Estudo mostra que corante usado no popular salgadinho e em inúmeros outros alimentos pode permitir que vejamos através da pele. V ocê já im...
Estudo mostra que corante usado no popular salgadinho e em inúmeros outros alimentos pode permitir que vejamos através da pele.
Você já imaginou poder ver através da pele de um animal vivo? Pode parecer incrível mas os cientistas acabam de dar um passo gigantesco nessa direção, e a solução que eles encontraram é surpreendentemente simples e contra-intuitiva: usar corantes!
Não sei para você, mas me veio à mente algum desenho animado onde um personagem acha uma tinta da invisibilidade e, ao se maquiar com ela, consegue se transformar em um ser semelhante ao cientista Griffin, do romance O Homem Invisível (The Invisible Man no original em inglês) de H. G. Wells publicado originalmente em capítulos na revista semanal de Pearson em 1897. Nele o cientista consegue mudar a refração de sua pele e fica complemente invisível de maneira irreversível.
Mas aqui o efeito é diferente do romance, que inclusive insporou diversos filmes posteriormente. O corante consegue desbloquear a opacidade da pele permitindo que consigamos ver o que está dentro do corpo, e de modo seguro e totalmente reversível. E pode ser aplicado em um animal vivo, de uma maneira totalmente não-invasivo e indolor. O que traz inúmeras possibilidades, especialmente no campo da medicina.
Fonte: Science
Visto no Brasil Acadêmico
O desafio da visão profunda
Por muito tempo, os cientistas têm lutado contra um grande obstáculo quando tentam observar o interior de organismos vivos: a opacidade dos tecidos biológicos. A luz simplesmente não consegue penetrar muito fundo em nossos corpos devido à dispersão causada pelas diferentes estruturas celulares.
Isso tem limitado nossa capacidade de estudar processos biológicos em tempo real, forçando os pesquisadores a recorrer a técnicas invasivas ou a estudar apenas tecidos muito finos.
Uma solução inesperada
Recentemente, uma equipe de pesquisadores liderada por Ou et al. propôs uma abordagem revolucionária: em vez de tentar contornar a dispersão da luz, eles decidiram abraçá-la – com um toque especial.
A ideia é tão simples quanto genial: adicionar moléculas altamente absorventes (corantes) aos tecidos. Mas como isso ajuda? Bem, é aqui que a física entra em cena.
Quando esses corantes são dissolvidos em água, eles alteram o índice de refração do meio aquoso. Em termos mais simples, eles mudam a forma como a luz viaja através do tecido.
O truque está em escolher corantes que absorvam luz em comprimentos de onda específicos (geralmente no ultravioleta próximo e na região azul do espectro visível). Isso causa um aumento no índice de refração em comprimentos de onda mais longos, sem aumentar a absorção nessas regiões.
O resultado? O índice de refração do meio aquoso se aproxima do índice de refração dos lipídios presentes nos tecidos, reduzindo drasticamente a dispersão da luz.
Tartrazina: o herói inesperado
E qual foi o corante escolhido para esta façanha? Surpreendentemente, foi a tartrazina, um corante alimentício comum aprovado pela FDA (a agência reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA).
Os pesquisadores descobriram que uma solução aquosa de tartrazina pode tornar temporariamente transparentes a pele, os músculos e os tecidos conjuntivos de roedores vivos.
Vendo o invisível
Com esta técnica, os cientistas conseguiram:
- Visualizar neurônios entéricos (do sistema digestivo) marcados com proteínas fluorescentes em camundongos vivos.
- Criar mapas em tempo real dos movimentos intestinais dos camundongos.
- Observar vasos sanguíneos cerebrais através do couro cabeludo.
- Realizar imagens microscópicas de alta resolução dos sarcômeros musculares (as unidades contráteis dos músculos) em patas traseiras de camundongos.
Tom & Jerry e a tinta da invisibilidade (Invisible Mouse, Warner Bros, 1947). Mais um caso onde a vida imita a arte |
O futuro da transparência
Esta descoberta abre um mundo de possibilidades para a pesquisa biomédica. Imaginem poder observar o funcionamento de órgãos internos em tempo real, sem a necessidade de cirurgias invasivas ou janelas artificiais!
Claro, ainda há desafios a serem superados. A dispersão da luz não está completamente descartada, e a profundidade de penetração depende da difusão das moléculas absorventes. Mas este é um passo gigantesco na direção certa.
Quem diria que a chave para ver através dos tecidos vivos estaria em algo tão simples quanto um corante alimentício? A ciência nunca deixa de nos surpreender, provando mais uma vez que as soluções mais elegantes podem vir dos lugares mais inesperados.
Então, da próxima vez que você usar um corante alimentício ou estiver comendo algo com corante amarelo, lembre-se: você pode estar segurando em suas mãos a chave para desvendar alguns dos mistérios mais profundos da biologia!
Visto no Brasil Acadêmico
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