Poderíamos discutir se gírias como ‘hangry,’ ‘defriend’ e ‘adorkable’ preenchem lacunas cruciais de significado da língua inglesa, mesmo que...
Poderíamos discutir se gírias como ‘hangry,’ ‘defriend’ e ‘adorkable’ preenchem lacunas cruciais de significado da língua inglesa, mesmo que não estejam dicionarizadas. Afinal de contas, quem decide realmente quais palavras devem vingar naquelas páginas de acesso tão difícil? A historiadora de línguas Anne Curzan faz uma análise encantadora dos humanos envolvidos na produção de dicionários e as decisões que têm de tomar constantemente.
Preciso começar contando um pouco da minha vida social, que eu sei pode não parecer muito relevante, mas é. Quando as pessoas me conhecem em festas e descobrem que eu sou professora de inglês, com especialização em línguas, geralmente reagem de um dos dois seguintes modos. Uma parte das pessoas parece se assustar. (Risadas)
Geralmente dizem algo como “Oh, é melhor tomar cuidado com o que eu digo. Tenho certeza que notará qualquer erro que eu cometer.” E param de falar. (Risadas) Elas esperam que eu me afaste e conversam com outra pessoa. A outra parte das pessoas, com um brilho no olhar, e dizem: “Você é justamente a pessoa com quem eu gostaria de falar.” E a seguir comentam qualquer coisa que julgam inadequada na língua inglesa. (Risadas)
Há algumas semanas, eu fui a uma festa, um jantar e um senhor à minha direita começou a elencar todos os modos pelos quais a Internet está degradando a língua inglesa. Começou a falar do Facebook e perguntou: “To defriend?” [Apagar da lista de amigos] Isso é uma palavra?
Quero deter-me nessa questão: O que torna uma palavra “real”? Meu companheiro de jantar e eu sabemos o que o verbo “defriend” significa. Então, quando será que uma nova palavra como “defriend” torna-se real? Quem tem a autoridade para tomar decisões oficiais sobre palavras em última análise? Essas são questões das quais eu quero falar hoje.
Quando a maioria das pessoas afirma que uma palavra não é real, o que elas querem dizer é que aquela palavra não consta em um dicionário formal. Isso, é claro, levanta uma série de questões inclusive esta: “Quem escreve os dicionários?”
Antes que eu prossiga, deixem-me esclarecer qual é o meu papel nisso tudo.
Quando eu ensino a história da língua inglesa, eu peço que os alunos me ensinem duas novas gírias antes de começar a aula. Ao longo dos anos, eu aprendi gírias muito legais, desse modo. inclusive “hangry” que — (Aplausos) — que é quando se está “cranky” ou “angry” (desajeitado ou irritado) porque se está “hungry” (com fome), e “adorkable” quando se é “adorable” (encantador) de um modo “dorky” (atrapalhado). Sem dúvida, duas palavras formidáveis que preenchem importantes lacunas da língua inglesa. (Risadas) Mas em que medida elas são reais, se nós as usamos principalmente como gíria e elas não estão dicionarizadas?
Falemos dos dicionários. Respondam levantando a mão: Quantos de vocês ainda usam regularmente um dicionário, seja impresso ou online? Certo. Parece que é a maioria. Uma segunda pergunta. Levantem a mão novamente: Quantos de vocês já procuraram verificar quem editou o dicionário que estavam usando? Certo. Bem menos pessoas. Em algum nível, sabemos que há pessoas que elaboram os dicionários, mas não sabemos quem são elas. Isso realmente me fascina. Até mesmo as pessoas com maior espírito crítico têm uma tendência de não criticar os dicionários. Não fazem distinção entre eles, nem fazem toda uma série de perguntas sobre quem os editou. Pensem nesta frase: “Procure no dicionário.” Ela sugere que todos os dicionários são exatamente iguais. Considerem a biblioteca aqui no campus. Vocês vão até a sala de leitura, onde se encontra um grande e completo dicionário sobre um pedestal, neste local de honra e respeito e que ali fica aberto, para podermos consultá-lo e tirar as dúvidas.
Não me levem a mal. Os dicionários são recursos fantásticos, porém são obra de humanos e não são válidos para sempre. Como professora, eu fico surpresa que se peça aos alunos para analisar criticamente qualquer texto que eles leiam, todo site que visitem, exceto os dicionários, os quais tendemos supor que não têm autores, como se surgissem do nada e nos trouxessem respostas para os significados das palavras. O fato é o seguinte: se perguntarem aos editores de dicionários, eles lhes responderão que tentam nos acompanhar nas transformações que impomos ao idioma. Eles observam o que falamos e escrevemos e tentam adivinhar o que vai permanecer e o que será efêmero. Eles têm que fazer uma aposta porque buscam aparentar que estão na vanguarda e pegam as palavras que vingarão tais como LOL [Muitas risadas]. mas não querem a imagem de caprichosos por incluir palavras que sairão de uso. Acho que uma palavra que agora atrai a atenção deles é YOLO, você vive apenas uma vez.
Tenho muito contato com editores de dicionário. Vocês ficariam surpresos com um dos lugares onde nos encontramos. Todo mês de janeiro, vamos ao encontro anual da American Dialect Society, onde, entre outras coisas, elegemos a palavra do ano. Comparecem de 200 a 300 pessoas, alguns dos mais renomados linguistas dos Estados Unidos. Para dar-lhes uma ideia do clima do encontro, acontece logo antes do happy hour. Todos os que comparecem têm o direito de votar. A regra mais importante é votar levantando apenas uma das mãos. No passado, algumas vencedoras foram as palavras “tweet”, em 2009 e “hashtag”, em 2012. “Chad” foi a palavra do ano em 2000-- Quem sabia o que era chad antes de 2000 e “WMD” em 2002?
Atualmente, há outras categorias em que também podemos votar, e a minha categoria favorita é a palavra mais criativa do ano. Nessa categoria já foi vencedora “recombobulation area”, um local depois da revista no Aeroporto de Milwaukee, onde se pode “recombobular”. (Risos) Pode-se afivelar o cinto, colocar de volta o computador na maleta. E minha favorita absoluta nessa categoria é “multi-slacking”. (Risos) Multi-slacking é o ato de deixar várias janelas abertas na tela, fingindo que está trabalhando, quando na verdade se está de bobeira na Internet. (Risos) (Aplausos)
Todas essas palavras vão pegar? Certamente não. Fizemos algumas escolhas questionáveis. Por exemplo, em 2006, quando a palavra do ano foi “Plutoed”, (plutonizado) para significar rebaixado. (Risos) Palavras vencedoras de alguns anos atrás parecem não ter nada de extraordinário atualmente, tais como “app” a letra “e” como um prefixo e “google” usada como verbo.
Poucas semanas antes da nossa votação, a Lake Superior State University publica sua lista de palavras do ano que devem ser banidas. Surpreendentemente, quase sempre há uma superposição entre essa lista e a nossa para escolher as palavras do ano, porque a mesma coisa está sendo percebida. Percebemos palavras que estão se destacando. É uma questão de postura. Vocês se incomodam com os modismos e as mudanças da língua, ou acham isso divertido e interessante, algo que merece ser estudado como parte de uma língua viva?
A lista da Lake Superior State University mantém uma longa tradição em inglês de inconformismo com novas palavras. Aqui está Dean Henry Alford, em 1875, ficou muito incomodado com “desirability” (desejabilidade), para ele uma palavra horrível.
Ao longo dos anos, também houve preocupações com a pronúncia de palavras. Samuel Rogers, em 1855, incomodado com certas pronúncias em moda, que ele considerava desagradáveis, afirmou: “como se ‘contemplate’ já não fosse suficientemente ruim, ‘balcony’ embrulha-me o estômago.” (Risos) A palavra vem do italiano e era pronunciada bal-CÔ-ni.
Essas queixas hoje parecem curiosas, se não definitivamente “adorkable”. (Risos) O fato é o seguinte: as mudanças do idioma ainda nos incomodam muito. No meu escritório, tenho todo um arquivo com artigos de jornais que mostram preocupação com palavras ilegítimas, que não deveriam estar dicionarizadas, inclusive “LOL” quando entrou para o Oxford English Dictionary e “defriend” quando foi incluída no Oxford American Dictionary. Eu também tenho artigos que expressam insatisfação com “invite” (convite) na forma de substantivo, “impact” (impactar) como um verbo, argumentando que só os dentes podem ser impactados. E “incentivize” (estimular) é descrito como “um grosseiro e burocrático erro de discurso.”
Não é que os editores ignorem essas opiniões a respeito da língua. Eles nos dão orientação sobre as palavras que são consideradas gírias ou de uso informal, ou agressivas, com frequência por meio de etiquetas de uso. A missão deles é algo difícil porque tentam descrever o que nós fazemos e sabem que usamos os dicionários para obter informações de como usar uma palavra do modo correto ou adequado. Como resposta, o American Heritage Dictionaries incluem notas de uso. As notas de uso costumam aparecer para palavras que podem ser problemáticas. Uma das formas de ser problemática é a mudança de significado. As notas de uso envolvem decisões bastante humanas, e acho que, como usuários de dicionário, nem sempre estamos cientes de tais decisões humanas, como deveríamos estar. Para demonstrar isso, veremos um exemplo; mas antes eu quero explicar o que os editores de dicionários tentam fazer com as notas de uso.
Pense na palavra “peruse” e em como nós usamos essa palavra. Eu imagino que muitos estejam pensando em 'dar uma olhada', 'varrer com os olhos', 'ler rapidamente'. Alguns talvez até a associem a ação de andar, pois olham, enquanto andam, as prateleiras de uma mercearia ou algo assim. Vocês podem se surpreender em saber que se procurarem na maioria dos dicionários mais usados, a primeira definição será 'ler cuidadosamente' ou 'inundar'. Essa é a primeira definição encontrada no American Heritage. Como segunda definição vem ‘dar uma olhada’ e a seguir, lê-se: “problema de uso.” (Risos) E a seguir eles incluem uma nota de uso que vale a pena ler.
Eis a nota de uso:
“Peruse” significava ‘ler cuidadosamente’... Mas com frequência é usado mais livremente significando simplesmente ‘ler’... Sua extensão para 'passar os olhos’, ‘varrer com os olhos’, tradicionalmente tem sido considerada um erro. Mas nossa pesquisa de opinião sugerem que está se tornando mais aceitável. Indagados sobre a sentença "Eu tive apenas um momento para “peruse” o manual rapidamente,” 66% do Painel [de Uso] a consideraram inaceitável em 1988, 58% em 1999, e 48% em 2011.
Ah, o Painel de Uso, esse corpo confiável de autoridades linguísticas que está ficando mais tolerante sobre esse assunto. Espero que agora estejam pensando: "Um momento. Quem está no Painel de Uso? E o que eu devo fazer com suas declarações?” Se olharem as páginas preliminares do American Heritage Dictionaries, vocês encontrarão os nomes das pessoas do Painel de Uso. Mas quem lê as páginas preliminares dos dicionários? São mais de 200 pessoas no Painel de Uso. Ali estão acadêmicos, jornalistas, escritores. Há um membro da Suprema Corte de Justiça e alguns linguistas. Desde 2005, eu estou incluída nessa lista. (Aplausos)
Eis o que podemos fazer por você. Podemos dar-lhes uma percepção da amplitude de opiniões sobre o uso controverso. Esse é e deve ser o limite de nossa autoridade. Não somos uma academia de línguas. Uma vez por ano, eu recebo uma cédula de pesquisa que procura saber se novos usos, novas pronúncias, novos significados são aceitáveis.
Antes de preencher a cédula o que eu faço é ouvir o que as pessoas falam e o que escrevem. Não levo em conta as minhas preferências nem o que me desagrada na língua inglesa. Serei franca com vocês: eu não gosto da palavra “impactful”, mas não existe um meio termo no que se refere a “impactful” estar entrando em uso e tornando-se cada vez mais aceitável na prosa escrita. Para inspirar confiança, o que eu faço é verificar o uso, o que frequentemente envolve fazer pesquisa em bancos de dados online como o Google Books. Se procurarem por "impactful” no Google Books, Eis o que encontrarão. Parece que “impactful” provou-se útil para um certo número de escritores e vem sendo cada vez mais útil nos últimos 20 anos.
Haverá mudanças no idioma, que não agradarão a todos nós. Ocorrerão mudanças que os farão ponderar: "É isso mesmo?” A língua precisa se modificar dessa forma? O que eu estou dizendo é que deveríamos ir mais devagar para decidir se aquela mudança é terrível. Deveríamos ser menos apressados em impor nossas preferências e desagrados por palavras a outras pessoas e sermos completamente relutantes em pensar que língua inglesa tem problemas. Ela não tem. É rica e vibrante e plena de criatividade das pessoas que a falam. Fazendo um retrospecto, eu acho fascinante que a palavra “nice” costumava significar ‘bobo’. que “decimate” queria dizer ‘matar um em cada dez’. (Risos) Achamos que Benjamin Franklin estava bancando o bobo em se preocupar como o uso de “notice” como um verbo. Sabem de uma coisa? Vamos parecer bastante tolos dentro de cem anos por nos incomodarmos em usar “impact” como um verbo e “invite” como um substantivo. A língua não vai mudar tão rapidamente assim a ponto de não podermos acompanhar. Não é assim que o idioma funciona. Espero que vocês não considerem que as mudanças do idioma sejam preocupantes e sim divertidas e fascinantes, exatamente como o fazem os editores de dicionário. Espero que possam gostar de fazer parte da criatividade que está reconstruindo continuamente nossa língua e mantendo-a robusta.
Então, como uma palavra entra para um dicionário? Ela entra porque nós a usamos e continuamos a usá-la e os editores de dicionário estão prestando atenção em nós. Se vocês estão pensando: "Mas isso deixa que todos nós decidamos qual é o significado das palavras.” Eu diria: “É verdade e sempre foi assim.” Os dicionários são guia e fonte maravilhosos mas destituídos de autoridade para arbitrar o significado das palavras. Se uma comunidade de falantes está usando uma palavra e sabe o seu significado, ela é real. Essa palavra pode ser uma gíria, pode ter uso informal, pode ser uma palavra que você imagine ser ilógica ou desnecessária. Mas essa palavra que nós estamos usando, essa palavra é real.
Obrigada.
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Preciso começar contando um pouco da minha vida social, que eu sei pode não parecer muito relevante, mas é. Quando as pessoas me conhecem em festas e descobrem que eu sou professora de inglês, com especialização em línguas, geralmente reagem de um dos dois seguintes modos. Uma parte das pessoas parece se assustar. (Risadas)
Geralmente dizem algo como “Oh, é melhor tomar cuidado com o que eu digo. Tenho certeza que notará qualquer erro que eu cometer.” E param de falar. (Risadas) Elas esperam que eu me afaste e conversam com outra pessoa. A outra parte das pessoas, com um brilho no olhar, e dizem: “Você é justamente a pessoa com quem eu gostaria de falar.” E a seguir comentam qualquer coisa que julgam inadequada na língua inglesa. (Risadas)
Há algumas semanas, eu fui a uma festa, um jantar e um senhor à minha direita começou a elencar todos os modos pelos quais a Internet está degradando a língua inglesa. Começou a falar do Facebook e perguntou: “To defriend?” [Apagar da lista de amigos] Isso é uma palavra?
Quero deter-me nessa questão: O que torna uma palavra “real”? Meu companheiro de jantar e eu sabemos o que o verbo “defriend” significa. Então, quando será que uma nova palavra como “defriend” torna-se real? Quem tem a autoridade para tomar decisões oficiais sobre palavras em última análise? Essas são questões das quais eu quero falar hoje.
Quando a maioria das pessoas afirma que uma palavra não é real, o que elas querem dizer é que aquela palavra não consta em um dicionário formal. Isso, é claro, levanta uma série de questões inclusive esta: “Quem escreve os dicionários?”
Antes que eu prossiga, deixem-me esclarecer qual é o meu papel nisso tudo.
Eu não escrevo dicionários. Entretanto, eu coleciono palavras novas do mesmo modo que fazem os editores de dicionário. O bom de ser uma historiadora da língua inglesa, é que eu posso chamar isso de “pesquisa”.
Quando eu ensino a história da língua inglesa, eu peço que os alunos me ensinem duas novas gírias antes de começar a aula. Ao longo dos anos, eu aprendi gírias muito legais, desse modo. inclusive “hangry” que — (Aplausos) — que é quando se está “cranky” ou “angry” (desajeitado ou irritado) porque se está “hungry” (com fome), e “adorkable” quando se é “adorable” (encantador) de um modo “dorky” (atrapalhado). Sem dúvida, duas palavras formidáveis que preenchem importantes lacunas da língua inglesa. (Risadas) Mas em que medida elas são reais, se nós as usamos principalmente como gíria e elas não estão dicionarizadas?
Falemos dos dicionários. Respondam levantando a mão: Quantos de vocês ainda usam regularmente um dicionário, seja impresso ou online? Certo. Parece que é a maioria. Uma segunda pergunta. Levantem a mão novamente: Quantos de vocês já procuraram verificar quem editou o dicionário que estavam usando? Certo. Bem menos pessoas. Em algum nível, sabemos que há pessoas que elaboram os dicionários, mas não sabemos quem são elas. Isso realmente me fascina. Até mesmo as pessoas com maior espírito crítico têm uma tendência de não criticar os dicionários. Não fazem distinção entre eles, nem fazem toda uma série de perguntas sobre quem os editou. Pensem nesta frase: “Procure no dicionário.” Ela sugere que todos os dicionários são exatamente iguais. Considerem a biblioteca aqui no campus. Vocês vão até a sala de leitura, onde se encontra um grande e completo dicionário sobre um pedestal, neste local de honra e respeito e que ali fica aberto, para podermos consultá-lo e tirar as dúvidas.
Não me levem a mal. Os dicionários são recursos fantásticos, porém são obra de humanos e não são válidos para sempre. Como professora, eu fico surpresa que se peça aos alunos para analisar criticamente qualquer texto que eles leiam, todo site que visitem, exceto os dicionários, os quais tendemos supor que não têm autores, como se surgissem do nada e nos trouxessem respostas para os significados das palavras. O fato é o seguinte: se perguntarem aos editores de dicionários, eles lhes responderão que tentam nos acompanhar nas transformações que impomos ao idioma. Eles observam o que falamos e escrevemos e tentam adivinhar o que vai permanecer e o que será efêmero. Eles têm que fazer uma aposta porque buscam aparentar que estão na vanguarda e pegam as palavras que vingarão tais como LOL [Muitas risadas]. mas não querem a imagem de caprichosos por incluir palavras que sairão de uso. Acho que uma palavra que agora atrai a atenção deles é YOLO, você vive apenas uma vez.
Tenho muito contato com editores de dicionário. Vocês ficariam surpresos com um dos lugares onde nos encontramos. Todo mês de janeiro, vamos ao encontro anual da American Dialect Society, onde, entre outras coisas, elegemos a palavra do ano. Comparecem de 200 a 300 pessoas, alguns dos mais renomados linguistas dos Estados Unidos. Para dar-lhes uma ideia do clima do encontro, acontece logo antes do happy hour. Todos os que comparecem têm o direito de votar. A regra mais importante é votar levantando apenas uma das mãos. No passado, algumas vencedoras foram as palavras “tweet”, em 2009 e “hashtag”, em 2012. “Chad” foi a palavra do ano em 2000-- Quem sabia o que era chad antes de 2000 e “WMD” em 2002?
Atualmente, há outras categorias em que também podemos votar, e a minha categoria favorita é a palavra mais criativa do ano. Nessa categoria já foi vencedora “recombobulation area”, um local depois da revista no Aeroporto de Milwaukee, onde se pode “recombobular”. (Risos) Pode-se afivelar o cinto, colocar de volta o computador na maleta. E minha favorita absoluta nessa categoria é “multi-slacking”. (Risos) Multi-slacking é o ato de deixar várias janelas abertas na tela, fingindo que está trabalhando, quando na verdade se está de bobeira na Internet. (Risos) (Aplausos)
Todas essas palavras vão pegar? Certamente não. Fizemos algumas escolhas questionáveis. Por exemplo, em 2006, quando a palavra do ano foi “Plutoed”, (plutonizado) para significar rebaixado. (Risos) Palavras vencedoras de alguns anos atrás parecem não ter nada de extraordinário atualmente, tais como “app” a letra “e” como um prefixo e “google” usada como verbo.
Poucas semanas antes da nossa votação, a Lake Superior State University publica sua lista de palavras do ano que devem ser banidas. Surpreendentemente, quase sempre há uma superposição entre essa lista e a nossa para escolher as palavras do ano, porque a mesma coisa está sendo percebida. Percebemos palavras que estão se destacando. É uma questão de postura. Vocês se incomodam com os modismos e as mudanças da língua, ou acham isso divertido e interessante, algo que merece ser estudado como parte de uma língua viva?
A lista da Lake Superior State University mantém uma longa tradição em inglês de inconformismo com novas palavras. Aqui está Dean Henry Alford, em 1875, ficou muito incomodado com “desirability” (desejabilidade), para ele uma palavra horrível.
Em 1760, Benjamin Franklin escreveu uma carta a David Hume e classificou “colonize” (colonizar) como uma palavra repudiável.
Ao longo dos anos, também houve preocupações com a pronúncia de palavras. Samuel Rogers, em 1855, incomodado com certas pronúncias em moda, que ele considerava desagradáveis, afirmou: “como se ‘contemplate’ já não fosse suficientemente ruim, ‘balcony’ embrulha-me o estômago.” (Risos) A palavra vem do italiano e era pronunciada bal-CÔ-ni.
Essas queixas hoje parecem curiosas, se não definitivamente “adorkable”. (Risos) O fato é o seguinte: as mudanças do idioma ainda nos incomodam muito. No meu escritório, tenho todo um arquivo com artigos de jornais que mostram preocupação com palavras ilegítimas, que não deveriam estar dicionarizadas, inclusive “LOL” quando entrou para o Oxford English Dictionary e “defriend” quando foi incluída no Oxford American Dictionary. Eu também tenho artigos que expressam insatisfação com “invite” (convite) na forma de substantivo, “impact” (impactar) como um verbo, argumentando que só os dentes podem ser impactados. E “incentivize” (estimular) é descrito como “um grosseiro e burocrático erro de discurso.”
Não é que os editores ignorem essas opiniões a respeito da língua. Eles nos dão orientação sobre as palavras que são consideradas gírias ou de uso informal, ou agressivas, com frequência por meio de etiquetas de uso. A missão deles é algo difícil porque tentam descrever o que nós fazemos e sabem que usamos os dicionários para obter informações de como usar uma palavra do modo correto ou adequado. Como resposta, o American Heritage Dictionaries incluem notas de uso. As notas de uso costumam aparecer para palavras que podem ser problemáticas. Uma das formas de ser problemática é a mudança de significado. As notas de uso envolvem decisões bastante humanas, e acho que, como usuários de dicionário, nem sempre estamos cientes de tais decisões humanas, como deveríamos estar. Para demonstrar isso, veremos um exemplo; mas antes eu quero explicar o que os editores de dicionários tentam fazer com as notas de uso.
Pense na palavra “peruse” e em como nós usamos essa palavra. Eu imagino que muitos estejam pensando em 'dar uma olhada', 'varrer com os olhos', 'ler rapidamente'. Alguns talvez até a associem a ação de andar, pois olham, enquanto andam, as prateleiras de uma mercearia ou algo assim. Vocês podem se surpreender em saber que se procurarem na maioria dos dicionários mais usados, a primeira definição será 'ler cuidadosamente' ou 'inundar'. Essa é a primeira definição encontrada no American Heritage. Como segunda definição vem ‘dar uma olhada’ e a seguir, lê-se: “problema de uso.” (Risos) E a seguir eles incluem uma nota de uso que vale a pena ler.
Eis a nota de uso:
“Peruse” significava ‘ler cuidadosamente’... Mas com frequência é usado mais livremente significando simplesmente ‘ler’... Sua extensão para 'passar os olhos’, ‘varrer com os olhos’, tradicionalmente tem sido considerada um erro. Mas nossa pesquisa de opinião sugerem que está se tornando mais aceitável. Indagados sobre a sentença "Eu tive apenas um momento para “peruse” o manual rapidamente,” 66% do Painel [de Uso] a consideraram inaceitável em 1988, 58% em 1999, e 48% em 2011.
Ah, o Painel de Uso, esse corpo confiável de autoridades linguísticas que está ficando mais tolerante sobre esse assunto. Espero que agora estejam pensando: "Um momento. Quem está no Painel de Uso? E o que eu devo fazer com suas declarações?” Se olharem as páginas preliminares do American Heritage Dictionaries, vocês encontrarão os nomes das pessoas do Painel de Uso. Mas quem lê as páginas preliminares dos dicionários? São mais de 200 pessoas no Painel de Uso. Ali estão acadêmicos, jornalistas, escritores. Há um membro da Suprema Corte de Justiça e alguns linguistas. Desde 2005, eu estou incluída nessa lista. (Aplausos)
Eis o que podemos fazer por você. Podemos dar-lhes uma percepção da amplitude de opiniões sobre o uso controverso. Esse é e deve ser o limite de nossa autoridade. Não somos uma academia de línguas. Uma vez por ano, eu recebo uma cédula de pesquisa que procura saber se novos usos, novas pronúncias, novos significados são aceitáveis.
Antes de preencher a cédula o que eu faço é ouvir o que as pessoas falam e o que escrevem. Não levo em conta as minhas preferências nem o que me desagrada na língua inglesa. Serei franca com vocês: eu não gosto da palavra “impactful”, mas não existe um meio termo no que se refere a “impactful” estar entrando em uso e tornando-se cada vez mais aceitável na prosa escrita. Para inspirar confiança, o que eu faço é verificar o uso, o que frequentemente envolve fazer pesquisa em bancos de dados online como o Google Books. Se procurarem por "impactful” no Google Books, Eis o que encontrarão. Parece que “impactful” provou-se útil para um certo número de escritores e vem sendo cada vez mais útil nos últimos 20 anos.
Haverá mudanças no idioma, que não agradarão a todos nós. Ocorrerão mudanças que os farão ponderar: "É isso mesmo?” A língua precisa se modificar dessa forma? O que eu estou dizendo é que deveríamos ir mais devagar para decidir se aquela mudança é terrível. Deveríamos ser menos apressados em impor nossas preferências e desagrados por palavras a outras pessoas e sermos completamente relutantes em pensar que língua inglesa tem problemas. Ela não tem. É rica e vibrante e plena de criatividade das pessoas que a falam. Fazendo um retrospecto, eu acho fascinante que a palavra “nice” costumava significar ‘bobo’. que “decimate” queria dizer ‘matar um em cada dez’. (Risos) Achamos que Benjamin Franklin estava bancando o bobo em se preocupar como o uso de “notice” como um verbo. Sabem de uma coisa? Vamos parecer bastante tolos dentro de cem anos por nos incomodarmos em usar “impact” como um verbo e “invite” como um substantivo. A língua não vai mudar tão rapidamente assim a ponto de não podermos acompanhar. Não é assim que o idioma funciona. Espero que vocês não considerem que as mudanças do idioma sejam preocupantes e sim divertidas e fascinantes, exatamente como o fazem os editores de dicionário. Espero que possam gostar de fazer parte da criatividade que está reconstruindo continuamente nossa língua e mantendo-a robusta.
Então, como uma palavra entra para um dicionário? Ela entra porque nós a usamos e continuamos a usá-la e os editores de dicionário estão prestando atenção em nós. Se vocês estão pensando: "Mas isso deixa que todos nós decidamos qual é o significado das palavras.” Eu diria: “É verdade e sempre foi assim.” Os dicionários são guia e fonte maravilhosos mas destituídos de autoridade para arbitrar o significado das palavras. Se uma comunidade de falantes está usando uma palavra e sabe o seu significado, ela é real. Essa palavra pode ser uma gíria, pode ter uso informal, pode ser uma palavra que você imagine ser ilógica ou desnecessária. Mas essa palavra que nós estamos usando, essa palavra é real.
Obrigada.
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Vou deixar esse artigo salvo para cada tonto qu reclamar de gênero Neutro
ResponderExcluirEu vou deixar essa matéria Salva para cada tonto que reclamar de gênero Neutro!
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