Com o apoio da Alemanha, a Universidade Federal de Goiás inicia projeto para produção do blue crude. I niciado oficialmente em 1º de março ...
Com o apoio da Alemanha, a Universidade Federal de Goiás inicia projeto para produção do blue crude.
Iniciado oficialmente em 1º de março deste ano com a assinatura do convênio firmado entre a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaftfür Internationale Zusammenarbeit GmbH (GIZ – traduzido livremente como Sociedade Alemã para Cooperação Internacional GmbH), e a Universidade Federal de Goiás (UFG), com o apoio da Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultural (RTVE), esse projeto da UFG pode colocar o estado de Goiás como um importante desenvolvedor de pesquisa sobre o petróleo sintético.
Visto no Brasil Acadêmico
“A subvenção promoverá o desenvolvimento tecnológico regional, agregando valor aos recursos locais renováveis – visto que o estado de Goiás tem uma das suas fortalezas na agricultura e pretende fazer uma gestão sustentável dos resíduos. O projeto fortalece também o treinamento de recursos humanos em tópicos de grande interesse hoje, como a captura de CO2, a produção de H2 verde renovável e a conversão de ambos com o objetivo principal de obter petróleo bruto e a produção final de combustível de aviação sustentável (SAF)”.
Markus Francke. Diretor da GIZ.
O petróleo sintético (também conhecido internacionalmente como blue crude) é visto como uma alternativa ao petróleo convencional, que provém de uma fonte fóssil que é uma das responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa (GEE) sendo, consequentemente, associado à crise climática.
Embora os estudos se dediquem ao uso de matérias na fase líquida, a produção do petróleo sintético pode ser realizada por meio de muitas outras fontes, como rejeitos de aterro sanitário, esterco e metano (biogás), um GEE extremamente danoso ao meio ambiente, quando não tratado adequadamente.
Conforme prevê a iniciativa, o Instituto de Química (IQ) da UFG deverá trabalhar com técnicas que permitirão o uso de biomassa renovável, material abundante no estado, para a produção de crude. O engenheiro químico Christian Alonso, coordenador do projeto, explica que o crude é obtido de um processo onde o gases hidrogênio (H2) e o monóxido de carbono (CO) provenientes de uma fonte orgânica de biomassa renovável são submetidos a catalisadores de cobalto ou de ferro e um reator.
O crude resultante é uma substância que pode ser refinada para a produção de gasolina, querosene (QAV), diesel ou gás, a depender das composições moleculares presentes na mesma. Essa variedade de cadeias de carbono faz com que seja imprescindível o refino do crude, assim como é feito com o petróleo convencional. Conforme o professor, não é possível produzir uma molécula específica, mas sim uma mistura delas.
Processo Fischer-Tropsch
O processo para conversão de H2 e CO no crude recebe o nome Fischer-Tropsch (FT), tendo sido inventado em 1925 pelo químico alemão Franz Fischer e pelo químico checoslovaco Hans Tropsch. Esse conhecimento foi aplicado durante a Segunda Guerra Mundial pelos alemães. Por ser um país pobre em petróleo, mas rico em reservas de carvão, a Alemanha usou o processo FT para produzir combustíveis sintéticos alternativos (em alemão: “ersatz” que quer dizer substituto). A produção FT representou 9% da produção de combustíveis estimada na guerra alemã e 25% de combustível para automóvel naquela época.
O H2 verde é obtido por meio de processos de baixo impacto ambiental. Esse mecanismo já foi tema de teses de mestrado e doutorado na UFG, além de ser um campo de experiência do coordenador.
O projeto prevê o aproveitamento de biomassas oriundas de resíduos em fase líquida e, ainda que não haja um levantamento quantitativo específico destas biomassas, elas podem ser encontradas em abundância e com fácil acesso devido às características da economia de Goiás.
“Eu posso utilizar rejeitos da produção do biodiesel, da indústria do etanol ou até a água contaminada de uma Estação de Tratamento de Esgoto.”
Christian Alonso. Engenheiro químico e coordenador do projeto, para o jornal O Popular.
Já estão sendo feitas cotações para a aquisição de equipamentos e a preparação de laboratórios na UFG. E a expectativa é que os primeiros resultados possam ser apresentados em 18 meses, a partir da data oficial do do início do projeto.
Um dos pontos que pesam a favor do projeto é a sustentabilidade. Como há o aproveitamento de material que seria descartado ou teria um emprego menos nobre, abre-se a possibilidade de reduzir a geração de resíduos e diminuir a emissão de gás carbônico.
Apesar da técnica básica ter surgido há muito tempo, muitas explorações e ajustes foram feitos. O termo “Fischer-Tropsch” agora se aplica a uma ampla variedade de processos semelhantes (“síntese Fischer-Tropsch” ou “química Fischer-Tropsch”) e as pesquisas continuam, inclusive em outras universidades no Brasil, visando ganho de escalabilidade e que se torne mais barato e eficiente.
Investimento
Ao longo de dois anos, está previsto um aporte de 760 mil euros, aproximadamente R$ 3,87 milhões de reais. Em cerca de 5 meses, os laboratórios devem ser equipados e os envolvidos na pesquisa treinados. Entre o grupo de professores e alunos do Programa de Pós-Graduação da UFG envolvidos, apenas dois serão remunerados. Eles devem ser contratados na condição de bolsistas de pós-doutorado.
O projeto faz parte das ações desenvolvidas pelos governos da Alemanha e do Brasil para a produção de combustíveis que sejam alternativos aos de origem fóssil. O foco deve ser a aviação. O motivo é que enquanto carros têm um caminho mais avançado para se livrarem do petróleo, com a eletrificação, o mesmo não acontece com as aeronaves. O volume e o peso das baterias, entre outras dificuldades, torna mais complicada a solução para que os voos emitam menos poluentes.
Para Alonso, o legado mais importante da iniciativa é a disseminação de conhecimento.
“O mais importante é esta possibilidade de oferecer isso para os nossos alunos, para a formação de recursos humanos possibilitando que eles tenham acesso à pesquisa sobre combustíveis alternativos, renováveis e neste contexto global”.
Ele afirma que durante a execução deste projeto outras parcerias devem ser buscadas para que haja continuidade dos trabalhos, mesmo após findar o prazo da cooperação com a instituição alemã.
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