Como você sabe que não está sonhando?

Você saberia dizer que não está dormindo dormindo agora ou que está sonhando durante o sonho? Como saber que não está sonhando? Daniel Grego...

Você saberia dizer que não está dormindo dormindo agora ou que está sonhando durante o sonho? Como saber que não está sonhando? Daniel Gregory discute o tema, se é que tudo isso não é um sonho.

Então você acorda.Mas como você sabe que não continua sonhando? A resposta pode parecer óbvia, mas é na verdade muito difícil de explicar como, com certeza, você sabe que está acordado. Na realidade, é tão difícil, que tem confundido filósofos desde a antiguidade. 

No cenário da borboleta, o velho filósofo chinês, Zhuangzi, pensou em uma possibilidade mistificadora: se podemos sonhar que somos um tipo de criatura tão diferente, quem pode afirmar que não somos uma diferente criatura sonhando em ser humano?

Coisas bizarras acontecem nos sonhos: você voa, ou do nada conjura um bufê de sobremesa com tudo ao seu dispor, ou é perseguido por bruxas pelos corredores de sua escola, que de repente se parece muito com Paris. Mas as coisas estranhas que acontecem nos sonhos, não parecem estranhas na hora. Então como você sabe que não está em um sonho agora, que irá parecer muito estranho depois que você acordar?

Bom, é possível notar a estranheza de um sonho enquanto se está dormindo. Sonhadores lúcidos sabem quando sonham. Por definição, se você estivesse tendo um sonho lúcido, você saberia. Porém, tudo o que isso prova é que você não está tendo um sonho lúcido - mas não prova que você está acordado.

É preciso existir um teste infalível - algo que nunca - ou apenas - aconteça enquanto você está acordado, algo que nunca - ou apenas - aconteça em um sonho. Acorde. Não, não é isso - você pode acordar em um sonho. Belisque-se. Se doer, você não estará acordado? Tente ler ou escrever algo. Corra ao redor do quarto. Os seus passos parecem normais ou suspeitamente lentos? Suspeitamente rápidos? Não consegue responder? Tente se lembrar da última vez que você correu. Na verdade, isso nos leva a um teste ainda melhor feito pelo fílosofo Francês do século 17, René Descartes. Ele mencionou que em nossas memórias, sonhos são desconexos - os eventos de um sonho não se encaixam na cadeia de eventos de nossas vidas reais.

Isso parece incontestável, não é mesmo? Você não poderia ter simplesmente nadado com golfinhos em um oceano rosa entre o Natal e o Ano Novo porque você não saiu de Kansas e tem os recibos para comprovar.

Bem, um dos contemporâneos de Descartes, o filósofo Inglês Thomas Hobbes, tinha algo para dizer sobre isso: mas e se Descartes estivesse realizando seu teste em um sonho?

E se perguntarmos a um especialista? Um neurocientista pode analisar atividades em diferentes parte do seu cérebro e dizer se você está acordado ou dormindo. Mas isso apenas nos leva de volta à ideia de que qualquer teste que você faça para provar que está acordado, poderia estar sendo feito em um sonho. Até agora, ninguém achou uma resposta convincente para isso.

Mas vamos ser realistas: tem muito mais detalhes em nossas experiências vívidas do que nos sonhos. Nós vamos dormir e acordamos de novo dia após dia por vários anos, e a cada novo dia é cheio de incontáveis pessoas, lugares, coisas, experiências. Até nossas memórias, que capturam apenas uma fração dessa experiência, contém uma quase incompreensivelmente vasta quantidade de detalhes: podemos nos lembrar de uma frase de um livro favorito por décadas, lembrar o cheiro de mofo de suas páginas e do gosto da limonada que bebemos enquanto líamos, lembrar de um sonho que tivemos sobre isso e contar tudo a alguém. Não é absurdo sugerir que um sonho conseguiria simular tais riquezas?

Pois bem, assim como o filósofo Persa al-Ghazali destacou, assim como pensamos estar agora acordados tendo despertado dos sonhos, é possível que possamos acordar de nosso estado atual para outro estado de vigília ainda maior. O que significaria que estamos em um tipo de transe ao acharmos que despertamos.

O que os filósofos realmente querem saber é o que justifica nossa crença em estarmos acordados. Todos nós queremos acreditar nas coisas que temos explicação sobre, não apenas porque elas parecem certas. Às vezes, o maior desafio é mostrar porque deveríamos acreditar em algo que parece completamente óbvio para todos nós.

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Fonte: TED
Visto no Brasil Acadêmico