Uma consequência da evolução tecnológica que experimentamos hoje: empresas aproveitando o produto do tempo ocioso de milhões de pessoas. Ser...
Uma consequência da evolução tecnológica que experimentamos hoje: empresas aproveitando o produto do tempo ocioso de milhões de pessoas. Será que você está preparado para isso?
Já publicamos aqui a derrocada da enciclopédia digital Encarta, da Microsoft. A empresa se esforçou para manter no ar o produto mas não tinha como competir com os milhões de voluntários em vários idiomas que dedicavam-se a atualizar e incrementar o conteúdo da enciclopédia colaborativa com conteúdo de qualidade, embora com algumas ressalvas. Não importaram as ressalvas, a Encarta virou história (e ironicamente, virou também um verbete na Wikipedia). Será que alguns postos de trabalho não foram extintos na empresa de Bill Gates?
A Wired publicou o seguinte caso que ilustra bem o tema. Segue um resumo.
Como diretora de projeto do nascente Museu Nacional da Saúde, uma instituição com pouco orçamento, Claudia Menashe precisava de fotografias de pessoas doentes para uma exposição que iria reunir uma série de quiosques interativos sobre pandemias como a da gripe aviária. Menashe estava a procura de imagens para acompanhar os textos.
Ao invés de contratar um fotógrafo para tirar fotos de pessoas que contraíram a gripe, Menashe decidiu usar imagens pré-existentes - Stock Photografy (banco de imagens) como é conhecido na indústria editorial.
Em outubro de 2004, ela analisou uma coleção de imagens de Mark Harmel, um fotógrafo freelance que vive em Manhattan Beach, Califórnia. Harmel, 52, que é casado com uma médica, é especializado em imagens relacionadas ao setor da saúde.
Devido ao orçamento restrito de seu cliente, Harmel fez o menor preço que podia pelas fotos. Ele ofereceu ao museu um generoso desconto: de US$ 100 a US$150 por fotografia.
Como Menashe estava interessado em cerca de quatro imagens, isso representaria para Harmel uma venda de US$ 600. Contudo, após várias indas e vindas por e-mail o negócio foi finalmente cancelado.
"Acessível" é pouco para descrever a brutal diferença nos preços. No mesmo dia, Menashe licenciou 56 imagens através do iStockphoto a cerca de US$ 1 cada.
Um serviço que evoluiu de uma comunidade de troca de fotos compartilhadas entre designers, o iStockPhoto desbancou Harmel subitamente sem chance de negociação.
Afinal, como Harmel poderia concorrer com fotos a um dólar cada? A tecnologia colocou na mão de milhares de fotógrafos amadores câmeras digitais poderosas o suficiente para produzir fotos que atendem às exigências de grande parte da clientes. Isso somado à onipresente conexão eletrônica dos participantes do mercado e eficientes mecanismos de busca criou a oportunidade de negócio perfeita para a exploração do produto das horas livres de seus colaboradores. E ao contrário dos fotógrafos profissionais, os iStockers não necessitam de faturar 130.000 dólares anualmente para se manterem. Uns US$ 130 a mais já são suficiente. Restou a dura lição de economia aprendida por Harmel. O seu produto não mais era escasso, o preço só tenderia a baixar drasticamente.
Apesar de uma certa desconfiança do mercado de ações para com as chamadas agências de microstock no início, o cenário se transformou. A Getty Images, de longe a maior agência com seus mais de 30 por cento do market share, acabou adquirindo a iStockphoto por US $ 50 milhões.
A IStockphoto, que também licencia vídeos, animações e ilustrações artísticas, tem uma receita crescendo em cerca de 14 por cento ao mês.
E esse é só mais um exemplo do crowdsourcing, ou numa tradução bem liberal, já que se trata de um neologismo, "multidanização". Projetos como o World Community Grid e SETI@Home que solicitam que seus colaboradores doem as horas ociosas de suas máquinas para processarem pacotes de dados sobre pesquisas científicas ou busca de sinais alienígenas, respectivamente, transforma uma rede de voluntários que abdicam de seus screensavers de cães lambedores de telas, em um supercomputador de dimensões geográficas descomunais.
No YouTube, é o uso dessa inteligência coletiva de milhares e milhares de videoprodutores caseiros que cria e seleciona toda a diversidade de seu acervo.
Os próprios engines de busca, como Bing, Google, Wolfram Alpha, se aproveitam do armazenamento dos critérios de pesquisa para otimizarem o funcionamento de seus algoritmos, além das mídias sociais que, ao liberarem a criação de conteúdo e sua categorização, usam da intuição de seus usuários para rotular e classificar a informação gerada automaticamente, usufruindo da capacidade de agrupar dados de acordo com o nível cultural de cada pessoa sem a necessidade de uma maior moderação (a chamada folksonomia).
O movimento do software livre também se vale das armas da colaboração em massa para que um exército de desenvolvedores criem aplicações que se mostraram tão boas quanto um software desenvolvido pelas gigantes do setor como a Sun ou a Microsoft.
Hoje, um programador freelancer que pretenda lançar um produto no mercado, tem a disposição inúmeras ferramentas gratuitas para auxiliá-lo. Mas deve observar se não existe um produto similar (e possivelmente melhor) do que o seu para não reinventar a roda e correr o risco de ser atropelado por ela, como aconteceu com o fotógrafo Harmel.
Esse é o crowdsourcing. Um mundo novo onde o que você faz por hobby ou curiosidade ganha um mercado subitamente. Onde empresas começam a usar o poder latente das multidões e essas, por sua vez, podem linchar livremente os desavisados.
Fonte: The Rise of Crowdsourcing - Wired, Crowdsourcing - Wikipedia
Livro recomendado: O poder das Multidões - Jeffery W. Howe
Já publicamos aqui a derrocada da enciclopédia digital Encarta, da Microsoft. A empresa se esforçou para manter no ar o produto mas não tinha como competir com os milhões de voluntários em vários idiomas que dedicavam-se a atualizar e incrementar o conteúdo da enciclopédia colaborativa com conteúdo de qualidade, embora com algumas ressalvas. Não importaram as ressalvas, a Encarta virou história (e ironicamente, virou também um verbete na Wikipedia). Será que alguns postos de trabalho não foram extintos na empresa de Bill Gates?
Em 31 de março de 2009, a Microsoft anunciou que os sites da MSN® Encarta® Web de todo o mundo não estariam mais disponíveis a partir de 31 de outubro de 2009, exceto o da Encarta Japão, que seria descontinuado em 31 de dezembro. Além disso, a venda do Microsoft Student e todas as edições do programa Encarta Premium seria interrompida em junho de 2009.
Trecho final do verbete "Encarta" da Wikipedia em português
A Wired publicou o seguinte caso que ilustra bem o tema. Segue um resumo.
Como diretora de projeto do nascente Museu Nacional da Saúde, uma instituição com pouco orçamento, Claudia Menashe precisava de fotografias de pessoas doentes para uma exposição que iria reunir uma série de quiosques interativos sobre pandemias como a da gripe aviária. Menashe estava a procura de imagens para acompanhar os textos.
Ao invés de contratar um fotógrafo para tirar fotos de pessoas que contraíram a gripe, Menashe decidiu usar imagens pré-existentes - Stock Photografy (banco de imagens) como é conhecido na indústria editorial.
Em outubro de 2004, ela analisou uma coleção de imagens de Mark Harmel, um fotógrafo freelance que vive em Manhattan Beach, Califórnia. Harmel, 52, que é casado com uma médica, é especializado em imagens relacionadas ao setor da saúde.
Claudia queria pessoas espirrando, ficando imunizados, esse tipo de coisa.
Mark Harmel. Fotógrafo
Devido ao orçamento restrito de seu cliente, Harmel fez o menor preço que podia pelas fotos. Ele ofereceu ao museu um generoso desconto: de US$ 100 a US$150 por fotografia.
Isso é cerca de metade do que uma empresa cliente pagaria.
Mark Harmel. Fotógrafo
Como Menashe estava interessado em cerca de quatro imagens, isso representaria para Harmel uma venda de US$ 600. Contudo, após várias indas e vindas por e-mail o negócio foi finalmente cancelado.
Eu descobri um site de fotografia chamado iStockphoto que tem imagens a preços muito acessíveis.
Claudia Menashe. Diretora de projeto do National Health Museum
"Acessível" é pouco para descrever a brutal diferença nos preços. No mesmo dia, Menashe licenciou 56 imagens através do iStockphoto a cerca de US$ 1 cada.
Um serviço que evoluiu de uma comunidade de troca de fotos compartilhadas entre designers, o iStockPhoto desbancou Harmel subitamente sem chance de negociação.
Afinal, como Harmel poderia concorrer com fotos a um dólar cada? A tecnologia colocou na mão de milhares de fotógrafos amadores câmeras digitais poderosas o suficiente para produzir fotos que atendem às exigências de grande parte da clientes. Isso somado à onipresente conexão eletrônica dos participantes do mercado e eficientes mecanismos de busca criou a oportunidade de negócio perfeita para a exploração do produto das horas livres de seus colaboradores. E ao contrário dos fotógrafos profissionais, os iStockers não necessitam de faturar 130.000 dólares anualmente para se manterem. Uns US$ 130 a mais já são suficiente. Restou a dura lição de economia aprendida por Harmel. O seu produto não mais era escasso, o preço só tenderia a baixar drasticamente.
Eu negocio minha margem o tempo todo. Mas como posso competir com um dólar?
Mark Harmel. Fotógrafo
Apesar de uma certa desconfiança do mercado de ações para com as chamadas agências de microstock no início, o cenário se transformou. A Getty Images, de longe a maior agência com seus mais de 30 por cento do market share, acabou adquirindo a iStockphoto por US $ 50 milhões.
Se alguém vai canibalizar o seu negócio, melhor que seja um de seus outros negócios.
Jonathan Klein. CEO da Getty
A IStockphoto, que também licencia vídeos, animações e ilustrações artísticas, tem uma receita crescendo em cerca de 14 por cento ao mês.
E esse é só mais um exemplo do crowdsourcing, ou numa tradução bem liberal, já que se trata de um neologismo, "multidanização". Projetos como o World Community Grid e SETI@Home que solicitam que seus colaboradores doem as horas ociosas de suas máquinas para processarem pacotes de dados sobre pesquisas científicas ou busca de sinais alienígenas, respectivamente, transforma uma rede de voluntários que abdicam de seus screensavers de cães lambedores de telas, em um supercomputador de dimensões geográficas descomunais.
No YouTube, é o uso dessa inteligência coletiva de milhares e milhares de videoprodutores caseiros que cria e seleciona toda a diversidade de seu acervo.
Os próprios engines de busca, como Bing, Google, Wolfram Alpha, se aproveitam do armazenamento dos critérios de pesquisa para otimizarem o funcionamento de seus algoritmos, além das mídias sociais que, ao liberarem a criação de conteúdo e sua categorização, usam da intuição de seus usuários para rotular e classificar a informação gerada automaticamente, usufruindo da capacidade de agrupar dados de acordo com o nível cultural de cada pessoa sem a necessidade de uma maior moderação (a chamada folksonomia).
O movimento do software livre também se vale das armas da colaboração em massa para que um exército de desenvolvedores criem aplicações que se mostraram tão boas quanto um software desenvolvido pelas gigantes do setor como a Sun ou a Microsoft.
Hoje, um programador freelancer que pretenda lançar um produto no mercado, tem a disposição inúmeras ferramentas gratuitas para auxiliá-lo. Mas deve observar se não existe um produto similar (e possivelmente melhor) do que o seu para não reinventar a roda e correr o risco de ser atropelado por ela, como aconteceu com o fotógrafo Harmel.
Esse é o crowdsourcing. Um mundo novo onde o que você faz por hobby ou curiosidade ganha um mercado subitamente. Onde empresas começam a usar o poder latente das multidões e essas, por sua vez, podem linchar livremente os desavisados.
Fonte: The Rise of Crowdsourcing - Wired, Crowdsourcing - Wikipedia
Livro recomendado: O poder das Multidões - Jeffery W. Howe
Gostaria de aproveitar o post para divulgar um site de Crowdsourcing brasileiro com rede social e mini blog.
ResponderExcluirhttp://www.crowdlabore.com.br