Ela está se voltando para você ou para longe de você? Ninguém sabe. A desconhecida é o tema de "Garota com o brinco de pérola" do ...
Ela está se voltando para você ou para longe de você? Ninguém sabe. A desconhecida é o tema de "Garota com o brinco de pérola" do mestre holandês Johannes Vermeer, uma pintura muitas vezes chamada de "Mona Lisa do Norte". Mas o que torna essa pintura tão cativante? James Earle explica como este trabalho representa o nascimento de uma perspectiva moderna sobre economia, política e amor.
Será que ela está olhando na sua direção ou desviando o olhar? Ainda não se chegou a um acordo.
“Ela” é o misterioso tema do mestre holandês Johannes Vermeer, a “Moça com brinco de pérola”, uma pintura também conhecida como a “Mona Lisa do Norte”.
Pertencente ao estilo holandês de pinturas idealizadas, às vezes excessivamente expressivas, conhecidas como “tronies”, a “Moça com brinco de pérola” traz o fascínio e a sutileza características do trabalho de Vermeer.
Elas nos passam uma sensação de intimidade mas, ao mesmo tempo, mantêm uma distância, e uma cortina no primeiro plano sempre realça a separação.
Podemos observar uma ordenhadeira calmamente derramando leite numa tigela, mas aquele leite não é para nós.
Somos apenas espectadores.
A meticulosa composição das pinturas de Vermeer invoca uma harmonia equilibrada.
Usando o chão quadriculado em muitos de seus trabalhos, Vermeer demonstra seu domínio da perspectiva e do escorço.
É uma técnica que usa a distorção para dar a ilusão de um objeto recuado na distância.
Outros elementos, como linhas de visão, espelhos e fontes de luz, descrevem o momento através do espaço e da posição.
A mulher lendo uma carta perto de uma janela aberta é posicionada de modo que a janela reflita sua imagem para o espectador.
Vermeer chega a esconder a perna de um cavalete pelo bem da composição.
A ausência desses mesmos elementos dá vida à “Moça com brinco de pérola”.
O tratamento da luz e da sombra, ou o “chiaroscuro”, de Vermeer, usa um fundo plano escuro para depois destacar a tridimensionalidade da moça.
Em vez de ser colocada numa cena narrativa teatral, ela se torna um objeto psicológico.
Os temas dos retratos tradicionais sempre foram figuras da nobreza ou da igreja.
Então, por que Vermeer estava pintando uma moça anônima? No século 17, a cidade de Delft, assim como a Holanda em geral, tinha se virado contra a aristocracia reinante e a Igreja Católica.
Após oito décadas de rebelião contra o poder espanhol, eles começaram a acalentar a ideia do autogoverno e duma república política.
Cidades como Delft não eram supervisionadas por reis ou bispos, assim, muitos artistas como Vermeer não tinham mecenas tradicionais.
Felizmente, a modernização nos negócios, estimulada pela Companhia Holandesa das Índias Orientais transformou o cenário econômico na Holanda.
Ela criou uma classe mercante e um novo tipo de mecenas.
Desejando ser representados nas pinturas que financiavam, esses mercadores preferiam temas ligados à classe média, retratados em espaços parecidos com suas próprias casas, cercados por objetos familiares.
Os mapas das pinturas de Vermeer, por exemplo, eram considerados glamurosos e cosmopolitas pelos mercadores da Idade de Ouro holandesa, como esta ficou conhecida.
O turbante oriental usado pela “Moça com brinco de pérola” também enfatiza a internacionalização da classe mercante, e a própria pérola, um símbolo de riqueza, é na verdade um exagero.
Vermeer não teria como adquirir uma pérola real daquele tamanho. Deve ter sido um pingente de vidro ou lata envernizado para imitar uma pérola.
Essa miragem da riqueza é refletida na própria pintura.
Olhando de perto, somos lembrados do poder de Vermeer de fabricar ilusões.
Talvez nunca venhamos a conhecer a identidade da moça do quadro; mesmo assim, seu retrato nos atrai de uma maneira inesquecível.
Na parede de sua casa permanente, o Museu Mauritshuis, em Haia, sua presença é a um tempo penetrante e sutil.
Com seu jeito enigmático, ela representa o nascimento de uma perspectiva moderna na economia, na política e no amor.
Fonte: TED-Ed
[Visto no Brasil Acadêmico]
Será que ela está olhando na sua direção ou desviando o olhar? Ainda não se chegou a um acordo.
“Ela” é o misterioso tema do mestre holandês Johannes Vermeer, a “Moça com brinco de pérola”, uma pintura também conhecida como a “Mona Lisa do Norte”.
Pertencente ao estilo holandês de pinturas idealizadas, às vezes excessivamente expressivas, conhecidas como “tronies”, a “Moça com brinco de pérola” traz o fascínio e a sutileza características do trabalho de Vermeer.
Mas este quadro se distancia das calmas cenas de narrativas que observamos à distância em muitas das pinturas de Vermeer: uma moça lendo uma carta; uma aula de piano; o retrato de um artista trabalhando.
Elas nos passam uma sensação de intimidade mas, ao mesmo tempo, mantêm uma distância, e uma cortina no primeiro plano sempre realça a separação.
Podemos observar uma ordenhadeira calmamente derramando leite numa tigela, mas aquele leite não é para nós.
Somos apenas espectadores.
A meticulosa composição das pinturas de Vermeer invoca uma harmonia equilibrada.
Usando o chão quadriculado em muitos de seus trabalhos, Vermeer demonstra seu domínio da perspectiva e do escorço.
É uma técnica que usa a distorção para dar a ilusão de um objeto recuado na distância.
Outros elementos, como linhas de visão, espelhos e fontes de luz, descrevem o momento através do espaço e da posição.
A mulher lendo uma carta perto de uma janela aberta é posicionada de modo que a janela reflita sua imagem para o espectador.
Vermeer chega a esconder a perna de um cavalete pelo bem da composição.
A ausência desses mesmos elementos dá vida à “Moça com brinco de pérola”.
O tratamento da luz e da sombra, ou o “chiaroscuro”, de Vermeer, usa um fundo plano escuro para depois destacar a tridimensionalidade da moça.
Em vez de ser colocada numa cena narrativa teatral, ela se torna um objeto psicológico.
O olhar, e os lábios levemente separados como se fosse dizer alguma coisa, nos arrastam para seu olhar.
Os temas dos retratos tradicionais sempre foram figuras da nobreza ou da igreja.
Então, por que Vermeer estava pintando uma moça anônima? No século 17, a cidade de Delft, assim como a Holanda em geral, tinha se virado contra a aristocracia reinante e a Igreja Católica.
Após oito décadas de rebelião contra o poder espanhol, eles começaram a acalentar a ideia do autogoverno e duma república política.
Cidades como Delft não eram supervisionadas por reis ou bispos, assim, muitos artistas como Vermeer não tinham mecenas tradicionais.
Felizmente, a modernização nos negócios, estimulada pela Companhia Holandesa das Índias Orientais transformou o cenário econômico na Holanda.
Ela criou uma classe mercante e um novo tipo de mecenas.
Desejando ser representados nas pinturas que financiavam, esses mercadores preferiam temas ligados à classe média, retratados em espaços parecidos com suas próprias casas, cercados por objetos familiares.
Os mapas das pinturas de Vermeer, por exemplo, eram considerados glamurosos e cosmopolitas pelos mercadores da Idade de Ouro holandesa, como esta ficou conhecida.
O turbante oriental usado pela “Moça com brinco de pérola” também enfatiza a internacionalização da classe mercante, e a própria pérola, um símbolo de riqueza, é na verdade um exagero.
Vermeer não teria como adquirir uma pérola real daquele tamanho. Deve ter sido um pingente de vidro ou lata envernizado para imitar uma pérola.
Essa miragem da riqueza é refletida na própria pintura.
Olhando de longe, a pérola parece redonda e pesada, mas uma visão mais detalhada mostra que é apenas uma mancha de tinta.
Olhando de perto, somos lembrados do poder de Vermeer de fabricar ilusões.
Talvez nunca venhamos a conhecer a identidade da moça do quadro; mesmo assim, seu retrato nos atrai de uma maneira inesquecível.
Na parede de sua casa permanente, o Museu Mauritshuis, em Haia, sua presença é a um tempo penetrante e sutil.
Com seu jeito enigmático, ela representa o nascimento de uma perspectiva moderna na economia, na política e no amor.
Fonte: TED-Ed
[Visto no Brasil Acadêmico]
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