Em uma sociedade obcecada pela imagem do corpo e marcada pelo medo da gordura, Kelli Jean Drinkwater se dedica a uma poítica corporal radica...
Em uma sociedade obcecada pela imagem do corpo e marcada pelo medo da gordura, Kelli Jean Drinkwater se dedica a uma poítica corporal radical através da arte. Ela confronta a percepção do público sobre corpos grandes e os coloca em lugares que já lhes foram negados: desde passarelas de moda até o Festival de Sydney.
Ela também nos incita a prestar atenção e reavaliar nossos preconceitos. "Corpos gordos livres de vergonha podem surpreender as pessoas", ela diz.
Estou aqui para falar a vocês sobre uma palavrinha muito poderosa, algo que as pessoas fazem praticamente qualquer coisa para evitar se tornarem. Indústrias bilionárias crescem por causa do medo dela. As pessoas que são inegavelmente assim são forçadas a navegar na tempestade implacável que a envolve.
Não sei se vocês notaram, mas eu sou gorda. Não sou do tipo discreto, que as pessoas comentam pelas costas, ou uma gordinha aparentemente inofensiva, ou fofinha. E nem sou do tipo mais sofisticado, voluptuoso e cheio de curvas.
Não vamos colocar panos quentes. Eu sou gorda com "G" maiúsculo. Sou o elefante que incomoda muita gente. Quando subi neste palco, alguns de vocês devem ter pensado: "Ah, isso vai ser hilário, pois todos sabem que os gordos são engraçados".
(Risos)
Ou talvez vocês tenham pensado: "De onde ela tira tanta confiança?" Porque uma mulher gorda e segura é quase inimaginável. O pessoal ligado em moda da plateia deve estar pensando como eu estou maravilhosa neste vestido da Beth Ditto...
(Aplausos)
Muito obrigada. Mas alguns podem estar pensando: "Hum, preto a deixaria mais magra".
(Risos)
Vocês devem estar imaginando, conscientemente ou não, se eu tenho diabete, ou um namorado, ou se como carboidratos depois das sete da noite.
(Risos)
Vocês devem estar preocupados, pois comeram carboidratos depois das sete, e que vocês realmente deviam voltar a fazer academia.
Esses julgamentos são traiçoeiros. Eles podem ser direcionados a indivíduos e a grupos, e também podem ser direcionados a nós mesmos. Esse modo de pensar é conhecido como gordofobia.
Como qualquer outra forma de opressão sistemática, a gordofobia é fortemente arraigada em estruturas complexas como o capitalismo, o patriarcado e o racismo. E isto faz com que ele se torne difícil de se notar, e mais ainda de se mudar. Vivemos em uma cultura em que uma pessoa gorda é vista como uma pessoa má, preguiçosa, avarenta, doente, irresponsável, e moralmente suspeita. E costumamos ver a magreza com sendo universalmente boa, responsável, bem-sucedida, e no controle dos apetites, dos corpos e da vida. Vemos estas ideias muitas e muitas vezes na mídia, em políticas de saúde pública, nos consultórios médicos, em conversas do dia a dia, e em nossas próprias atitudes. Talvez culpemos as próprias pessoas gordas pela discriminação que sofrem, afinal, se não gostamos de ser assim, é só perder peso. Fácil. Este preconceito contra a gordura tornou-se tão integrado, tão arraigado, como valoramos nós mesmos e os outros, que raramente nos perguntamos o porquê de nosso desprezo pelas pessoas maiores e de onde este desdém vem.
Mas precisamos questionar essas coisas, porque o valor enorme que damos a nossa aparência afeta cada um de nós. E queremos mesmo viver em uma sociedade que nega às pessoas sua humanidade básica se elas não se encaixam numa forma arbitrária do que é aceitável?
Quanto tinha seis anos de idade, minha irmã dava aulas de balé a umas meninas em nossa garagem. Eu era uns 30 cm mais alta e 30 cm mais larga que a maioria do grupo. Quando chegou nossa primeira apresentação, estava tão animada para usar um lindo tutu rosa. Eu iria brilhar. Enquanto as outras meninas colocaram as roupas de Lycra e tule com facilidade, nenhum dos tutus era grande o bastante para me servir. Estava determinada em não ser deixada de lado na apresentação, então eu virei para minha mãe e em voz alta para todos ouvirem disse: "Mãe, eu não preciso de um tutu. Preciso de um tantão".
(Risos)
Obrigada, mãe.
(Aplausos)
Embora não tenha notado na época, o fato de ter defendido meu espaço com aquele "tantão" glorioso foi o primeiro passo para me tornar uma ativista radical da gordura.
Não estou dizendo que essa coisa de amor ao corpo tem sido um caminho suave e tranquilo de autoaceitação desde aquele dia no balé. Longe disso. Logo descobri que viver fora do que a maioria considera normal pode ser uma coisa frustrante e isoladora. Passei 20 anos desconstruindo e desprogramando essas mensagens, e tem sido uma montanha-russa e tanto. Já riram abertamente de mim, ouvi xingamentos de carros que passavam, e já me disseram que sou louca. Também recebo sorrisos de estranhos que entendem como é difícil andar na rua com o passo firme e a cabeça erguida.
(Vivas)
Obrigada. Apesar de tudo, aquela menina valente de seis anos continua comigo, e ela me ajuda ficar aqui hoje perante vocês como uma pessoa gorda livre de vergonha. Uma pessoa que simplesmente se recusa a aceitar a narrativa dominante sobre como eu devo caminhar pelo mundo com este meu corpo. (Aplausos) (Vivas) (Risos)
E eu não estou sozinha. Faço parte de uma comunidade internacional de pessoas que escolheram, em vez de aceitar passivamente que nossos corpos são e provavelmente sempre serão grandes, nós escolhemos ativamente florescer nestes corpos, do jeito que eles são hoje. Pessoas que valorizam nossa força e que trabalham com, e não contra, o que são consideradas nossas limitações. Pessoas que encaram a saúde como algo muito mais holístico que um número numa tabela de IMC ultrapassada. Em vez disso, valorizamos a saúde mental, o amor-próprio e como nos sentimos em nossos corpos como aspectos vitais para nosso bem-estar geral. Pessoas que se recusam a acreditar que a vida nestes corpos gordos é uma barreira para qualquer coisa.
Existem médicos, acadêmicos e bloggers que já escreveram volumes intermináveis sobre as diversas facetas deste tópico complexo. Há "fashionistas" que retomam a posse de seus corpos e sua beleza, usando biquínis e miniblusas, expondo a pele que fomos ensinadas a esconder. Há atletas gordos que correm maratonas, ensinam ioga ou lutam kickboxing. Tudo isso feito com o dedo do meio em riste para o status quo. E essas pessoas me ensinaram que uma política corporal radical é o antídoto para nossa cultura da vergonha do corpo.
Mas, para ser clara, eu não estou dizendo que as pessoas não devam mudar seus corpos se é isso o que querem fazer. Retomar a propriedade de si mesmo pode ser um dos mais lindos atos de autoestima e isso pode acontecer de milhões de formas diferentes, de penteados a tatuagens até contorno corporal. De hormônios a cirurgias e, sim, até perda de peso. É simples: o corpo é seu, e você é quem decide o que fazer com ele. O meu jeito de participar do ativismo é fazer as coisas que não se espera que os gordinhos façam, e há muitas coisas, e chamar outros para participar e fazer arte com isso. O ponto em comum na maioria dos trabalhos tem sido retomar os espaços que são frequentemente proibidos aos corpos maiores. Desde passarelas a shows de boates, desde piscinas públicas a palcos importantes de dança. Retomar os espaços em massa não é apenas uma forte afirmação artística, mas também um método radical para a consolidação da comunidade. Isso foi tão real em "AQUAPORKO!"
(Risos)
O time de nado sincronizado de gordinhas
que comecei com um grupo de amigas em Sydney. (Risos) O impacto de ver um grupo de mulheres gordas desafiadoras usando toucas de florzinha e maiôs, jogando as pernas para o alto sem preocupação alguma, não pode ser subestimado. (Risos)
Em minha carreira, vi que corpos gordos são intrinsecamente políticos.
E corpos gordos desprovidos de vergonha podem maravilhar as pessoas. Quando a diretora Kate Champion, da aclamada companhia de dança teatral Force Majeure, me convidou para ser sua parceira artística em um trabalho apenas com dançarinas gordas, eu literalmente pulei para agarrar a oportunidade. E eu digo literalmente mesmo. (Risos) "Nothing to Lose" é um trabalho feito em colaboração com artistas grandes que se inspiraram em experiências que viveram para criar um trabalho tão variado e autêntico como todos nós somos. E foi o mais distante do balé que vocês podem imaginar. Só a ideia de um trabalho com dançarinas gordas por uma companhia tão prestigiada, foi, no mínimo, controversa. Porque nada como aquilo já fora feito em palcos tradicionais em nenhum lugar do mundo. As pessoas ficaram desconfiadas.
"Como assim dançarinas gordas?" "Gordas do tipo número 44 ou 46?"
(Risos)
"Onde elas aprenderam a dançar?" "Elas terão fôlego para dançar durante toda a apresentação?"
Mas, mesmo com toda a desconfiança, "Nothing to Lose" foi um sucesso de público no Festival de Sydney. Recebemos críticas maravilhosas, saímos em turnê, ganhamos prêmios e escreveram sobre nós em 27 idiomas. Estas imagens incríveis do elenco foram vistas no mundo todo. Já perdi a conta de quantas vezes pessoas de todos os tamanhos me disseram que esse espetáculo mudou suas vidas. E que ele ajudou a mudar a relação com seu próprio corpo e com o dos outros. E fez com que confrontassem os próprios preconceitos. Mas é claro que as obras que instigam as pessoas não acontecem sem críticas. Já me disseram que glorifico a obesidade. Já recebi ameaças violentas de morte e ofensas por ter a coragem de fazer um trabalho que tem como centro os corpos e as vidas de pessoas gordas, e que nos trata como seres humanos valiosos com histórias importantes.
(Risos)
Um comentário tão absurdo que é engraçado, (Risos)
mas que também fala sobre o pânico, do real terror, que o medo da gordura pode evocar. É este medo que alimenta a indústria de dietas, que impede tantos de nós de fazer as pazes com nosso corpo, que nos faz esperar ter o corpo perfeito antes de começarmos a viver nossas vidas realmente. Porque o elefante que incomoda muita gente é na verdade a gordofobia. O ativismo da gordura se recusa a se render a este medo. E, defendendo a autonomia e o respeito por todos nós, podemos mudar a relutância da sociedade em abraçar a diversidade e a começar a celebrar a variedade de jeitos de se ter um corpo. Obrigada. (Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Ela também nos incita a prestar atenção e reavaliar nossos preconceitos. "Corpos gordos livres de vergonha podem surpreender as pessoas", ela diz.
Estou aqui para falar a vocês sobre uma palavrinha muito poderosa, algo que as pessoas fazem praticamente qualquer coisa para evitar se tornarem. Indústrias bilionárias crescem por causa do medo dela. As pessoas que são inegavelmente assim são forçadas a navegar na tempestade implacável que a envolve.
Não sei se vocês notaram, mas eu sou gorda. Não sou do tipo discreto, que as pessoas comentam pelas costas, ou uma gordinha aparentemente inofensiva, ou fofinha. E nem sou do tipo mais sofisticado, voluptuoso e cheio de curvas.
Não vamos colocar panos quentes. Eu sou gorda com "G" maiúsculo. Sou o elefante que incomoda muita gente. Quando subi neste palco, alguns de vocês devem ter pensado: "Ah, isso vai ser hilário, pois todos sabem que os gordos são engraçados".
(Risos)
Ou talvez vocês tenham pensado: "De onde ela tira tanta confiança?" Porque uma mulher gorda e segura é quase inimaginável. O pessoal ligado em moda da plateia deve estar pensando como eu estou maravilhosa neste vestido da Beth Ditto...
(Aplausos)
Muito obrigada. Mas alguns podem estar pensando: "Hum, preto a deixaria mais magra".
(Risos)
Vocês devem estar imaginando, conscientemente ou não, se eu tenho diabete, ou um namorado, ou se como carboidratos depois das sete da noite.
(Risos)
Vocês devem estar preocupados, pois comeram carboidratos depois das sete, e que vocês realmente deviam voltar a fazer academia.
Esses julgamentos são traiçoeiros. Eles podem ser direcionados a indivíduos e a grupos, e também podem ser direcionados a nós mesmos. Esse modo de pensar é conhecido como gordofobia.
Como qualquer outra forma de opressão sistemática, a gordofobia é fortemente arraigada em estruturas complexas como o capitalismo, o patriarcado e o racismo. E isto faz com que ele se torne difícil de se notar, e mais ainda de se mudar. Vivemos em uma cultura em que uma pessoa gorda é vista como uma pessoa má, preguiçosa, avarenta, doente, irresponsável, e moralmente suspeita. E costumamos ver a magreza com sendo universalmente boa, responsável, bem-sucedida, e no controle dos apetites, dos corpos e da vida. Vemos estas ideias muitas e muitas vezes na mídia, em políticas de saúde pública, nos consultórios médicos, em conversas do dia a dia, e em nossas próprias atitudes. Talvez culpemos as próprias pessoas gordas pela discriminação que sofrem, afinal, se não gostamos de ser assim, é só perder peso. Fácil. Este preconceito contra a gordura tornou-se tão integrado, tão arraigado, como valoramos nós mesmos e os outros, que raramente nos perguntamos o porquê de nosso desprezo pelas pessoas maiores e de onde este desdém vem.
Mas precisamos questionar essas coisas, porque o valor enorme que damos a nossa aparência afeta cada um de nós. E queremos mesmo viver em uma sociedade que nega às pessoas sua humanidade básica se elas não se encaixam numa forma arbitrária do que é aceitável?
Quanto tinha seis anos de idade, minha irmã dava aulas de balé a umas meninas em nossa garagem. Eu era uns 30 cm mais alta e 30 cm mais larga que a maioria do grupo. Quando chegou nossa primeira apresentação, estava tão animada para usar um lindo tutu rosa. Eu iria brilhar. Enquanto as outras meninas colocaram as roupas de Lycra e tule com facilidade, nenhum dos tutus era grande o bastante para me servir. Estava determinada em não ser deixada de lado na apresentação, então eu virei para minha mãe e em voz alta para todos ouvirem disse: "Mãe, eu não preciso de um tutu. Preciso de um tantão".
(Risos)
Obrigada, mãe.
(Aplausos)
Embora não tenha notado na época, o fato de ter defendido meu espaço com aquele "tantão" glorioso foi o primeiro passo para me tornar uma ativista radical da gordura.
Não estou dizendo que essa coisa de amor ao corpo tem sido um caminho suave e tranquilo de autoaceitação desde aquele dia no balé. Longe disso. Logo descobri que viver fora do que a maioria considera normal pode ser uma coisa frustrante e isoladora. Passei 20 anos desconstruindo e desprogramando essas mensagens, e tem sido uma montanha-russa e tanto. Já riram abertamente de mim, ouvi xingamentos de carros que passavam, e já me disseram que sou louca. Também recebo sorrisos de estranhos que entendem como é difícil andar na rua com o passo firme e a cabeça erguida.
(Vivas)
Obrigada. Apesar de tudo, aquela menina valente de seis anos continua comigo, e ela me ajuda ficar aqui hoje perante vocês como uma pessoa gorda livre de vergonha. Uma pessoa que simplesmente se recusa a aceitar a narrativa dominante sobre como eu devo caminhar pelo mundo com este meu corpo. (Aplausos) (Vivas) (Risos)
E eu não estou sozinha. Faço parte de uma comunidade internacional de pessoas que escolheram, em vez de aceitar passivamente que nossos corpos são e provavelmente sempre serão grandes, nós escolhemos ativamente florescer nestes corpos, do jeito que eles são hoje. Pessoas que valorizam nossa força e que trabalham com, e não contra, o que são consideradas nossas limitações. Pessoas que encaram a saúde como algo muito mais holístico que um número numa tabela de IMC ultrapassada. Em vez disso, valorizamos a saúde mental, o amor-próprio e como nos sentimos em nossos corpos como aspectos vitais para nosso bem-estar geral. Pessoas que se recusam a acreditar que a vida nestes corpos gordos é uma barreira para qualquer coisa.
Existem médicos, acadêmicos e bloggers que já escreveram volumes intermináveis sobre as diversas facetas deste tópico complexo. Há "fashionistas" que retomam a posse de seus corpos e sua beleza, usando biquínis e miniblusas, expondo a pele que fomos ensinadas a esconder. Há atletas gordos que correm maratonas, ensinam ioga ou lutam kickboxing. Tudo isso feito com o dedo do meio em riste para o status quo. E essas pessoas me ensinaram que uma política corporal radical é o antídoto para nossa cultura da vergonha do corpo.
Mas, para ser clara, eu não estou dizendo que as pessoas não devam mudar seus corpos se é isso o que querem fazer. Retomar a propriedade de si mesmo pode ser um dos mais lindos atos de autoestima e isso pode acontecer de milhões de formas diferentes, de penteados a tatuagens até contorno corporal. De hormônios a cirurgias e, sim, até perda de peso. É simples: o corpo é seu, e você é quem decide o que fazer com ele. O meu jeito de participar do ativismo é fazer as coisas que não se espera que os gordinhos façam, e há muitas coisas, e chamar outros para participar e fazer arte com isso. O ponto em comum na maioria dos trabalhos tem sido retomar os espaços que são frequentemente proibidos aos corpos maiores. Desde passarelas a shows de boates, desde piscinas públicas a palcos importantes de dança. Retomar os espaços em massa não é apenas uma forte afirmação artística, mas também um método radical para a consolidação da comunidade. Isso foi tão real em "AQUAPORKO!"
(Risos)
O time de nado sincronizado de gordinhas
que comecei com um grupo de amigas em Sydney. (Risos) O impacto de ver um grupo de mulheres gordas desafiadoras usando toucas de florzinha e maiôs, jogando as pernas para o alto sem preocupação alguma, não pode ser subestimado. (Risos)
Em minha carreira, vi que corpos gordos são intrinsecamente políticos.
E corpos gordos desprovidos de vergonha podem maravilhar as pessoas. Quando a diretora Kate Champion, da aclamada companhia de dança teatral Force Majeure, me convidou para ser sua parceira artística em um trabalho apenas com dançarinas gordas, eu literalmente pulei para agarrar a oportunidade. E eu digo literalmente mesmo. (Risos) "Nothing to Lose" é um trabalho feito em colaboração com artistas grandes que se inspiraram em experiências que viveram para criar um trabalho tão variado e autêntico como todos nós somos. E foi o mais distante do balé que vocês podem imaginar. Só a ideia de um trabalho com dançarinas gordas por uma companhia tão prestigiada, foi, no mínimo, controversa. Porque nada como aquilo já fora feito em palcos tradicionais em nenhum lugar do mundo. As pessoas ficaram desconfiadas.
"Como assim dançarinas gordas?" "Gordas do tipo número 44 ou 46?"
(Risos)
"Onde elas aprenderam a dançar?" "Elas terão fôlego para dançar durante toda a apresentação?"
Mas, mesmo com toda a desconfiança, "Nothing to Lose" foi um sucesso de público no Festival de Sydney. Recebemos críticas maravilhosas, saímos em turnê, ganhamos prêmios e escreveram sobre nós em 27 idiomas. Estas imagens incríveis do elenco foram vistas no mundo todo. Já perdi a conta de quantas vezes pessoas de todos os tamanhos me disseram que esse espetáculo mudou suas vidas. E que ele ajudou a mudar a relação com seu próprio corpo e com o dos outros. E fez com que confrontassem os próprios preconceitos. Mas é claro que as obras que instigam as pessoas não acontecem sem críticas. Já me disseram que glorifico a obesidade. Já recebi ameaças violentas de morte e ofensas por ter a coragem de fazer um trabalho que tem como centro os corpos e as vidas de pessoas gordas, e que nos trata como seres humanos valiosos com histórias importantes.
Eu já fui até chamada “A ISIS da epidemia da obesidade”.
(Risos)
Um comentário tão absurdo que é engraçado, (Risos)
mas que também fala sobre o pânico, do real terror, que o medo da gordura pode evocar. É este medo que alimenta a indústria de dietas, que impede tantos de nós de fazer as pazes com nosso corpo, que nos faz esperar ter o corpo perfeito antes de começarmos a viver nossas vidas realmente. Porque o elefante que incomoda muita gente é na verdade a gordofobia. O ativismo da gordura se recusa a se render a este medo. E, defendendo a autonomia e o respeito por todos nós, podemos mudar a relutância da sociedade em abraçar a diversidade e a começar a celebrar a variedade de jeitos de se ter um corpo. Obrigada. (Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Comentários