O segundo episódio dessa série que mostra a evolução da ciência através dos tempos.
O segundo episódio dessa série que mostra a evolução da ciência através dos tempos.
Há algumas grandes questões que nos intrigam e perseguem desde o surgimento da humanidade.
O que há lá fora?
Como chegamos até aqui?
Do que o mundo é feito?
A história de nossa busca para responder tais questões é a história da ciência.
De todos os empreendimentos humanos, a ciência teve o maior impacto em nossas vidas, sobre como vemos o mundo, sobre como vemos nós mesmos.
Suas ideias, feitos e resultados estão ao nosso redor.
Como chegamos ao mundo moderno?
Isso é ainda mais surpreendente e humano do que possam imaginar.
A história da ciência habitualmente é contada como uma série de momentos de revelação.
O triunfo final da mente racional.
Mas a verdade é que o poder e a paixão, a disputa e o acaso tiveram papéis igualmente importantes.
Nesta série, oferecerei uma visão diferente sobre como a ciência acontece.
Ela foi definida tanto pelo que está fora como dentro do laboratório.
Esta é a história de como a história fez a ciência e de como a ciência fez a história, e de como as ideias produzidas mudaram nosso mundo.
É uma história de poder...
prova...
...e paixão.
A HISTÓRIA DA CIÊNCIA Episódio 2
Desta vez, investigando fundo para achar beleza e ordem.
Do que o mundo é feito?
As aparências enganam.
Por trás da aparência, nosso mundo é mais estranho do que possam imaginar.
Em pé aqui, parece que estou sobre uma superfície sólida.
Mas é uma ilusão, embora convincente.
Nada é realmente sólido.
E nós? Consistimos quase que inteiramente de espaço vazio.
Se pegássemos a população mundial, todos os 6 bilhões, e retirássemos esse espaço vazio, poderíamos ser comprimidos num cubo menor que este.
E fica ainda mais estranho.
Celulares e outros aparelhos eletrônicos dos quais dependemos.
Eles dependem de partículas que, numa definição normal, simplesmente não existem.
Todas essas noções vieram de nossas tentativas em descobrir do que o mundo é feito.
Ao longo dos milênios, nossa compreensão aprofundou-se, revelando novas camadas que compõem o mundo material.
Pode parecer uma busca acadêmica e esotérica.
É tudo menos isto.
Cada vez que avançamos uma camada e alcançamos um entendimento mais profundo da matéria, esse conhecimento gera novas tecnologias e enorme quantidade de riqueza e poder.
Os primeiros que tentaram desvendar os segredos do que o mundo é feito, e alterá-lo, foram os alquimistas.
Eles prosperaram no final da Idade Média, trabalhando em segredo, protegendo seu conhecimento com códigos e criptogramas.
É fácil classificar os alquimistas como místicos iludidos, sempre tentando transformar chumbo em ouro.
Ou, talvez, golpistas, que usavam química simples para impressionar os crédulos.
Mas as origens da investigação científica do que o mundo é feito estão em seus laboratórios secretos.
As crenças alquimistas sobre a matéria baseavam-se principalmente nas ideias dos gregos antigos.
E os gregos acreditavam que quase tudo ao nosso redor era feito de terra, fogo, ar e água.
O sistema deles era de uma simplicidade cativante.
Tudo no mundo era uma combinação de apenas 4 elementos idealizados...
Terra. Água. Ar. Fogo.
Estavam completamente enganados, mas o princípio central, de que podíamos explicar um mundo complexo com partículas estruturais simples ou elementos, foi importante.
Mas o que me interessa nos alquimistas são suas habilidades práticas.
Quero tentar reproduzir uma estranha experiência, realizada por um dos últimos alquimistas, um alemão chamado Hennig Brand.
Brand acreditava estar prestes a descobrir a pedra filosofal, uma substância que supostamente transformaria metais em ouro.
Ele achou que poderia encontrá-la na urina humana.
- Há quanto tempo tem isto? - Não temos...
Nossa! Meu Deus! Dei uma bela cheirada!
Mas piora!
Creio que Hennig Brand não era muito popular com as mulheres.
Após ferver nosso material inicial, iremos reduzi-lo a um composto sólido.
Por fim, iremos destilá-lo e ver se obtemos algo interessante.
Vou tentar dar uma ideia da mentalidade dos alquimistas.
Eles acreditavam que tudo na Terra, de certa forma, estava vivo, e isso incluía os metais.
Os metais cresceriam na terra como sementes, e como o corpo humano se decompõe, eles também se decomporiam. Enferrujariam.
Mas os metais também podiam ser aperfeiçoados.
Podiam ser melhorados. Purificados.
E se isso ocorresse, eles virariam ouro, o mais puro dos metais.
Era a lendária pedra filosofal que os alquimistas acreditavam que poderia causar essa transformação.
Aqui está.
Parece completamente podre, devo dizer.
Posso lhe dizer que, como químico, já cheirei muito material.
Isto é extremamente desagradável.
Reduzimos cerca de meio litro de urina a isto, pode ver que começa a ficar um pouco pastoso.
Contém todo tipo de sólido branco.
Meu Deus! Que coisa ruim!
Ele teria de transferi-lo para esta retorta.
Vamos despejá-lo através do topo.
Deixarei escorrer por esta vareta de vidro.
E, posteriormente, vem o calor extremo?
E agora, o teste de fogo, por assim dizer.
Envolvia grande habilidade técnica.
Controlar a temperatura, fabricar o forno e as retortas de vidro.
Mas sua robustez e persistência produziram estranhos resultados.
O que ele extraiu da urina?
Posso lhe mostrar, se olhar, está armazenado sob a água, como Brand provavelmente teria feito.
Acho que devemos ver o que ocorre quando o queimamos.
Pode ver as nuvens de fumaça branca.
Meu Deus! Posso tocar?
- Pode erguê-lo. Sim. - Meu Deus!
É belo e assustador ao mesmo tempo.
É fantasmagórico, não é?
É sobrenatural.
É mágica da mais elevada ordem.
Brand, claro, nunca achou a pedra filosofal.
Sua descoberta foi batizada "o que traz luz", ou fósforo.
Tornou-se bastante importante.
Mais tarde foi usado para fabricar o fósforo.
É fácil pensar nos alquimistas como um bando de místicos que fizeram descobertas ao acaso, mas se olharem o equipamento ali atrás, uma história bem diferente é contada.
Tem-se balanças, forno, retorta.
Equipamento achado em qualquer laboratório químico moderno.
Não tenho dúvida que a busca para compreender do que o mundo é feito foi auxiliada pelo trabalho feito ao longo dos anos pelos alquimistas.
Mas, na época de Brand, os alquimistas estavam em decadência.
E a antiga ideia de o mundo ser feito de apenas 4 formas de matéria estava prestes a ser demolida.
Conforme a Europa saía da Idade Média, novas forças começavam a moldar a ciência.
Poderosas monarquias absolutistas governavam o continente.
Estavam ávidas por armas enquanto lutavam por supremacia.
Isso levou a um interesse estratégico em mais e melhores metais.
A ânsia por metais era insaciável e o negócio de extrair minérios metálicos do subterrâneo tornou-se cada vez mais importante.
As minas foram um dos lugares onde os desafios às crenças antigas começaram a surgir.
O ar há muito tempo era considerado uma única substância indivisível, um elemento estrutural básico do mundo.
Mas conforme a Europa se industrializava, ficou cada vez mais óbvio que isto estava longe da verdade.
As pessoas perceberam, a partir da experiência pessoal, que havia muitos ares diferentes, com propriedades bem distintas.
Havia o ar mau, que matava os homens nas minas e misteriosamente apagava velas.
Havia o gás de mina, que inflamava no subsolo sem aviso prévio.
E o pitoresco ar flogisticado, produzido pela combustão.
Tudo isso suscitou questões.
O que eram esses ares? Quantos existiam?
Em toda Europa, os pesquisadores estavam à procura de respostas.
Em Yorkshire, o desafio foi aceito pelo filósofo natural Joseph Priestley...
...um homem que se dispôs a sondar os mistérios ocultos da natureza.
Joseph Priestley foi um jovem precoce.
Aos 4 anos, ele podia recitar perfeitamente todas as 107 perguntas e respostas do Breve Catecismo de Westminster.
Ele se juntou à igreja, mas também tornou-se um brilhante pesquisador.
Ele procurava Deus, não apenas na Bíblia, mas na natureza.
Priestley estava entre os principais pesquisadores de ar da época.
E foram esses novos "ares" ou gases que ajudariam a criar uma nova visão do que o mundo é feito.
Priestley começou a estudar os ares aquecendo substâncias diferentes...
...incluindo uma favorita da alquimia antiga.
O precipitado vermelho.
Gosto da forma que a cor muda, passa de laranja para um vermelho intenso.
Priestley o aqueceu à alta temperatura e o pó laranja transformou-se num metal brilhante.
Mercúrio.
E com um novo equipamento, a tina pneumática, ele capturou um novo ar.
Certo. E aqui está.
Um valioso recipiente cheio de gás misterioso.
- Vamos testá-lo. - Vire de cabeça para baixo - e tire rapidamente a tampa. - Certo.
Pronto? Tire a tampa.
- E reinflama... - É lindo.
Apaga de novo e reacende.
Ele descreveu que havia obtido como "ar bom".
E ficou encantado com suas propriedades inflamáveis.
Mostrou ser o mais importante dos novos ares já descobertos.
Em 1774, Priestley partiu numa viagem decisiva a Paris.
Normalmente ele não poderia bancar tal coisa, mas nessa ocasião foi como convidado de um aristocrata britânico e levou consigo o conhecimento de sua nova descoberta.
Quando chegou a Paris, Priestley foi convidado a jantar com o casal 20 da ciência experimental francesa, Antoine e Marie-Anne Lavoisier.
Eles tinham criado o laboratório privado mais bem equipado da Europa, dedicado ao cálculo e precisão.
Ele tinha a grande ambição de definir a nova ciência da química.
Sua contribuição para nossa forma de vida atual foi tão grande quanto a de Newton ou Darwin.
Quando jovem, Lavoisier disse, "Sou ávido por glória".
E ele a obteve, mas a um imenso custo pessoal.
Não podiam ser mais diferentes, o parisiense sofisticado e o trabalhador de Yorkshire.
Suponho que Priestley estivesse extasiado com a ocasião, pelo magnífico cenário, os vinhos finos, por Antoine Lavoisier e seus convidados brilhantes.
Como ele posteriormente escreveu à esposa, "a maioria dos filósofos da cidade estava presente".
E, conforme a noite avançava, a conversa chegou ao assunto dos ares.
Priestley logo contou a eles sobre sua recente descoberta, um ar com propriedades inflamáveis, e depois também lhes disse exatamente como produzi-lo.
Do outro lado da mesa, Lavoisier ouvia atentamente.
Como Priestley registrou mais tarde, "todos ao redor da mesa expressaram surpresa".
De posse do conhecimento de Priestley, Lavoisier partiu para repetir a experiência.
E logo estava propagando sua descoberta, o mesmo ar, mas com um novo nome.
Lavoisier o chamou de "oxigênio".
O gás da vida.
Mas o que Lavoisier fez a seguir foi um momento decisivo na história da ciência.
Ele decidiu realizar a experiência de Priestley ao inverso, o gás e o metal brilhante recombinados para formar o precipitado vermelho.
O realmente importante é que ele descobriu que pesava exatamente o mesmo que antes.
Isto se tornaria um princípio fundamental da química moderna.
Foi um momento importante.
Lavoisier descobriu que tudo se equilibra.
Pode-se pegar uma substância, decompô-la em elementos simples depois recombiná-los e voltar à substância inicial.
Para mim, isso marca o início da compreensão moderna da matéria, do que o mundo realmente é feito.
Surgia agora a ciência da química.
A partir de ligações...
entre as habilidades práticas dos alquimistas...
a descoberta de novos gases...
e uma dedicação à medição precisa.
A nova química ajudaria a criar uma nova visão do que o mundo é feito.
Enquanto isso, fora dos laboratórios dos ricos, a ciência desenvolvia um gosto pelo espetáculo, movida pelo novo interesse nos ares.
Estamos prestes a reencenar um momento muito importante da história da ciência.
Deve haver chamas, barulho, gritos e, por óbvio, é por isso que estamos com estas roupas engraçadas.
Na pequena cidade francesa de Annonay, descendentes de uma famosa família de papeleiros, os Montgolfiers, recriam a época em que o antigo sonho de conquistar o céu tornou-se realidade.
É incrivelmente quente e fumacento ali embaixo.
Quando os irmãos Montgolfier fizeram esta experiência, desconheciam a teoria.
Eram homens práticos que queriam ganhar dinheiro e pensaram no que acontecia à palha, produzindo algo chamado gás Montgolfier, que contém a leveza que faz o balão subir.
E agora estamos cozinhando!
Nossa! Está muito quente.
Que bela visão! Foi muito divertido. Sabemos o que é voar, mas imaginem que nunca tinham visto algo voar antes.
Isso os deixaria espantados.
O primeiro balão, feito inteiramente de papel, subiu cerca de 1,6 km rumo ao céu.
Estava iniciada a corrida para levar o homem ao céu.
E em novembro de 1783, dois bravos voluntários subiram ao céu.
Os primeiros seres humanos a verem de cima a superfície do seu próprio planeta.
Mas muito breve, o balão de ar quente ganhou um rival, apoiado pela comunidade científica francesa.
Apenas 10 dias depois, outro balão subiu.
Impulsionado por um novo gás recém-descoberto, chamado "gás inflamável".
Era 13 vezes mais leve que o ar normal e consideravelmente menos perigoso que usar uma pilha de palha em chamas.
Tinha um imenso poder de elevação.
Era a ciência como um evento público.
Metade da cidade de Paris compareceu para ver.
400 mil pessoas, todas espantadas olhando para cima.
Mas seu êxito impôs um desafio aos químicos.
Como produziriam o suficiente deste novo gás para encher os céus com aeronautas?
Foi um desafio enfrentado pelo campeão da nova química...
...Antoine Lavoisier.
Sempre pesquisador, sua solução foi ousada, descobrir uma forma de dissociar uma substância fundamental...
a água.
- Bom revê-lo. - Que bom vê-lo, Michael.
Adoro isto.
Estou impressionado pois tenho o desenho aqui de como era o aparelho original de Lavoisier e acho que esse está bem parecido.
Este aparelho foi construído para testar a ideia de Lavoisier que a água podia se dissociar em dois gases distintos, o oxigênio e o novo "gás inflamável".
Temos um sistema para produzir ferrugem rapidamente.
Temos o ferro no centro e a água que está escorrendo, e ao aumentarmos a temperatura, o que fazemos é acelerar a reação.
Então o oxigênio da água irá se ligar ao ferro?
Isso. O ferro é o absorvedor de oxigênio neste sistema.
Se deixar um pouco de água entrar por esta extremidade, ela irá aquecer e pode vê-la formando vapor e é por isso que temos um pouco de pressão atrás.
Mas agora será drenada e, no centro, deverá reagir com o ferro.
Devemos ver bolhas na extremidade.
- Temos bolhas. - Parabéns. Belo trabalho!
- Estou impressionado. - E essas bolhas não são o vapor.
Pois o vapor estaria condensado na serpentina.
Deve haver algum, vamos chamá-lo de gás não condensável.
Mas é o "ar inflamável"?
Estamos ansiosos, não?
Estamos prontos. Vamos inserir a vareta aqui dentro.
Certamente era hidrogênio e deu certo.
Foi o barulho que obtém quando o hidrogênio inflama. Sem dúvida.
Foi o "gás inflamável" como ele era chamado no século XVIII.
O êxito de Lavoisier encorajou Napoleão a criar uma unidade militar de balões, movidos a hidrogênio.
Os dois gases que compõem a água, o hidrogênio e o oxigênio, fizeram parte da nova visão ousada de Lavoisier do que o mundo é feito.
Elementos. 33 ao todo.
Sua lista incluía os gases recém-descobertos, mas ele não acertou totalmente.
Ele também incluiu o calor e a luz.
Era uma lista provisória dos elementos estruturais da matéria.
O trabalho de Lavoisier coincidiu, tragicamente para ele, com a eclosão da Revolução Francesa.
Ele ganhava dinheiro cobrando impostos.
Era um coletor fiscal odiado.
Lavoisier devia saber que era vulnerável.
Um membro do governo revolucionário declarou que ex-coletores como ele eram sanguessugas do povo, mas ele não quis fugir.
Aqui, na Praça da Concórdia, Lavoisier foi executado.
Foi mais que apenas uma tragédia individual.
Como expressou um dos colegas de Lavoisier, "levou apenas um instante para decepar sua cabeça "e mais de 100 anos não seriam suficientes "para produzir outra igual."
Havíamos avançado uma camada em nossa compreensão do que o mundo é feito...
para um mundo de elementos.
Cada um deles considerado um elemento estrutural inquebrantável de matéria e esta nova compreensão começaria a liberar grande poder.
Nossa viagem agora ruma à paisagem sublime de Lake District.
No fim do século XVIII, foi o lar de William Wordsworth, um dos maiores poetas da época.
Wordsworth foi um dos líderes do movimento chamado Romantismo.
Valorizavam os sentimentos e a intuição sobre a frieza da lógica.
A ciência Romântica parece uma contradição de palavras mas, como descobriremos, os poetas românticos tiveram um efeito profundo surpreendente na história da ciência.
Pode parecer improvável, mas o elo pode ser achado aqui, no chalé de Wordsworth.
Este, claro, é William Wordsworth.
E aqui temos outro dos poetas românticos.
Este é Samuel Taylor Coleridge, de Balada do Antigo Marinheiro e Kubla Khan.
Mas o homem que vim ver é ele, Humphry Davy, um dos maiores químicos ingleses.
O que ele faz aqui?
Bem. Humphry Davy e os poetas românticos compartilhavam interesse pela poesia, no poder da natureza e numa certa substância que alterava o humor.
Chamavam-lhe "gás do riso"
e Davy generosamente o dividia com seus amigos românticos.
Mas as ligações eram muito mais profundas.
Não é lindo?
Dá para entender por que Davy amava este lugar e dividia com os poetas românticos a crença de que se pudesse entender as leis da natureza e viver em harmonia com elas, então o mundo seria um lugar melhor.
Poetas e homens da ciência estavam admirados com os poderes ocultos contidos na natureza.
Só tinham maneiras distintas de mostrar isso.
Em 1801, as ligações sociais de Davy lhe valeram um cargo no Instituto Real de Londres.
Aqui, ele foi capaz de realizar pesquisa e dar palestras públicas.
O glamour de sua juventude e o gosto pelo espetacular fizeram dele um sucesso imediato.
- Olá. - Precisará disto.
- Pronto para se apresentar? - Estou.
É hora do show!
Acho que Humphry Davy disse isso.
O Dr. Peter Wothers está ajudando a recriar a extravagância que Davy trouxe aqui há 200 anos.
- Com cuidado, ponha uma gota. - Certo. Podemos...
Veja o que acontece à sua ovelha.
Havia uma plateia entusiasta atraída por essas exibições maravilhosas.
Em algum lugar por ali, algumas jovens ardentes atraídas pelo carisma dele.
Ali provavelmente estaria Samuel Coleridge que estava interessado em colecionar novas metáforas.
E espalhada pela plateia, uma nova geração de empresários e donos de fábricas que tinham vindo aqui para colher valiosas informações químicas.
Humphry Davy tinha um conhecimento instintivo de como o espetáculo e o talento podiam ser usados para firmar a ciência como uma poderosa força social, controlada por uma nova geração de especialistas.
Homens como ele.
Ele emocionou a plateia com o seu domínio de uma das maravilhas da época...
a eletricidade.
- Isto será perigoso? - Provavelmente.
É um material instável.
Então vou abotoar bem a bata!
Davy aqueceu um modesto pó branco chamado potassa a um estado derretido e então passou eletricidade por ele.
Davy sabia o que obteria ao fazer esta experiência?
- Creio que não. - Ele só fez pela diversão.
A eletricidade dissociou a potassa ...para revelar um dos seus elementos estruturais.
Um novo elemento de brilho lilás.
Ele o chamou de potássio.
A fumaça que vê é o potássio sendo formado mas reagindo instantaneamente com o ar.
Este elemento era tão volátil e reativo, que desaparecia praticamente ao ser isolado.
Vou extrair um pouco.
- Este é o potássio. - Que engraçado.
Nunca tinha visto potássio. Parece um metal.
Parece sim, mas se cortá-lo, é um metal macio.
Dá para ver como é o potássio.
É puro potássio metálico.
E pode ver que ele já está reagindo com o oxigênio do ar.
É impressionante que Davy tenha feito isso há 200 anos.
Foi um feito excepcional isolar este metal reativo.
Davy tinha talento para achar novos elementos.
Oito deles em menos de 2 anos.
Meu Deus!
- Aí está. - Não esperava por isso.
Mas a importância do trabalho de Davy foi além dos novos elementos.
Estendeu-se para a ciência e para a cultura popular.
Houve uma jovem escritora, Mary Shelley, que foi inspirada e afetada pelo trabalho de Davy.
Ele a influenciou ao escrever Frankenstein, um romance que criou uma imagem poderosa e duradoura de um pesquisador louco que lidava com forças além do seu controle.
E havia o amigo de Davy, o poeta Samuel Taylor Coleridge.
Ele ajudou a cunhar o termo "cientista"
para descrever o que pessoas como Davy faziam.
As alternativas incluíam "homem da ciência", mas foi o termo "cientista" que se firmou.
Mas os demais da plateia tinham uma reação mais prática.
A química era útil? Ela gerava dinheiro?
A química estava prestes a tornar-se um força mundial, mas a jornada que levou para chegar lá foi imprevisível.
Ela começou nos trópicos com um problema mortal que ameaçou os impérios do século XIX.
Na Jamaica, outrora colônia britânica, espero ver como eles lidaram com isso.
É muito cedo. Mas já está incrivelmente quente.
- Isso mesmo. - Ainda temos muito caminho?
A que altura estamos?
Quando chegarmos à árvore de quinino, estaremos a 1.524 m acima do nível do mar.
Certo. Há mosquitos aqui em cima?
- É alto demais? - Só um pouco.
Nas encostas das Montanhas Azuis cresce uma árvore notável.
Gostei daqui. É ótimo. É bom para relaxar.
Há muitos seres desagradáveis nos trópicos mas o mais mortal é o mosquito.
Ele matou mais pessoas que qualquer outra coisa na história.
Ele transmite febre amarela, dengue, mas também malária.
No século XIX, a malária foi um grande problema para os impérios, como o britânico.
Certo. É por aqui?
- Qual o tamanho? - Cerca desta altura.
- E qual a idade? - Por aqui.
A melhor defesa contra essa doença era a casca da árvore do quinino.
- Conhece a árvore? Já a viu antes? - É aquela ali?
Sim. É esta. Começou a florar.
É talvez a árvore mais extraordinária da história.
Ela aliviou o sofrimento humano mais que qualquer outra coisa.
- É a casca que queremos, não? - É.
Me disseram que é horrível. Já provou?
Provei. Muito amarga.
Quando estudava medicina, vi alguém morrer de malária por isso tenho enorme apreço por isto.
Será que vou gostar?
Meu Deus!
Você estava certo!
É muito amarga. Resseca a boca, não é?
Se considerarmos que algo horrível assim nos faz bem então isto é extraordinariamente bom.
Plantações de quina se espalharam pelos trópicos.
Mas todos os anos os impérios europeus precisavam de centenas de toneladas da casca para combater a malária.
Assim, os governos recorreram aos químicos para criar uma alternativa sintética.
Em 1820, alguns químicos franceses conseguiram isolar o princípio ativo da casca e chamaram de quinina.
O que queriam desesperadamente fazer a seguir era produzir uma versão artificial da quinina.
O problema era que ninguém tinha feito algo complexo assim.
As tentativas revelariam o mundo da química em escala industrial.
O desafio de fabricar quinina artificial foi enfrentado por um laboratório improvisado no East End londrino...
em um sótão, pelo jovem William Perkin.
Gosto de pensar que ele achou sua inspiração na esquina, na casa local de espetáculos.
Não é magnífico?
O teatro e toda a Londres eram iluminados por luzes a gás.
E o gás era produzido a partir do carvão.
Um dos subprodutos desagradáveis desse processo era uma substância negra viscosa chamada piche de carvão.
Um tal de Charles Mackintosh usou isto para fabricar casacos à prova d'água.
Mas Perkin estava para descobrir algo bem mais lucrativo que isso.
As substâncias químicas usadas por ele para tentar criar quinina, são altamente tóxicas.
Por isso usarei substitutos para mostrar como era o processo.
A partir do piche de carvão, outros químicos produziram uma substância chamada anilina que contém as mesmas quantias de carbono, hidrogênio e nitrogênio que a quinina.
Parecia um bom lugar para se começar.
Ele misturou a anilina com ácido sulfúrico e também a uma substância chamada dicromato de potássio, uma espécie de misturador químico.
Deixou fermentar um pouco.
O que ele obteve era negro, oleoso e nauseante.
Estou surpreso que ele não o jogou fora, mas não o fez.
No laboratório, na parte superior da casa dos pais, ele destilou, misturou e acabou produzindo um pó muito interessante.
Ele não havia descoberto a quinina artificial.
Ele descobrira algo nunca visto e que ele não esperava.
Ele descobrira a cor malva!
Ele havia criado o primeiro corante sintético e fez do mundo um lugar mais colorido.
Perkin nunca produziu quinina mas criou uma sensação da moda.
Os ricos e famosos adoraram a sua malveína.
É lindo demais.
É um antigo vestido vitoriano.
A malveína de Perkin era mais que uma simples questão de moda.
As tinturas de anilina, usadas para colorir este vestido, foram as primeiras produzidas em escala industrial.
Por mais estranho que pareça, este vestido marca um momento importante da história humana, quando os produtos sintéticos sobrepujaram os naturais em grande escala.
Na década de 1870, a fábrica de Perkin produzia centenas de toneladas de tintura por ano.
Adicionando o verde de Perkin e o violeta britannia ao seu crescente catálogo de cores vívidas.
Perkin é celebrado como o pai da química industrial mas a liderança logo passou para a Alemanha onde os químicos industriais descobriram como produzir amônia, o que levou aos fertilizantes artificiais, que hoje sustentam a população mundial.
INGLATERRA EM GUERRA: ORDENS PARA A FROTA
Mas a jornada que começou nos trópicos com a busca pela quinina também levou até aqui...
aos campos de batalha da I Guerra Mundial.
Os uniformes cáqui eram tingidos com corantes artificiais.
Os explosivos eram produzidos pelo mesmo processo dos fertilizantes.
Ela também nos trouxe os horrores do gás venenoso, o cloro.
Gás usado na indústria de corantes da qual Perkin fora pioneiro.
A I Guerra Mundial foi descrita como "A Guerra Química".
A química industrial se tornou uma força da história mundial, o resultado das ligações entre a descoberta dos elementos, o crescimento dos impérios europeus e a cor malva.
Mas a busca por aquilo do que o mundo é feito estava longe de acabar.
Em universidades ao redor do mundo, pesquisadores tentavam explicar do que os elementos eram feitos.
A principal teoria era de que os elementos eram feitos de minúsculas partículas indivisíveis de matéria chamadas átomos.
Os átomos de diferentes elementos combinam-se para formar tudo que vemos ou tocamos.
Havia apenas um problema bastante complicado com a ideia do átomo.
A prova.
Era ver para crer. Ninguém tinha visto um átomo.
Eles eram muito pequenos.
Muitos físicos eram céticos quanto à sua existência.
Ernst Mach, que emprestou seu nome à velocidade do som, disse, "Eles são apenas produtos do pensamento."
A primeira prova física da existência dos átomos viria de uma fonte inesperada.
Do mundo do sobrenatural.
Para a mente moderna, William Crookes é um cientista enigmático.
Seus interesses iam da descoberta de novos elementos à investigação do mundo dos espíritos e fantasmas.
O interesse de Crookes no espiritismo talvez tenha sido por causa da trágica morte do seu irmão mais novo em tenra idade.
Na mesma época, havia fotos alegando mostrar ectoplasma, espíritos e aparições.
Crookes iniciou a investigação científica de tais alegações.
Crookes convidou alguns dos principais médiuns da época a vir à sua casa serem testados, e eles passaram no teste com louvor.
Ele alegou ter visto atos de levitação, um acordeom tocando sozinho e estranhas figuras fantasmagóricas, algumas das quais ele fotografou.
Crookes estava sendo ingênuo?
Fazia poucas décadas que o telégrafo tinha sido inventado.
Se dava para se comunicar com o mundo então por que não com os mortos?
A questão é que, mesmo em seu próprio laboratório, Crookes se deparava com coisas difíceis de explicar, coisas, por assim dizer, fora deste mundo.
Esta coisa aqui chama-se tubo de Crookes.
É apenas um tubo de vidro do qual o ar foi removido, dois eletrodos e uma tela fluorescente.
Ele passou corrente de alta voltagem pelos eletrodos...
e o resultado foi bem surpreendente.
Não é bonito?
Parece um raio verde.
Seria esta uma emanação espiritual?
Crookes era um pesquisador cuidadoso.
Ele descobriu que a luz podia ser alterada com um ímã, sugerindo que, de alguma forma, ela era elétrica.
O que ele fez a seguir foi genial.
Certo.
Crookes criou outro tubo com um acréscimo, uma minúscula roda de metal.
Vejamos o que ocorre quando o ligamos.
Espetacular.
Isto sugeria que a luz estranha era composta de partículas em movimento, algo com massa para empurrar a roda.
Crookes ficou emocionado.
Pelo que ele sabia, isto provava sem sombra de dúvida que uma corrente de partículas a fazia girar.
Ele chamou esta força, esta corrente, de "matéria radiante".
Ele achou ser uma espécie de quarto estado da matéria.
Apesar de todas as suas habilidades de pesquisador, Crookes não tinha uma teoria convincente para o que estava ocorrendo.
Mas sua curiosidade iria provocar uma sequência de experiências que iria transformar a Física, a Química e também criar uma nova forma de ver o estranho mundo em que vivemos.
A teoria atômica começou a firmar-se na Universidade de Cambridge, no modesto Laboratório Cavendish com o trabalho do físico Joseph John Thomson, conhecido por JJ.
Ele notou que o que fazia o tubo brilhar e a roda girar, era uma corrente de minúsculas partículas carregadas, partículas bem menores que os átomos.
Ele construiu versões mais precisas e delicadas dos tubos de Crookes.
Thomson calculou que as partículas que faziam a roda girar eram mil vezes menores que um átomo.
Isso causou uma sensação.
Elas foram chamadas elétrons, as primeiras partículas subatômicas a serem descobertas.
Feito que garantiu a JJ Thomson o Prêmio Nobel de Física de 1906.
Uma nova camada do nosso conhecimento do que o mundo é feito tornou-se acessível no início do século XX.
O mundo era composto de átomos e eles eram compostos de 3 partículas fundamentais, prótons e nêutrons amontoados no núcleo, cercado por elétrons movendo-se em órbitas.
O local adequado para ter uma noção do mundo atômico é a Catedral de São Paulo em Londres.
É o lugar onde podem começar a imaginar a escala e proporções dentro do átomo.
Se imaginarem a Catedral de São Paulo como um átomo, então o núcleo, que está no centro do átomo, e onde está localizado quase toda a massa, seria menor que um único grão de areia.
O resto é efetivamente um vazio.
É extraordinário.
Tudo o que acham ser matéria sólida, o prédio, eu, vocês, o piso sobre o qual estou, quase tudo é espaço vazio.
É por isso que, se eliminar o espaço vazio, a população mundial caberia dentro de um único cubo de açúcar.
E os cientistas logo perceberam que dentro do átomo as tradicionais leis da física simplesmente não se aplicavam.
Nos primórdios da teoria atômica, achavam que o átomo era um mini sistema solar.
Tinha-se o núcleo, o sol no centro, e ao redor dele giravam os elétrons, como mini planetas.
Mas logo notaram que os elétrons não se pareciam em nada a planetas.
O elétron é algo inacreditavelmente estranho.
Não dá para estabelecê-lo.
Um elétron nunca está em um só lugar.
Ele voa como se estivesse em muitos lugares ao mesmo tempo.
Próximo ao altar, lá em cima na cúpula, atrás de mim, tudo ao mesmo tempo.
Era preciso uma nova teoria para explicar este estranho mundo subatômico.
O comportamento dos elétrons só poderia ser descrito, não como certeza, mas probabilidade.
Não onde os elétrons estão, mas onde devem estar.
A nova teoria ficou conhecida como quântica.
Niels Bohr, pai da Física Quântica, disse certa vez que, "se não ficar chocado ao ouvir falar dela então não a entendeu."
Até Albert Einstein a rejeitou inicialmente, dizendo:
"Deus não joga dados com o universo."
Mas todavia a teoria quântica é a base de nossa sociedade tecnológica moderna.
1945.
A geração da guerra celebrava a vitória e a possibilidade de paz e abundância.
Sonhavam em como a tecnologia poderia melhorar as suas vidas.
E por trás de muitos desses sonhos estava a ciência do elétron.
Era um mundo completamente novo e o que o tornou possível foi isto.
Válvulas.
É muito bonita, não?
É uma prima distante do tubo de Crookes e sua função era controlar o fluxo de elétrons, para amplificar ou comutar as coisas.
A válvula foi o carro-chefe da indústria elétrica.
Era usada para amplificar sinais elétricos em rádios e centrais telefônicas, e para comutar sinais binários nos primeiros computadores.
Eram produzidas aos milhões.
O problema é que é grande, volumosa, consome muita energia, esquenta demais e é incrivelmente...
...frágil!
O estranho mundo da teoria quântica forneceria um substituto.
Foi numa empresa telefônica que a teoria quântica amadureceu.
A Bell Labs queria um jeito melhor e mais barato de ligar os americanos.
Para conseguir isso, precisava substituir a válvula.
A equipe de pesquisa foi liderada por William Shockley, um indivíduo habilidoso, astuto e muito antipático.
E isto foi o que a equipe de Shockley criou.
É algo de aparência curiosa mas este é o modelo do 1º transistor do mundo.
Só dá para produzir um transistor se entender como os elétrons agem.
Precisa-se da teoria quântica.
Basicamente fazia o mesmo que a válvula, controla o fluxo de elétrons, mas o fazia usando as leis da mecânica quântica.
Eu poria o transistor entre as 10 maiores invenções de todos os tempos, pois ele transformou completamente o mundo.
Os imensos e espaçosos rádios à válvula logo deram lugar aos pequenos e portáteis rádios de transistor, e estes acabaram substituídos pelo microprocessador.
É incrível pensar que em apenas 60 anos saímos disto, um único transistor, para isto, um microprocessador que contém mais de 2 bilhões de transistores.
Para mim, o microprocessador é a expressão máxima do poder que foi desencadeado pela tentativa de entender do que o mundo é feito.
Aprofundar-se cada vez mais na matéria, sem dúvida, mudou nossa sociedade.
Os prédios em que vivemos, a forma como viajamos, como nós nos comunicamos.
Em resumo, nosso estilo moderno de vida é em grande parte produto das tentativas de descobrir do que todos somos feitos.
Nossas tentativas estão longe de acabar.
Haverá novas camadas a descobrir, cada vez mais estranhas.
Talvez o que hoje parece inacreditável seja apenas o que ainda não compreendemos.
No próximo episódio, a questão mais pessoal que fazemos.
Como chegamos até aqui?
[Via BBA]
Há algumas grandes questões que nos intrigam e perseguem desde o surgimento da humanidade.
O que há lá fora?
Como chegamos até aqui?
Do que o mundo é feito?
A história de nossa busca para responder tais questões é a história da ciência.
De todos os empreendimentos humanos, a ciência teve o maior impacto em nossas vidas, sobre como vemos o mundo, sobre como vemos nós mesmos.
Suas ideias, feitos e resultados estão ao nosso redor.
Como chegamos ao mundo moderno?
Isso é ainda mais surpreendente e humano do que possam imaginar.
A história da ciência habitualmente é contada como uma série de momentos de revelação.
O triunfo final da mente racional.
Mas a verdade é que o poder e a paixão, a disputa e o acaso tiveram papéis igualmente importantes.
Nesta série, oferecerei uma visão diferente sobre como a ciência acontece.
Ela foi definida tanto pelo que está fora como dentro do laboratório.
Esta é a história de como a história fez a ciência e de como a ciência fez a história, e de como as ideias produzidas mudaram nosso mundo.
É uma história de poder...
prova...
...e paixão.
A HISTÓRIA DA CIÊNCIA Episódio 2
Desta vez, investigando fundo para achar beleza e ordem.
Do que o mundo é feito?
As aparências enganam.
Por trás da aparência, nosso mundo é mais estranho do que possam imaginar.
Em pé aqui, parece que estou sobre uma superfície sólida.
Mas é uma ilusão, embora convincente.
Nada é realmente sólido.
E nós? Consistimos quase que inteiramente de espaço vazio.
Se pegássemos a população mundial, todos os 6 bilhões, e retirássemos esse espaço vazio, poderíamos ser comprimidos num cubo menor que este.
E fica ainda mais estranho.
Celulares e outros aparelhos eletrônicos dos quais dependemos.
Eles dependem de partículas que, numa definição normal, simplesmente não existem.
Todas essas noções vieram de nossas tentativas em descobrir do que o mundo é feito.
Ao longo dos milênios, nossa compreensão aprofundou-se, revelando novas camadas que compõem o mundo material.
Pode parecer uma busca acadêmica e esotérica.
É tudo menos isto.
Cada vez que avançamos uma camada e alcançamos um entendimento mais profundo da matéria, esse conhecimento gera novas tecnologias e enorme quantidade de riqueza e poder.
Os primeiros que tentaram desvendar os segredos do que o mundo é feito, e alterá-lo, foram os alquimistas.
Eles prosperaram no final da Idade Média, trabalhando em segredo, protegendo seu conhecimento com códigos e criptogramas.
É fácil classificar os alquimistas como místicos iludidos, sempre tentando transformar chumbo em ouro.
Ou, talvez, golpistas, que usavam química simples para impressionar os crédulos.
Mas as origens da investigação científica do que o mundo é feito estão em seus laboratórios secretos.
As crenças alquimistas sobre a matéria baseavam-se principalmente nas ideias dos gregos antigos.
E os gregos acreditavam que quase tudo ao nosso redor era feito de terra, fogo, ar e água.
O sistema deles era de uma simplicidade cativante.
Tudo no mundo era uma combinação de apenas 4 elementos idealizados...
Terra. Água. Ar. Fogo.
Estavam completamente enganados, mas o princípio central, de que podíamos explicar um mundo complexo com partículas estruturais simples ou elementos, foi importante.
Mas o que me interessa nos alquimistas são suas habilidades práticas.
Quero tentar reproduzir uma estranha experiência, realizada por um dos últimos alquimistas, um alemão chamado Hennig Brand.
Brand acreditava estar prestes a descobrir a pedra filosofal, uma substância que supostamente transformaria metais em ouro.
Ele achou que poderia encontrá-la na urina humana.
- Há quanto tempo tem isto? - Não temos...
Nossa! Meu Deus! Dei uma bela cheirada!
Mas piora!
Creio que Hennig Brand não era muito popular com as mulheres.
Após ferver nosso material inicial, iremos reduzi-lo a um composto sólido.
Por fim, iremos destilá-lo e ver se obtemos algo interessante.
Vou tentar dar uma ideia da mentalidade dos alquimistas.
Eles acreditavam que tudo na Terra, de certa forma, estava vivo, e isso incluía os metais.
Os metais cresceriam na terra como sementes, e como o corpo humano se decompõe, eles também se decomporiam. Enferrujariam.
Mas os metais também podiam ser aperfeiçoados.
Podiam ser melhorados. Purificados.
E se isso ocorresse, eles virariam ouro, o mais puro dos metais.
Era a lendária pedra filosofal que os alquimistas acreditavam que poderia causar essa transformação.
Aqui está.
Parece completamente podre, devo dizer.
Posso lhe dizer que, como químico, já cheirei muito material.
Isto é extremamente desagradável.
Reduzimos cerca de meio litro de urina a isto, pode ver que começa a ficar um pouco pastoso.
Contém todo tipo de sólido branco.
Meu Deus! Que coisa ruim!
Ele teria de transferi-lo para esta retorta.
Vamos despejá-lo através do topo.
Deixarei escorrer por esta vareta de vidro.
E, posteriormente, vem o calor extremo?
E agora, o teste de fogo, por assim dizer.
Envolvia grande habilidade técnica.
Controlar a temperatura, fabricar o forno e as retortas de vidro.
Mas sua robustez e persistência produziram estranhos resultados.
O que ele extraiu da urina?
Posso lhe mostrar, se olhar, está armazenado sob a água, como Brand provavelmente teria feito.
Acho que devemos ver o que ocorre quando o queimamos.
Pode ver as nuvens de fumaça branca.
Meu Deus! Posso tocar?
- Pode erguê-lo. Sim. - Meu Deus!
É belo e assustador ao mesmo tempo.
É fantasmagórico, não é?
É sobrenatural.
É mágica da mais elevada ordem.
Brand, claro, nunca achou a pedra filosofal.
Sua descoberta foi batizada "o que traz luz", ou fósforo.
Tornou-se bastante importante.
Mais tarde foi usado para fabricar o fósforo.
É fácil pensar nos alquimistas como um bando de místicos que fizeram descobertas ao acaso, mas se olharem o equipamento ali atrás, uma história bem diferente é contada.
Tem-se balanças, forno, retorta.
Equipamento achado em qualquer laboratório químico moderno.
Não tenho dúvida que a busca para compreender do que o mundo é feito foi auxiliada pelo trabalho feito ao longo dos anos pelos alquimistas.
Mas, na época de Brand, os alquimistas estavam em decadência.
E a antiga ideia de o mundo ser feito de apenas 4 formas de matéria estava prestes a ser demolida.
Conforme a Europa saía da Idade Média, novas forças começavam a moldar a ciência.
Poderosas monarquias absolutistas governavam o continente.
Estavam ávidas por armas enquanto lutavam por supremacia.
Isso levou a um interesse estratégico em mais e melhores metais.
A ânsia por metais era insaciável e o negócio de extrair minérios metálicos do subterrâneo tornou-se cada vez mais importante.
As minas foram um dos lugares onde os desafios às crenças antigas começaram a surgir.
O ar há muito tempo era considerado uma única substância indivisível, um elemento estrutural básico do mundo.
Mas conforme a Europa se industrializava, ficou cada vez mais óbvio que isto estava longe da verdade.
As pessoas perceberam, a partir da experiência pessoal, que havia muitos ares diferentes, com propriedades bem distintas.
Havia o ar mau, que matava os homens nas minas e misteriosamente apagava velas.
Havia o gás de mina, que inflamava no subsolo sem aviso prévio.
E o pitoresco ar flogisticado, produzido pela combustão.
Tudo isso suscitou questões.
O que eram esses ares? Quantos existiam?
Em toda Europa, os pesquisadores estavam à procura de respostas.
Em Yorkshire, o desafio foi aceito pelo filósofo natural Joseph Priestley...
...um homem que se dispôs a sondar os mistérios ocultos da natureza.
Joseph Priestley foi um jovem precoce.
Aos 4 anos, ele podia recitar perfeitamente todas as 107 perguntas e respostas do Breve Catecismo de Westminster.
Ele se juntou à igreja, mas também tornou-se um brilhante pesquisador.
Ele procurava Deus, não apenas na Bíblia, mas na natureza.
Priestley estava entre os principais pesquisadores de ar da época.
E foram esses novos "ares" ou gases que ajudariam a criar uma nova visão do que o mundo é feito.
Priestley começou a estudar os ares aquecendo substâncias diferentes...
...incluindo uma favorita da alquimia antiga.
O precipitado vermelho.
Gosto da forma que a cor muda, passa de laranja para um vermelho intenso.
Priestley o aqueceu à alta temperatura e o pó laranja transformou-se num metal brilhante.
Mercúrio.
E com um novo equipamento, a tina pneumática, ele capturou um novo ar.
Certo. E aqui está.
Um valioso recipiente cheio de gás misterioso.
- Vamos testá-lo. - Vire de cabeça para baixo - e tire rapidamente a tampa. - Certo.
Pronto? Tire a tampa.
- E reinflama... - É lindo.
Apaga de novo e reacende.
Ele descreveu que havia obtido como "ar bom".
E ficou encantado com suas propriedades inflamáveis.
Mostrou ser o mais importante dos novos ares já descobertos.
Em 1774, Priestley partiu numa viagem decisiva a Paris.
Normalmente ele não poderia bancar tal coisa, mas nessa ocasião foi como convidado de um aristocrata britânico e levou consigo o conhecimento de sua nova descoberta.
Quando chegou a Paris, Priestley foi convidado a jantar com o casal 20 da ciência experimental francesa, Antoine e Marie-Anne Lavoisier.
Eles tinham criado o laboratório privado mais bem equipado da Europa, dedicado ao cálculo e precisão.
Ele tinha a grande ambição de definir a nova ciência da química.
Sua contribuição para nossa forma de vida atual foi tão grande quanto a de Newton ou Darwin.
Quando jovem, Lavoisier disse, "Sou ávido por glória".
E ele a obteve, mas a um imenso custo pessoal.
Não podiam ser mais diferentes, o parisiense sofisticado e o trabalhador de Yorkshire.
Suponho que Priestley estivesse extasiado com a ocasião, pelo magnífico cenário, os vinhos finos, por Antoine Lavoisier e seus convidados brilhantes.
Como ele posteriormente escreveu à esposa, "a maioria dos filósofos da cidade estava presente".
E, conforme a noite avançava, a conversa chegou ao assunto dos ares.
Priestley logo contou a eles sobre sua recente descoberta, um ar com propriedades inflamáveis, e depois também lhes disse exatamente como produzi-lo.
Do outro lado da mesa, Lavoisier ouvia atentamente.
Como Priestley registrou mais tarde, "todos ao redor da mesa expressaram surpresa".
De posse do conhecimento de Priestley, Lavoisier partiu para repetir a experiência.
E logo estava propagando sua descoberta, o mesmo ar, mas com um novo nome.
Lavoisier o chamou de "oxigênio".
O gás da vida.
Mas o que Lavoisier fez a seguir foi um momento decisivo na história da ciência.
Ele decidiu realizar a experiência de Priestley ao inverso, o gás e o metal brilhante recombinados para formar o precipitado vermelho.
O realmente importante é que ele descobriu que pesava exatamente o mesmo que antes.
Isto se tornaria um princípio fundamental da química moderna.
Foi um momento importante.
Lavoisier descobriu que tudo se equilibra.
Pode-se pegar uma substância, decompô-la em elementos simples depois recombiná-los e voltar à substância inicial.
Para mim, isso marca o início da compreensão moderna da matéria, do que o mundo realmente é feito.
Surgia agora a ciência da química.
A partir de ligações...
entre as habilidades práticas dos alquimistas...
a descoberta de novos gases...
e uma dedicação à medição precisa.
A nova química ajudaria a criar uma nova visão do que o mundo é feito.
Enquanto isso, fora dos laboratórios dos ricos, a ciência desenvolvia um gosto pelo espetáculo, movida pelo novo interesse nos ares.
Estamos prestes a reencenar um momento muito importante da história da ciência.
Deve haver chamas, barulho, gritos e, por óbvio, é por isso que estamos com estas roupas engraçadas.
Na pequena cidade francesa de Annonay, descendentes de uma famosa família de papeleiros, os Montgolfiers, recriam a época em que o antigo sonho de conquistar o céu tornou-se realidade.
É incrivelmente quente e fumacento ali embaixo.
Quando os irmãos Montgolfier fizeram esta experiência, desconheciam a teoria.
Eram homens práticos que queriam ganhar dinheiro e pensaram no que acontecia à palha, produzindo algo chamado gás Montgolfier, que contém a leveza que faz o balão subir.
E agora estamos cozinhando!
Nossa! Está muito quente.
Que bela visão! Foi muito divertido. Sabemos o que é voar, mas imaginem que nunca tinham visto algo voar antes.
Isso os deixaria espantados.
O primeiro balão, feito inteiramente de papel, subiu cerca de 1,6 km rumo ao céu.
Estava iniciada a corrida para levar o homem ao céu.
E em novembro de 1783, dois bravos voluntários subiram ao céu.
Os primeiros seres humanos a verem de cima a superfície do seu próprio planeta.
Mas muito breve, o balão de ar quente ganhou um rival, apoiado pela comunidade científica francesa.
Apenas 10 dias depois, outro balão subiu.
Impulsionado por um novo gás recém-descoberto, chamado "gás inflamável".
Era 13 vezes mais leve que o ar normal e consideravelmente menos perigoso que usar uma pilha de palha em chamas.
Tinha um imenso poder de elevação.
Era a ciência como um evento público.
Metade da cidade de Paris compareceu para ver.
400 mil pessoas, todas espantadas olhando para cima.
Mas seu êxito impôs um desafio aos químicos.
Como produziriam o suficiente deste novo gás para encher os céus com aeronautas?
Foi um desafio enfrentado pelo campeão da nova química...
...Antoine Lavoisier.
Sempre pesquisador, sua solução foi ousada, descobrir uma forma de dissociar uma substância fundamental...
a água.
- Bom revê-lo. - Que bom vê-lo, Michael.
Adoro isto.
Estou impressionado pois tenho o desenho aqui de como era o aparelho original de Lavoisier e acho que esse está bem parecido.
Este aparelho foi construído para testar a ideia de Lavoisier que a água podia se dissociar em dois gases distintos, o oxigênio e o novo "gás inflamável".
Temos um sistema para produzir ferrugem rapidamente.
Temos o ferro no centro e a água que está escorrendo, e ao aumentarmos a temperatura, o que fazemos é acelerar a reação.
Então o oxigênio da água irá se ligar ao ferro?
Isso. O ferro é o absorvedor de oxigênio neste sistema.
Se deixar um pouco de água entrar por esta extremidade, ela irá aquecer e pode vê-la formando vapor e é por isso que temos um pouco de pressão atrás.
Mas agora será drenada e, no centro, deverá reagir com o ferro.
Devemos ver bolhas na extremidade.
- Temos bolhas. - Parabéns. Belo trabalho!
- Estou impressionado. - E essas bolhas não são o vapor.
Pois o vapor estaria condensado na serpentina.
Deve haver algum, vamos chamá-lo de gás não condensável.
Mas é o "ar inflamável"?
Estamos ansiosos, não?
Estamos prontos. Vamos inserir a vareta aqui dentro.
Certamente era hidrogênio e deu certo.
Foi o barulho que obtém quando o hidrogênio inflama. Sem dúvida.
Foi o "gás inflamável" como ele era chamado no século XVIII.
O êxito de Lavoisier encorajou Napoleão a criar uma unidade militar de balões, movidos a hidrogênio.
Os dois gases que compõem a água, o hidrogênio e o oxigênio, fizeram parte da nova visão ousada de Lavoisier do que o mundo é feito.
Elementos. 33 ao todo.
Sua lista incluía os gases recém-descobertos, mas ele não acertou totalmente.
Ele também incluiu o calor e a luz.
Era uma lista provisória dos elementos estruturais da matéria.
O trabalho de Lavoisier coincidiu, tragicamente para ele, com a eclosão da Revolução Francesa.
Ele ganhava dinheiro cobrando impostos.
Era um coletor fiscal odiado.
Lavoisier devia saber que era vulnerável.
Um membro do governo revolucionário declarou que ex-coletores como ele eram sanguessugas do povo, mas ele não quis fugir.
Aqui, na Praça da Concórdia, Lavoisier foi executado.
Foi mais que apenas uma tragédia individual.
Como expressou um dos colegas de Lavoisier, "levou apenas um instante para decepar sua cabeça "e mais de 100 anos não seriam suficientes "para produzir outra igual."
Havíamos avançado uma camada em nossa compreensão do que o mundo é feito...
para um mundo de elementos.
Cada um deles considerado um elemento estrutural inquebrantável de matéria e esta nova compreensão começaria a liberar grande poder.
Nossa viagem agora ruma à paisagem sublime de Lake District.
No fim do século XVIII, foi o lar de William Wordsworth, um dos maiores poetas da época.
Wordsworth foi um dos líderes do movimento chamado Romantismo.
Valorizavam os sentimentos e a intuição sobre a frieza da lógica.
A ciência Romântica parece uma contradição de palavras mas, como descobriremos, os poetas românticos tiveram um efeito profundo surpreendente na história da ciência.
Pode parecer improvável, mas o elo pode ser achado aqui, no chalé de Wordsworth.
Este, claro, é William Wordsworth.
E aqui temos outro dos poetas românticos.
Este é Samuel Taylor Coleridge, de Balada do Antigo Marinheiro e Kubla Khan.
Mas o homem que vim ver é ele, Humphry Davy, um dos maiores químicos ingleses.
O que ele faz aqui?
Bem. Humphry Davy e os poetas românticos compartilhavam interesse pela poesia, no poder da natureza e numa certa substância que alterava o humor.
Chamavam-lhe "gás do riso"
e Davy generosamente o dividia com seus amigos românticos.
Mas as ligações eram muito mais profundas.
Não é lindo?
Dá para entender por que Davy amava este lugar e dividia com os poetas românticos a crença de que se pudesse entender as leis da natureza e viver em harmonia com elas, então o mundo seria um lugar melhor.
Poetas e homens da ciência estavam admirados com os poderes ocultos contidos na natureza.
Só tinham maneiras distintas de mostrar isso.
Em 1801, as ligações sociais de Davy lhe valeram um cargo no Instituto Real de Londres.
Aqui, ele foi capaz de realizar pesquisa e dar palestras públicas.
O glamour de sua juventude e o gosto pelo espetacular fizeram dele um sucesso imediato.
- Olá. - Precisará disto.
- Pronto para se apresentar? - Estou.
É hora do show!
Acho que Humphry Davy disse isso.
O Dr. Peter Wothers está ajudando a recriar a extravagância que Davy trouxe aqui há 200 anos.
- Com cuidado, ponha uma gota. - Certo. Podemos...
Veja o que acontece à sua ovelha.
Havia uma plateia entusiasta atraída por essas exibições maravilhosas.
Em algum lugar por ali, algumas jovens ardentes atraídas pelo carisma dele.
Ali provavelmente estaria Samuel Coleridge que estava interessado em colecionar novas metáforas.
E espalhada pela plateia, uma nova geração de empresários e donos de fábricas que tinham vindo aqui para colher valiosas informações químicas.
Humphry Davy tinha um conhecimento instintivo de como o espetáculo e o talento podiam ser usados para firmar a ciência como uma poderosa força social, controlada por uma nova geração de especialistas.
Homens como ele.
Ele emocionou a plateia com o seu domínio de uma das maravilhas da época...
a eletricidade.
- Isto será perigoso? - Provavelmente.
É um material instável.
Então vou abotoar bem a bata!
Davy aqueceu um modesto pó branco chamado potassa a um estado derretido e então passou eletricidade por ele.
Davy sabia o que obteria ao fazer esta experiência?
- Creio que não. - Ele só fez pela diversão.
A eletricidade dissociou a potassa ...para revelar um dos seus elementos estruturais.
Um novo elemento de brilho lilás.
Ele o chamou de potássio.
A fumaça que vê é o potássio sendo formado mas reagindo instantaneamente com o ar.
Este elemento era tão volátil e reativo, que desaparecia praticamente ao ser isolado.
Vou extrair um pouco.
- Este é o potássio. - Que engraçado.
Nunca tinha visto potássio. Parece um metal.
Parece sim, mas se cortá-lo, é um metal macio.
Dá para ver como é o potássio.
É puro potássio metálico.
E pode ver que ele já está reagindo com o oxigênio do ar.
É impressionante que Davy tenha feito isso há 200 anos.
Foi um feito excepcional isolar este metal reativo.
Davy tinha talento para achar novos elementos.
Oito deles em menos de 2 anos.
Meu Deus!
- Aí está. - Não esperava por isso.
Mas a importância do trabalho de Davy foi além dos novos elementos.
Estendeu-se para a ciência e para a cultura popular.
Houve uma jovem escritora, Mary Shelley, que foi inspirada e afetada pelo trabalho de Davy.
Ele a influenciou ao escrever Frankenstein, um romance que criou uma imagem poderosa e duradoura de um pesquisador louco que lidava com forças além do seu controle.
E havia o amigo de Davy, o poeta Samuel Taylor Coleridge.
Ele ajudou a cunhar o termo "cientista"
para descrever o que pessoas como Davy faziam.
As alternativas incluíam "homem da ciência", mas foi o termo "cientista" que se firmou.
Mas os demais da plateia tinham uma reação mais prática.
A química era útil? Ela gerava dinheiro?
A química estava prestes a tornar-se um força mundial, mas a jornada que levou para chegar lá foi imprevisível.
Ela começou nos trópicos com um problema mortal que ameaçou os impérios do século XIX.
Na Jamaica, outrora colônia britânica, espero ver como eles lidaram com isso.
É muito cedo. Mas já está incrivelmente quente.
- Isso mesmo. - Ainda temos muito caminho?
A que altura estamos?
Quando chegarmos à árvore de quinino, estaremos a 1.524 m acima do nível do mar.
Certo. Há mosquitos aqui em cima?
- É alto demais? - Só um pouco.
Nas encostas das Montanhas Azuis cresce uma árvore notável.
Gostei daqui. É ótimo. É bom para relaxar.
Há muitos seres desagradáveis nos trópicos mas o mais mortal é o mosquito.
Ele matou mais pessoas que qualquer outra coisa na história.
Ele transmite febre amarela, dengue, mas também malária.
No século XIX, a malária foi um grande problema para os impérios, como o britânico.
Certo. É por aqui?
- Qual o tamanho? - Cerca desta altura.
- E qual a idade? - Por aqui.
A melhor defesa contra essa doença era a casca da árvore do quinino.
- Conhece a árvore? Já a viu antes? - É aquela ali?
Sim. É esta. Começou a florar.
É talvez a árvore mais extraordinária da história.
Ela aliviou o sofrimento humano mais que qualquer outra coisa.
- É a casca que queremos, não? - É.
Me disseram que é horrível. Já provou?
Provei. Muito amarga.
Quando estudava medicina, vi alguém morrer de malária por isso tenho enorme apreço por isto.
Será que vou gostar?
Meu Deus!
Você estava certo!
É muito amarga. Resseca a boca, não é?
Se considerarmos que algo horrível assim nos faz bem então isto é extraordinariamente bom.
Plantações de quina se espalharam pelos trópicos.
Mas todos os anos os impérios europeus precisavam de centenas de toneladas da casca para combater a malária.
Assim, os governos recorreram aos químicos para criar uma alternativa sintética.
Em 1820, alguns químicos franceses conseguiram isolar o princípio ativo da casca e chamaram de quinina.
O que queriam desesperadamente fazer a seguir era produzir uma versão artificial da quinina.
O problema era que ninguém tinha feito algo complexo assim.
As tentativas revelariam o mundo da química em escala industrial.
O desafio de fabricar quinina artificial foi enfrentado por um laboratório improvisado no East End londrino...
em um sótão, pelo jovem William Perkin.
Gosto de pensar que ele achou sua inspiração na esquina, na casa local de espetáculos.
Não é magnífico?
O teatro e toda a Londres eram iluminados por luzes a gás.
E o gás era produzido a partir do carvão.
Um dos subprodutos desagradáveis desse processo era uma substância negra viscosa chamada piche de carvão.
Um tal de Charles Mackintosh usou isto para fabricar casacos à prova d'água.
Mas Perkin estava para descobrir algo bem mais lucrativo que isso.
As substâncias químicas usadas por ele para tentar criar quinina, são altamente tóxicas.
Por isso usarei substitutos para mostrar como era o processo.
A partir do piche de carvão, outros químicos produziram uma substância chamada anilina que contém as mesmas quantias de carbono, hidrogênio e nitrogênio que a quinina.
Parecia um bom lugar para se começar.
Ele misturou a anilina com ácido sulfúrico e também a uma substância chamada dicromato de potássio, uma espécie de misturador químico.
Deixou fermentar um pouco.
O que ele obteve era negro, oleoso e nauseante.
Estou surpreso que ele não o jogou fora, mas não o fez.
No laboratório, na parte superior da casa dos pais, ele destilou, misturou e acabou produzindo um pó muito interessante.
Ele não havia descoberto a quinina artificial.
Ele descobrira algo nunca visto e que ele não esperava.
Ele descobrira a cor malva!
Ele havia criado o primeiro corante sintético e fez do mundo um lugar mais colorido.
Perkin nunca produziu quinina mas criou uma sensação da moda.
Os ricos e famosos adoraram a sua malveína.
É lindo demais.
É um antigo vestido vitoriano.
A malveína de Perkin era mais que uma simples questão de moda.
As tinturas de anilina, usadas para colorir este vestido, foram as primeiras produzidas em escala industrial.
Por mais estranho que pareça, este vestido marca um momento importante da história humana, quando os produtos sintéticos sobrepujaram os naturais em grande escala.
Na década de 1870, a fábrica de Perkin produzia centenas de toneladas de tintura por ano.
Adicionando o verde de Perkin e o violeta britannia ao seu crescente catálogo de cores vívidas.
Perkin é celebrado como o pai da química industrial mas a liderança logo passou para a Alemanha onde os químicos industriais descobriram como produzir amônia, o que levou aos fertilizantes artificiais, que hoje sustentam a população mundial.
INGLATERRA EM GUERRA: ORDENS PARA A FROTA
Mas a jornada que começou nos trópicos com a busca pela quinina também levou até aqui...
aos campos de batalha da I Guerra Mundial.
Os uniformes cáqui eram tingidos com corantes artificiais.
Os explosivos eram produzidos pelo mesmo processo dos fertilizantes.
Ela também nos trouxe os horrores do gás venenoso, o cloro.
Gás usado na indústria de corantes da qual Perkin fora pioneiro.
A I Guerra Mundial foi descrita como "A Guerra Química".
A química industrial se tornou uma força da história mundial, o resultado das ligações entre a descoberta dos elementos, o crescimento dos impérios europeus e a cor malva.
Mas a busca por aquilo do que o mundo é feito estava longe de acabar.
Em universidades ao redor do mundo, pesquisadores tentavam explicar do que os elementos eram feitos.
A principal teoria era de que os elementos eram feitos de minúsculas partículas indivisíveis de matéria chamadas átomos.
Os átomos de diferentes elementos combinam-se para formar tudo que vemos ou tocamos.
Havia apenas um problema bastante complicado com a ideia do átomo.
A prova.
Era ver para crer. Ninguém tinha visto um átomo.
Eles eram muito pequenos.
Muitos físicos eram céticos quanto à sua existência.
Ernst Mach, que emprestou seu nome à velocidade do som, disse, "Eles são apenas produtos do pensamento."
A primeira prova física da existência dos átomos viria de uma fonte inesperada.
Do mundo do sobrenatural.
Para a mente moderna, William Crookes é um cientista enigmático.
Seus interesses iam da descoberta de novos elementos à investigação do mundo dos espíritos e fantasmas.
O interesse de Crookes no espiritismo talvez tenha sido por causa da trágica morte do seu irmão mais novo em tenra idade.
Na mesma época, havia fotos alegando mostrar ectoplasma, espíritos e aparições.
Crookes iniciou a investigação científica de tais alegações.
Crookes convidou alguns dos principais médiuns da época a vir à sua casa serem testados, e eles passaram no teste com louvor.
Ele alegou ter visto atos de levitação, um acordeom tocando sozinho e estranhas figuras fantasmagóricas, algumas das quais ele fotografou.
Crookes estava sendo ingênuo?
Fazia poucas décadas que o telégrafo tinha sido inventado.
Se dava para se comunicar com o mundo então por que não com os mortos?
A questão é que, mesmo em seu próprio laboratório, Crookes se deparava com coisas difíceis de explicar, coisas, por assim dizer, fora deste mundo.
Esta coisa aqui chama-se tubo de Crookes.
É apenas um tubo de vidro do qual o ar foi removido, dois eletrodos e uma tela fluorescente.
Ele passou corrente de alta voltagem pelos eletrodos...
e o resultado foi bem surpreendente.
Não é bonito?
Parece um raio verde.
Seria esta uma emanação espiritual?
Crookes era um pesquisador cuidadoso.
Ele descobriu que a luz podia ser alterada com um ímã, sugerindo que, de alguma forma, ela era elétrica.
O que ele fez a seguir foi genial.
Certo.
Crookes criou outro tubo com um acréscimo, uma minúscula roda de metal.
Vejamos o que ocorre quando o ligamos.
Espetacular.
Isto sugeria que a luz estranha era composta de partículas em movimento, algo com massa para empurrar a roda.
Crookes ficou emocionado.
Pelo que ele sabia, isto provava sem sombra de dúvida que uma corrente de partículas a fazia girar.
Ele chamou esta força, esta corrente, de "matéria radiante".
Ele achou ser uma espécie de quarto estado da matéria.
Apesar de todas as suas habilidades de pesquisador, Crookes não tinha uma teoria convincente para o que estava ocorrendo.
Mas sua curiosidade iria provocar uma sequência de experiências que iria transformar a Física, a Química e também criar uma nova forma de ver o estranho mundo em que vivemos.
A teoria atômica começou a firmar-se na Universidade de Cambridge, no modesto Laboratório Cavendish com o trabalho do físico Joseph John Thomson, conhecido por JJ.
Ele notou que o que fazia o tubo brilhar e a roda girar, era uma corrente de minúsculas partículas carregadas, partículas bem menores que os átomos.
Ele construiu versões mais precisas e delicadas dos tubos de Crookes.
Thomson calculou que as partículas que faziam a roda girar eram mil vezes menores que um átomo.
Isso causou uma sensação.
Elas foram chamadas elétrons, as primeiras partículas subatômicas a serem descobertas.
Feito que garantiu a JJ Thomson o Prêmio Nobel de Física de 1906.
Uma nova camada do nosso conhecimento do que o mundo é feito tornou-se acessível no início do século XX.
O mundo era composto de átomos e eles eram compostos de 3 partículas fundamentais, prótons e nêutrons amontoados no núcleo, cercado por elétrons movendo-se em órbitas.
O local adequado para ter uma noção do mundo atômico é a Catedral de São Paulo em Londres.
É o lugar onde podem começar a imaginar a escala e proporções dentro do átomo.
Se imaginarem a Catedral de São Paulo como um átomo, então o núcleo, que está no centro do átomo, e onde está localizado quase toda a massa, seria menor que um único grão de areia.
O resto é efetivamente um vazio.
É extraordinário.
Tudo o que acham ser matéria sólida, o prédio, eu, vocês, o piso sobre o qual estou, quase tudo é espaço vazio.
É por isso que, se eliminar o espaço vazio, a população mundial caberia dentro de um único cubo de açúcar.
E os cientistas logo perceberam que dentro do átomo as tradicionais leis da física simplesmente não se aplicavam.
Nos primórdios da teoria atômica, achavam que o átomo era um mini sistema solar.
Tinha-se o núcleo, o sol no centro, e ao redor dele giravam os elétrons, como mini planetas.
Mas logo notaram que os elétrons não se pareciam em nada a planetas.
O elétron é algo inacreditavelmente estranho.
Não dá para estabelecê-lo.
Um elétron nunca está em um só lugar.
Ele voa como se estivesse em muitos lugares ao mesmo tempo.
Próximo ao altar, lá em cima na cúpula, atrás de mim, tudo ao mesmo tempo.
Era preciso uma nova teoria para explicar este estranho mundo subatômico.
O comportamento dos elétrons só poderia ser descrito, não como certeza, mas probabilidade.
Não onde os elétrons estão, mas onde devem estar.
A nova teoria ficou conhecida como quântica.
Niels Bohr, pai da Física Quântica, disse certa vez que, "se não ficar chocado ao ouvir falar dela então não a entendeu."
Até Albert Einstein a rejeitou inicialmente, dizendo:
"Deus não joga dados com o universo."
Mas todavia a teoria quântica é a base de nossa sociedade tecnológica moderna.
1945.
A geração da guerra celebrava a vitória e a possibilidade de paz e abundância.
Sonhavam em como a tecnologia poderia melhorar as suas vidas.
E por trás de muitos desses sonhos estava a ciência do elétron.
Era um mundo completamente novo e o que o tornou possível foi isto.
Válvulas.
É muito bonita, não?
É uma prima distante do tubo de Crookes e sua função era controlar o fluxo de elétrons, para amplificar ou comutar as coisas.
A válvula foi o carro-chefe da indústria elétrica.
Era usada para amplificar sinais elétricos em rádios e centrais telefônicas, e para comutar sinais binários nos primeiros computadores.
Eram produzidas aos milhões.
O problema é que é grande, volumosa, consome muita energia, esquenta demais e é incrivelmente...
...frágil!
O estranho mundo da teoria quântica forneceria um substituto.
Foi numa empresa telefônica que a teoria quântica amadureceu.
A Bell Labs queria um jeito melhor e mais barato de ligar os americanos.
Para conseguir isso, precisava substituir a válvula.
A equipe de pesquisa foi liderada por William Shockley, um indivíduo habilidoso, astuto e muito antipático.
E isto foi o que a equipe de Shockley criou.
É algo de aparência curiosa mas este é o modelo do 1º transistor do mundo.
Só dá para produzir um transistor se entender como os elétrons agem.
Precisa-se da teoria quântica.
Basicamente fazia o mesmo que a válvula, controla o fluxo de elétrons, mas o fazia usando as leis da mecânica quântica.
Eu poria o transistor entre as 10 maiores invenções de todos os tempos, pois ele transformou completamente o mundo.
Os imensos e espaçosos rádios à válvula logo deram lugar aos pequenos e portáteis rádios de transistor, e estes acabaram substituídos pelo microprocessador.
É incrível pensar que em apenas 60 anos saímos disto, um único transistor, para isto, um microprocessador que contém mais de 2 bilhões de transistores.
Para mim, o microprocessador é a expressão máxima do poder que foi desencadeado pela tentativa de entender do que o mundo é feito.
Aprofundar-se cada vez mais na matéria, sem dúvida, mudou nossa sociedade.
Os prédios em que vivemos, a forma como viajamos, como nós nos comunicamos.
Em resumo, nosso estilo moderno de vida é em grande parte produto das tentativas de descobrir do que todos somos feitos.
Nossas tentativas estão longe de acabar.
Haverá novas camadas a descobrir, cada vez mais estranhas.
Talvez o que hoje parece inacreditável seja apenas o que ainda não compreendemos.
No próximo episódio, a questão mais pessoal que fazemos.
Como chegamos até aqui?
[Via BBA]
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