Ensino remoto

Plataformas de aprendizado na internet já são uma realidade em vários países: aí buscam profissionais e estudantes reciclagem, vencendo o pr...

Plataformas de aprendizado na internet já são uma realidade em vários países: aí buscam profissionais e estudantes reciclagem, vencendo o próprio conceito de conforto. Na volta às aulas, remotamente, na Universidade de Brasília, novos são os desafios da comunidade acadêmica.


Para atravessar o mar é primeiro dar a primeira braçada. Olhar para o oceano pode não inspirar segurança, mas para se mover da inércia, só pensando nas maravilhas a conquistar do outro lado do horizonte.

O Goethe é uma instituto sem fins lucrativos, que tem como objetivo divulgar a língua alemã, principalmente em países não falantes. Referência, dispõe de professores gabaritados e de espaços acolhedores, além de plataformas virtuais bem modernas. 

Durante os meses de março e abril, aproveitei a folga dos cursos regulares na universidade para investir em auto-formação: adquiri um computador portátil novo e me inscrevi num curso à distância do Goethe Institut: Online Moderieren.  Entre suas técnicas de ensino, principalmente como fazer mais interessantes as aulas remotas, em alemão Fernunterricht. 

Foi uma decisão acertada:  a acessibilização de conhecimento adquirido a duras penas por professores há anos na praça da digitalização do ensino compensa o pagamento em euros. No curso bem organizado, tive colegas de alto nível: doutores em germanística, filosofia, alemão para estrangeiros e professores de outras áreas atuando em vários países, da Polônia e França à África do Sul, passando pelo Peru e Canadá.

Um importante legado do curso: a digitalização não chega de mão beijada para ninguém. É um esforço que precisa ser empreendido com determinação e disciplina. E um ponto essencial: o trabalho é individual, funcionando melhor com a presença de tutores e professores desvelados, presentes a cada etapa do caminho do aprendiz. 

Não vivi nas apresentações individuais e de grupo angústias sozinha. Percebi em cada colega medos, insegurança e momentos de desorientação que exigiram dos professores temperança para atravessar tempestades num movimento de colaboração de grupos e de grupo. Não conhecer pessoalmente os colegas exige duplo respeito às regras de cordialidade e aos protocolos fixados no início do curso.

A observação da tenacidade de colegas idosos - os que menos tem intimidade com a tecnologia - foi estimulante. Os testemunhos "verbalizados" através de fóruns abertos entre alunos e professores ao fim dos trabalhos às vezes emocionavam. 

Finalizei o curso com a nota máxima. Houve intrigas, colegas que não aceitaram a divisão de grupos feita pelas professoras, stress ao preparar trabalhos. Fatos corriqueiros em cursos presenciais, esse tipo de reclamações virtuais podem tomar vulto: não ver os olhos do interlocutor nas conversas de grupo e com os tutores potencializa conflitos. É um constante pisar em ovos.

"Chegando" novamente à UnB após meses de suspensão das aulas, dificuldades similares de atitude em relação ao novo são tratadas também com receio. Estar diante de um computador para se comunicar por emails e por uma plataforma nova não é fácil. A eficácia da comunicação das "conversas" virtuais deixa a desejar.

Não estamos ainda numa estrutura de organização tecnológica análoga no nosso país, mas esse não é nosso maior desafio. Precisamos mudar nosso conceito de trabalho e aprendizado. A tecnologia traz mais autonomia e liberdade ao ensino remoto, mas nem por isso é questão "perder o controle". As avaliações devem ser repensadas, dando ao aluno a chance de ser único na expressão de seus novos conhecimentos.

Nossa celebrada criatividade nacional é uma ferramenta decisiva para o processo pedagógico remoto. Vamos adicionar a essa receita também mais flexibilidade nas avaliações e interdependência para a geração e partilha de conteúdos?

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Manoela Vasconcelos é professora de alemão no Unbidiomas, programa permanente de ensino de línguas estrangeiras na Universidade de Brasília. Atualmente fornece dicas também em português e francês no Instagram@profa.manoelavasconcelos

Fonte:
[Visto no Brasil Acadêmico