Como aprender melhor

Atila trouxe ao TEDx UNESP Bauru, em 2018, sua leitura sobre a cultura pop, ciência e de como aprender melhor.

Atila trouxe ao TEDx UNESP Bauru, em 2018, sua leitura sobre a cultura pop, ciência e de como aprender melhor.

Biólogo e comunicador científico, interessado em comunicação e educação científica online, foi co-criador do ScienceBlogs Brasil, braço em português da maior rede de blogs científicos do mundo (chegando a citar o Brasil Acadêmico em seu post de 2010, O Ciclo da Notícia Científica, no Rainha Vermelha). Hoje escreve e apresenta o Nerdologia, o maior canal de divulgação científica no YouTube Brasil com quase 2 milhões de assinantes.



Olás! Bom, para desconstruir o pensamento do cotidiano e falar para vocês como aprender no século 21 e contar um pouco da experiência que eu tive durante a graduação. Eu tive bastante dificuldade para aprender a graduação. E por um motivo bem simples. E a solução que eu achei que eu queria passar para vocês aqui, já demorou para eu passar isso para as pessoas, porque eu vivo reclamando que a gente ainda ensina como se ensinava há 300 anos. Que algumas coisas podiam mudar.

Então, o que eu queria passar para vocês é um pouco menos reclamação e um pouco mais de solução do que dá pra gente fazer hoje em dia para aprender um pouco mais. 

E o problema que eu tive na graduação foi o seguinte. No último ano do ensino médio eu já estava estudando para o vestibular, já estava focando no que ia cair no vestibular para minha área de biológicas. Então tinha algumas aulas que eu dava uma cochilada. Eu dormia.

O problema é que se você se acostuma a dormir em uma aula de 45 minutos, quando você cai na graduação que a aula dura quatro horas é impossível não dormir. Duas horas, o intervalo, e duas horas de aula. Eu virei o pescador da sala, sabe. Que fica tentando... Você não está nem dormindo nem acordado. Está todo mundo dando risada para ver até onde você vai com a cabeça antes de bater na mesa e eu tinha uma certa dificuldade de perder uma parte da aula especialmente quando é uma aula longa por isso.

Mas uma coisa mudou do meio para o fim da minha graduação. Do meio para o fim da graduação eu comecei a dar aulas em cursinho. E depois que eu comecei a dar aulas em cursinho mudou a maneira como eu via a minha graduação. Se antes eu dormia em algumas aulas, agora eu dormia em todas. Porque, não sei se eu falei pra vocês aqui, o cursinho era um cursinho noturno. Eu dava aula no cursinho popular que fica quatro cidades de distância de São Paulo. Eu sei porque a gente passou na frente de lá hoje.

E eu dava aula à noite saía de lá ia pra USP, saia da USP pegar o metrô fazia a última baldeação correndo, ia lá para a zona sul de São Paulo, chegava em casa uma da manhã e eu tinha que acordar no outro dia seis, sete da manhã, pra voltar para aula. Então não tinha jeito, eu ia chegar cansado mesmo, com sono, dormir.

Mas, eu comecei a prestar muito mais atenção nas aulas. Porque agora eu tinha alguém para quem contar o que eu estava aprendendo.

É muito louco isso. Porque antes eu via aula, se eu tivesse perdido legal, depois eu pegava uma anotação. Agora, eu tinha que dar uma aula daquilo depois. Então tinha que saber o que estavam falando. Se eu tivesse pescado na aula eu tinha que pegar anotação. Na hora que eu fosse estudar para prova eu tinha que revisar aquilo com muito mais atenção porque depois eu ia falar isso para os meus alunos.

Melhor ainda se tivesse uma curiosidade. A minha paixão era ouvir alguma coisa legal em aula e poder repetir depois na minha aula. O professor Gregório de anatomia vegetal falou uma vez que o tronco das árvores, ele tem uma tensão maior por dentro, como se fosse um concreto armado, e é isso que, quando a árvore balança, não deixa ela quebrar. E é por isso que, aliás vocês sabiam que é por isso que um mastro, é melhor se ele for feito com um tronco só de árvore do que se ele for feito com várias tábuas juntas. Que ele fica muito mais resistente por causa dessa armação?

Está vendo? É muito legal. E eu tinha que contar essas coisas para os meus alunos. Eu tinha esse anseio de ouvir uma coisa legal e repetir para os outros. Está aqui a Paloma, minha esposa, que há 15 anos é meu penico de curiosidades. Se eu ouço alguma coisa legal eu tenho que contar pra ela. E eu estava só repetindo isso agora com os alunos. Mas prestando muito mais atenção.

E aí, quando eu saí da graduação, fui para a pós-graduação, fui fazer mestrado. Eu não podia mais dar aula. Só que inconscientemente eu continuei repetindo essa vontade de ensinar alguma coisa legal que estava aprendendo para outras pessoas. Eu comecei a escrever um blog, que virou a Rainha Vermelha, que era um blog de biologia, virologia, que eu estava estudando na época, que eu podia passar para as pessoas. E eu tinha que escrever lá o que eu estava aprendendo porque era legal o que eu estava aprendendo.

E eu continue com essa sensação de que quando você passa alguma coisa para as pessoas você aprende melhor. Não tem nada melhor para você saber o que você sabe ou não sabe do que você trocar um slide na apresentação e entrar alguma coisa que não sabe. Bate aquele vazio no estômago.

Você fala: “Meu Deus! Eu não sei isso? O que eu estou fazendo aqui. Eu sou uma fraude!”

É ótimo para você aprender o que você não sabe. Ter que revisar aquilo depois e quem sabe chorar um pouquinho no banho. Vai amadurecer. Faz parte. E com o tempo eu
acabei partindo para drogas mais pesadas. Além do blog eu comecei a fazer vídeo. E agora toda semana tinha que falar alguma coisa para as pessoas sobre ciência. E essa paixão foi aumentando.

O que eu não sabia na época é que essa sensação que eu tinha de que ensinar outras pessoas te ajuda a aprender ter um bom embasamento.

Ensinar de fato é uma das melhores formas de aprender. 

Para quem quiser ver como tem um  livro que recomendo demais chamado Visible Learning do John Hattie (Aprendizagem Visível para Professores: Como Maximizar o Impacto da Aprendizagem) que é uma é uma meta análise de meta análises.

Ele é um estudo de estudos que revisam estudos que revisaram estudos sobre o que funciona ou não em educação. Tudo que der para testar em sala de aula, que testaram, e mediram se muda a aprendizagem dos alunos. Já foi revisado. Uma outra revisão revisou as revisões e ele revisou as revisões das revisões dos estudos.

Aprendi muita coisa legal com esse livro. Por exemplo: Atividade fora de sala de aula, em escola, não traz nada de novo para os alunos, em relação à aprendizagem, pode trazer a experiência de vida e outras coisas mas para a matéria escola não adianta muito. Férias de dois meses atrasa o aprendizado que é uma beleza. Você regride meses de aprendizado com as férias. Um pouco contra intuitivo, não sei o que você pensa mas foi uma novidade pra mim.

E a maioria das soluções que ele encontra que realmente fazem diferença em sala de aula tem a ver com a interação do professor com o aluno. Mas isso fica para outra hora, depois a gente conversa, o ponto é que, quase tudo que ele encontra, só funciona dentro do ambiente da escola. Só funciona com o professor, com tutoria e com alguma coisa assim.

Um dos poucos métodos que realmente funciona de aprendizagem que dá pra fazer em casa é ensinar outras pessoas. Isso foi uma das poucas coisas que eles encontraram.

O mais legal é o seguinte: Não é que a gente não faz isso em sala de aula porque não funciona. A gente não faz isso em sala de aula porque o trabalho dos infernos se pegar 60 alunos numa sala, principalmente se eles forem novos e colocar um para ensinar o outro e tentar segurar essa turma.

Então a gente não usa isso em sala de aula porque é uma limitação da sala de aula. Mas essa limitação não existe mais no mundo real. Hoje a gente tem internet para isso.

A gente tem como ensinar outras pessoas por “N” meios. E quando você faz isso você realmente está entendendo melhor o que você está aprendendo. Especialmente se quando você for ensinar alguém, você avalia o que você não sabe, você avalia o que não está claro, sente falta do que você precisava aprender ou precisava retomar. Percebe quais são as suas deficiências. Ensinar outras pessoas têm o melhor benefício que é te ensinar a aprender mais e aprender melhor.

Isso é uma coisa que faz uma diferença enorme e que hoje em dia a gente tem a solução a mão pra fazer. Então se você quer aprender alguma coisa nova, quer aprender a tocar um instrumento, andar de bicicleta, uma outra língua, aprender a programar, está na graduação, quer memorizar melhor a matéria. Ensina alguém, faz um blog, escreve texto. Editar artigo da Wikipedia. Beneficia bastante gente junto com você.

Se estiver com coragem disposição, faz vídeo. 

O vídeo é legal porque se for uma habilidade física que está aprendendo, a tocar um instrumento, você tem como transmitir isso melhor para as pessoas. E faz isso que você vai ver o quanto você aprende mais e o quanto você pode ter contato com pessoas interessantes por fazer isso.

Inclusive se você está preocupado porque: “Ah! Eu comecei a aprender agora", "eu mal aprendi o que eu tô querendo ensinar para as pessoas”, “o que eu vou ensinar para alguém?”. Fica tranquilo que pode ser até melhor nessa situação.

Tem um experimento muito legal feito em Glasgow, em 2017, em que eles pegaram alunos de graduação de primeiro ano e docentes pesquisadores e puseram as duas categorias para escrever artigos de comunicação científica para as pessoas. E o que o público mais queria, mais gostava, eram os artigos dos alunos de graduação porque os alunos de graduação usava uma linguagem mais simples, eles eram mais elaborados, eles incluíam mais detalhes que os professores já assumiam que todo mundo sabia então isso era até mais acessível para as pessoas.

Então se você está só aprendendo, mal começou, fica tranqüilo porque o que você tem para ensinar para as outras pessoas, principalmente para quem também está começando a aprender às vezes é melhor do que o que alguém que já tem muita experiência, anos de dedicação, mas não tem muita didática. As pessoas vão aproveitar.

E o melhor é que isso ainda te dá uma empolgação muito maior. Porque ao contrário de fazer aquele trabalho de graduação, de aula, que você vai dar, alguém vai corrigir, enfiar numa gaveta e nunca mais vai ver. O que você ensina para as pessoas, principalmente pela internet, estará disponível para todo mundo para sempre. E outras pessoas podem ter contato com aquilo. Uma das melhores coisas que eu tive dando aula foi pegar alunos de graduação da licenciatura de biologia e colocar eles para editar a Wikipedia durante o surto de zika de 2015.

Os alunos foram lá, desmentiram um boato na internet. Tiraram uma reportagem errada do ar e o artigo que eles editaram sobre zika na Wikipedia, de lá para cá, teve mais de 220.000 acessos. Eu não sei de nada que a gente faz de atividade de escola, de ensino, que pode ter um impacto tão grande nas pessoas, quanto um ato bem simples desse. De falar:

“Olha, ao invés de você me entregar o que você está fazendo. Você vai entregar para as pessoas. Vai ensinar outras pessoas o que você está aprendendo”.

É muito mais empolgante isso. É muito mais motivador. Tanto que é disso que eu vivo hoje. O que eu faço toda semana é justamente ensinar outras pessoas. Eu sempre tive essa sensação de que eu gostava de ensinar. Adorava ajudar alguém que estava de recuperação ou alguém que que estava em sala de aula. Estava atrasado, alguém que não tinha entendido o que eu tinha entendido. Eu adorava ir lá e contar para aquela pessoa o que eu tinha acabado de aprender e eu continuo fazendo isso agora o tempo todo.

Contando para as pessoas o que eu acabei de aprender. Porque as pessoas não sabem quando elas vêem metodologia é que quem está aprendendo com o Nerdologia não são elas, sou eu. É isso.

(Aplausos)

Fonte: TEDx
[Visto no Brasil Acadêmico]