Richard Baraniuk, professor da Rice University, explica a visão por trás do Connexions, seu sistema educacional online de código aberto. O p...
Richard Baraniuk, professor da Rice University, explica a visão por trás do Connexions, seu sistema educacional online de código aberto. O projeto abandona o livro didático e permite aos professores compartilhar e modificar os materiais livremente, em qualquer lugar do mundo.
Eu sou Richard Baraniuk. E eu gostaria de falar um pouco hoje sobre algumas idéias que acho que têm uma tremenda ressonância com todas as coisas que foram faladas nos últimos dois dias. De fato, tantos pontos diferentes de ressonância que vai ser difícil falar sobre todos eles, mas tentarei fazer o melhor possível.
Alguém se lembra disso?
(Risos)
Ok, são discos de vinil e foram substituídos, certo? Foram varridos nas últimas duas décadas por esses tipos de tecnologias que achatam o mundo digitalmente, certo. E eu acho que isso pode ser melhor testemunhado quando Tomas estava tocando conforme entramos na sala hoje, O que aconteceu no mundo da música é que há uma cultura ou um ecossistema que foi criado que, se você pegar algumas palavras da Apple, a frase de efeito que criamos, “copiamos, misturamos e queimamos”. Quero dizer com isso que qualquer um no mundo é livre e tem permissão para criar música e idéias novas. Qualquer um no mundo tem permissão para extrair ou copiar idéias musicais, usá-las de formas inovadoras. Todo mundo tem permissão de misturá-las de formas diferentes, estabelecer conexões entre idéias musicais e as pessoas podem gravá-las ou criar produtos finais e continuar o círculo. E o que é feito criou, como eu disse, uma comunidade vibrante que é muito inclusiva com as pessoas trabalhando continuamente para conectar idéias musicais, inová-las e manter as coisas constantemente atualizadas. O sucesso de hoje não é o sucesso do ano passado, ok.
Mas, não estou aqui para falar de música hoje. Estou aqui para falar de livros, ok. Em particular, livros didáticos e o tipo de materiais educacionais que usamos todos os dias na escola. Alguém aqui já foi à escola?
(Risos)
Ok, alguém percebe que há uma crise em nossas escolas, em todo o mundo? Eu espero não ter que passar muito tempo falando sobre isso, mas o que eu quero falar é a respeito de algumas das lacunas que aparecem quando um autor publica um livro de fato, o processo de publicação - só pelo fato de que é complicado, é pesado, livros são caros - cria uma espécie de muro entre autores de livros e os usuários finais dos livros, sejam eles professores, alunos ou apenas leitores comuns. E isto é ainda mais verdadeiro se você falar uma língua outra, que não uma das línguas mais faladas no mundo, em especial o inglês. Vou chamar essas pessoas de abaixo da “Barreira de Excluídos”, porque eles de farto são excluídos do processo de serem capazes de compartilhar seu conhecimento com o mundo. E então, o que eu quero discutir hoje é tentar pegar essas idéias, certo, que temos visto na cultura musical e tentar trazê-las na direção de reinventar a forma como pensamos sobre escrever livros, usá-los e ensinar a partir deles, ok? Então, é disso que gostaria falar sobre e na verdade, de como iremos, onde estamos e, para onde precisamos ir?
Então, a primeira coisa que gostaria de fazer é uma pequena experiência de raciocínio. Imaginem pegar todos os livros do mundo. Ok, todos imaginem livros e imaginem arrancar as páginas. Então, liberando essas páginas, e imaginem digitalizá-las, certo, e então armazená-las num vasto repositório global interconectado. Pense nisso como um massivo iTunes, para conteúdos como livros. E então peguem esse material e imaginem torná-lo aberto, as pessoas podem modificá-lo, brincar com ele, melhorá-lo. Imaginem torná-lo livre, então qualquer um no mundo pode ter acesso a todo esse conhecimento e imaginem usar tecnologia da informação de modo que você possa atualizar este conteúdo, melhorá-lo, brincar com ele, em uma escala de tempo da ordem de segundos em vez de anos. Ok, em vez de edições a cada dois anos, imaginem um livro saindo a cada 25 segundos.
Então, imaginem que possamos fazer isso e imaginem que possamos colocar as pessoas nisso, certo? Daí poderíamos verdadeiramente construir um ecossistema não apenas com autores, mas todas pessoas que pudessem ou quisessem ser autores em todos os diferentes idiomas do mundo, e eu acho que se vocês pudessem fazer isso, seria chamado de, bem, vou chamar apenas de ecossistema de conhecimento. Então, realmente, esse é o sonho no sentido que você pode pensar nele como a tentativa de habilitar qualquer pessoa no mundo, quero dizer, qualquer um no mundo a ser seu próprio DJ educacional, criando materiais educacionais, compartilhando-os com o mundo, constantemente inovando-os. Então, esse é o sonho.
De fato, esse sonho está sendo realizado, certo. Nos últimos seis anos e meio, estivemos trabalhando muito duro na Rice University em um projeto chamado Connections, então o que gostaria de fazer no resto da palestra é contar a vocês um pouco sobre o que as pessoas estão fazendo com o Connections, que você pode pensar como um contraponto à palestra de Nicholas Negroponte ontem, onde estão trabalhando no hardware de trazer educação para o mundo. Estamos trabalhando nas ferramentas de código aberto e o conteúdo, ok? Então, isso é meio para ser posto em perspectiva aqui.
Então,“criar”: quem são pessoas que estão usando esses tipos de ferramentas? Bom, a primeira coisa é que há uma comunidade de professores de engenharia, de Cambridge a Kioto, que está desenvolvendo conteúdo de engenharia em engenharia elétrica para desenvolver o que você pode imaginar como um super livro didático massivo, certo, que cobre toda a área de engenharia elétrica e não apenas isso, ele pode ser customizado para uso em cada uma das instituições individuais. Se pessoas como Kitty Jones - uma excluída - uma professora de música particular e mãe em Champagne, Illinois, que quis compartilhar seu fantástico conteúdo musical com o mundo, sobre como ensinar crianças a tocar. O material dela é agora usado 600.000 vezes por mês. Tremendo, tremendo uso. De fato, muito desse uso vem dos EUA, de escolas primárias porque qualquer um que está envolvido com escola sabe a primeira coisa que é cortada é o currículo musical então isso apenas indica uma tremenda sede para esse tipo de conteúdo aberto, livre. Muitos professores estão usando esse material. Ok, e sobre “ripar”(extrair)?
E quanto a copiar, reutilizar, certo? Uma equipe de voluntários na Universidade do Texas - El Paso alunos de graduação traduzindo essas idéias engenhosas de super livros didáticos e dentro de uma semana, isto torna-se um dos nossos materiais mais populares com uso disseminado em toda a América Latina, em particular no México, por causa da natureza aberta e extensível disso. Pessoas, voluntários e até empresas que estão traduzindo materiais para línguas asiáticas como chinês, japonês e tailandês, para disseminar mais ainda o conhecimento.
Ok, e as pessoas que estão mixando? O que significa mixar? Mixar significa construir cursos customizados, significa construir livros customizados. Empresas como a National Instruments, que estão colocando simulações interativas muito poderosas nos materiais, para que possamos ir além do nosso tipo regular de livro didático para uma experiência em que todos os materiais de ensino, você possa realmente interagir e brincar com eles e aprender conforme o faz.
Estivemos trabalhando com os Professores Sem Fronteiras que estão muito interessados em mixar nossos materiais. Eles irão utilizar o Connections como sua plataforma para desenvolver e entregar materiais de ensino para ensinar os professores como ensinar em 84 países ao redor do mundo. Eles estão atualmente no Iraque, treinando 20.000 professores com apoio da USAID e para eles, essa idéia de ser capaz de remixar e customizar o contexto local é extraordinariamente importante, porque apenas fornecer conteúdo livre para as pessoas tem sido relacionado pelas pessoas no mundo em desenvolvimento a um tipo de imperialismo cultural, que se você não dá poder às pessoas com a habilidade de re-contextualizar o material, traduzí-lo para seu próprio idioma e tomar posse dele, não é bom. Ok, outras organizações com as quais estamos trabalhando, UC Merced, as pessoas conhecem UC Merced. É uma nova universidade na Califórnia, no vale central trabalhando junto as faculdades comunitárias Estão de fato desenvolvendo muito de seu currículo de ciências e engenharia para disseminar amplamente no mundo em nosso sistema também tentam desenvolver todas suas ferramentas de software completamente em código aberto. Estamos trabalhando com a AMD que tem um projeto chamado 50 até 15. o qual está tentando trazer a conectividade da internet para 50 por cento da população mundial até 2015. Iremos fornecer conteúdo para eles em uma gama completa de idiomas diferentes, e também estamos trabalhando com várias outras organizações. Em particular, muitos dos projetos que são custeados pela Fundação Hewlett, que assumiu um verdadeiro papel de liderança nessa área de conteúdo aberto.
Ok, queimar (gravar), eu acho que isso é bem interessante. “Queimar” é a idéia de criar uma instância física desses cursos e acho que muitos de vocês receberam, acho que todos vocês receberam um desses livros musicais no pacote. Um presentinho para você. Só para falar disso rapidamente, este é um livro de engenharia. Tem cerca de 300 páginas, capa dura. Isto custa, alguém adivinha? Quanto custaria numa livraria?
Platéia: 65 dólares.
Richard Baraniuk: Isso custa 22 dólares para o aluno. Por que custa 22 dólares? Porque é publicado sob demanda e é desenvolvido desse repositório de materiais abertos. Se este livro fosse publicado por uma editora comum, custaria pelo menos 122 dólares.
Ok, então o que estamos vendo é essa 'queimação' ou processo de publicação do tipo comum de autor único, livro autorado, indo em direção a materiais de autoria comunitária que são modulares, que são customizados para cada classe separadamente e publicados sob demanda bem baratos, mesmo os publicados através da Amazon, certo, ou publicados diretamente por meio de uma gráfica sob demanda, como a Coop. E penso que essa é uma área extraordinariamente interessante porque há uma tremenda área sob essa longa cauda em publicações. Não estamos falando sobre o fim de Harry Potter, no lado esquerdo. Estamos falando de livros sobre equações diferenciais parciais hiper-geométricas. Certo, livros que poderiam vender 100 cópias por ano, 1000 cópias por ano. Há uma incrível receita de sustento, certo, sob essa longa cauda, para sustentar projetos abertos como o nosso, mas também para sustentar essa nova emergência de editoras sob demanda como a Coop que produziu estes dois livros, e acho que uma das coisas que vocês devem levar desta palestra, é que o homem médio se defrontará com algo iminente, certo? Desintermediação. Isto vai acontecer na indústria editorial e vai atingir um crescendo nos próximos anos, e penso que é realmente para nosso benefício, para o benefício do mundo.
Ok, então o que são os possibilitadores? O que está realmente fazendo tudo isso acontecer? Há toneladas de tecnologia, e a única tecnologia sobre a qual realmente quero falar é XML. quantas pessoas sabem o que é XML? Ótimo, então é o futuro da web, certo? É a representação semântica de comentário, conteúdo, e o que você pode realmente pensar de XML, neste caso, é que é a embalagem que colocamos nessas páginas. Lembram-se que pegamos o livro e arrancamos as páginas? Bom, o que o XML vai fazer é basicamente - transformar essas páginas em blocos de Lego, certo. XML são as saliências dos blocos de Lego que nos permitem combinar o conteúdo em uma miríade de formas diferentes e nos fornece uma estrutura para compartilhar conteúdo. Então, isto deixa você pegar este ecossistema, certo, em seu estágio primordial, todo este conteúdo, todas as páginas que você arrancou de livros e criar máquinas de ensino altamente sofisticadas, certo? Livros, cursos, pacotes de cursos, ok.
Dá a você a capacidade de personalizar a experiência de aprendizado para cada aluno individualmente, certo, então cada aluno pode ter um livro ou curso que é customizado para seu estilo de aprendizado, seus contextos, seu idioma e todas as coisas que o estimulam. Deixa você reutilizar os mesmos materiais de múltiplas formas diferentes, de formas novas e surpreendentes. Deixa você interconectar idéias indicando como os campos se relacionam uns aos outros, e eu vou apenas contar minha história pessoal. Aparecemos com isso, seis anos e meio atrás porque eu ensino a coisa na caixa vermelha,
E meu emprego diurno, como Chris diz, é professor de engenharia elétrica. Eu ensino processamento de sinais e meu desafio era mostrar que essa matemática - uau, pelo menos metade de vocês caiu no sono só de olhar as equações -
(Risos)
mas aparentemente matemática pura é de fato o centro dessa rede tremendamente poderosa que liga tecnologia - que liga aplicativos bem legais como sintetizadores musicais até tremendas oportunidades econômicas, mas também governadas por propriedade intelectual. E o que percebi foi que não havia maneira de eu, certo, como engenheiro, poder escrever esse livro que cobrisse tudo isso. Precisávamos de uma comunidade para fazê-lo e precisávamos de novas ferramentas para conseguirmos interconectar essas ideias. e acho que realmente, de certa forma, o que estávamos tentando fazer era tornar o sonho de Minsksy realidade, onde você pode imaginar todos os livros numa biblioteca de fato começando a conversar uns com os outros, certo, e as pessoas que são professores aí fora quem quer que ensine, vocês sabem disso. É da interconexão de idéias que verdadeiramente se trata o ensinar.
Ok, de volta à matemática, imagine, isso é possível. Que cada simples equação que você clicar em um dos seus novos e-textos é algo que você vai conseguir explorar e fazer experimentos com ela. Agora, imagine o livro de álgebra do seu filho, no sétimo ano. Você pode clicar em cada equação fazendo surgir uma pequena ferramenta e ser capaz de experimentá-la, experimentar com ela, entendê-la, porque nós não entendemos realmente até que o façamos. O mesmo tipo de marcador, como mathML, para química. Imagine livros de química para entender realmente a estrutura de como as moléculas são formadas. Imagine música XML que realmente deixa você mergulhar na estrutura semântica da música, brincar com ela, entendê-la. Não admira que todos estejam aderindo, certo? Mesmo os três reis magos
(Risos)
Ok, o segundo grande possibilitador, e aqui foi onde contei uma grande mentira. O segundo grande possibilitador é propriedade intelectual, porque de fato eu subi aqui e falei sobre como a cultura musical é ótima. Podemos compartilhar e ripar, mixar e queimar, mas de fato isso é tudo ilegal. Certo, e seríamos acusados de pirataria por fazê-lo, porque essa música tem sido privatizada. Agora é propriedade, a maior parte, de grandes indústrias. Então, a coisa chave aqui é que não podemos deixar isso acontecer. Não podemos deixar essa coisa de “Napster” acontecer aqui. Então, o que temos é que fazer certo desde o começo e o que temos que fazer é encontrar uma estrutura de propriedade intelectual que torne o compartilhar seguro, e torne-a facilmente compreensível, e a inspiração aqui é tomada dos software de código aberto, coisas como Linux e GPL.
E as idéias, as licenças creative commons. Quantas pessoas ouviram falar dessas licenças? Se vocês não ouviram, devem procurar conhecer. Creativecommons.org. Na parte de baixo de cada material no Connections e em muitos outros projetos, você encontra o logo deles. Clicando no logo leva você a um documento sem absurdos, legível por humanos, que mostra a você exatamente o que você pode fazer com esse conteúdo. De fato, você tem a liberdade de compartilhar, de fazer todas essas coisas, copiar, mudar, mesmo fazer uso comercial dele desde que você cite a autoria. Porque nas publicações acadêmicas e em grande parte das publicações educacionais, é realmente essa idéia de compartilhar conhecimento, e criar impacto, é por isso que as pessoas escrevem, não necessariamente para fazer grana. Não estamos falando de Harry Potter, certo? Estamos no fim da cauda longa aqui. Por trás está código legal, certo, então se você quiser construir cuidadosamente, e creative commons está decolando, certo. Mais de 43 milhões de coisas, licenciadas com uma licença da creative commons. Não apenas textos, mas música, imagens, vídeo e há de fato uma tremenda percepção do número de pessoas que na prática estão licenciando música para torná-la livre para que as pessoas façam toda essa idéia de re-sampling “ripar, mixar, queimar e compartilhar”.
Então gostaria de concluir com alguns pontos finais. Então, construímos essa idéia de commons. As pessoas estão usando. Temos mais de 500.000 visitantes por mês, apenas nosso site. Os cursos abertos do MIT, que é outro grande website de conteúdo aberto, têm um número de visitas semelhantes, mas como protegemos isso? Como protegemos no futuro e a primeira coisa que as pessoas provavelmente estão pensando é controle de qualidade, certo? Porque dizemos que qualquer um pode contribuir com coisas para o commons. Qualquer um pode contribuir com qualquer coisa, e isso poderia ser um problema.
Então, não levou muito tempo, até as pessoas começarem a contribuir com materiais, por exemplo, sobre lingerie, o qual é de fato um módulo muito bom. O único problema é que seja plagiado, de um grande jornal feminista francês e quando você vai para o suposto website do curso, ele te leva a um website de venda de lingerie,ok? Então, isso é um pouco problemático, então claramente precisamos de algum tipo de idéia de controle de qualidade e eis de onde surge a idéia de revisão e revisão por pares. Ok, vocês vieram ao TED. Por que vocês vem ao TED? Porque Chris e sua equipe garantiram que as coisas são de altíssima qualidade, então precisamos conseguir fazer a mesma coisa. E precisamos ser capazes de projetar estruturas e o que estamos fazendo é projetar software social para habilitar qualquer um a construir os próprios processos de revisão por pares e chamamos isso de lentes e basicamente o que elas permitem é que qualquer pessoa desenvolva seu próprio processo de revisão por seus pares, de forma que possam focar no conteúdo no repositório que pensam ser realmente importante e você pode pensar no TED como lentes em potencial.
Então eu gostaria de terminar dizendo, que vocês podem ver isso realmente como um chamado à ação. O Conexões e conteúdo aberto são sobre compartilhar conhecimento. Todos vocês aqui estão tremendamente imbuídos com tremendas quantidades de conhecimento e o que gostaria de fazer é convidar cada um de vocês a contribuir com esse projeto e outros projetos do tipo, porque eu acho que juntos podemos verdadeiramente mudar a paisagem da educação e das publicações educacionais.
Então, muito obrigado.
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Eu sou Richard Baraniuk. E eu gostaria de falar um pouco hoje sobre algumas idéias que acho que têm uma tremenda ressonância com todas as coisas que foram faladas nos últimos dois dias. De fato, tantos pontos diferentes de ressonância que vai ser difícil falar sobre todos eles, mas tentarei fazer o melhor possível.
Alguém se lembra disso?
(Risos)
Ok, são discos de vinil e foram substituídos, certo? Foram varridos nas últimas duas décadas por esses tipos de tecnologias que achatam o mundo digitalmente, certo. E eu acho que isso pode ser melhor testemunhado quando Tomas estava tocando conforme entramos na sala hoje, O que aconteceu no mundo da música é que há uma cultura ou um ecossistema que foi criado que, se você pegar algumas palavras da Apple, a frase de efeito que criamos, “copiamos, misturamos e queimamos”. Quero dizer com isso que qualquer um no mundo é livre e tem permissão para criar música e idéias novas. Qualquer um no mundo tem permissão para extrair ou copiar idéias musicais, usá-las de formas inovadoras. Todo mundo tem permissão de misturá-las de formas diferentes, estabelecer conexões entre idéias musicais e as pessoas podem gravá-las ou criar produtos finais e continuar o círculo. E o que é feito criou, como eu disse, uma comunidade vibrante que é muito inclusiva com as pessoas trabalhando continuamente para conectar idéias musicais, inová-las e manter as coisas constantemente atualizadas. O sucesso de hoje não é o sucesso do ano passado, ok.
Mas, não estou aqui para falar de música hoje. Estou aqui para falar de livros, ok. Em particular, livros didáticos e o tipo de materiais educacionais que usamos todos os dias na escola. Alguém aqui já foi à escola?
(Risos)
Ok, alguém percebe que há uma crise em nossas escolas, em todo o mundo? Eu espero não ter que passar muito tempo falando sobre isso, mas o que eu quero falar é a respeito de algumas das lacunas que aparecem quando um autor publica um livro de fato, o processo de publicação - só pelo fato de que é complicado, é pesado, livros são caros - cria uma espécie de muro entre autores de livros e os usuários finais dos livros, sejam eles professores, alunos ou apenas leitores comuns. E isto é ainda mais verdadeiro se você falar uma língua outra, que não uma das línguas mais faladas no mundo, em especial o inglês. Vou chamar essas pessoas de abaixo da “Barreira de Excluídos”, porque eles de farto são excluídos do processo de serem capazes de compartilhar seu conhecimento com o mundo. E então, o que eu quero discutir hoje é tentar pegar essas idéias, certo, que temos visto na cultura musical e tentar trazê-las na direção de reinventar a forma como pensamos sobre escrever livros, usá-los e ensinar a partir deles, ok? Então, é disso que gostaria falar sobre e na verdade, de como iremos, onde estamos e, para onde precisamos ir?
Então, a primeira coisa que gostaria de fazer é uma pequena experiência de raciocínio. Imaginem pegar todos os livros do mundo. Ok, todos imaginem livros e imaginem arrancar as páginas. Então, liberando essas páginas, e imaginem digitalizá-las, certo, e então armazená-las num vasto repositório global interconectado. Pense nisso como um massivo iTunes, para conteúdos como livros. E então peguem esse material e imaginem torná-lo aberto, as pessoas podem modificá-lo, brincar com ele, melhorá-lo. Imaginem torná-lo livre, então qualquer um no mundo pode ter acesso a todo esse conhecimento e imaginem usar tecnologia da informação de modo que você possa atualizar este conteúdo, melhorá-lo, brincar com ele, em uma escala de tempo da ordem de segundos em vez de anos. Ok, em vez de edições a cada dois anos, imaginem um livro saindo a cada 25 segundos.
Então, imaginem que possamos fazer isso e imaginem que possamos colocar as pessoas nisso, certo? Daí poderíamos verdadeiramente construir um ecossistema não apenas com autores, mas todas pessoas que pudessem ou quisessem ser autores em todos os diferentes idiomas do mundo, e eu acho que se vocês pudessem fazer isso, seria chamado de, bem, vou chamar apenas de ecossistema de conhecimento. Então, realmente, esse é o sonho no sentido que você pode pensar nele como a tentativa de habilitar qualquer pessoa no mundo, quero dizer, qualquer um no mundo a ser seu próprio DJ educacional, criando materiais educacionais, compartilhando-os com o mundo, constantemente inovando-os. Então, esse é o sonho.
De fato, esse sonho está sendo realizado, certo. Nos últimos seis anos e meio, estivemos trabalhando muito duro na Rice University em um projeto chamado Connections, então o que gostaria de fazer no resto da palestra é contar a vocês um pouco sobre o que as pessoas estão fazendo com o Connections, que você pode pensar como um contraponto à palestra de Nicholas Negroponte ontem, onde estão trabalhando no hardware de trazer educação para o mundo. Estamos trabalhando nas ferramentas de código aberto e o conteúdo, ok? Então, isso é meio para ser posto em perspectiva aqui.
Então,“criar”: quem são pessoas que estão usando esses tipos de ferramentas? Bom, a primeira coisa é que há uma comunidade de professores de engenharia, de Cambridge a Kioto, que está desenvolvendo conteúdo de engenharia em engenharia elétrica para desenvolver o que você pode imaginar como um super livro didático massivo, certo, que cobre toda a área de engenharia elétrica e não apenas isso, ele pode ser customizado para uso em cada uma das instituições individuais. Se pessoas como Kitty Jones - uma excluída - uma professora de música particular e mãe em Champagne, Illinois, que quis compartilhar seu fantástico conteúdo musical com o mundo, sobre como ensinar crianças a tocar. O material dela é agora usado 600.000 vezes por mês. Tremendo, tremendo uso. De fato, muito desse uso vem dos EUA, de escolas primárias porque qualquer um que está envolvido com escola sabe a primeira coisa que é cortada é o currículo musical então isso apenas indica uma tremenda sede para esse tipo de conteúdo aberto, livre. Muitos professores estão usando esse material. Ok, e sobre “ripar”(extrair)?
E quanto a copiar, reutilizar, certo? Uma equipe de voluntários na Universidade do Texas - El Paso alunos de graduação traduzindo essas idéias engenhosas de super livros didáticos e dentro de uma semana, isto torna-se um dos nossos materiais mais populares com uso disseminado em toda a América Latina, em particular no México, por causa da natureza aberta e extensível disso. Pessoas, voluntários e até empresas que estão traduzindo materiais para línguas asiáticas como chinês, japonês e tailandês, para disseminar mais ainda o conhecimento.
Ok, e as pessoas que estão mixando? O que significa mixar? Mixar significa construir cursos customizados, significa construir livros customizados. Empresas como a National Instruments, que estão colocando simulações interativas muito poderosas nos materiais, para que possamos ir além do nosso tipo regular de livro didático para uma experiência em que todos os materiais de ensino, você possa realmente interagir e brincar com eles e aprender conforme o faz.
Estivemos trabalhando com os Professores Sem Fronteiras que estão muito interessados em mixar nossos materiais. Eles irão utilizar o Connections como sua plataforma para desenvolver e entregar materiais de ensino para ensinar os professores como ensinar em 84 países ao redor do mundo. Eles estão atualmente no Iraque, treinando 20.000 professores com apoio da USAID e para eles, essa idéia de ser capaz de remixar e customizar o contexto local é extraordinariamente importante, porque apenas fornecer conteúdo livre para as pessoas tem sido relacionado pelas pessoas no mundo em desenvolvimento a um tipo de imperialismo cultural, que se você não dá poder às pessoas com a habilidade de re-contextualizar o material, traduzí-lo para seu próprio idioma e tomar posse dele, não é bom. Ok, outras organizações com as quais estamos trabalhando, UC Merced, as pessoas conhecem UC Merced. É uma nova universidade na Califórnia, no vale central trabalhando junto as faculdades comunitárias Estão de fato desenvolvendo muito de seu currículo de ciências e engenharia para disseminar amplamente no mundo em nosso sistema também tentam desenvolver todas suas ferramentas de software completamente em código aberto. Estamos trabalhando com a AMD que tem um projeto chamado 50 até 15. o qual está tentando trazer a conectividade da internet para 50 por cento da população mundial até 2015. Iremos fornecer conteúdo para eles em uma gama completa de idiomas diferentes, e também estamos trabalhando com várias outras organizações. Em particular, muitos dos projetos que são custeados pela Fundação Hewlett, que assumiu um verdadeiro papel de liderança nessa área de conteúdo aberto.
Ok, queimar (gravar), eu acho que isso é bem interessante. “Queimar” é a idéia de criar uma instância física desses cursos e acho que muitos de vocês receberam, acho que todos vocês receberam um desses livros musicais no pacote. Um presentinho para você. Só para falar disso rapidamente, este é um livro de engenharia. Tem cerca de 300 páginas, capa dura. Isto custa, alguém adivinha? Quanto custaria numa livraria?
Platéia: 65 dólares.
Richard Baraniuk: Isso custa 22 dólares para o aluno. Por que custa 22 dólares? Porque é publicado sob demanda e é desenvolvido desse repositório de materiais abertos. Se este livro fosse publicado por uma editora comum, custaria pelo menos 122 dólares.
Ok, então o que estamos vendo é essa 'queimação' ou processo de publicação do tipo comum de autor único, livro autorado, indo em direção a materiais de autoria comunitária que são modulares, que são customizados para cada classe separadamente e publicados sob demanda bem baratos, mesmo os publicados através da Amazon, certo, ou publicados diretamente por meio de uma gráfica sob demanda, como a Coop. E penso que essa é uma área extraordinariamente interessante porque há uma tremenda área sob essa longa cauda em publicações. Não estamos falando sobre o fim de Harry Potter, no lado esquerdo. Estamos falando de livros sobre equações diferenciais parciais hiper-geométricas. Certo, livros que poderiam vender 100 cópias por ano, 1000 cópias por ano. Há uma incrível receita de sustento, certo, sob essa longa cauda, para sustentar projetos abertos como o nosso, mas também para sustentar essa nova emergência de editoras sob demanda como a Coop que produziu estes dois livros, e acho que uma das coisas que vocês devem levar desta palestra, é que o homem médio se defrontará com algo iminente, certo? Desintermediação. Isto vai acontecer na indústria editorial e vai atingir um crescendo nos próximos anos, e penso que é realmente para nosso benefício, para o benefício do mundo.
Ok, então o que são os possibilitadores? O que está realmente fazendo tudo isso acontecer? Há toneladas de tecnologia, e a única tecnologia sobre a qual realmente quero falar é XML. quantas pessoas sabem o que é XML? Ótimo, então é o futuro da web, certo? É a representação semântica de comentário, conteúdo, e o que você pode realmente pensar de XML, neste caso, é que é a embalagem que colocamos nessas páginas. Lembram-se que pegamos o livro e arrancamos as páginas? Bom, o que o XML vai fazer é basicamente - transformar essas páginas em blocos de Lego, certo. XML são as saliências dos blocos de Lego que nos permitem combinar o conteúdo em uma miríade de formas diferentes e nos fornece uma estrutura para compartilhar conteúdo. Então, isto deixa você pegar este ecossistema, certo, em seu estágio primordial, todo este conteúdo, todas as páginas que você arrancou de livros e criar máquinas de ensino altamente sofisticadas, certo? Livros, cursos, pacotes de cursos, ok.
Dá a você a capacidade de personalizar a experiência de aprendizado para cada aluno individualmente, certo, então cada aluno pode ter um livro ou curso que é customizado para seu estilo de aprendizado, seus contextos, seu idioma e todas as coisas que o estimulam. Deixa você reutilizar os mesmos materiais de múltiplas formas diferentes, de formas novas e surpreendentes. Deixa você interconectar idéias indicando como os campos se relacionam uns aos outros, e eu vou apenas contar minha história pessoal. Aparecemos com isso, seis anos e meio atrás porque eu ensino a coisa na caixa vermelha,
E meu emprego diurno, como Chris diz, é professor de engenharia elétrica. Eu ensino processamento de sinais e meu desafio era mostrar que essa matemática - uau, pelo menos metade de vocês caiu no sono só de olhar as equações -
(Risos)
mas aparentemente matemática pura é de fato o centro dessa rede tremendamente poderosa que liga tecnologia - que liga aplicativos bem legais como sintetizadores musicais até tremendas oportunidades econômicas, mas também governadas por propriedade intelectual. E o que percebi foi que não havia maneira de eu, certo, como engenheiro, poder escrever esse livro que cobrisse tudo isso. Precisávamos de uma comunidade para fazê-lo e precisávamos de novas ferramentas para conseguirmos interconectar essas ideias. e acho que realmente, de certa forma, o que estávamos tentando fazer era tornar o sonho de Minsksy realidade, onde você pode imaginar todos os livros numa biblioteca de fato começando a conversar uns com os outros, certo, e as pessoas que são professores aí fora quem quer que ensine, vocês sabem disso. É da interconexão de idéias que verdadeiramente se trata o ensinar.
Ok, de volta à matemática, imagine, isso é possível. Que cada simples equação que você clicar em um dos seus novos e-textos é algo que você vai conseguir explorar e fazer experimentos com ela. Agora, imagine o livro de álgebra do seu filho, no sétimo ano. Você pode clicar em cada equação fazendo surgir uma pequena ferramenta e ser capaz de experimentá-la, experimentar com ela, entendê-la, porque nós não entendemos realmente até que o façamos. O mesmo tipo de marcador, como mathML, para química. Imagine livros de química para entender realmente a estrutura de como as moléculas são formadas. Imagine música XML que realmente deixa você mergulhar na estrutura semântica da música, brincar com ela, entendê-la. Não admira que todos estejam aderindo, certo? Mesmo os três reis magos
(Risos)
Ok, o segundo grande possibilitador, e aqui foi onde contei uma grande mentira. O segundo grande possibilitador é propriedade intelectual, porque de fato eu subi aqui e falei sobre como a cultura musical é ótima. Podemos compartilhar e ripar, mixar e queimar, mas de fato isso é tudo ilegal. Certo, e seríamos acusados de pirataria por fazê-lo, porque essa música tem sido privatizada. Agora é propriedade, a maior parte, de grandes indústrias. Então, a coisa chave aqui é que não podemos deixar isso acontecer. Não podemos deixar essa coisa de “Napster” acontecer aqui. Então, o que temos é que fazer certo desde o começo e o que temos que fazer é encontrar uma estrutura de propriedade intelectual que torne o compartilhar seguro, e torne-a facilmente compreensível, e a inspiração aqui é tomada dos software de código aberto, coisas como Linux e GPL.
E as idéias, as licenças creative commons. Quantas pessoas ouviram falar dessas licenças? Se vocês não ouviram, devem procurar conhecer. Creativecommons.org. Na parte de baixo de cada material no Connections e em muitos outros projetos, você encontra o logo deles. Clicando no logo leva você a um documento sem absurdos, legível por humanos, que mostra a você exatamente o que você pode fazer com esse conteúdo. De fato, você tem a liberdade de compartilhar, de fazer todas essas coisas, copiar, mudar, mesmo fazer uso comercial dele desde que você cite a autoria. Porque nas publicações acadêmicas e em grande parte das publicações educacionais, é realmente essa idéia de compartilhar conhecimento, e criar impacto, é por isso que as pessoas escrevem, não necessariamente para fazer grana. Não estamos falando de Harry Potter, certo? Estamos no fim da cauda longa aqui. Por trás está código legal, certo, então se você quiser construir cuidadosamente, e creative commons está decolando, certo. Mais de 43 milhões de coisas, licenciadas com uma licença da creative commons. Não apenas textos, mas música, imagens, vídeo e há de fato uma tremenda percepção do número de pessoas que na prática estão licenciando música para torná-la livre para que as pessoas façam toda essa idéia de re-sampling “ripar, mixar, queimar e compartilhar”.
Então gostaria de concluir com alguns pontos finais. Então, construímos essa idéia de commons. As pessoas estão usando. Temos mais de 500.000 visitantes por mês, apenas nosso site. Os cursos abertos do MIT, que é outro grande website de conteúdo aberto, têm um número de visitas semelhantes, mas como protegemos isso? Como protegemos no futuro e a primeira coisa que as pessoas provavelmente estão pensando é controle de qualidade, certo? Porque dizemos que qualquer um pode contribuir com coisas para o commons. Qualquer um pode contribuir com qualquer coisa, e isso poderia ser um problema.
Então, não levou muito tempo, até as pessoas começarem a contribuir com materiais, por exemplo, sobre lingerie, o qual é de fato um módulo muito bom. O único problema é que seja plagiado, de um grande jornal feminista francês e quando você vai para o suposto website do curso, ele te leva a um website de venda de lingerie,ok? Então, isso é um pouco problemático, então claramente precisamos de algum tipo de idéia de controle de qualidade e eis de onde surge a idéia de revisão e revisão por pares. Ok, vocês vieram ao TED. Por que vocês vem ao TED? Porque Chris e sua equipe garantiram que as coisas são de altíssima qualidade, então precisamos conseguir fazer a mesma coisa. E precisamos ser capazes de projetar estruturas e o que estamos fazendo é projetar software social para habilitar qualquer um a construir os próprios processos de revisão por pares e chamamos isso de lentes e basicamente o que elas permitem é que qualquer pessoa desenvolva seu próprio processo de revisão por seus pares, de forma que possam focar no conteúdo no repositório que pensam ser realmente importante e você pode pensar no TED como lentes em potencial.
Então eu gostaria de terminar dizendo, que vocês podem ver isso realmente como um chamado à ação. O Conexões e conteúdo aberto são sobre compartilhar conhecimento. Todos vocês aqui estão tremendamente imbuídos com tremendas quantidades de conhecimento e o que gostaria de fazer é convidar cada um de vocês a contribuir com esse projeto e outros projetos do tipo, porque eu acho que juntos podemos verdadeiramente mudar a paisagem da educação e das publicações educacionais.
Então, muito obrigado.
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
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