Saiba como as fotos digitais podem deixar "impressões digitais" que identificam o fotógrafo e o fotografado. O ex-presidente Don...
Saiba como as fotos digitais podem deixar "impressões digitais" que identificam o fotógrafo e o fotografado.
Nada pode impedi-lo de trabalhar para o povo americano. IMPLACÁVEL!
A tentativa era de passar a mensagem de que Trump trabalhara o dia todo, apesar da doença. O problema é que a data e a hora do registro das fotos apresentava outra ideia. Uma vez que as imagens foram feitas com um intervalo de apenas 10 minutos. 😬
Claro que o passapanismo oficial poderia suscitar outras explicações, como a de que o ex-presidente prentedia mudar de cômodo e tirar o terno justamente naqueles dez minutos. O ponto é que as pessoas notaram e a Casa Branca não deve ter ficado satisfeita, afinal os meios de comunicação passaram a questionar se o presidente estava mesmo trabalhando tão incasavelmente e a narrativa de que se tratava de uma mera encenação de cunho político obviamente surgiu.
Outro que foi pego no pulo por metadados fotográficos foi o criador de antivírus e especialista em encrencas que deixaria Fábio Assunção perplexo, John McAfee. Em 2012, McAfee estava foragido das autoridades de Belize, na América Central.
Acontece que repórteres da revista Vice conseguiram localizá-lo e publicaram uma foto de McAfee na internet intitulada:
Estamos com John McAfee agora, otários.
Inadivertidamente eles acabaram entregando a localização de McAfee pois as coordenadas do GPS incorporadas no arquivo da foto indicaram que ele estava na Guatemala. Onde foi rapidamente localizado e preso.
Esses são apenas dois exemplos de como informações que são gravadas junto com o arquivo da imagem a cada foto tirada podem proporcionar uma verdadeira invasão de privacidade. O que se tornou um sério problema contemporâneo pois as pessoas desejam resguardar sua privacidade de modo inversamente proporcional a desejo de se exporem na internet.
Essa informações, uma especificação seguida por fabricantes de câmeras denominada Exif (Exchangeable Image File Format), podem incluir a localização, data/hora, o modelo da câmera e uma série de outros dados sobre a fotografia tirada. Que podem ser facilmente eliminados por programas gratuitos como o Exiftool.
As autoridades usam essas informações em suas investigações, já que a maioria nem sequer suspeita que elas estejam lá, mas elas também são usadas por malfeitores que querem saber, por exemplo, se aquela foto de férias é recente e terem a certeza que a residência está vazia para praticar um roubo ou até mesmo dos hábitos e horários do fotógrafo para possibilitar assaltos e até possíveis sequestros relâmpagos.
Mas existe também um identificador único das fotos que liga cada imagem capturada à câmera que foi utilizada. E essa verdadeira impressão digital pouca gente se dá conta de sua existência e mesmo fotógrafos profissionais podem esquecer de sua existência.
Essa forma de identificação não é intencional e para compreendê-la é preciso entender primeiro como uma fotografia é tirada. Tudo começa pelo sensor de imagem, peça fundamental para captura de uma imagem em uma câmera digital, incluindo aquelas que equipam os smartphones.
Esse aparato eletrônicos funciona como a retina ou os antigos filmes analógicos. Ele possui uma grade de milhões de diodos fotossensíveis de silício. Esses diodos são chamados photosites, que são cavidades que absorvem os fótons, ou seja, partículas de luz, e emitem eletróns. Essa carga elétrica que cada photosite emite é medida e convertida em um valor digital.
Cada valor único descreve a quantidade de luz detectada e é assim que uma foto é formada.
Contudo, os tais sensores não são iguais. Ocorre que as dimensões de cada photosite possuem diferenças mínimas devido a imperfeições no processo de fabricação desse sensores.
E combinada com a falta de homogeneidade do silício, cada photosite tende a variar sua capacidade de converter fótons em elétrons. Como resultado alguns photosites são mais ou menos sensíveis à luz do que deveriam ser, independente do que está sendo fotografado.
Assim, ainda que fossem utilizadas duas câmeras aparentemente idênticas, de mesma marca e modelo para capturar uma mesma imagem, haveria diferenças mínimas entre seus sensores o que permitiria ligar a foto produzida a uma determinada máquina, ainda que tais diferenças nas imagens seja imperceptível aos olhos. Do ponto de vista forense, isso é comparável a assinaturas que os projéteis disparados deixam e que podem ligá-los à um determinada arma, já que não há dois sensores iguais, e esse fenômeno é conhecido como "não-uniformidade da resposta fotográfica".
Jessica Fridrich, da Binghamton University, no estado de Nova York, patenteou a técnica de impressão digital de fotos, e ela foi oficialmente aprovada para uso como evidência forense em processos judiciais nos EUA.
Essa espécie de impressão digital das fotos digitais lembrar uma outra tecnologia para identificação usada por muitos fabricantes de impressoras, mas intencionalmente. Muitas impressoras coloridas adicionam pontos amarelos secretos aos documentos, praticamente invisíveis, que revelam o número de série da impressora, além da data e a hora em que um documento foi impresso.
Acredita-se que esses pontos podem ter sido usados pelo FBI, em 2017, na identificação de Reality Winner como fonte de um documento que detalhava a suposta interferência russa na eleição presidencial de 2016 nos EUA, e que vazou da Agência Nacional de Segurança (NSA).
Isso nos leva a perguntar se a não-uniformidade da resposta fotográfica, assim como esse número de série secreto das impressoras, viola o direito do indivíduo à proteção de seus dados pessoais.
Um carpinteiro pode fazer maravilhas com um martelo, mas um martelo também pode matar.
Jessica Fridrich. Pesquisadora
E evitar os metadados Exif não é fácil. Você precisa retirá-los mais tarde sendo que a única informação que você pode evitar apenas configurando a câmera é a localização geográfica da foto por GPS. No Windows 10, podemos clicar com o botão direito do mouse sobre um arquivo de imagem, clicar em ''Propriedades'', acessar a aba ''Detalhes'' para visualizar as informações EXIF da imagem e clicar em Remover Propriedades e Informações Pessoais a fim de removê-las. Também é possível editá-las e visualizá-las em editores como o Photoshop e até mesmo em apps gratuitos para celulares Android e iPhone.
Já a irregularidade da resposta fotográfica é mais difícil de evitar. É possível inutilizá-la, por exemplo, reduzindo a resolução da imagem. Mas isso depende de muitos fatores, como o tipo de dispositivo usado para capturar a imagem e o algoritmo de correspondência de impressão digital usado. Não dá para saber o quanto se pode reduzir a resolução da iamgem (sem perder a informação que se quer transmitir) pois inexiste uma solução única para a remoção dessas impressões digitais.
Mas essas informações podem ser fundamentais para manter o anonimato de fotojornalistas, jornalistas e suas fontes, ativistas, denunciantes, e todos aqueles que precisam se manter cobertos pelo anonimato para não sofrerem perseguições políticas, ou represálias criminosas.
Agora já sabe. Sempre que você for publicar uma foto digital, reflita sobre aquilo que você não consegue ver mas que pode revelar muito sobre você.
Escrito com base no texto da BBC Brasil cujo artigo original foi escrito por Jerone Andrews enquanto trabalhava como pesquisador na University College London (UCL), no Reino Unido, como parte de uma bolsa de estudos organizada pela Associação Britânica para o Avanço da Ciência.
Fonte: BBC Future via BBC Brasil. Com informações da Wikipedia.
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