Esses três irmãos gêmeos idênticos se reencontraram depois de se tornarem adultos e viraram celebridades. Só que isso era só o começo do his...
Esses três irmãos gêmeos idênticos se reencontraram depois de se tornarem adultos e viraram celebridades. Só que isso era só o começo do história.
Essa é uma história verídica de uma descoberta acidental que revela um segredo causando reviravolta no script da vida de muitos indivíduos. Também convém alertar que esse texto contém spoilers - revelações do roteiro - de um documentário que recomendamos a nossos leitores que assistam e que também trata de ética na pesquisa acadêmica.
Fonte: Psycology Today, News & Record, Wikipedia, NYT, Netflix
Visto no Brasil Acadêmico
Como no documentário, essa história começa por uma coincidência quando Robert Shafran (Bobby), em 1980, então com 19 anos, chega pela primeira vez ao campus da faculdade pública Sullivan Community College, em Nova York. Apesar de ser um “freshman” (calouro) e nunca ter estado lá, foi várias vezes cumprimentado efusivamente como se fosse um veterano, indo desde tapinhas nas costas até a beijos de garotas que nunca tinha visto.
E fiquei um pouco confuso com isso, porque ninguém é tão bem-vindo em seu primeiro dia de escola.Bobby Shafran
Mal chegou ao seu dormitório e Bobby já havia entendido que estava sendo confundido com um tal de Eddy quando Michael Domnitz, um colega de Eddy do ano anterior que sabia que ele não estaria ali naquele ano, bateu em sua porta. Quando Bobby se virou Michael ficou atônito. Correram até a cabine telefônica mais próxima e ligaram para Eddy. Eddy já havia recebido outras ligações de conhecidos contando sobre a existência de uma pessoa com uma inacreditável semelhança. Bobby confirmou então que ambos tinham nascido no mesmo dia – 12 de julho –, e foram adotados através da mesma agência de adoção: Louise Wise Services.
Michael e Bobby viajaram 160 km até Long Island o mais depressa que puderam para encontrar Edward Galland, o Eddy. E quando os gêmeos se encontraram era como se estivessem de frente a um espelho. Os trejeitos, as frases, eram muito parecidos. A alegria tomou conta dos irmãos ao saberem da existência um do outro. E não tardou para a história logo ir parar na mídia. Só que toda essa exposição acabou chegando ao conhecimento de David Kellman que viu a fotografia dos irmãos no jornal e percebeu que ele também era idêntico a eles.
A história é retratada em detalhes no documentário Três Estranhos Idênticos (Three Identical Strangers), filme de Tim Wardle, que está disponível na Netflix até o dia 27 de dezembro de 2021 (corra!).
Como é descrito no filme, a vida dos três entra em um turbilhão de entrevistas, aparições até em um filme da Madonna (“Procurando Susan Desesperadamente”) e apresentações por toda parte. Apesar de criados em ambientes muito diferentes – David cresceu em uma família pobre, Eddy foi criado em um lar de classe média e Bobby em uma família de classe média-alta –, os gêmeos eram idênticos em muitas coisas. Riam da mesma forma, praticavam luta-livre, fumavam Marlboro e gostavam de mulheres mais velhas.
Com essa história incrível se tornaram celebridades da noite para o dia, faturaram um bom dinheiro e até abriram um restaurante juntos, o Triplets (Trigêmeos, em inglês). Os três se amavam e estavam curtindo muito a nova vida.
Incomodados com a situação, os pais adotivos dos garotos procuraram a agência para saber o que houve mas apenas tiveram como resposta que os irmãos foram separados para facilitar a adoção, já que adotar os três ao mesmo tempo seria muito mais difícil. No entanto, logo após deixarem a agência irritados, um dos pais retornou por ter esquecido algo e notou que os membros da agência de adoção abriam espumantes como se comemorassem terem se livrado de problemas.
Ainda assim, a vida dos trigêmeos parecia estar em um voo em céu de brigadeiro. Havia uma sensação de que tudo ficaria bem. Mas não foi bem assim. Para entender é necessário analisar alguns aspectos da vida dos rapazes.
Incomodados com a situação, os pais adotivos dos garotos procuraram a agência para saber o que houve mas apenas tiveram como resposta que os irmãos foram separados para facilitar a adoção, já que adotar os três ao mesmo tempo seria muito mais difícil. No entanto, logo após deixarem a agência irritados, um dos pais retornou por ter esquecido algo e notou que os membros da agência de adoção abriam espumantes como se comemorassem terem se livrado de problemas.
Ainda assim, a vida dos trigêmeos parecia estar em um voo em céu de brigadeiro. Havia uma sensação de que tudo ficaria bem. Mas não foi bem assim. Para entender é necessário analisar alguns aspectos da vida dos rapazes.
Os três tinham pais bem diferentes. David tinha um pai mais bonachão, um trabalhador imigrante, sendo o que mais encampou a ideia dos três ficarem juntos. Era na casa dele onde os três mais ficavam. Bobby era filho de um promissor médico de Nova York. Que era considerado um pouco ausente como pai. Já Eddy, era filho de um professor que educava de forma mais rígida e disciplinada. Um estilo meio militar.
Ocorre que a separação dos trigêmeos na infância pode ter desencadeado traumas psicológicos. Seus pais adotivos relataram como as crianças costumavam bater a cabeça contra as barras do berço. David teve muitos problemas emocionais e passou um longo período se consultando com um psicólogo. Bobby estava em liberdade condicional após confessar ter se envolvido em um assalto que terminou com a morte de uma mulher em 1978. Eddy, por outro lado, desenvolveu um transtorno mental que culminou com seu suicídio, em 1995, atirando contra a própria cabeça.
Bobby já estava se afastara do trio devido a episódios de obsessão pela família por parte de Eddy. Mas a tristeza que se seguiu ao falecimento de Eddy acabou afastando ainda mais os dois irmão restantes.
Foi quando o grande segredo foi revelado. Naquele mesmo ano, o jornalista e escritor, premiado com o Pulitzer, Lawrence Wright, pesquisando material para seu livro sobre irmãos gêmeos, se depara com um artigo nos anos 1990, que fazia referência a um estudo secreto sobre irmãos gêmeos que foram separados. Era um artigo de 1986 publicado no The Psychoanalytic Study of the Child e forneceu a pista para se descobrir que os jovens eram parte de um experimento social arquitetado secretamente.
“Na década de 1960, uma agência de adoção se viu envolvida com a colocação de vários conjuntos de gêmeos idênticos e, guiada por uma variedade de influências, escolheu separar os membros de cada conjunto. Das influências orientadoras, as considerações clínicas foram centrais. A literatura científica prevalecente da época [promovida por Bernard] vinha descobrindo características sobre gêmeos que atraíam a atenção de qualquer profissional sério no campo da saúde mental. Essas características incluíam o seguinte: 1) a paternidadede de gêmeos era onerosa, de modo que cuidar frequentemente ficava comprometido; 2) as crianças invariavelmente enfrentavam riscos específicos de desenvolvimento que pareciam diretamente atribuíveis à gravidez de gêmeos; e 3) eles também pareciam mais vulneráveis a uma ampla variedade de distúrbios patológicos. Uma vez que as colocações foram feitas, por razões éticas, a agência não poderia dizer nem aos pais adotivos nem aos filhos da existência de um gêmeo, para que esse conhecimento não prejudicasse o vínculo família-criança que se esperava que evoluísse e é reconhecida como necessária para o crescimento e o desenvolvimento.”
Trecho do artigo de Samuel Abrams. Um colega e um frequente co-author com Neubauer
A agora extinta agência de adoção Louise Wise designou uma família diferente a cada recém-nascido, para que as crianças participassem de um estudo liderado pelo psiquiatra Peter Neubauer e desenvolvido pelo Child Development Center, um instituto que mais tarde se fundiu à organização Jewish Board. Cada um deles já tinha uma irmã mais velha adotada pela agência e pesquisadores faziam testes psicológicos periodicamente com as crianças se dizendo do governo e sem mencionar os demais irmãos gêmeos. E isso ocorreu até a adolescência, quando a frequência começara a diminuir.
É como uma merda nazista.Robert Shafran (Bobby)
Booby e David, após terem acesso aos registros dos experimentos, guardados no departamento secreto da Universidade de Yale, descobriram que eles foram apenas uma das muitas cobaias usadas por Neubauer. Como a Louise Wise não infringiu nenhuma lei da época, não pode ser condenada nem considerada culpada pelos experimentos. Hoje, a lei obriga que gêmeos sejam adotados juntos.
“Eles não foram separados para fins de pesquisa. Eles (Louise Wise Services) decidiram fazer isso e então vieram até mim. Quando ficamos sabendo da política, decidimos que ela oferece uma oportunidade extraordinária para a pesquisa.”Dr. Pete Neubauer. Para o Greensboro News & Record em 1998
Dr. Peter Bela Neubauer (na foto ao lado) é um sobrevivente do holocausto que conseguiu fugir para Suíça durante o controle nazista da Áustria. Ele trabalhou em estreita colaboração com Anna Freud na Hampstead Clinic em Londres e, da década de 1970 até sua morte, Neubauer foi co-editor do The Psychoanalytic Study of the Child , uma publicação anual da Universidade de Yale.
Alguns dos sujeitos do estudo do tipo “Natureza x Criação” dos gêmeos de Neubauer buscaram registros, desculpas e compensação do Conselho Judaico de Serviços para a Família e Crianças, que herdou os registros do estudo de Neubauer, após sua morte em 2008, aos 94 anos. Pelo menos três dos vários irmãos gêmeos separados estudados aparentemente morreram por suicídio.
Na conclusão do estudo em 1980, Neubauer temia que a opinião pública fosse contra o estudo e se recusou a publicá-lo. Os registros do estudo estão lacrados na Biblioteca da Universidade de Yale até 25 de outubro de 2065, embora em 2018, cerca de 10.000 páginas tenham sido lançadas, mas foram fortemente editadas e inconclusivas. De certa forma, essa história ainda não acabou.
Na conclusão do estudo em 1980, Neubauer temia que a opinião pública fosse contra o estudo e se recusou a publicá-lo. Os registros do estudo estão lacrados na Biblioteca da Universidade de Yale até 25 de outubro de 2065, embora em 2018, cerca de 10.000 páginas tenham sido lançadas, mas foram fortemente editadas e inconclusivas. De certa forma, essa história ainda não acabou.
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