Glenn Cantave usa a tecnologia para destacar as narrativas dos oprimidos. Em uma turnê de projetos visuais imersivos, ele compartilha o trab...
Glenn Cantave usa a tecnologia para destacar as narrativas dos oprimidos. Em uma turnê de projetos visuais imersivos, ele compartilha o trabalho dele com a equipe da Movers and Shakers NYC, uma coalizão que executa campanhas diretas de ação e defesa para comunidades marginalizadas usando realidade virtual, realidade aumentada e artes criativas.
Meu nome é Glenn, tenho 25 anos, e não sei meu verdadeiro sobrenome. Não é incomum nos Estados Unidos. A maioria das pessoas negras neste país está andando por aí com o sobrenome de um proprietário de escravos. A história negra foi sistematicamente apagada e alterada por séculos.
Enquanto dou esta palestra, existem mais de 700 monumentos confederados em todo o país. Eles foram erguidos para homenagear os soldados confederados que lutaram para manter a escravidão, principalmente no Sul, entre as décadas de 1890 e 1950, quando as leis de Jim Crow, que faziam cumprir a segregação racial, estavam em pleno vigor. Até hoje, os negros são forçados a se defrontar com monumentos de proprietários de escravos em nossos espaços públicos. Esses memoriais são uma representação física de um sistema que trabalha ativamente para definir quais vidas são importantes e quais não são.
Se quisermos mudar essa narrativa, temos que começar na origem.
A maioria das pessoas nos Estados Unidos sabe sobre a viagem dele de 1492. Poucas pessoas sabem que cerca de 250 mil aruaques foram exterminados dois anos após a chegada dele. Ainda menos pessoas sabem que Colombo admitiu, em uma carta escrita a Doña Juana de la Torre que “meninas de nove e dez anos estavam em alta demanda, e, para meninas de todas as idades, um bom preço deve ser pago”. No entanto, o Columbus Circle de Nova York o colocou a uns 23 m de altura próximo ao Central Park desde 1892.
Fundei a organização Movers and Shakers, sem fins lucrativos, para remover a estátua. Movers and Shakers é um grupo de ativistas, artistas, educadores e engenheiros focados no uso de tecnologia imersiva para destacar as narrativas dos oprimidos. Em nossa campanha para derrubar Colombo de seu pedestal, nos envolvemos em uma forma visualmente provocativa de ativismo. Criamos uma instalação de realidade aumentada baseada na história real de Cristóvão Colombo e a usamos para apresentar conferências no Columbus Circle e na Times Square. Muitos veem a controvérsia em torno da estátua como uma tensão entre a comunidade ítalo-americana e a comunidade indígena. A realidade é que a maioria dos negros está aqui neste país como resultado das atrocidades que foram iniciadas por Cristóvão Colombo. Então, acabamos realizando um leilão de escravos na Union Square para mostrarmos como começou o comércio transatlântico de escravos. Corri a Maratona de Nova York com correntes para divulgar essa questão. Também fui preso no Giants Stadium por apresentar uma reencenação de escravos no primeiro jogo deles do time de futebol.
Fizemos todo o possível, mas, no final, a cidade de Nova York decidiu manter a estátua e o estado de Nova York votou por unanimidade torná-la um marco. A notícia foi devastadora, mas abriu outra porta.
Percebemos que, com a realidade aumentada, não é preciso permissão do governo para erguer um monumento ou fazer uma declaração. É só fazer.
A cidade de Nova York tem atualmente mais de 150 estátuas de homens e 6 de mulheres e também reconhece proprietários de escravos em espaços públicos. Decidimos: por que não colocar monumentos de realidade aumentada de mulheres e pessoas negras em toda a cidade?
Normalmente, monumentos são criados para comemorar as realizações do falecido, mas, com a realidade aumentada, podemos mudar as regras. Começamos com esportes. Colin Kaepernick. Ele era “quarterback” do San Francisco 49ers e queria usar a plataforma dele para destacar a injustiça do racismo sistêmico. Então, ele consultou um Boina Verde do jeito mais respeitoso e decidiu se ajoelhar durante o hino nacional. Ele perdeu seu contrato com o 49ers, foi banido por todos os proprietários da NFL, foi criticado por milhões e até mesmo o presidente dos EUA decidiu insultá-lo. Talvez se passem décadas até que Colin Kaepernick seja respeitado adequadamente por sua coragem. Então, nossa equipe decidiu fazer isto. Agora qualquer um que passe pela Trump Tower pode ver Colin Kaepernick se ajoelhar em realidade aumentada, e não há nada que possam fazer a respeito.
(Risos)
A representação é importante. Serena Williams provou ao mundo que uma garota negra de Compton pode dominar um esporte tradicionalmente praticado em clubes de campo exclusivos. Vamos celebrá-la agora.
Jackie Robinson. Ele quebrou a barreira da cor e capacitou muitos atletas negros a jogarem na Major League Baseball. Vamos levar esse monumento dele e colocá-lo no Ebbets Field para que qualquer um possa vê-lo em ação no Ebbets Field, no Brooklyn.
Com a realidade aumentada, temos o poder de contar histórias em espaços públicos que precisam ser contadas. As conquistas de pessoas como Frida Kahlo, Audre Lorde, Toussaint Louverture, Madame C. J. Walker, isso deve ser do conhecimento de todos. Nossa visão é um “Pokémon Go” para uma história contextualizada.
A realidade aumentada também pode ser usada como ferramenta para apoiar organizações que estão lutando contra a opressão sistêmica. Em 2019, lançaremos nosso aplicativo de smartphone gratuito com monumentos e conteúdo de realidade aumentada. Você pode pegar seu smartphone e segurá-lo sobre qualquer nota de US$ 1 e ver uma cena em realidade aumentada que ilustre a injustiça da fiança em dinheiro. Você pode, então, clicar na tela e ser direcionado para a página de doações do The Bail Project, um fundo que arrecada dinheiro a pessoas que não podem pagar fiança.
Podemos usar essa ferramenta para destacar as implicações sistêmicas de apagar a história de alguém. E, de maneira mais concreta, podemos usar essa tecnologia como forma de apoiar iniciativas que estão lutando contra o racismo sistêmico. Com a realidade aumentada, “nós” temos o poder de reimaginar um mundo que prioriza a justiça sobre a opressão.
Obrigado.
(Aplausos) (Vivas)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Meu nome é Glenn, tenho 25 anos, e não sei meu verdadeiro sobrenome. Não é incomum nos Estados Unidos. A maioria das pessoas negras neste país está andando por aí com o sobrenome de um proprietário de escravos. A história negra foi sistematicamente apagada e alterada por séculos.
Se quisermos mudar essa narrativa, temos que começar na origem.
O genocídio, a escravidão e o patriarcado começaram nas Américas com Cristóvão Colombo.
A maioria das pessoas nos Estados Unidos sabe sobre a viagem dele de 1492. Poucas pessoas sabem que cerca de 250 mil aruaques foram exterminados dois anos após a chegada dele. Ainda menos pessoas sabem que Colombo admitiu, em uma carta escrita a Doña Juana de la Torre que “meninas de nove e dez anos estavam em alta demanda, e, para meninas de todas as idades, um bom preço deve ser pago”. No entanto, o Columbus Circle de Nova York o colocou a uns 23 m de altura próximo ao Central Park desde 1892.
Fundei a organização Movers and Shakers, sem fins lucrativos, para remover a estátua. Movers and Shakers é um grupo de ativistas, artistas, educadores e engenheiros focados no uso de tecnologia imersiva para destacar as narrativas dos oprimidos. Em nossa campanha para derrubar Colombo de seu pedestal, nos envolvemos em uma forma visualmente provocativa de ativismo. Criamos uma instalação de realidade aumentada baseada na história real de Cristóvão Colombo e a usamos para apresentar conferências no Columbus Circle e na Times Square. Muitos veem a controvérsia em torno da estátua como uma tensão entre a comunidade ítalo-americana e a comunidade indígena. A realidade é que a maioria dos negros está aqui neste país como resultado das atrocidades que foram iniciadas por Cristóvão Colombo. Então, acabamos realizando um leilão de escravos na Union Square para mostrarmos como começou o comércio transatlântico de escravos. Corri a Maratona de Nova York com correntes para divulgar essa questão. Também fui preso no Giants Stadium por apresentar uma reencenação de escravos no primeiro jogo deles do time de futebol.
Fizemos todo o possível, mas, no final, a cidade de Nova York decidiu manter a estátua e o estado de Nova York votou por unanimidade torná-la um marco. A notícia foi devastadora, mas abriu outra porta.
Percebemos que, com a realidade aumentada, não é preciso permissão do governo para erguer um monumento ou fazer uma declaração. É só fazer.
A cidade de Nova York tem atualmente mais de 150 estátuas de homens e 6 de mulheres e também reconhece proprietários de escravos em espaços públicos. Decidimos: por que não colocar monumentos de realidade aumentada de mulheres e pessoas negras em toda a cidade?
Normalmente, monumentos são criados para comemorar as realizações do falecido, mas, com a realidade aumentada, podemos mudar as regras. Começamos com esportes. Colin Kaepernick. Ele era “quarterback” do San Francisco 49ers e queria usar a plataforma dele para destacar a injustiça do racismo sistêmico. Então, ele consultou um Boina Verde do jeito mais respeitoso e decidiu se ajoelhar durante o hino nacional. Ele perdeu seu contrato com o 49ers, foi banido por todos os proprietários da NFL, foi criticado por milhões e até mesmo o presidente dos EUA decidiu insultá-lo. Talvez se passem décadas até que Colin Kaepernick seja respeitado adequadamente por sua coragem. Então, nossa equipe decidiu fazer isto. Agora qualquer um que passe pela Trump Tower pode ver Colin Kaepernick se ajoelhar em realidade aumentada, e não há nada que possam fazer a respeito.
(Risos)
A representação é importante. Serena Williams provou ao mundo que uma garota negra de Compton pode dominar um esporte tradicionalmente praticado em clubes de campo exclusivos. Vamos celebrá-la agora.
Jackie Robinson. Ele quebrou a barreira da cor e capacitou muitos atletas negros a jogarem na Major League Baseball. Vamos levar esse monumento dele e colocá-lo no Ebbets Field para que qualquer um possa vê-lo em ação no Ebbets Field, no Brooklyn.
Com a realidade aumentada, temos o poder de contar histórias em espaços públicos que precisam ser contadas. As conquistas de pessoas como Frida Kahlo, Audre Lorde, Toussaint Louverture, Madame C. J. Walker, isso deve ser do conhecimento de todos. Nossa visão é um “Pokémon Go” para uma história contextualizada.
A realidade aumentada também pode ser usada como ferramenta para apoiar organizações que estão lutando contra a opressão sistêmica. Em 2019, lançaremos nosso aplicativo de smartphone gratuito com monumentos e conteúdo de realidade aumentada. Você pode pegar seu smartphone e segurá-lo sobre qualquer nota de US$ 1 e ver uma cena em realidade aumentada que ilustre a injustiça da fiança em dinheiro. Você pode, então, clicar na tela e ser direcionado para a página de doações do The Bail Project, um fundo que arrecada dinheiro a pessoas que não podem pagar fiança.
Com a realidade aumentada, nós, o povo, temos o poder de destacar as narrativas dos oprimidos quando as instituições se recusam a fazer isso.
Podemos usar essa ferramenta para destacar as implicações sistêmicas de apagar a história de alguém. E, de maneira mais concreta, podemos usar essa tecnologia como forma de apoiar iniciativas que estão lutando contra o racismo sistêmico. Com a realidade aumentada, “nós” temos o poder de reimaginar um mundo que prioriza a justiça sobre a opressão.
Obrigado.
(Aplausos) (Vivas)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
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