Em uma rápida demonstração de como uma transformação na população de uma espécie pode decorre de adaptações para sobrevivência, Moçambique v...
Em uma rápida demonstração de como uma transformação na população de uma espécie pode decorre de adaptações para sobrevivência, Moçambique vê nascerem mais fêmeas de elefantes sem os cobiçados dentes de marfim.
Estudo sobre características genéticas descobre que elefantes evoluíram para nascerem sem presas em uma região africana onde eram intensamente caçados por marfim. Mas essa rápida evolução pode prejudicar a recuperação das populações de elefantes no país.
Tudo começou entre o final dos anos 1970 e início dos anos 1990. O comércio de marfim foi utilizado para financiar uma guerra civil em Moçambique. A caça excessiva fez com que a população de elefantes caísse em mais de 90%, no Parque Nacional de Gorongosa, caindo de uma população de mais de 2.500 animais para cerca de 200 no início dos anos 2000.
Fonte: Nature, Science, New Scientist
Visto no Brasil Acadêmico
Antes da guerra, cerca de 18,5% das fêmeas não possuíam presas naturalmente – uma característica que de certa forma as protegia pois as tornava indesejáveis para os caçadores. Segundo os pesquisadores, esse percentual aumentou para 33% entre as 91 elefantes fêmeas que nasceram após a guerra.
Shane Campbell-Staton, biólogo evolucionista da Universidade de Princeton, Nova Jersey, e seus colegas confirmaram que essa mudança é o resultado da pressão da caça por meio de uma modelagem matemática e concluíram:
A matança seletiva de elefantes com presas levou ao nascimento de mais filhotes sem presas.
A caça já havia sido responsável por causar mudanças rápidas nos animais anteriormente. O tamanho dos chifres em ovelhas selvagens (Ovis canadensis) em Alberta, Canadá, por exemplo, caiu 20% em 20 anos de caça ao troféu. E é provável que a pesca tenha reduzido o tamanho de algumas espécies de peixes. E essa perda de presas devido à caça também aconteceu em muitos outros lugares . Por exemplo, no Sri Lanka, menos de 5% dos elefantes asiáticos machos ainda têm presas.
Mas tem sido difícil determinar exatamente o que está acontecendo geneticamente nessas populações, sendo igualmente difícil desvendar a importância da pressão evolutiva da caça em comparação com outros fatores ambientais, como a mudança climática.
Conforme, Campbell-Staton e seus colegas observaram, a ausência de presas é vista apenas em elefantes fêmeas. Sugere que essa ausência seja causada por uma mutação no cromossomo X que é fatal para os machos e dominante nas fêmeas.
Os pesquisadores pesquisaram os genomas dos elefantes em busca de regiões no cromossomo X que diferiam entre aqueles com e sem presas e mostraram sinais de pressão de seleção recente. Eles identificaram dois genes candidatos prováveis: AMELX e MEP1a .
Nas pessoas, esses genes são conhecidos por estarem envolvidos com o crescimento dos dentes incisivos (o equivalente humano das presas).
O trabalho oferece fortes evidências de que a caça causou essa mudança, diz Chris Darimont, um cientista conservacionista da Universidade de Victoria, no Canadá. “Eles têm esses dados genômicos muito convincentes”.
“Este é um alerta em termos de lidar com os humanos como uma força evolucionária dominante no planeta.”
Esse incremento no número de fêmeas sem presas pode ter mais consequências para os elefantes. Observando-se o DNA nas fezes desses paquidermes, os pesquisadores descobriram que os elefantes com presas e sem presas comem plantas diferentes.
“Como os elefantes são espécies-chave, mudanças em sua dieta podem mudar toda a paisagem”
Robert Pringle. Biólogo de Princeton e coautor do estudo.
E como essa característica, a ausência das presas, é fatal para os filhotes machos, é provável que menos elefantes nasçam no geral, o que pode retardar a recuperação da população, ainda que a caça furtiva tenha sido interrompida no parque.
“A ausência de presas pode ser vantajosa durante uma guerra, mas isso tem um custo”.Robert Pringle.
As presas de elefante são como o cinto de utilidades do Batman, ferramentas polivalentes usadas para escavar alimentos e minerais subterrâneos e arrancamento e descascamento da casca, que pode matar árvores. Esses comportamentos podem catalisar as transições de floresta para pastagem em grandes escalas e criar habitat para outras espécies em escalas locais.
Um aumento populacional de indivíduos com ausência de presas pode ter impactos que atingem todo oecossistema como mudanças na composição das espécies de plantas e aumento da cobertura de árvores entre outras consequencias que poderia afetar uma infinidade de outras propriedades do ecossistema.
Em outros lugares, a evolução em espécies que desempenham funções ecológicas importantes exerceu efeitos potentes na estrutura da teia alimentar, composição da comunidade e transporte de nutrientes. A restauração dessas funções pode exigir escalas de tempo desproporcionalmente mais longas do que o evento de seleção inicial e pode, portanto, restringir o ritmo dos esforços de reconstiuir a vida selvagem.
Fenômenos como esse nos mostra o quanto é urgente e crucial compreender como funciona a dinâmica da rápida evolução no Antropoceno, não apenas para revelar os impactos biológicos das atividades humanas contemporâneas, mas também para traçar estratégias para mitigá-los.
Visto no Brasil Acadêmico
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