No cruzamento entre invenção médica e cultura indígena, o pediatra e cardiologista Franz Freudenthal corrige buracos nos corações de criança...
No cruzamento entre invenção médica e cultura indígena, o pediatra e cardiologista Franz Freudenthal corrige buracos nos corações de crianças ao redor do mundo usando um dispositivo nascido nos tradicionais teares bolivianos. "Os problemas mais complexos da atualidade", diz ele, "podem ser resolvidos com técnicas muito simples, se formos capazes de sonhar".
Os problemas mais complexos da atualidade podem ser resolvidos com técnicas muito simples, se formos capazes de sonhar.
Quando era criança, descobri que criatividade era a chave para o sonho se tornar realidade. Aprendi isso com a minha avó, a doutora Ruth Tichauer, uma refugiada judia que decidiu morar no coração dos Andes. Foi assim que eu cresci: encorajado a ver além de qualquer limitação. Assim, parte da minha educação incluía ajudá-la em comunidades indígenas remotas. Eu valorizo aquelas lembranças, porque me ajudaram a entender como era a vida fora da cidade, uma vida cheia de possibilidades, sem barreiras como a língua ou a cultura.
Durante essas viagens, minha avó costumava recitar um poema do Kipling: "Algo escondido. Vá, e encontre. Vá e procure atrás das montanhas. Algo perdido atrás das montanhas. Perdido e esperando por você. Vá!"
Nos anos seguintes, tornei-me estudante de medicina. Uma em cada 100 crianças que nasce no mundo apresenta algum tipo de doença cardíaca. Há uma parte desse problema que eu consigo resolver, a parte em que passei minha vida trabalhando.
O problema começa durante a gravidez. O feto precisa sobreviver dentro da mãe. Sua sobrevivência depende da comunicação entre o sangue da circulação sistêmica e pulmonar. No momento do nascimento, essa comunicação precisa ser interrompida. Se ela não fechar, o bebê fica com um buraco no coração. Isso pode ocorrer em partos prematuros e se houver predisposição genética. Mas o que sabemos hoje, é que a falta de oxigênio é também uma das causas.
Vídeo: (Bebê chorando)
Ao observarmos pacientes com essa condição, notamos que estão desesperados para respirar. Para fechar o orifício, era necessário fazer uma grande cirurgia.
Uma noite, eu e meu amigo estávamos acampando na região Amazônica. A única coisa que não queimava na fogueira era um galho de abacateiro. E aí veio um momento de inspiração. Usamos o galho como um molde para nossa primeira invenção. O buraco no coração dos bebês poderia ser fechado com isso. A bobina é um pedaço de arame enrolado sobre si mesmo. Pode não parecer tão sofisticado agora, mas esta foi nossa primeira tentativa bem-sucedida: criar um dispositivo para este grande problema. Neste vídeo, vemos como um catéter muito pequeno leva a bobina para o coração e fecha o orifício. Depois daquele momento de inspiração, veio um longo período de esforços para desenvolver um protótipo. Os estudos, in vitro e in vivo, consumiram milhares de horas no laboratório. Se tudo desse certo, a bobina poderia salvar vidas.
Eu voltei da Alemanha para a Bolívia, pensando que, aonde quer que fôssemos, tínhamos a oportunidade de fazer a diferença. Junto com minha esposa e companheira, a doutora Alexandra Heath, começamos a atender pacientes. E depois de ter sucesso no tratamento com a bobina, ficamos muito entusiasmados. Mas vivemos em um lugar que está a 3,6 mil metros de altitude. E... os pacientes precisavam de um dispositivo especial para curar o problema cardíaco. O buraco no coração desses pacientes é diferente, porque o orifício entre as artérias é maior. A maioria dos pacientes não são tratados a tempo e acabam morrendo. A primeira bobina teve sucesso em apenas metade dos pacientes na Bolívia. A pesquisa foi retomada. Foi preciso delinear um novo plano.
Depois de vários testes, e com a ajuda dos amigos indígenas da minha avó, nas montanhas, obtivemos um novo dispositivo. Por séculos, mulheres indígenas contam histórias, tecendo padrões complexos em teares, e uma habilidade inesperada foi importante para o nosso dispositivo. Nós adotamos esse método tradicional de tear e fizemos um modelo usando um material que grava seu formato anterior.
E parece que dessa vez, o entrelaçamento nos permitiu criar um dispositivo sem costuras, e que nunca enferruja, por ser feito apenas de uma peça. Ele consegue se transformar em estruturas muito complexas através de um procedimento que demorou décadas para ser desenvolvido.
Como vocês podem ver, o dispositivo entra no corpo através de canais naturais. Os médicos precisam apenas posicionar o catéter no buraco. O dispositivo se expande no local e fecha o buraco. Nós temos esse lindo sistema de condução que é muito simples de usar, pois faz todo o trabalho sozinho. Sem a necessidade de cirurgia aberta.
(Aplausos)
Como médicos lutamos contra doenças que precisam de muito tempo e esforço para se curarem. Esta é a criança mostrada anteriormente, depois do procedimento. Como vocês podem ver...
(Aplausos)
Como vocês podem ver, depois que o dispositivo foi colocado, o paciente está 100% curado. Do início ao fim, o procedimento levou apenas 30 minutos. Isso é muito gratificante, seja do ponto de vista médico ou humano. Estamos orgulhosos de que alguns dos nossos antigos pacientes são agora parte do nosso time, um time, graças a sua proximidade com pacientes que trabalham com a gente. Juntos, temos apenas uma ideia: as melhores soluções precisam ser as mais simples. Nós perdemos o medo de criar algo novo.
O caminho não é fácil. Vários obstáculos surgem a todo momento. Mas nós recebemos força dos nossos pacientes. A resiliência e coragem deles inspira a nossa criatividade. Nossa meta é garantir que nenhuma criança seja deixada para trás por falta de dinheiro ou oportunidade.
Precisamos criar uma fundação com um modelo um-para-um. Nós daremos um dispositivo de graça para garantir que todas as crianças sejam tratadas. Já estamos em vários países, mas precisamos estar em toda parte. Tudo isso começou com uma ideia impossível e irá continuar desta forma: "Nenhuma criança será deixada para trás".
(Espanhol) Muito obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Os problemas mais complexos da atualidade podem ser resolvidos com técnicas muito simples, se formos capazes de sonhar.
Quando era criança, descobri que criatividade era a chave para o sonho se tornar realidade. Aprendi isso com a minha avó, a doutora Ruth Tichauer, uma refugiada judia que decidiu morar no coração dos Andes. Foi assim que eu cresci: encorajado a ver além de qualquer limitação. Assim, parte da minha educação incluía ajudá-la em comunidades indígenas remotas. Eu valorizo aquelas lembranças, porque me ajudaram a entender como era a vida fora da cidade, uma vida cheia de possibilidades, sem barreiras como a língua ou a cultura.
Durante essas viagens, minha avó costumava recitar um poema do Kipling: "Algo escondido. Vá, e encontre. Vá e procure atrás das montanhas. Algo perdido atrás das montanhas. Perdido e esperando por você. Vá!"
Nos anos seguintes, tornei-me estudante de medicina. Uma em cada 100 crianças que nasce no mundo apresenta algum tipo de doença cardíaca. Há uma parte desse problema que eu consigo resolver, a parte em que passei minha vida trabalhando.
O problema começa durante a gravidez. O feto precisa sobreviver dentro da mãe. Sua sobrevivência depende da comunicação entre o sangue da circulação sistêmica e pulmonar. No momento do nascimento, essa comunicação precisa ser interrompida. Se ela não fechar, o bebê fica com um buraco no coração. Isso pode ocorrer em partos prematuros e se houver predisposição genética. Mas o que sabemos hoje, é que a falta de oxigênio é também uma das causas.
Como vocês podem ver no gráfico, a frequência de casos desse tipo aumenta drasticamente com a altitude.
Vídeo: (Bebê chorando)
Ao observarmos pacientes com essa condição, notamos que estão desesperados para respirar. Para fechar o orifício, era necessário fazer uma grande cirurgia.
Uma noite, eu e meu amigo estávamos acampando na região Amazônica. A única coisa que não queimava na fogueira era um galho de abacateiro. E aí veio um momento de inspiração. Usamos o galho como um molde para nossa primeira invenção. O buraco no coração dos bebês poderia ser fechado com isso. A bobina é um pedaço de arame enrolado sobre si mesmo. Pode não parecer tão sofisticado agora, mas esta foi nossa primeira tentativa bem-sucedida: criar um dispositivo para este grande problema. Neste vídeo, vemos como um catéter muito pequeno leva a bobina para o coração e fecha o orifício. Depois daquele momento de inspiração, veio um longo período de esforços para desenvolver um protótipo. Os estudos, in vitro e in vivo, consumiram milhares de horas no laboratório. Se tudo desse certo, a bobina poderia salvar vidas.
Eu voltei da Alemanha para a Bolívia, pensando que, aonde quer que fôssemos, tínhamos a oportunidade de fazer a diferença. Junto com minha esposa e companheira, a doutora Alexandra Heath, começamos a atender pacientes. E depois de ter sucesso no tratamento com a bobina, ficamos muito entusiasmados. Mas vivemos em um lugar que está a 3,6 mil metros de altitude. E... os pacientes precisavam de um dispositivo especial para curar o problema cardíaco. O buraco no coração desses pacientes é diferente, porque o orifício entre as artérias é maior. A maioria dos pacientes não são tratados a tempo e acabam morrendo. A primeira bobina teve sucesso em apenas metade dos pacientes na Bolívia. A pesquisa foi retomada. Foi preciso delinear um novo plano.
Depois de vários testes, e com a ajuda dos amigos indígenas da minha avó, nas montanhas, obtivemos um novo dispositivo. Por séculos, mulheres indígenas contam histórias, tecendo padrões complexos em teares, e uma habilidade inesperada foi importante para o nosso dispositivo. Nós adotamos esse método tradicional de tear e fizemos um modelo usando um material que grava seu formato anterior.
E parece que dessa vez, o entrelaçamento nos permitiu criar um dispositivo sem costuras, e que nunca enferruja, por ser feito apenas de uma peça. Ele consegue se transformar em estruturas muito complexas através de um procedimento que demorou décadas para ser desenvolvido.
Como vocês podem ver, o dispositivo entra no corpo através de canais naturais. Os médicos precisam apenas posicionar o catéter no buraco. O dispositivo se expande no local e fecha o buraco. Nós temos esse lindo sistema de condução que é muito simples de usar, pois faz todo o trabalho sozinho. Sem a necessidade de cirurgia aberta.
(Aplausos)
Como médicos lutamos contra doenças que precisam de muito tempo e esforço para se curarem. Esta é a criança mostrada anteriormente, depois do procedimento. Como vocês podem ver...
(Aplausos)
Como vocês podem ver, depois que o dispositivo foi colocado, o paciente está 100% curado. Do início ao fim, o procedimento levou apenas 30 minutos. Isso é muito gratificante, seja do ponto de vista médico ou humano. Estamos orgulhosos de que alguns dos nossos antigos pacientes são agora parte do nosso time, um time, graças a sua proximidade com pacientes que trabalham com a gente. Juntos, temos apenas uma ideia: as melhores soluções precisam ser as mais simples. Nós perdemos o medo de criar algo novo.
O caminho não é fácil. Vários obstáculos surgem a todo momento. Mas nós recebemos força dos nossos pacientes. A resiliência e coragem deles inspira a nossa criatividade. Nossa meta é garantir que nenhuma criança seja deixada para trás por falta de dinheiro ou oportunidade.
Precisamos criar uma fundação com um modelo um-para-um. Nós daremos um dispositivo de graça para garantir que todas as crianças sejam tratadas. Já estamos em vários países, mas precisamos estar em toda parte. Tudo isso começou com uma ideia impossível e irá continuar desta forma: "Nenhuma criança será deixada para trás".
(Espanhol) Muito obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Comentários