A atração do vírus por neurônios, capaz de provocar anomalias em crianças, pode ser uma arma eficaz no combate a uma forma grave de tumor ce...
A atração do vírus por neurônios, capaz de provocar anomalias em crianças, pode ser uma arma eficaz no combate a uma forma grave de tumor cerebral em adultos.
O vírus da Zika é o terror das gestantes que, além de ácido fólico e do solzinho da manhã, recentemente passaram a incluir mosquiteiros e repelentes no rol dos cuidados na gravidez, uma vez que o mosquito aedes aegypti é o principal vetor de disseminação dessa virose que pode causar microcefalia.
Todavia, cientistas do laboratório Inovare, da faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostraram que essa história tem um reverso. Eles descobriram que o vírus da Zika pode ajudar a tratar pacientes com câncer no cérebro, conforme trabalho divulgado recentemente, justamente por sua predileção por neurônios. Em especial, aqueles que estão se multiplicando intensamente, como as células nervosas do cérebro em formação dos bebês.
E esse efeito ocorre, segundo o trabalho publicado em um periódico científico americano, devido ao encontro do vírus da Zika com a célula do câncer, que acaba por produzir a digoxina como resultado do nosso sistema de defesa trabalhando. Essa substância já é conhecida e usada no tratamento de doenças cardíacas e possibilitou a eliminação das células tumorais.
A digoxina abre e fecha a entrada que permite a admissão de substâncias em nossa células. Os estudiosos perceberam que quando houve a infecção do vírus da Zika nas células do glioblastoma – o mais comum dos tumores malignos do cérebro – a quantidade de digoxina aumentou bastante. E é a descoberta dessa substância e a sua forma de atuação que diferencia o trabalho brasileiro de outras pesquisas anteriores, como o trabalho publicado em setembro de 2017 por pesquisadores da Universidade de Washington, EUA.
Para verificar a validade da hipótese levantada, os pesquisadores americanos dividiram cobaias com glioblastoma em dois grupos: 18 camundongos foram infectados com o vírus da Zika e outros 15 receberam uma solução salina sem vírus ativos. As injeções foram aplicadas diretamente no tumor.
Nas cobaias que receberam o vírus da Zika, a injeção diminuiu o crescimento do tumor e prolongou significativamente a vida útil dos animais.
O glioblastoma é normalmente uma doença tratada com radioterapia e quimioterapia e até mesmo cirurgia, mas sem efeitos prolongados. Porém, mesmo com o tratamento, algumas células-troncos associadas ao tumor costumam sobreviver e “driblam” o sistema imunológico. Com isso, o tumor volta cerca de seis meses depois. E menos de 5% dos pacientes sobrevivem mais do que cinco anos à doença.
Outro estudo, divulgado em maio de 2017 pela BBC, cientistas da Universidade de Cambrigde, no Reino Unido, iriam testar o efeito do vírus sobre o glioblastoma. Isso porque, segundo eles, os tratamentos existentes contra o glioblastoma são limitados por causa da incapacidade de atravessar a barreira hematoencefálica - estrutura que atua principalmente para proteger o sistema nervoso central - e do fato de que as doses devem ser mantidas baixas para evitar danos ao tecido saudável.
O vírus da Zika, por sua vez, consegue atravessar a barreira hematoencefálica e poderia atingir as células cancerosas, poupando o tecido cerebral adulto normal e abrindo assim uma nova possibilidade de atacar a doença.
Se o leitor reparar estamos falando de instituições diferentes fazendo uma pesquisa semelhante. Isso é uma boa notícia para quem precisa de uma terapia com um protocolo devidamente verificado e aprovado o mais rápido possível. Também é uma boa notícia o fato da pesquisa brasileira estar sendo feita na Unicamp, uma universidade ESTADUAL de São Paulo. Isso porque devido ao arrocho imposto pelo governo federal à ciência brasileira, se esse estudo estivesse em uma universidade federal, talvez essa corrida já estivesse perdida.
Fonte: BBC, Bem Estar - G1, G1
[Visto no Brasil Acadêmico]
O vírus da Zika é o terror das gestantes que, além de ácido fólico e do solzinho da manhã, recentemente passaram a incluir mosquiteiros e repelentes no rol dos cuidados na gravidez, uma vez que o mosquito aedes aegypti é o principal vetor de disseminação dessa virose que pode causar microcefalia.
Todavia, cientistas do laboratório Inovare, da faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostraram que essa história tem um reverso. Eles descobriram que o vírus da Zika pode ajudar a tratar pacientes com câncer no cérebro, conforme trabalho divulgado recentemente, justamente por sua predileção por neurônios. Em especial, aqueles que estão se multiplicando intensamente, como as células nervosas do cérebro em formação dos bebês.
“As células do bebê têm uma alta taxa de proliferação. Parecida com as do câncer, que nada mais é do que uma doença que está se proliferando de forma descontrolada. E as células saudáveis, não. Então ele protegeria as células normais do adulto, mas eliminaria apenas as células do câncer, tornando um tratamento mais específico do que uma quimioterapia.”
Estela de Oliveira Lima, pesquisadora
E esse efeito ocorre, segundo o trabalho publicado em um periódico científico americano, devido ao encontro do vírus da Zika com a célula do câncer, que acaba por produzir a digoxina como resultado do nosso sistema de defesa trabalhando. Essa substância já é conhecida e usada no tratamento de doenças cardíacas e possibilitou a eliminação das células tumorais.
A digoxina abre e fecha a entrada que permite a admissão de substâncias em nossa células. Os estudiosos perceberam que quando houve a infecção do vírus da Zika nas células do glioblastoma – o mais comum dos tumores malignos do cérebro – a quantidade de digoxina aumentou bastante. E é a descoberta dessa substância e a sua forma de atuação que diferencia o trabalho brasileiro de outras pesquisas anteriores, como o trabalho publicado em setembro de 2017 por pesquisadores da Universidade de Washington, EUA.
“Nós nos questionamos se a preferência do vírus zika por células neurais poderia ser usada contra as células do glioblastoma.” Michael Diamond, pesquisador da Universidade de Washington, em nota
Para verificar a validade da hipótese levantada, os pesquisadores americanos dividiram cobaias com glioblastoma em dois grupos: 18 camundongos foram infectados com o vírus da Zika e outros 15 receberam uma solução salina sem vírus ativos. As injeções foram aplicadas diretamente no tumor.
Nas cobaias que receberam o vírus da Zika, a injeção diminuiu o crescimento do tumor e prolongou significativamente a vida útil dos animais.
O glioblastoma é normalmente uma doença tratada com radioterapia e quimioterapia e até mesmo cirurgia, mas sem efeitos prolongados. Porém, mesmo com o tratamento, algumas células-troncos associadas ao tumor costumam sobreviver e “driblam” o sistema imunológico. Com isso, o tumor volta cerca de seis meses depois. E menos de 5% dos pacientes sobrevivem mais do que cinco anos à doença.
Outro estudo, divulgado em maio de 2017 pela BBC, cientistas da Universidade de Cambrigde, no Reino Unido, iriam testar o efeito do vírus sobre o glioblastoma. Isso porque, segundo eles, os tratamentos existentes contra o glioblastoma são limitados por causa da incapacidade de atravessar a barreira hematoencefálica - estrutura que atua principalmente para proteger o sistema nervoso central - e do fato de que as doses devem ser mantidas baixas para evitar danos ao tecido saudável.
O vírus da Zika, por sua vez, consegue atravessar a barreira hematoencefálica e poderia atingir as células cancerosas, poupando o tecido cerebral adulto normal e abrindo assim uma nova possibilidade de atacar a doença.
Se o leitor reparar estamos falando de instituições diferentes fazendo uma pesquisa semelhante. Isso é uma boa notícia para quem precisa de uma terapia com um protocolo devidamente verificado e aprovado o mais rápido possível. Também é uma boa notícia o fato da pesquisa brasileira estar sendo feita na Unicamp, uma universidade ESTADUAL de São Paulo. Isso porque devido ao arrocho imposto pelo governo federal à ciência brasileira, se esse estudo estivesse em uma universidade federal, talvez essa corrida já estivesse perdida.
Fonte: BBC, Bem Estar - G1, G1
[Visto no Brasil Acadêmico]
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