Existem muitos mistérios em torno da febre, mas sabemos que todos os mamíferos, alguns pássaros e até mesmo alguns invertebrados e algumas e...
Existem muitos mistérios em torno da febre, mas sabemos que todos os mamíferos, alguns pássaros e até mesmo alguns invertebrados e algumas espécies de plantas sentem o calor causado pela febre. Ela tem persistido por mais de 600 milhões de anos de evolução, mas tem um custo significativo: para cada aumento de grau na temperatura corporal, há um aumento de 12,5% na energia necessária. Então, por que e como nosso corpo produz febre?
Em 1917, médicos propuseram um estranho tratamento para a sífilis, a incurável infecção bacteriana que tinha devastado a Europa por séculos.
Fonte: TED
Visto no Brasil Acadêmico
- Etapa 1: infectar pacientes que sofriam com as últimas fases da sífilis, com o parasita que causa a malária, uma doença mortal mas curável transmitida por mosquitos.
- Etapa 2: esperar que a febre causada pela malária eliminasse a sífilis.
- Etapa 3: utilizar quinina para conter a malária. Se tudo corresse de acordo com os planos, o paciente sobreviveria e ficaria curado das duas doenças.
Esse procedimento matou 15% dos pacientes, mas os que sobrevivam foram curados. Além disso, o tratamento se tornou padrão para a cura da sífilis até que a penicilina foi amplamente utilizada décadas depois.
E sua força motriz era a febre.
Existem muitos mistérios sobre a febre, mas o que sabemos é que todos os mamíferos, alguns pássaros, invertebrados e algumas espécies de plantas sentem o calor da febre. A febre tem persistido há mais de 600 milhões de anos de evolução. Porém, há um custo significativo. Para o aumento de cada 1 °C de temperatura no corpo humano, há um aumento de 12,5% de energia necessária, o que equivale a cerca de 20 minutos correndo, para alguns. Então, por que e como o nosso corpo produz febre?
A nossa temperatura central é mantida via termorregulação, um conjunto de processos que geralmente mantêm o corpo em torno de 37 ºC.
Esses mecanismos são controlados pelo hipotálamo do cérebro, que detecta mudanças mínimas de temperatura e então envia sinais por todo o corpo.
Se o nosso corpo ficar muito quente, o hipotálamo produzirá sinais que ativarão nossas glândulas sudoríparas ou fará nossos vasos sanguíneos dilatarem, fazendo com que o sangue se aproxime da superfície da pele. Todas essas opções liberam calor e refrescam o nosso organismo. E se a temperatura estiver muito baixa, nossos vasos sanguíneos vão se contrair e podemos começar a tremer, gerando calor para o corpo.
Nosso organismo irá atrapalhar o equilíbrio térmico para induzir febre, que irá se instalar acima de 38 ºC. Enquanto isso, há mecanismos para evitar que a temperatura exceda os 41 ºC, quando pode ocorrer danos aos órgãos.
Células imunológicas que lutam contra infecções podem induzir a febre provocando uma cascata bioquímica a qual instrui o hipotálamo a aumentar a nossa temperatura. Dessa forma, nosso corpo trabalha para atender ao novo “ponto de ajuste”, usando os mecanismos que irão gerar calor no frio. Até atingir essa nova temperatura, sentiremos frio e talvez arrepios.
Mas por que nosso corpo reage assim? Enquanto ainda não foi decidido o quanto as temperaturas afetam os patógenos, parece que o principal efeito da febre é induzir rapidamente uma resposta imune ao corpo inteiro.
Após a exposição a elevadas temperaturas internas, algumas células liberam proteínas de choque térmico, ou HSPs, uma família de moléculas produzidas em resposta a condições estressantes. Essas proteínas auxiliam os linfócitos, um dos vários tipos de glóbulos brancos que lutam contra patógenos para viajarem mais rapidamente até as infecções. As HSPs fazem isso melhorando a "viscosidade" dos linfócitos, permitindo a eles aderência e entrada através das paredes dos vasos sanguíneos para que possam alcançar as áreas nas quais a infecção está crescendo. Em caso de infecções virais, as HSPs mandam as células próximas diminuir sua produção de proteína, o que limita a capacidade delas de se replicarem. Isso impede a propagação do vírus, pois eles dependem do maquinário que replica a reprodução do hospedeiro. Isso também protege as células vizinhas de danos, já que alguns vírus se espalham pela ruptura de suas células hospedeiras, podendo levar à destruição em alta escala, o acúmulo de detritos, e potencialmente até mesmo a danos aos órgãos. O poder das HSPs de proteger células e aumentar a atividade imunológica pode limitar o caminho de destruição dos patógenos dentro do corpo.
Mas, pelo que sabemos sobre o papel da febre na ativação imunológica, alguns ensaios clínicos mostraram que drogas supressoras de febre não pioram os sintomas ou as taxas de recuperação. Devido a isso, não há regras definitivas para suprimir uma febre ou deixá-la acontecer. Médicos decidem isso dependendo do caso. A duração e intensidade da febre, bem como o estado imunológico do paciente, o nível de conforto e idade do paciente, tudo é relevante na escolha do tratamento. E se decidirem deixar a febre continuar, provavelmente será prescrito descanso e líquidos para prevenir a desidratação enquanto o corpo trava essa batalha acalorada.
Fonte: TED
Visto no Brasil Acadêmico
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