A curiosa história da tampa de bueiro que se tornou o primeiro objeto lançado ao espaço. R obert Rex Brownlee ( 1924-2018 ) era um cientista...
A curiosa história da tampa de bueiro que se tornou o primeiro objeto lançado ao espaço.
Robert Rex Brownlee (1924-2018) era um cientista especializado em artefatos nucleares aposentado e pode ter sido o responsável por um feito digno de figurar no Guinness Book - O Livro dos Recordes -, o lançamento do objeto mais rápido feito pelo homem.
Fonte: Business Insider
Visto no Brasil Acadêmico
E mais, apesar de não ter sido o primeiro artefato produzido pelo homem a alcançar o espaço, os foguetes V2, de Wernher von Braun chegaram a ultrapassar a linha Kármán – a altitude de 100 km acima do nível do mar usada para definir o limite entre a atmosfera terrestre e o espaço exterior –, pode ter sido o primeiro objeto artificial a entrar em órbita ou mesmo a escapar da órbita terrestre, antes mesmo do satélite Sputnik (sim, além da treta com o Santos Dummont eles vão acabar reinvindicando isso também).
Foi o que pode ter ocorrido com um tampa semelhante às que tapam as entradas de galerias pluviais e de esgoto nas ruas de nossas cidades. E quem já viu reportagens sobre explosões causadas por gases acumulados nessas galerias sabe o quão alto essas tampas podem ser arremessadas nessas circunstâncias.
Ok, mas, o que poderia ejetar uma roda de ferro até o espaço? Resposta: Uma explosão termonuclear no fundo de um poço com esta tampa. Um canhão perfeito para uma espoleta improvável. Mas, para compreender como isso foi possível é necessário entender o cenário.
Ocorre que de 1945 a 1992, durante a corrida armamentista da Guerra Fria, os EUA testaram 1.054 bombas nucleares. Porém, na década de 1950, o governo e a opinião pública estadunidense começaram a preocupar com a radiação emanada desses testes para a atmosfera. Assim, em 1962, os EUA iniciaram seus testes nucleares subterrâneos.
A primeira detonação de teste subterrânea foi apelidada de “Uncle”. O artefato explodiu em uma zona “secreta” – Yucca Flat (37.07ºN 116.04ºW), no estado de Nevada, um local que chega a lembrar a superfície lunar tamanha a concentração de crateras criadas nas explosões –. Porém, os testes nos quais estamos interessados foram apelidados de “Pascal”, durante a Operação Plumbbob.
A Operação Plumbbob foi uma série de testes nucleares realizados pelos EUA em 1957. Dr. Robert Brownlee foi o encarregado de determinar métodos para conter explosões nucleares no subsolo. Trabalhando inicialmente a partir de uma detonação realizada no fundo de um poço aberto e, progressivamente, adicionando “tampões” de concreto para “estancar” a explosão.
Brownlee projetou o teste “Pascal-A” – o primeiro projetado para conter a precipitação radioativa. Nele, uma bomba foi colocada na parte inferior de uma coluna oca com um metro de largura e 150 metros de profundidade - com uma tampa de ferro de dez centímetros de espessura no topo.
O teste foi realizado na noite de 26 de julho de 1957, de modo que a explosão que saiu da coluna parecia uma vela romana. Brownlee disse que a tampa de ferro em Pascal-A explodiu do topo do tubo “como um morcego”, ou como descrito na versão mais completa do .
Brownlee queria medir a velocidade com que a tampa de ferro voou para fora da coluna, então ele projetou um segundo experimento: Pascal-B.
Brownlee replicou o primeiro experimento, mas a coluna em Pascal-B era mais profunda, a 500 pés de profundidade (152,4 metros). Eles também gravaram o experimento com uma câmera que disparou 1 quadro por milissegundo. Em 27 de agosto de 1957, a “tampa do bueiro” voou para fora da coluna com a força da explosão nuclear. A tampa de ferro era apenas parcialmente visível em um frame, disse Brownlee.
Com base em seus cálculos e nas evidências das câmeras, Brownlee estimou que a placa de aço estava viajando a uma velocidade seis vezes maior que a necessária para escapar da gravidade da Terra quando se elevou no céu azul impecável de Nevada . 'Nós nunca o encontramos. Ele se foi,' Brownlee diz, com um toque de admiração em sua voz quase 35 anos depois.Trecho de artigo sobre a propulsão de foguetes nucleares da Revista Air & Space, edição de fev/mar de 1992, publicada pelo Smithsonian.
Quando ele usou essa informação para descobrir a que velocidade a tampa estava indo, Brownlee calculou que estava viajando a cinco vezes a velocidade de escape da Terra - ou cerca de 125.000 mph (aprox. 200.000 km/h).
Em teoria, essa tampa já deveria estar ultrapassando a distância até a órbita de Plutão.
Isso supera a velocidade de 36.373 mph (58536,6 km/h) que a espaçonave New Horizons - que as pessoas dizem ser o objeto mais rápido lançado pela humanidade - finalmente alcançou enquanto viajava em direção a Plutão.
Na época, disse Brownlee, ele esperava que a tampa voltasse para a Terra, mas eles nunca a encontraram. Desde então, Brownlee concluiu que estava indo rápido demais para queimar antes de chegar ao espaço sideral.
“Depois que eu estava no negócio e fazia meus próprios lançamentos de mísseis. Percebi que aquele pedaço de ferro não tinha tempo de queimar até o topo [na atmosfera].”
Estava indo tão rápido que Brownlee disse que acha que a tampa provavelmente não foi capturado na órbita da Terra como um satélite como o Sputnik e, em vez disso, disparou para o espaço sideral.
Em 4 de outubro de 1957, a União Soviética lançou o Sputnik, o primeiro satélite artificial do mundo. Se a tampa sobreviveu à queima na passagem pela atmosfera é possível que, enquanto a URSS foi a primeira a lançar um satélite, Brownlee foi provavelmente a primeira pessoa a lançar um objeto no espaço.
“A pressão no topo do tubo era enorme”, disse Brownlee. “A primeira coisa que você obtém é um flash de luz vindo do dispositivo na parte inferior do tubo vazio, e esse flash é tremendamente quente. Aquele flash que vem é mais de 1 milhão de vezes mais brilhante que o sol. Então, para [a tampa] explodir era, se assim posso dizer, inevitável.”
Mas Brownlee, que tem conhecimento do teste em primeira mão, diz que sabe a verdade. "Do meu ponto de vista", disse ele, "com certeza aconteceu."
Portanto, da próxima vez que você olhar para as estrelas, lembre-se da história de Brownlee. Em algum lugar lá fora, uma tampa de bueiro lançada por uma bomba nuclear está provavelmente se afastando da Terra a cerca de 200.000 km/h.
Fonte: Business Insider
Visto no Brasil Acadêmico
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