Quadro de Mondrian está de cabeça para baixo há 77 anos e ninguém percebeu

Historiadora descobre que obra do famoso pintor abstrato Mondrian ficou exposta de ponta cabeça desde 1945.

Historiadora descobre que obra do famoso pintor abstrato Mondrian ficou exposta de ponta cabeça desde 1945.


Há um certo constragimento no ars. Parece aquelas piadas com obras dadaístas ready-made, onde objetos comuns são colocadas em exposição nos museus e acabam fazendo com que os visitantes se confundam e fiquem admirando um extintor de incêndio ou um registro de água na parede do museu. 

É certo que Mondrian não era um artista dadaísta. Não tinha como motivação ironizar a própria noção do que é a arte, muito embora o seu estilo tenha certamente contribuído para questionar o conceito de arte. Piet Mondrian era, sobretudo, um artista que procurava encontrar uma “beleza universal” por meio das formas elementares e cores primárias. 

 Provavelmente foi esse reducionismo todo em sua fase neoplástica, movimento vanguardista que capitaneou, o responsável por deixar poucas pistas visuais para os incautos que, ainda que entendessem de arte e seus estilos, não teriam competência suficiente e/ou olho clínico para saber o quanto deveria se rotacionar aquela moldura para que o quadro ficasse na posição correta. 

Destarte, foi necessário que a curadora e historiadora de arte, Susanne Meyer-Bueser – que passou a dedicar-se à pesquisa sobre da obra do artista, no início deste ano –, percebesse que a imagem deveria estar ao contrário. 

 “O espessamento da grade deve estar no topo, como um céu escuro. Assim que falei na minha interpretação a outros curadores, percebemos que era muito óbvio. Estou 100% certa de que a imagem está ao contrário.”
Susanne Meyer-Bueser. Curadora de arte.

A obra, uma complexa rede de fitas vermelhas, amarelas, pretas e azuis, horizontais e verticais, intitulada “New York City I”, é de 1941. E foi exibida pela primeira vez no MoMA de Nova Iorque em 1945. Desde 1980 está em exibição no Museu Kunstsammlung Nordrhein-Westfalen, em Dusseldorf, na Alemanha.

Outra pista que leva à conclusão de que a obra estaria de fato disposta de forma errada é que a pintura é derivada de uma tela homônima, feita a óleo, e de mesmo tamanho, em exibição em Paris. Nela, essa região mais preenchida está na superior do quadro (a assinatura do artista indica claramente o que é a parte superior e inferior do quadro).

Uma foto de Mondrian, tirada no seu estúdio poucos dias antes de sua morte, também mostra o quadro na posição que seria correta. Não há a assinatura do autor, que poderia indicar a rotação, na obra que está na Alemanha, que é considerada inacabada.

Apesar da descoberta, a pintura não deverá ser colocada na posição correta, ao menos por ora. Isso porque essa rotação poderá acabar danificando a peça.

“Isso não é possível por várias razões. Acima de tudo, por razões de conservação, porque são fitas adesivas e essas fitas adesivas estão penduradas na mesma direção há 77 anos, o que significa que se o virarmos pode acontecer que as fitas adesivas se soltem.”

Susanne Meyer-Bueser, em entrevista à agência Reuters.

Fonte: Folha, G1, Sky News, BBC
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