USP decifra papiro carbonizado e ganha prêmio internacional

Equipe da USP São Carlos aceita desafio e, usando inteligência artificial, consegue extrair informações de um papiro carbonizado em Herculan...

Equipe da USP São Carlos aceita desafio e, usando inteligência artificial, consegue extrair informações de um papiro carbonizado em Herculano após erupção do Vesúvio quase 2 mil anos atrás.

Lembra do Vesuvius Challenge? Falamos em outra postagem sobre a importância dessa biblioteca de papiros que parecem mais carvão de churrasqueira mas que podem mudar completamente a história ao dar acesso a uma enorme quantidade de registros do conhecimento clássico.

Uma erupção em 79 DC, na Itália, soterrou tais documento em pleno Império Romano. Foram descobertos no século 18 e agora há centenas armazenados em uma biblioteca em Nápoles, Itália. Esses pedaços de cinza carbonizada não podem ser abertos sem serem gravemente danificados. Mas sua informação é valiosa demais para a compreensão do passado da civilização.

Assim, pergaminhos do Institut de France foram escaneados no acelerador de partículas Diamond Light Source, perto de Oxford. São tomografias computadorizadas de alta resolução dos pergaminhos e através de algoritmos de computação gráfica foram desembrulhados digitalmente. 

“Aí a gente marca essas tintas e mostra pra inteligência artificial e fala: 'olha isso aqui é tinta, acha mais pra gente'. E esse treinamento é feito e depois a gente tem detecções de tinta em pedaços muito pequenos do papiro e, juntos, formam letras palavras e o texto todo em si.”

Leonardo Scabini – Pesquisador do IFSC da USP São Carlos para o G1

Então, um prêmio que totalizava 1 milhão de dólares foi oferecido a equipe que conseguisse recuperar 4 passagens de 140 caracteres de um pergaminho de Herculano (esse da imagem ao lado) – nome da cidade onde foram encontrados – com pelo menos 85% dos caracteres reconhecíveis.

Os próprios proponentes do desafio acreditavam que havia somente 30% de chance do desafio ser alcançado. Apenas quatro equipes ao redor do mundo desenvolveram métodos capazes de decifrar os escritos do papiro. A comissão do concurso julgou de acordo com a legibilidade das sentenças.

Por isso, uma equipe logo se destacou das demais, pois além de atenderem aos requisitos do prêmio principal, inclui outras 11 colunas de texto – mais de 2.000 caracteres no total.

Essa equipe, composta por um egípcio, doutorando na Freie University, na Alemanha, um estagiário da empresa Space X e estudante de ciência da computação da University of Nebraska, nos EUA, e um estudante de robótica do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, dividiu o prêmio de 700 

mil dólares.

A equipe de São Carlos – composta por Elian Rafael Dal Prá, Sean Johnson, Leonardo Scabini, Raí Fernando Dal Prá, João Vitor Brentigani Torezan, Daniel Baldin Franceschini, Bruno Pereira Kellm, Marcelo Soccol Gris, e Odemir Martinez Bruno – empatou em segundo lugar com outros dois times, e recebeu US$ 50 mil pelo feito.

Os participantes do concurso usaram a inteligência artificial para identificar a tinta nos manuscritos. O problema é que essa tinta era feita à base de carvão o que dificultava ver a diferença entre o papiro carbonizado e o texto escrito. Só com os diferentes métodos de tradução de cada equipe, que foram disponibilizados na página do desafio, em links para o Github, é que foi possível identificar as regiões com e sem tinta tornando o conteúdo razoavelmente legível.

Após a análise por especialistas, já que o tal conteúdo foi escrito em grego, notou-se que o papiro fala sobre os prazeres da música e da comida e tem um teor filosófico epicurista, que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de ausência de medo.

O filósofo grego Epicuro viveu entre 341 a.C. e 271 a.C. Os pesquisadores acreditam que o texto foi escrito pelo filósofo grego Filodemo, que viveu entre 110 a.C. e 35 a.C.

Com informações de G1 e do Vesuvius Challenge.

Visto no Brasil Acadêmico