A história do dia em que um desempregado sequestrou um avião comercial e ordenou que partisse para Brasília para atentar contra o então pres...
A história do dia em que um desempregado sequestrou um avião comercial e ordenou que partisse para Brasília para atentar contra o então presidente Sarney.
No entanto, levou o comandante Murilo como refém.
Fonte: EM, Wikipedia, G1
[Visto no Brasil Acadêmico]
29 de setembro de 1988. O Brasil vivendo um cenário de crise econômica, inflação alta e acelerada, recessão, desemprego e um presidente extremamente impopular, José Sarney. Nesse clima, Raimundo Nonato Alves da Conceição, 28 anos, solteiro e sem filhos, natural de Vitorino Freire, interior do Maranhão, frequentemente conseguia trabalho por intermédio da Construtora Mendes Júnior, incluindo atuação em obras da empresa no Iraque. Mas acabou demitido devido à complicada conjuntura econômica e estava tendo dificuldade em se recolocar. Para Raimundo o presidente, que também era seu conterrâneo, era o único responsável por sua desgraça.
Hóspede contumaz da Pensão Paulista, hospedaria localizada no centro de Belo Horizonte - atualmente Hotel Miranda -, que também servia de ponto para recrutamento e alojamento de empreiteiras, naquele 29 de setembro, uma quinta-feira, Raimundo saiu da pensão e foi até ao aeroporto de Confins.
Naquele dia, o voo VP-375 da VASP, foi realizado por uma aeronave Boeing 737-300, que partiu de Porto Velho rumo ao Rio de Janeiro, fazendo escalas em Brasília, Goiânia e Belo Horizonte. Na etapa final do voo, entre a capital mineira e o Rio de Janeiro, foi sequestrado.
Raimundo comprou um revólver calibre 32 e embarcou no voo. Na época, aparelhos de raios-X e detectores de metal não eram utilizados para verificar bagagens no Aeroporto de Confins, o que permitiu o embarque do passageiro com a arma em uma mochila, afinal, foram 13 anos antes do infame ataque do 11 de setembro em Nova York. Além dele, outros 59 passageiros embarcaram, se juntando aos 38 que já estavam a bordo. Além das seis pessoas da tripulação, Gilberto Renhe, um piloto extra também da Vasp, pegou carona e foi se sentar na cabine atrás do comandante Murilo.
O voo decolou às 10h42 e cerca de 20 minutos após a decolagem, com o avião já no espaço aéreo do Rio de Janeiro, Raimundo percebeu que o avião ia começar os procedimentos de pouso. Ele então se levantou e foi em direção à cabine. O comissário Ronaldo Dias achou que o passageiro queria ir ao banheiro e o alertou de que a porta era outra. Raimundo insistiu e o membro da tripulação o informou que ali ele não poderia entrar. Raimundo então sacou a arma da mochila e atirou no comissário, acertando sua orelha. Como a cabine não era aberta, disparou várias vezes contra a porta, a arrombou e entrou. Ao entrar, Raimundo baleou o tripulante extra, Gilberto Renhe, que teve a perna fraturada pelo tiro.
O piloto Fernando Murilo de Lima e Silva acionou pelo transponder o código 7500, que na linguagem da aeronáutica, indica interferência ilicita (sequestro), sem que Raimundo notasse. Mas ao tentar atender à resposta do Cindacta pelo rádio, o co-piloto Salvador Evangelista foi baleado pelo sequestrador e morreu na hora. Em seguida, Raimundo apontou o revólver para o piloto e exigiu que o avião fosse imediatamente
desviado para Brasília.
A essa altura, o caso já era considerado como um assunto de Estado. Francisco de Assis Couto, irmão de Ronaldo Costa Couto, ministro-chefe da Casa Civil na época, era um dos passageiros do voo. Autoridades como o ministro da Aeronáutica e o diretor da Polícia Federal foram informados do assassinato e do sequestro. Então um caça da FAB (Mirage III) foi enviado para acompanhar o Boeing.
Quando estava sobrevoando Brasília, Fernando Murilo se deparou com algumas nuvens e informou ao sequestrador que não havia como pousar na capital federal. Raimundo mandou seguir para Anápolis e logo depois, mudou o destino: Goiânia.
"Foi aí que mostrei para ele o marcador de combustível e falei que o avião ia parar de funcionar e a gente ia cair. Ele nem quis saber. Eu continuei sobrevoando a pista de Goiânia e aí ele soltou: 'Vamos para São Paulo'. Comecei a ficar desesperado porque se a gente mal tinha combustível para ali perto, que diria São Paulo".
Fernando Murilo de Lima e Silva. Piloto
Foi então que Murilo fez uma ação que foi crucial para o desfecho da história. Ele tirou o avião do piloto automático e executou um tonneau (manobra em que o avião dá uma volta completa ao redor de seu eixo longitudinal) para ver se o sequestrador perdia o equilíbrio.
Como o sequestrador continuava em pé, Murilo resolveu fazer uma manobra ainda mais arriscada, um parafuso - o avião perde a sustentação e cai de bico, girando as asas como um pião; a aeronave gira descendo. Murilo já tinha executado a manobra algumas vezes durante o período que foi aviador militar. Mas nunca tinha feito um parafuso com um boeing.
"Um dos motores havia parado e eu pensei, como vou morrer mesmo, vou arriscar. Parti para o tudo ou nada. Já que vou morrer, vou morrer brigando porque, pelo visto, ele não ia me deixar pousar."
Pois essa incrível manobra de Murilo, no entanto, não é reconhecida pela Boeing. Mesmo com testemunhas dentro e fora do avião, a empresa nunca homologou o feito. Além disso, o gravador de bordo parou de funcionar e não registrou o feito.
Quando concluiu o parafuso, o piloto percebeu que Raimundo estava caído e a pista estava logo à frente de Murilo que sem pestanejar aterrissou. O pouso em Goiânia, no Aeroporto Internacional Santa Genoveva aconteceu às 13h45. Em
Raimundo recuperou a pistola e continuou com as ameaças.
Ele queria ir para Brasília de qualquer jeito e eu expliquei que aquele avião não teria como decolar de novo", frisa Murilo. Depois de muita negociação, envolvendo Polícia Federal, Secretaria de Segurança Pública de Goiás e a própria Vasp, Raimundo aceitou embarcar em um Bandeirante da Força Aérea Brasileira.
No entanto, levou o comandante Murilo como refém.
"Antes disso, eu pedi a ele que liberasse o corpo do Vângelis e os feridos para fora da aeronave. Foi só ai que a tripulação e os passageiros se deram conta da tragédia. Foi uma comoção".
Quando desceram do boeing, Murilo e o sequestrador se dirigiram para o Bandeirante que não tinha escada e nem porta. Era uma armadilha para Raimundo Nonato Alves da Conceição. Como Raimundo era baixinho, Murilo teve que fazer um apoio com as mãos para ajudá-lo a subir no avião menor.
De repente veio um tiro na nossa direção e quase me pegou. Tinha um atirador de elite escondido na aeronave. Eu soltei o Raimundo e sai correndo em zigue-zague. Nem sei porque eu corri daquele jeito. Na mesma hora, ele pegou o revólver e começou a tirar em mim.
Durante o tiroteio na pista, Raimundo Nonato levou três tiros, mas não corria risco de morrer, de acordo com os médicos do hospital em Goiânia. Morreu dias depois, misteriosamente, vítima de anemia falciforme, sem relação com os tiros, segundo o legista Fortunato Badan Palhares.
Fernando Murilo de Lima e Silva, o piloto que evitou a tragédia, foi homenageado em outubro de 2001 pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas e recebeu o troféu Destaque Aeronauta por ter evitado a morte dos quase cem passageiros que estavam a bordo do Boeing 737.
Fonte: EM, Wikipedia, G1
[Visto no Brasil Acadêmico]
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