Com o hiperrealismo crescente desses artefatos para diversão adulta, especialistas alertam para a necessidade dos governos se adiantarem a p...
Com o hiperrealismo crescente desses artefatos para diversão adulta, especialistas alertam para a necessidade dos governos se adiantarem a possíveis danos à situação das mulheres. MAs o problema vai muito além desse aspecto.A natalidade está em declínio. As mulheres estão se tornando mães mais tarde. A contagem de espermatozoides em queda e pênis menores ameaçam a humanidade além do plástico poder afeminar os meninos.
Fonte: Flinder University, Época Negócios, Daily Mirror
Visto no Brasil Acadêmico
Apesar de ainda haver risco de uma superpopulação pressionar o meio ambiente no futuro, uma desaceleração da natalidade e o envelhecimento da população mundial são fatos.
Estudos ainda estão em andamento e o consenso sobre a melhor abordagem para os desafios nesse tema ainda está sendo construído. Todavia, é inescapável a conclusão de que a reprodução humana está sob escrutínio, passando pela necessidade de termos um olhar crítico sobre a sexualidade.
Nesse complexo cenário, temos que adicionar a enzima da tecnologia. Para o bem ou para o mal, panaceia ou o ovo da serpente que envenenará a humanidade, a tecnologia é um catalisador das transformações que não nos oferece tempo para refletir, assimilar ou acomodar de maneira satisfatória a liquidez da realidade.
E é nesse contexto que entra em cena um problema que de forma insidiosa vai ocultando questões que só se manifestam sob edredons. Os brinquedos eróticos da era digital tentam emular fantasias sexuais substituindo as pouco convincentes bonecas infláveis passivas e burras (atenção para o sentido em que esses adjetivos estão sendo empregados) de outrora por sofisticados aparelhos de aparência muito mais realística e capacidade de interação com inteligência crescente.
Esses artefatos teimam em se arrastar para fora do vale da estranheza de forma tão decidida que já preocupa cientistas há algum tempo. Em 2017, Noel Sharkey, professor emérito de robótica e inteligência da Universidade de Sheffield (Reino Unido), em seu relatório “Our Sexual Future with Robots”, já clamava por novas leis que regulamentassem a fabricação desses robôs e seus usos na parafilia (cada um dos distúrbios psíquicos que se caracteriza pela preferência ou obsessão por práticas sexuais socialmente não aceitas como a pedofilia, o sadomasoquismo, o exibicionismo etc. – Oxford Languages).
Precisamos de legisladores investigando o tema e que a população decida se essas relações são aceitáveis e permitidas. Temos que pensar, como sociedade, o que iremos fazer sobre isso. Eu não tenho respostas, apenas formulo as perguntas.
Noel Sharkey. Co-fundador da Foundation for Responsible Robotics (FRR)
Agora, em 2021, em novo artigo intitulado “Sex with Robots: How should the law responder?”, as pesquisadores de direito da Flinders University – a jurista Tania Leiman, professora na Universidade de Adelaide, e Madi McCarthy, advogada no escritório LK, ambas australianas – analisaram os fatores que os legisladores australianos terão que considerar ao ponderar se deve ser legal importar, possuir e usar sexbots que se assemelham a adultos humanos.
Críticos argumentam que os robôs sexuais objetificam as mulheres e aumentam o risco de violência sexual ao dessensibilizar as pessoas quanto à forma como tratam os seres vivos. Alguns robôs podem até ser programados para rejeitar os avanços sexuais de um usuário e imitar uma recusa de consentimento, que é um elemento-chave para provar crimes sexuais na Austrália.
Em contrapartida, os defensores afirmam que os benefícios dos robôs sexuais podem incluir capacitar australianos mais velhos e pessoas com deficiências, abordando a ansiedade relacionada ao sexo, tratando disfunções, promovendo sexo seguro – argumento que em tempos de pandemia ganha um reforço extra – e criando um lugar seguro para pessoas que se sentem inseguras quanto à sua orientação sexual.
Um estudo recente sobre os benefícios terapêuticos dos robôs sexuais descobriu que as três principais sugestões para o uso de robôs eram para pacientes com: ansiedade social (50%), pessoas que não têm um parceiro, mas ainda querem uma vida sexual sem recorrer a conhecidos fugazes – alguém mais pensou no Tinder? – ou prostituição (50%) e ejaculação precoce (47%), segundo os terapeutas sexuais.
Madi McCarthy recentemente concluiu sua pesquisa neste tema no College of Business, Government & Law. Ela diz que os avanços na tecnologia, juntamente com a crescente demanda e preocupação pública, significam que os legisladores australianos provavelmente serão confrontados com pedidos de regulamentação dos robôs sexuais em um futuro próximo.
“Os legisladores terão que equilibrar os interesses individuais e públicos concorrentes e complexos que apresentam novos desafios éticos, regulatórios e legais devido aos avanços da tecnologia.”
“Embora nenhuma legislação australiana atualmente regule ou proíba as relações sexuais com robôs, existem regulamentos sobre bonecas sexuais infantis que foram abordadas pela Commonwealth, South Australia e Queensland. Estas disposições legais podem orientar quaisquer leis futuras sobre o uso de robôs sexuais adultos, mas existem novos fatores que devem ser considerados. ”
Tania Leiman , Reitora de Direito da Flinders University, diz que os robôs sexuais desafiam as concepções existentes de como os humanos interagem com as tecnologias emergentes da maneira mais íntima, então os reguladores terão que equilibrar questões éticas, desafios legais e o potencial real da tecnologia em promover a violência sexual.
“Mesmo que os robôs sexuais sejam proibidos na Austrália é provável que os tribunais possam considerar tais crimes como sendo menos graves objetivamente do que os crimes sexuais contra humanos, e as sentenças podem ter maior probabilidade de cair na extremidade inferior da faixa de pena, mesmo quando as penalidades máximas sejam equivalentes.”
“Por exemplo, os tribunais impuseram consistentemente sentenças mais baixas para delitos de bonecas sexuais semelhantes a crianças, apesar da faixa máxima de pena ser de 10 a 15 anos.”
Mas para além da questão da apologia à parafilia, uma outra questão que devemos enfrentar é de uma possível ameaça de extinção da espécie humana caso esses robôs passem a substituir o prazer das relações literalmente carnais e a preencher as necessidade emocionais. Risco esse levantado pelo documentário russo de 2017 “Substitutes: Japanese men woo silicone sex dolls to overcome loneliness” (Substitutos: Homens japoneses cortejam bonecas sexuais de silicone para superar a solidão) o qual mostra que, no Japão, as taxas de natalidade e casamento estão decaindo e sua população deve ser reduzida em um terço nos próximos 30 anos, e sugere uma ligação entre o desinteresse por sexo reprodutivo e um maior comércio de bonecas sexuais (sex dolls).
Kanako Amano, especialista em demografia, não poupa esforços para nos oferecer a dimensão do problema. Segundo ela, “se uma nação, onde as bonecas vendem bem, vê uma perda de interesse em sexo e declínio nas taxas de natalidade, isso é um problema”.
“O maior problema no Japão é o declínio da taxa de natalidade e da população. (...) Está sendo chamado de desastre nacional. (...) Os japoneses estão em uma encruzilhada, enfrentando a ameaça de extinção. (...) Somos uma espécie em extinção.”Kanako Amano. Especialista em demografia do Instituto de Pesquisa NLI de Tóquio
A Dra. Kate Devlin, professora sênior de IA social e cultural no King's College London e uma importante especialista na área, alerta que os robôs sexuais podem agravar a crise.
“Há temores de que em países como o Japão, onde a solidão é um grande problema social, os robôs possam piorar as coisas.” (...) “Já existem 'namoradas' IA.” (...) “Para os homens que estão interessados em comprar versões femininas de robôs sexuais, muitas vezes também procuram o aspecto da companhia.”Kate Devlin. Especialista em IA social e cultural
Em “Substitutos” acompanhamos um pouco da vida de Senji Nakajima, um sexagenário que, apesar de casado e ter dois filhos, é dono de uma sex doll denominada Saori. Após dois meses de convivência, Nakajima se deu conta que a ‘boneca tinha desenvolvido a sua própria personalidade’, desenvolvendo uma paixão repentina pela sua nova companheira.
“Ela nunca trai e não anda atrás de dinheiro. Me cansei das relações humanas modernas que não têm coração. (...) Para mim ela é mais do que uma boneca. Não é apenas um pedaço de silicone. Ela precisa da minha ajuda, mas não deixa de ser a companheira perfeita que compartilha momentos preciosos comigo e enriquece a minha vida.”
Senji Nakajima
Existem até bordéis de bonecas sexuais – em cidades como Barcelona, Turin, Moscou e Nagoya, no Japão – onde o comprador de uma dessas parceiras sintéticas pode experimentar os produtos antes de se decidir por no mínimo 80 euros por 30 minutos de test drive.
E essa pode ser uma tendência ainda mais impactante para um futuro onde teremos várias formas de inteligência artificial que rivalizarão e provavelmente superarão a inteligência humana. É bem provável que cederemos aos encantos de um ser digital que nos conhecerá melhor que nós mesmos, nossos amigos, nossos pais e se encarregará de atender ao hedonismo das massas. Esse canto da sereia cibernético é bem retratado no filme “Ela” que nos oferece um vislumbre do que pode estar na iminência de ser concebido pela tecnologia e nos convida a uma reflexão ética.
A questão é polêmica, complexa e sua solução vai muito além de aumentar a licença maternidade, o bolsa família e o desconto por dependente no imposto de renda para estimular a natalidade.
Fonte: Flinder University, Época Negócios, Daily Mirror
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