Pela segunda vez no Brasil, exposição mostra cadáveres plastificados e dissecados, misturando arte e ciência. Nessa composição o corpo d...
Pela segunda vez no Brasil, exposição mostra cadáveres plastificados e dissecados, misturando arte e ciência.
Nessa composição o corpo dá as mãos para seu próprio esqueleto
Similar à primeira do gênero que inaugurou a instalação artística de corpos plastificados, a polêmica exposição Körperwelten ("Mundo dos Corpos") do médico Gunther von Hagens, de 2001, a exposição "Corpos" já não causará o furor religioso inicial.
Até mesmo porque a Körperwelten original tinha um caráter ainda mais artístico, onde os corpos eram representados como imagens famosas, como a Vênus de Milos com Gavetas, de Salvador Dalí, para exibir os órgãos internos de um corpo masculino.
Em uma das peças, vêem-se rins, estômago, intestinos e outros órgãos, dispostos como gavetas que saem da barriga e do rosto do cadáver.
O "Mundo dos Corpos" original suscita muito mais estarrecimento por trazer imagens de corpos de animais (que com certeza não doaram seus corpos para a exposição) e, para o horror dos conservadores, cadáveres simulando uma relação sexual. Ou seja, sempre namorando com o grotesco.
Pois em "Corpos - A Exposição", sucessora da "Corpo Humano - Real e Fascinante", de 2007, o autor é o médico Roy Glover, professor de anatomia e biologia celular da Universidade de Michigan. Lá podemos notar um caráter mais didático. Como a exibição de um corpo fatiado como vemos nas tomografias computadorizadas.
Outro ponto alto da exposição é visualização dos vasos sanguíneos do corpo e de órgãos em separado. Sem as simplificações que os atlas de anatomia costumam fazer para abstrair a real complexidade do sistema vascular.
O que mais me impressionou, pela possibilidade de fazer as pessoas refletirem sobre o tema e mudarem de atitude, foi a colocação de um pulmão de fumante ao lado de um pulmão sadio.
O visitante vai ter a oportunidade de constatar o quanto o pulmão tem sua coloração enegrecida pelo fumo e ver o quanto o coração é maior devido aos esforços para bombear sangue nos vasos sanguíneos endurecidos (ainda em vida).
Curiosamente, o pulmão do fumante foi roubado da exposição anterior quando ela passou pelo Peru, em 2009 (talvez era alguém querendo convencer algum parente ou conjuge a largar o vício :-P).
Apesar de não ser médico, o tema saúde sempre este presente em minha criação. Incentivado a fazer medicina, embora minha vocação para a educação e computação acabaram prevalecendo, dissecação e cadáveres não eram um tabu e muito menos a fisiologia, a anatomia, e sua importância histórica para a ciência e para as artes.
Mas sei que boa parte da população vai ter todo tipo de reação, como pesadelos, perda de apetite ou mesmo começar uma viagem psico-filosófica sobre a efemeridade da vida e a inexorabilidade da morte.
Acho que deveria haver uma placa avisando sobre a possibilidade do visitante entrar em um transe existencialista de consequências imprevisíveis.
Afinal, esse tipo de instalação carrega sua dose de polêmica desde o início. Além da questão óbvia da profanação dos corpos, levantada por religiosos, houve discussões sobre a origem dos cadáveres, fornecidos pela Escola Universitária de Medicina de Dalian (norte da China), chegaram a ser levantadas especulações, nunca comprovadas, de que os corpos seriam de criminosos executados.
Coleção de peles tatuadas de Ilse Koch, ‘A Cadela de Buchenwald’. À direita, um abajur feito com pele humana de prisioneiros dos nazistas.
Se pensarmos que essa forma de exibição de corpos surgiu na Alemanha, berço do nazismo, que dava cobertura para todo tipo de "experiência" com prisioneiros judeus os quais, só para ficar em um exemplo, tinham a pele tatuada usada como cúpula para abajures. Temos sim que debater os limites éticos, sem ferir, é claro, a liberdade de expressão.
A visita não é nada barata: R$ 40,00 reais a inteira e R$ 20,00 a meia (aceita-se cartões de crédito). Ela está funcionado no prédio de estacionamento no fundo do Park Shopping, em Brasília, até o dia 19 de dezembro.
Um catálogo com fotos da exposição e explicações sobre o funcionamento do corpo humano é vendido a R$ 15,00.
Similar à primeira do gênero que inaugurou a instalação artística de corpos plastificados, a polêmica exposição Körperwelten ("Mundo dos Corpos") do médico Gunther von Hagens, de 2001, a exposição "Corpos" já não causará o furor religioso inicial.
Até mesmo porque a Körperwelten original tinha um caráter ainda mais artístico, onde os corpos eram representados como imagens famosas, como a Vênus de Milos com Gavetas, de Salvador Dalí, para exibir os órgãos internos de um corpo masculino.
Em uma das peças, vêem-se rins, estômago, intestinos e outros órgãos, dispostos como gavetas que saem da barriga e do rosto do cadáver.
O "Mundo dos Corpos" original suscita muito mais estarrecimento por trazer imagens de corpos de animais (que com certeza não doaram seus corpos para a exposição) e, para o horror dos conservadores, cadáveres simulando uma relação sexual. Ou seja, sempre namorando com o grotesco.
Pois em "Corpos - A Exposição", sucessora da "Corpo Humano - Real e Fascinante", de 2007, o autor é o médico Roy Glover, professor de anatomia e biologia celular da Universidade de Michigan. Lá podemos notar um caráter mais didático. Como a exibição de um corpo fatiado como vemos nas tomografias computadorizadas.
Outro ponto alto da exposição é visualização dos vasos sanguíneos do corpo e de órgãos em separado. Sem as simplificações que os atlas de anatomia costumam fazer para abstrair a real complexidade do sistema vascular.
As peças exibidas na mostra são mantidas através da técnica de preservação polímera. Nesse processo, o tecido humano é conservado através de um silicone emborrachado líquido, que é tratado e endurecido. O resultado final é uma amostra preservada em nível celular, demonstrando com perfeição a complexidade dos ossos do corpo, músculos, nervos, vasos sanguíneos e órgãos e conferindo maior realismo às peças. O corpo inteiro pode levar até um ano para ficar totalmente pronto.
Trecho do site oficial da mostra. Acessado em 05/12/2010
O que mais me impressionou, pela possibilidade de fazer as pessoas refletirem sobre o tema e mudarem de atitude, foi a colocação de um pulmão de fumante ao lado de um pulmão sadio.
O visitante vai ter a oportunidade de constatar o quanto o pulmão tem sua coloração enegrecida pelo fumo e ver o quanto o coração é maior devido aos esforços para bombear sangue nos vasos sanguíneos endurecidos (ainda em vida).
Curiosamente, o pulmão do fumante foi roubado da exposição anterior quando ela passou pelo Peru, em 2009 (talvez era alguém querendo convencer algum parente ou conjuge a largar o vício :-P).
Apesar de não ser médico, o tema saúde sempre este presente em minha criação. Incentivado a fazer medicina, embora minha vocação para a educação e computação acabaram prevalecendo, dissecação e cadáveres não eram um tabu e muito menos a fisiologia, a anatomia, e sua importância histórica para a ciência e para as artes.
Especialistas em anatomia fixam um espécime em produtos químicos para interromper temporariamente o processo de decomposição. A seguir, fazem a dissecação de estruturas importantes. Toda a água é removida e substituída por acetona. Depois, o espécime é colocado em silicone líquido em câmara de vácuo. No vácuo, a acetona se transforma em gás que é completamente substituído pelo polímero. A seguir, o polímero é endurecido. O resultado final é um espécime seco, conservado por tempo indeterminado, sem cheiro e sem produtos químicos tóxicos. Continua tendo aspecto igual ao original, mas funciona como se fosse de borracha.
Mas sei que boa parte da população vai ter todo tipo de reação, como pesadelos, perda de apetite ou mesmo começar uma viagem psico-filosófica sobre a efemeridade da vida e a inexorabilidade da morte.
Acho que deveria haver uma placa avisando sobre a possibilidade do visitante entrar em um transe existencialista de consequências imprevisíveis.
A maioria dos globos oculares de nossos espécimes é artificial. Mas alguns podem ser reais. Nestes, os cristalinos foram substituídos. Uma boa maneira de verificar a diferença é usar uma caneta laser. Apontando o laser para a esclera, a parte branca do olho, verá que o olho artificial brilha.
Afinal, esse tipo de instalação carrega sua dose de polêmica desde o início. Além da questão óbvia da profanação dos corpos, levantada por religiosos, houve discussões sobre a origem dos cadáveres, fornecidos pela Escola Universitária de Medicina de Dalian (norte da China), chegaram a ser levantadas especulações, nunca comprovadas, de que os corpos seriam de criminosos executados.
Se pensarmos que essa forma de exibição de corpos surgiu na Alemanha, berço do nazismo, que dava cobertura para todo tipo de "experiência" com prisioneiros judeus os quais, só para ficar em um exemplo, tinham a pele tatuada usada como cúpula para abajures. Temos sim que debater os limites éticos, sem ferir, é claro, a liberdade de expressão.
A visita não é nada barata: R$ 40,00 reais a inteira e R$ 20,00 a meia (aceita-se cartões de crédito). Ela está funcionado no prédio de estacionamento no fundo do Park Shopping, em Brasília, até o dia 19 de dezembro.
Um catálogo com fotos da exposição e explicações sobre o funcionamento do corpo humano é vendido a R$ 15,00.