O que as comunidades nas margens social, econômica e ambiental têm em comum? Por um lado, elas tendem a estar no lado leste das cidades. Nes...
O que as comunidades nas margens social, econômica e ambiental têm em comum? Por um lado, elas tendem a estar no lado leste das cidades. Nesta breve palestra sobre um insight surpreendente, o antropólogo e capitalista de risco Stephen DeBerry explica como fatores ambientais e provocados pelo homem levaram à disparidade do design em cidades de East Palo Alto, Califórnia a Jerusalém Oriental e além - e sugere algumas soluções elegantes para corrigir isso.
Vim falar de primeiros princípios e comunidades que eu amo; especialmente Palo Alto Leste, Califórnia, que é cheia de pessoas incríveis. É também uma comunidade estranhamente separada pela rodovia 101, que atravessa o Vale do Silício. A zona oeste da estrada em Palo Alto estão "os que têm", em quase qualquer dimensão que se imagine: educação, renda, acesso à água. Na zona leste da estrada estão "os que não têm". E mesmo que não conheçam o leste de Palo Alto, podem saber a história da disparidade da zona leste, seja a separação dos trilhos de trem na zona leste de Pittsburgh, ou o Grosse Pointe Gate ao leste de Detroit, ou a zona leste de St. Louis, Oakland e Filadélfia. Por que as comunidades na margem social, econômica e ambiental tendem a estar na zona leste dos lugares? Acontece que... é o vento.
Se olhássemos para a Terra do Polo Norte, veríamos que ela gira no sentido anti-horário. O impacto disto é que os ventos nos hemisférios norte e sul sopram na mesma direção que a rotação da Terra; para o leste. Para pensar nisso, imaginem-se sentados em volta de uma fogueira. Há 10 pessoas sentadas e todo mundo deve ficar aquecido. A questão é: quem se senta com o vento esfumaçado soprando no rosto? E a resposta é: as pessoas com menos poder.
Esta dinâmica da fogueira está acontecendo nas cidades, não apenas nos EUA, mas em todo o mundo: A zona leste de London, de Paris, Jerusalém Oriental. Mesmo descendo a rua de onde estamos sentados agora, a comunidade marginalizada fica na zona leste de Vancouver. Não sou o único a perceber. Eu trabalhei duro nisso por anos. Finalmente, encontrei um grupo de historiadores econômicos no Reino Unido que modelou a dispersão da chaminé da era industrial.
E, matematicamente, eles chegaram à mesma conclusão que eu como antropólogo, que é: o vento e a poluição estão levando as comunidades marginalizadas pro leste. A lógica dominante da era industrial tem a ver com disparidade. É sobre os que têm e os que não têm, e se tornou parte da nossa cultura. Por isso vocês sabem do que estou falando se eu disser que alguém é do "lado errado dos trilhos".
Eu não estou dizendo que toda comunidade no leste está na margem, ou que toda comunidade na margem está no leste, mas estou tentando ressaltar a disparidade pelo design. Então, se falamos sobre qualquer direção cardeal de uma estrada, rio ou trilhos de trem, falamos de uma comunidade do lado leste.
O vento é obviamente um fenômeno natural. Mas as decisões humanas de design que tomamos para nos separar não são naturais. Considerem o fato de que toda comunidade da zona leste nos Estados Unidos foi construída durante a era da segregação racial. Claramente não estávamos tentando projetar para o benefício de todos, então acabamos lidando com questões como "redlining".
Estes são alguns desses mapas. Notem como o vermelho tende a ser agrupado na zona leste destas cidades. Essas decisões de design financeiro se tornaram uma profecia autorrealizável: a falta de empréstimos gerou baixa base do imposto de propriedade, o que resultou em escolas piores e uma força de trabalho menos preparada, e, vejam só, em rendas mais baixas. Isso significa não se qualificar para um empréstimo. Uma espiral descendente viciosa. E isso só com empréstimos. Tomamos decisões de design similarmente sinistras em diversas questões, desde a infraestrutura da água até aonde decidimos colocar mercearias versus lojas de bebidas, ou mesmo para quem e como projetamos e financiamos produtos de tecnologia.
Coletivamente, esta lista de danos é o artefato do nosso mais primitivo "eu". Eu não acho que é assim que queremos ser lembrados, mas é basicamente o que temos feito com as comunidades da zona leste durante o último século. A boa notícia é que não precisa ser assim. Nós nos metemos nesse dilema da zona leste através do mau design e podemos sair dele com um bom design. E acredito que o primeiro princípio do bom design é realmente muito simples: temos que começar com o compromisso de projetar para o benefício de todos. Lembrem-se da metáfora da fogueira. Se quisermos beneficiar a todos, podemos sentar em ferradura, aí ninguém pega a fumaça no rosto.
(Aplausos)
Mas o ponto é, se começarmos com este primeiro princípio de beneficiar a todos, então as soluções elegantes podem se tornar mais óbvias do que imaginamos.
Quais as soluções elegantes para aproximar Palo Alto e Palo Alto Leste, no Vale do Silício? Gosto das chances de começar com a EPA [East Palo Alto]. No meio do Vale do Silício, o epicentro da inovação e da criação de riqueza. Se podemos resolver esse problema em algum lugar, deveria ser aqui. Se resolvermos os problemas da EPA, podemos aplicar essas soluções em outras comunidades da zona leste. Se pensarmos sobre isso, é realmente uma grande oportunidade de investimento e uma oportunidade para impulsionar mudanças políticas e filantropia. Mas basicamente, é este princípio fundamental de design, essa escolha de decidir se vamos cuidar de todos.
E é uma escolha que podemos fazer, meus queridos. Nós temos o capital. Temos a tecnologia do nosso lado e isso continua melhorando. Nós temos alguns dos melhores empresários do mundo neste edifício e nessas comunidades, agora. Mas a questão fundamental é: para o que estamos projetando? "Os que têm" e "os que não têm"? Mais disparidade? Ou paridade, a escolha de nos unirmos.
Porque a realidade é que esta não é a era industrial. Não vivemos na era da segregação racial. Então, a conclusão é: não há lado errado dos trilhos. E tudo que estou dizendo é, devemos projetar nossa economia e nossas comunidades com isso em mente.
Obrigado.
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Vim falar de primeiros princípios e comunidades que eu amo; especialmente Palo Alto Leste, Califórnia, que é cheia de pessoas incríveis. É também uma comunidade estranhamente separada pela rodovia 101, que atravessa o Vale do Silício. A zona oeste da estrada em Palo Alto estão "os que têm", em quase qualquer dimensão que se imagine: educação, renda, acesso à água. Na zona leste da estrada estão "os que não têm". E mesmo que não conheçam o leste de Palo Alto, podem saber a história da disparidade da zona leste, seja a separação dos trilhos de trem na zona leste de Pittsburgh, ou o Grosse Pointe Gate ao leste de Detroit, ou a zona leste de St. Louis, Oakland e Filadélfia. Por que as comunidades na margem social, econômica e ambiental tendem a estar na zona leste dos lugares? Acontece que... é o vento.
Se olhássemos para a Terra do Polo Norte, veríamos que ela gira no sentido anti-horário. O impacto disto é que os ventos nos hemisférios norte e sul sopram na mesma direção que a rotação da Terra; para o leste. Para pensar nisso, imaginem-se sentados em volta de uma fogueira. Há 10 pessoas sentadas e todo mundo deve ficar aquecido. A questão é: quem se senta com o vento esfumaçado soprando no rosto? E a resposta é: as pessoas com menos poder.
Esta dinâmica da fogueira está acontecendo nas cidades, não apenas nos EUA, mas em todo o mundo: A zona leste de London, de Paris, Jerusalém Oriental. Mesmo descendo a rua de onde estamos sentados agora, a comunidade marginalizada fica na zona leste de Vancouver. Não sou o único a perceber. Eu trabalhei duro nisso por anos. Finalmente, encontrei um grupo de historiadores econômicos no Reino Unido que modelou a dispersão da chaminé da era industrial.
E, matematicamente, eles chegaram à mesma conclusão que eu como antropólogo, que é: o vento e a poluição estão levando as comunidades marginalizadas pro leste. A lógica dominante da era industrial tem a ver com disparidade. É sobre os que têm e os que não têm, e se tornou parte da nossa cultura. Por isso vocês sabem do que estou falando se eu disser que alguém é do "lado errado dos trilhos".
Essa expressão vem da direção que o vento sopra a fumaça suja do trem; para o leste, geralmente.
Eu não estou dizendo que toda comunidade no leste está na margem, ou que toda comunidade na margem está no leste, mas estou tentando ressaltar a disparidade pelo design. Então, se falamos sobre qualquer direção cardeal de uma estrada, rio ou trilhos de trem, falamos de uma comunidade do lado leste.
O vento é obviamente um fenômeno natural. Mas as decisões humanas de design que tomamos para nos separar não são naturais. Considerem o fato de que toda comunidade da zona leste nos Estados Unidos foi construída durante a era da segregação racial. Claramente não estávamos tentando projetar para o benefício de todos, então acabamos lidando com questões como "redlining".
Trata-se do governo literalmente ter criado mapas pra dizer aos banqueiros onde não deviam conceder empréstimos.
Estes são alguns desses mapas. Notem como o vermelho tende a ser agrupado na zona leste destas cidades. Essas decisões de design financeiro se tornaram uma profecia autorrealizável: a falta de empréstimos gerou baixa base do imposto de propriedade, o que resultou em escolas piores e uma força de trabalho menos preparada, e, vejam só, em rendas mais baixas. Isso significa não se qualificar para um empréstimo. Uma espiral descendente viciosa. E isso só com empréstimos. Tomamos decisões de design similarmente sinistras em diversas questões, desde a infraestrutura da água até aonde decidimos colocar mercearias versus lojas de bebidas, ou mesmo para quem e como projetamos e financiamos produtos de tecnologia.
Coletivamente, esta lista de danos é o artefato do nosso mais primitivo "eu". Eu não acho que é assim que queremos ser lembrados, mas é basicamente o que temos feito com as comunidades da zona leste durante o último século. A boa notícia é que não precisa ser assim. Nós nos metemos nesse dilema da zona leste através do mau design e podemos sair dele com um bom design. E acredito que o primeiro princípio do bom design é realmente muito simples: temos que começar com o compromisso de projetar para o benefício de todos. Lembrem-se da metáfora da fogueira. Se quisermos beneficiar a todos, podemos sentar em ferradura, aí ninguém pega a fumaça no rosto.
Uma observação para os gentrificadores, porque o ponto aqui não é dizer que devemos entrar nas comunidades da zona leste e tirar pessoas do caminho, não é mesmo.
(Aplausos)
Mas o ponto é, se começarmos com este primeiro princípio de beneficiar a todos, então as soluções elegantes podem se tornar mais óbvias do que imaginamos.
Quais as soluções elegantes para aproximar Palo Alto e Palo Alto Leste, no Vale do Silício? Gosto das chances de começar com a EPA [East Palo Alto]. No meio do Vale do Silício, o epicentro da inovação e da criação de riqueza. Se podemos resolver esse problema em algum lugar, deveria ser aqui. Se resolvermos os problemas da EPA, podemos aplicar essas soluções em outras comunidades da zona leste. Se pensarmos sobre isso, é realmente uma grande oportunidade de investimento e uma oportunidade para impulsionar mudanças políticas e filantropia. Mas basicamente, é este princípio fundamental de design, essa escolha de decidir se vamos cuidar de todos.
E é uma escolha que podemos fazer, meus queridos. Nós temos o capital. Temos a tecnologia do nosso lado e isso continua melhorando. Nós temos alguns dos melhores empresários do mundo neste edifício e nessas comunidades, agora. Mas a questão fundamental é: para o que estamos projetando? "Os que têm" e "os que não têm"? Mais disparidade? Ou paridade, a escolha de nos unirmos.
Porque a realidade é que esta não é a era industrial. Não vivemos na era da segregação racial. Então, a conclusão é: não há lado errado dos trilhos. E tudo que estou dizendo é, devemos projetar nossa economia e nossas comunidades com isso em mente.
Obrigado.
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
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