A mudança na relação aluno-professor é reflexo de uma mudança em toda sociedade que abomina a autocracia e valoriza a democracia, a liberdad...
A mudança na relação aluno-professor é reflexo de uma mudança em toda sociedade que abomina a autocracia e valoriza a democracia, a liberdade e o pensamento crítico. A disciplina e um modelo eficiente parecem que foram solapados com essa mudança de mentalidade ideológica. Aqui listo algumas considerações que julgo valiosas para atacar o problema e apesar de serem focadas no ensino superior creio que serviriam para dar diretrizes ao ensino como um todo.
O escopo aqui é uma sociedade que quer meritocracia, democracia e capitalismo. Além de perseguir justiça social, preocupação ambiental e crescimento econômico. Também pretendo dar sugestões que ficariam circunscritas no âmbito do Ministério da Educação (MEC). Apesar de que uma revolução na educação envolveria toda a sociedade, a começar das famílias.
Discordo dos professores serem parte ativa do problema, como afirmam alguns. Seus representantes de classe podem até serem responsabilizados. Mas os professores simplesmente não sabem o que fazer.
Primeiro: eles vêm do mercado de trabalho para fazer um bico como professores, e isso é pura lógica de mercado. Não vêm para reformar o ensino (apesar de estranhar essa postura do aluno-cliente).
Segundo: os professores-educadores (aqueles que enxergam uma possibilidade de transformar a sociedade pela educação) pegam salas cheias sem um monitor que lhes dê cobertura. A turma já sabe que o sistema é falho e se fecha em um corporativismo estilo nós-contra-ele. Se tentar impedir um aluno de entrar por ter chegado atrasado (geralmente cumprimentando a todos os colegas e tumultuando a aula), ou tomar a prova de algum colador corre o risco de ser processado (o que parece ser bem mais comum em Brasília do que em São Paulo) poderá passar pelo dissabor de ter que dar explicações na justiça (e ainda ficar mal com a instituição de ensino).
Sofrem ameaças de alunos bombados e com baixo QI. Ganham muito pouco para isso e terminam a carreira com esgotamento nervoso, DORT/LER, doença de voz por stress etc.
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Terceiro: com o fim do vestibular o compromisso do aluno com o saber é quase zero. Ele quer saber mas não quer se esforçar nada para isso. A sala de aula é apenas um local de reuniões sociais onde mandar SMSs plo iPhone e conversar com amigos pelo notebook ou até jogar é que é descolado. Chamada? Apenas uma forma de obrigá-lo a ficar mais tempo e ainda acham que podem pedir o fim da aula exigindo em coro a chamada. E na verdade a chamada é uma das poucas armas do professor para tentar reter a atenção da maioria dos alunos.
Soluções possíveis:
O principal seria a criação de centros-modelo de residência para professores ensinar em sala de aula (como é feito nos EUA) nos moldes das residências médicas onde se simularia todos esses problemas e se criaria padrões de conduta para serem adotados em sala de aula. Isso resgataria a autoridade dos professores até diante de tribunais pois os protocolos estariam bem determinados e a competência para julgar a conduta dos profissionais teria amparo em parâmetros bem estabelecidos (ainda que os professores também estejam começando a ganhar causas na Justiça).
Monitoria obrigatória em sala de aula e de provas, como nas boas Universidades americanas, o professor não perderia tempo tirando dúvidas, distribuindo provas, corrigindo-as e nem sequer preparando materiais para serem usados em sala. Ele faria sua exposição, abriria para perguntas se assim o desejasse e tornaria tudo mais impessoal (bom para aquelas sumidades que não são tão bons no trato pessoal com o aluno). Nem todo mundo é um show-man. Além disso, os alunos ficariam menos dependentes dos professores e mais responsáveis por aprender (em livros, internet e até em apostilas especialmente preparadas pelos professores).
Os próprios alunos é que tenderiam a ficar ligados nas aulas já que a oportunidade para entender e não ter que se virar depois seria a própria aula. Ou seja, seria devolvido ao aluno a responsabilidade por aprender.
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As provas deveriam ser tratadas como pontos fundamentais de avaliação e portanto deveriam ter muito mais pessoas vigiando, câmeras (na hora da prova essa a questão de privacidade deveria ser reduzida em prol da segurança) com distribuição aleatória de lugares etc.
Simulados padronizados serviriam de prévia para a preparação dos alunos e as provas e os simulados poderiam compartilhar do mesmo banco de questões (com alguns parâmetros aleatórios). Esse conteúdo padronizado teria uma função adicional de servir de base de comparação do aproveitamento das turmas. Bom para os alunos e bom para o ensino.
Informatização da chamada, notas, médias, com a possibilidade de coleta de dados pelo Ministério da Educação para que haja um acompanhamento instantâneo das unidades com problemas de aproveitamento e em qual disciplina. Se for o caso, por falta de professores em determinadas regiões, o MEC poderia deslocar professores temporários para suprir as carências em caráter emergencial ou ministrar o curso a distância.
Uma sugestão de distribuição de peso das questões pode ser de 30% fáceis, 30% médias e 40% difíceis.
Provas estilo OAB para os cursos não seria uma má ideia para padronizar o conjunto das matérias a serem dominadas por cada competência. Nada extremamente difícil, apenas o que se exige do formando após a conclusão do curso. Esse conjunto deveria ser de conhecimento dos alunos no início do curso.
Cursos técnicos e cursos superiores rápidos também deveriam suprir o mercado com técnicos e operários especializados atendendo as necessidades setoriais.
A reciclagem obrigatória de professores passaria por mestrados e doutorados (além do treinamento no centro-modelo contando horas de voo) paga pelo empregador ou pelo Estado. Além de cursos de especialização nas disciplinas que forem senso aproveitados.
Para tanto o Ministério da Educação teria que criar uma área de garantia da qualidade do ensino que cuidaria de manter os currículos atualizados (além de laicos e ideologicamente neutros, na medida do possível), o monitoramento dos índices de aproveitamento das IESs (Instituições de Ensino Superior) e a reciclagem dos professores em dia.
Sem falar na valorização pela remuneração onde pisos salariais deveriam ser considerados levando em conta a diferença de custo de vida regional.
Todas essas sugestões necessitariam de serem implementadas simultaneamente, ainda que seguindo um cronograma de prioridades. Para que não se faça só aquilo que é fácil e não se ataque o que é mais necessário e urgente.
Hoje eu vejo que meus alunos não aprendem em seis meses o que aprendem em uma semana de cursinho para concurso. A prova, e a reprovação, é sim uma forma de estímulo para o aprendiz. Para corrigir distorções no meio do caminho (e não apenas no final de um ano) deveria haver cursos semestrais com muitas avaliações (o que já é bem comum).
Problemas de matemática inspirados em crimes
Esse tipo de mudança, ao meu ver, é uma homenagem justa à memória daqueles que sofrem com o descaso vivido pelo setor (sacrificando até a própria vida). Professores atacados por alunos sendo ridicularizados e intimidados ao invés de respeitados e valorizados. Professores que tentam aplicar métodos de ensino heterodoxos (ainda que de boa fé) fazendo experiências didáticas intuitivamente sem o devido treinamento (como o caso do professor de matemática que usou exemplos de crimes em seus problemas de álgebra) são duras lições que aprendemos e que precisamos que sejam exemplos de um problema passado.
Do tempo em que o Brasil ainda era o país do futuro.
Prof. Alexandre Gomes
Professor universitário
Especialista em Ensino a Distância com foco em Mídias Sociais
[Via BBA]
O escopo aqui é uma sociedade que quer meritocracia, democracia e capitalismo. Além de perseguir justiça social, preocupação ambiental e crescimento econômico. Também pretendo dar sugestões que ficariam circunscritas no âmbito do Ministério da Educação (MEC). Apesar de que uma revolução na educação envolveria toda a sociedade, a começar das famílias.
Sintomas
Discordo dos professores serem parte ativa do problema, como afirmam alguns. Seus representantes de classe podem até serem responsabilizados. Mas os professores simplesmente não sabem o que fazer.
Primeiro: eles vêm do mercado de trabalho para fazer um bico como professores, e isso é pura lógica de mercado. Não vêm para reformar o ensino (apesar de estranhar essa postura do aluno-cliente).
Segundo: os professores-educadores (aqueles que enxergam uma possibilidade de transformar a sociedade pela educação) pegam salas cheias sem um monitor que lhes dê cobertura. A turma já sabe que o sistema é falho e se fecha em um corporativismo estilo nós-contra-ele. Se tentar impedir um aluno de entrar por ter chegado atrasado (geralmente cumprimentando a todos os colegas e tumultuando a aula), ou tomar a prova de algum colador corre o risco de ser processado (o que parece ser bem mais comum em Brasília do que em São Paulo) poderá passar pelo dissabor de ter que dar explicações na justiça (e ainda ficar mal com a instituição de ensino).
Sofrem ameaças de alunos bombados e com baixo QI. Ganham muito pouco para isso e terminam a carreira com esgotamento nervoso, DORT/LER, doença de voz por stress etc.
Terceiro: com o fim do vestibular o compromisso do aluno com o saber é quase zero. Ele quer saber mas não quer se esforçar nada para isso. A sala de aula é apenas um local de reuniões sociais onde mandar SMSs plo iPhone e conversar com amigos pelo notebook ou até jogar é que é descolado. Chamada? Apenas uma forma de obrigá-lo a ficar mais tempo e ainda acham que podem pedir o fim da aula exigindo em coro a chamada. E na verdade a chamada é uma das poucas armas do professor para tentar reter a atenção da maioria dos alunos.
Modo de Usar
Soluções possíveis:
O principal seria a criação de centros-modelo de residência para professores ensinar em sala de aula (como é feito nos EUA) nos moldes das residências médicas onde se simularia todos esses problemas e se criaria padrões de conduta para serem adotados em sala de aula. Isso resgataria a autoridade dos professores até diante de tribunais pois os protocolos estariam bem determinados e a competência para julgar a conduta dos profissionais teria amparo em parâmetros bem estabelecidos (ainda que os professores também estejam começando a ganhar causas na Justiça).
Monitoria obrigatória em sala de aula e de provas, como nas boas Universidades americanas, o professor não perderia tempo tirando dúvidas, distribuindo provas, corrigindo-as e nem sequer preparando materiais para serem usados em sala. Ele faria sua exposição, abriria para perguntas se assim o desejasse e tornaria tudo mais impessoal (bom para aquelas sumidades que não são tão bons no trato pessoal com o aluno). Nem todo mundo é um show-man. Além disso, os alunos ficariam menos dependentes dos professores e mais responsáveis por aprender (em livros, internet e até em apostilas especialmente preparadas pelos professores).
Os próprios alunos é que tenderiam a ficar ligados nas aulas já que a oportunidade para entender e não ter que se virar depois seria a própria aula. Ou seja, seria devolvido ao aluno a responsabilidade por aprender.
As provas deveriam ser tratadas como pontos fundamentais de avaliação e portanto deveriam ter muito mais pessoas vigiando, câmeras (na hora da prova essa a questão de privacidade deveria ser reduzida em prol da segurança) com distribuição aleatória de lugares etc.
Simulados padronizados serviriam de prévia para a preparação dos alunos e as provas e os simulados poderiam compartilhar do mesmo banco de questões (com alguns parâmetros aleatórios). Esse conteúdo padronizado teria uma função adicional de servir de base de comparação do aproveitamento das turmas. Bom para os alunos e bom para o ensino.
Informatização da chamada, notas, médias, com a possibilidade de coleta de dados pelo Ministério da Educação para que haja um acompanhamento instantâneo das unidades com problemas de aproveitamento e em qual disciplina. Se for o caso, por falta de professores em determinadas regiões, o MEC poderia deslocar professores temporários para suprir as carências em caráter emergencial ou ministrar o curso a distância.
Uma sugestão de distribuição de peso das questões pode ser de 30% fáceis, 30% médias e 40% difíceis.
Provas estilo OAB para os cursos não seria uma má ideia para padronizar o conjunto das matérias a serem dominadas por cada competência. Nada extremamente difícil, apenas o que se exige do formando após a conclusão do curso. Esse conjunto deveria ser de conhecimento dos alunos no início do curso.
Cursos técnicos e cursos superiores rápidos também deveriam suprir o mercado com técnicos e operários especializados atendendo as necessidades setoriais.
A reciclagem obrigatória de professores passaria por mestrados e doutorados (além do treinamento no centro-modelo contando horas de voo) paga pelo empregador ou pelo Estado. Além de cursos de especialização nas disciplinas que forem senso aproveitados.
Para tanto o Ministério da Educação teria que criar uma área de garantia da qualidade do ensino que cuidaria de manter os currículos atualizados (além de laicos e ideologicamente neutros, na medida do possível), o monitoramento dos índices de aproveitamento das IESs (Instituições de Ensino Superior) e a reciclagem dos professores em dia.
Sem falar na valorização pela remuneração onde pisos salariais deveriam ser considerados levando em conta a diferença de custo de vida regional.
Todas essas sugestões necessitariam de serem implementadas simultaneamente, ainda que seguindo um cronograma de prioridades. Para que não se faça só aquilo que é fácil e não se ataque o que é mais necessário e urgente.
Hoje eu vejo que meus alunos não aprendem em seis meses o que aprendem em uma semana de cursinho para concurso. A prova, e a reprovação, é sim uma forma de estímulo para o aprendiz. Para corrigir distorções no meio do caminho (e não apenas no final de um ano) deveria haver cursos semestrais com muitas avaliações (o que já é bem comum).
Esse tipo de mudança, ao meu ver, é uma homenagem justa à memória daqueles que sofrem com o descaso vivido pelo setor (sacrificando até a própria vida). Professores atacados por alunos sendo ridicularizados e intimidados ao invés de respeitados e valorizados. Professores que tentam aplicar métodos de ensino heterodoxos (ainda que de boa fé) fazendo experiências didáticas intuitivamente sem o devido treinamento (como o caso do professor de matemática que usou exemplos de crimes em seus problemas de álgebra) são duras lições que aprendemos e que precisamos que sejam exemplos de um problema passado.
Do tempo em que o Brasil ainda era o país do futuro.
Prof. Alexandre Gomes
Professor universitário
Especialista em Ensino a Distância com foco em Mídias Sociais
[Via BBA]
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