Reportagem da Agência Pública revela que a empresa iFood teria contratado agências de publicidade para tentar influenciar o movimento de gre...
Reportagem da Agência Pública revela que a empresa iFood teria contratado agências de publicidade para tentar influenciar o movimento de greve dos motoristas do app de uma maneira positiva para a empresa. Conheça algumas das táticas de marketing empregadas.
A Pública teve acesso a 30 documentos relativos a essas ações de tentar influenciar o movimento paredista do entregadores, incluindo relatórios de entrega, cronograma de postagens, vídeos e atas de reuniões, além de troca de mensagens.
De acordo com a agência, também conversaram com pessoas envolvidas nessas ações que duraram ao menos um ano, e seus nomes foram mantidos em sigilo para evitar represálias.
Conforme um documento acessado pela reportagem descreve:
Sob a coordenação de Roberto Marques, um dos fundadores da agência, especialistas em monitoramento de redes sociais, redatores e diretores de arte, elaboraram as publicações ao longo de oito meses.
De acordo com a agência, também conversaram com pessoas envolvidas nessas ações que duraram ao menos um ano, e seus nomes foram mantidos em sigilo para evitar represálias.
Uma das fontes que afirma ter trabalhado nas campanhas contratadas pelo iFood revela um pouco das táticas empregadas: “é o que chamam de marketing 4.0”.
“Você posta memes, piadas e vídeos que promovem uma marca ou ideia, mas sem mostrar quem está por trás. Sem assinar.”
“É aquele tipo de conteúdo que te deixa em dúvida: você não sabe se foi um meme, uma coisa que surgiu na internet ou se teve alguém por trás”.
A intenção seria disseminar ideias e opiniões imitando a forma como os entregadores se comunicam, parecendo que as postagens e narrativas se originavam de verdadeiros entregadores.
Conforme um documento acessado pela reportagem descreve:
“Toda vez que trabalhamos com o iFood criamos estratégias para o ‘LADO B’. Essas estratégias têm como objetivo criar um leve rumor nas redes sociais sobre o assunto que queremos abordar no momento”.
De acordo com o que explicou um especialista ouvida pela Pública:
“O lado B é uma prática de campanha política, eles sempre fazem. Toda campanha grande tem uma equipe lado B que basicamente faz conteúdo sobre um inimigo. Sempre sem assinar”.
O conjunto de documentos e os relatos indicam que, entre julho de 2020 e, ao menos, novembro de 2021, a agência Benjamim Comunicação e depois também a agência Social Qi (SQi) monitoraram greves de entregadores. A documentação indica que até, pelo menos outubro de 2021, as agências teriam produzido conteúdo para redes sociais e feito campanha pela vacinação prioritária dos motofretistas a serviço da empresa de delivery.
Em 1º de julho de 2020, os entregadores de aplicativos paralisaram as atividades em 13 estados do país e no Distrito Federal na mobilização que ficou conhecida como o primeiro grande “Breque dos Apps”.
As Reinvindicações do Breque
- Aumento no valor pago por entrega,
- Medidas de proteção contra a covid-19 e
- Melhores condições de trabalho.
O “Breque” “causou” nas mídias sociais e foi o assunto mais falado no Twitter durante cinco horas (e sem a presença da Anitta 😝). Com mobilização online e nas ruas, a greve se estendeu de manhã até o final da tarde, simultaneamente em capitais e cidades do interior.
Horas depois do “Breque”, durante a noite, o iFood lançou uma carta e um site para responder às críticas, divulgando em horário nobre da TV aberta um anúncio que destacava que a empresa “oferece seguro contra acidentes pessoais e que a maioria [dos entregadores] valoriza o fato de ter flexibilidade de horário e liberdade para compor sua renda”. Assim, se iniciou uma campanha da empresa contra as manifestações dos entregadores.
Não Breca Meu Trampo
Pouco mais de uma semana depois da greve surge a página Não Breca Meu Trampo no Facebook, onde publicitários simulavam falsas manifestações de entregadores que se opunham à greve.
A descrição da página dizia:
“A gente quer melhorar de vida e ganhar mais. SEM patrão e salário mínimo. No corre bem feito a gente tira mais e não tem chefe pra encher o saco. A gente quer liberdade pra trampar pra quem a gente quiser!”.
Segundo explicou à Pública uma fonte que afirma ter acompanhado o trabalho desenvolvido pelas agências de publicidade:
“O objetivo era suavizar o impacto das greves e desnortear a mobilização dos entregadores”.
“O modelo era o de propaganda lado B. Tipo o que o Bolsonaro faz com o gabinete do ódio, mas que as agências já fazem há muito tempo”, diz uma das fontes. No universo da propaganda política, esse tipo de ação é comum.
Os documentos consultados revelaram que entre julho de 2020 e novembro de 2021, pelo menos, a agência Benjamim Comunicação e depois também a agência Social Qi (SQi) monitoraram greves de entregadores.
A documentação indicou que ao menos até outubro de 2021 as agências teriam produzido conteúdo para redes sociais e feito campanha pela vacinação prioritária dos motofretistas a serviço da empresa de delivery.
Exemplo de meme da página. Fonte: Facebook (Não Breca Meu Trampo)
Só que essa campanha pela vacinação, que levou até mesmo a criar um movimento falso com a contratação de figurantes para atrair a mídia e outros entregadores de app, seria apenas uma forma de desviar o foco da pauta por melhor remuneração e melhores condições de trabalho.
“A gente suspeitava que era um conteúdo pago por empresa, porque veio do nada e cheio de postagem, mas ficava no boato.”Na análise dos publicitários, a narrativa disseminada pela página enfraqueceu a liderança de Paulo Lima, o Galo, líder do Movimento dos Entregadores Antifascistas, detentor de grande popularidade na época.
Edgar Silva, presidente da Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMA-BR).
Garfo na Caveira
De acordo com a documentação obtida, com a entrada da SQi no projeto em janeiro de 2021, o conjunto de temas e formatos das postagens se ampliou. Em 19 de janeiro de 2021, a equipe de criação da agência lançou uma nova página, focada em memes. A “Garfo na Caveira” posta piadas com temas de interesse dos entregadores e enaltece o trabalho de entrega via aplicativos, no Facebook e Instagram.
Uma pessoa que afirmou ter prestado serviços às agências no projeto iFood disse à Pública:
“A orientação era fazer conteúdos engraçados, que gerassem engajamento. Podia falar mal do Rappi ou Uber Eats, mas não do iFood”.
Segundo ela, o conteúdo, estética e vocabulário uasados nos posts eram embasados em relatórios de monitoramento de redes e pesquisas sobre o universo dos entregadores. A equipe da SQi teria se infiltrado em 15 grupos no WhatsApp e analisou mais de 19 mil mensagens, segundo consta em um relatório de junho de 2021, obtido pela reportagem.
Veja a reportagem na íntegra.
Fonte: Agência Pública
Visto no Brasil Acadêmico
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