Boas festas? A incômoda dança dos robôs da Boston Dynamics

Uma amostra do quão avançada está a capacidade dos robôs atuais em executar movimentos complexos e programados nos leva diretamente ao fundo...

Uma amostra do quão avançada está a capacidade dos robôs atuais em executar movimentos complexos e programados nos leva diretamente ao fundo do vale da estranheza.

Sem meias palavras. É admirável, é notável e é... desconfortável. Para se dizer o mínimo. Antigamente quando comparávamos o futebol “força” da Alemanha e o futebol “bailarino” brasileiro era comum o adjetivo “robótico” para designar a falta de destreza germânica para dribles desconcertantes como costumávamos achar ser característica do futebol tropical.

Os anos passaram, o futebol mudou, a Alemanha goleou o Brasil em uma Copa do Mundo em solo brasileiro com a camisa do Flamengo e mostrou que evoluiu em todos os fundamentos. Assim também ocorre no campo da robótica. Hoje, os autômatos possuem mais gingado do que muitos humanos. Bastando que sejam programados e projetados para isso.  Não é difícil imaginar que em menos tempo que gostaríamos estarão driblando muito melhor que a média dos jogadores.

Mas ao contrário do que poderia ser intuitivo, os robôs mais parecidos com humanos não necessariamente geram mais empatia. Aliás, ao começarmos a reconhecer características humanas no suíngue dos animatronics iniciamos também um processo de rejeição ludista. É assustador justamente por estarmos no limiar da falta de discernimento entre a “alegria nas pernas” genuína e um frio movimento algorítmico desprovido de sentimento.

Certamente, não era a intenção dos que produziram o vídeo dos robôs dançarinos. Porém, convém lembrar que, na natureza, a dança sempre foi uma das formas consagradas dos gêneros opostos mostrarem sua aptidão para o sexo, o apogeu da intimidade humana. E se os robôs estão aprimorando e mimetizando essa performance pré-acasalamento, o que virá a seguir? Especialmente no final desse ano pandêmico no qual o que mais se pregou de forma poliglota – e com razão mas em prejuízo da emoção –, foi o distanciamento social, o abraço com interface plástica, a desconfiança sanitária, o sorriso desenhado em máscaras e o cândido olhar por trás de faceshields?

Estão suspensas as festas, os bares, os videokês, os luaus, os carros nos morros ao luar. E consumar o ato sexual em si é mais burocrático do que as tentativas reais da idade média de se conceber um herdeiro – a história registra que a noite de núpcias eram acompanhadas de perto, até no mesmo cômodo, por uma comissão de notáveis que se constituía até por embaixadores. Não duvide que muito em breve, além do uso de preservativos, a cópola exigirá a concessão formal detalhada – uma vez que um singelo furo em uma camisa-de-vênus possa levar a uma condenação por estrupo em uma conjução carnal consensual – e a passaportes de prevenção viral. 

– Você tomou a pílula?

– Cloroquina?

– Não. O anticoncepcional.

– Tomei, meu amor.

– E o teste de Covid-19? Fez?

– Sim, o sorológico IgC/IgM.

– Esse não, esse só detecta até uma semana atrás. E o RT-PCR?

– O do “swab”?

– Isso.

– Esse não. Eu tenho desvio de septo e muita rinite. Vai ser muito incômodo.

– Hmmm. É melhor não vacilar. Vamos esperar a vacina.

Com as máquinas isso tudo seria superado em uma sessão de desinfecção com álcool em gel 70%. E seremos cada vez mais tentados por essa forma de experiência sexual asséptica. Afinal, está no inconsciente coletivo de quem assistiu aos filmes da franquia Exterminador do Futuro que um simulacro de Skynet aos poucos vem obtendo meios de controlar os humanos e nos superar em tudo. E pode ser que isso esteja mesmo a caminho. Who knows? E pelo andar da carruagem elétrica com direção autônoma isso incluirá até mesmo o nosso sambar, o nosso driblar, até mesmo o nosso transar.

Visto no Brasil Acadêmico