Documentário em vídeo e livro são publicados pelo Supremo Tribunal Federal como resposta aos atos golpistas de 08 de janeiro de 2023.
É um documentário oficial. E um de seus momentos mais esperados é o depoimento de ministros indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, como o Nunes Marques. Que, um spoiler, não disse nada além da esperada defesa institucional. Mas dá a medida da bizarrice que são esse tempos. Comentava com amigos em mesa de bar que teríamos no Brasil o mesmo fenômeno que os estadunidenses tiveram no Capitólio.
Não acredito! Diziam alguns passadores de pano de plantão. Exagero! Bolsonaro é só um falastrão, mas não tentaria um golpe. Se foi ele a história e as CPMIs é que vão dizer. Mas aquilo que ocorreu em janeiro de 2023, na sequencia de bomba plantado nas imediações do aeroporto de Brasília - que só não explodiu por incompetência de que chegou acionar o detonador, da tentativa de invasão do prédio da PF e das semanas de acampamento pedindo intervenção militar no país - como se aqui fosse o Gabão, para que aqueles que tiveram seus cérebros lavados pelas fake news e discursos de ódio, serviu como um aríete contra as instituições, só que no lugar da cabeça de carneiro de metal havia outro tipo de animal. Um cão raivoso como os mostrados na obra Revolução dos Bichos, querendo morder as togas e os eleitos, cassar o Estado de direito, caçar a constituição como um troféu, com o propósito de fazer justiça com as próprias patas.
O escândalo da Cambridge Analytica bem que poderia servir que tivessemos como nos prevenir desse ataque. Mas nada é tão simples. A cadela do fascismo, sempre no cio, mostra que há muito ódio latente pelo próximo que não é igual. Que não pensa igual e não usa o mesmo uniforme. E talvez quem poderia nos proteger desse ataque digital e psicológico, como se poderia esperar das forças de inteligência e defesa, pode ter visto ali uma oportunidade de usar essas mesmas armas para aniquilar oposições. Mostrando o quanto estamos a mercê do atraso quanto a ideia de alternância de poder entre o civis.
Há sempre uma defesa figadal pelo privilégio que não é direito. Pela exclusão. Pela empregada doméstica que não pode pegar o mesmo avião, o mesmo elevador. Pela simplicidade do pensamento imediatista: "Soluções simples para problemas complexos!", "Não tem essa de mudança climática global!", "Quero meu direito de infectar!" e "É só armar todo mundo!". Parece faltar aprofundamento na mesma medida da crença nas conspirações e no negacionismo. Especialmente das ideias científicas.
E o mais irônico é que os países e lugares do mundo com maior desenvolvimento humano e felicidade bruta a seta da razão aponta sempre na direção oposta. É a educação sexual nas escolas a evitar a maternidade precoce, muito mais eficaz do que fábrica de calcinhas. É o ensino da importância de se checar as fontes de referência das informações recebidas entre os jovens, ao invés do repasse inconsequente de tudo aquilo que parece concordar com a minha falta de compreensão.
Empregada doméstica? Nem tem isso lá direito. Seja nos países nórdicos, europeus, norte-americanos. Mas se tiver vai ganhar um salário muito melhor do que almejam por aqui. E se tiver espírito empreendedor, tino comercial e um pouco de sorte poderia até enriquecer e ir para Disney em voo doméstico (sim, doméstico, porque as Disneys ficam lá).
Aqui não se trata de defender políticos ou magistrados repletos de privilégios que, assim como os dos militares, não alcançam a maioria da população. Isso é outra discussão. Aqui se trata da defesa intransigente da democracia pois autocratas totalitaroides aproveitam da facilidade em manipular bolhas sociais digitais e da insatisfação popular e sua percepção, que nem sempre está bem ajustada com a realidade, como bem sabe os acadêmicos, e tentam vender que teriam uma bala de prata, uma panaceia, ou uma cloroquina que aplacaria todos os problemas quando o que se quer, especula-se, é a simples tomada do poder e implantação de uma ditadura sustentada por obscuros grupos de força internacionais com propósitos inconfessáveis.
Spoiler? Talvez, mas foi amplamente noticiada na imprensa na ocasião. A resposta da ministra Rosa Weber, a presidente do STF na época, foi tirar uma foto do plenário, reconstruir tudo até o reinício do ano judicial, como se fosse um antídoto eficaz à teoria das janelas quebradas. Juntamente com as medidas judiciais cabíveis, e até mesmo extraordinárias, é uma forte resposta à patologia que assola as nações democráticas.
Meu lugar de fala é de quem já protestou com vuvuzelas fazendo a própria ministra ouvir nosso pleito em forma de cornetas sudafricanas e pertubando em certa medida seu trabalho. Isso valeu comentários de ministros da suprema corte, ora incomodados com a barulheira insistente, ora celebrando a volta do alarido das ruas, como um sinal de normalidade democrática. E essa normalidade é que temos, como sociedade com suas inúmeras agendas de interesses conflitantes, buscar para avançarmos reparando o mais rápido possível, as janela quebradas do nosso tecido social.
Nesse sentido, essa obra até que é bem acanhada. Mas é o que se tem de possível para os estranhos dias que vivemos. Pelo menos já vimos eventos semelhantes na história, não faz muito tempo, e sabemos como se desenvolvem e como costumam terminar.
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