O dado sugere manipulação da Folha ao omitir esse detalhe do levantamento favorecia governo Temer.
O dado sugere manipulação da Folha ao omitir esse detalhe do levantamento favorecia governo Temer.
Deu na versão em português do jornal alemão Deutsche Welle: "Segundo Datafolha, 62% são a favor de novas eleições". Não parece nada de mais, uma vez que o mesmo levamento feito em abril - questionando especificamente se os participantes da pesquisa seriam a favor de ambos, Temer e Dilma, renunciarem para a convocação de novas eleições - esse percentual era de 79%, contra os atuais 62%.
Ocorre que o jornal Folha de S. Paulo dava a entender que apenas 3% eram favoráveis à novas eleições, omitindo a outra questão levantada - um infográfico de capa, no último domingo (17/07), mostrava que 50% da população preferem manter Temer no governo até 2018 e 32% defendem a volta de Dilma Rousseff. Nesse gráfico, a opção "Eleições" aparece com apenas 3%.
A omissão causou polêmica e foi questionada pelo site de notícias The Intercept, do jornalista americano radicado no Rio de Janeiro Glenn Greenwald. Em matéria co-assinada pelo jornalista Erick Dau, Greenwald cita a pesquisadora do Datafolha Luciana Chong, a qual afirmou que:
O editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, defendeu que é prerrogativa da redação do jornal escolher o que acha jornalisticamente mais relevante no momento em que decide publicar a pesquisa.
O site de notícias GGN destacou o "silêncio absoluto nos veículos de comunicação consolidados" sobre a "fraude jornalística" como indício de uma pauta comum da grande mídia.
Para o analista João Feres Junior, Coordenador do Manchetômetro (laboratório de estudo de mídias), isso é sinal de “corporativismo sim, mas menos para proteger a Folha [da denúncia de fraude jornalística] e mais para proteger a linha editorial geral da mídia atual, de apoio ao governo Temer”.
Desmascarada no caso Datafolha, a direção do jornal divulgou uma matéria informando que não publicou nem no dia 17 nem posteriormente que 62% querem novas eleições porque a redação não viu “relevância” nesse dado.
Para Feres, é natural que a Folha não dê o braço a torcer, pois a linha do jornal é fingir pluralidade perante os leitores.
Hoje, a imprensa vive um “esforço duplo”, diz Feres.
Parte importante do trabalho político de Chomsky é a análise dos meios de comunicação de massa (especialmente dos meios norte-americanos), de suas estruturas, de suas restrições e do seu papel no apoio aos interesses das grandes empresas e do governo americano.
Em A Manipulação do Público, livro escrito em conjunto por Edward S. Herman e Noam Chomsky, os autores exploram este tema em profundidade e apresentam o seu modelo da propaganda dos meios de comunicação com numerosos estudos de caso extremamente detalhados para demonstrar seu funcionamento.
Em resumo, o modelo mostra que esse viés deriva da existência de cinco filtros que todas as notícias precisam ultrapassar antes de serem publicadas e que, combinados, distorcem sistematicamente a cobertura das notícias pelos meios de comunicação.
O modelo descreve como os meios de comunicação formam um sistema de propaganda descentralizado e não conspiratório o qual, no entanto, é extremamente poderoso. Esse sistema cria um consenso entre a elite da sociedade sobre os assuntos de interesse público estruturando esse debate em uma aparência de consentimento democrático que atendem aos interesses dessa elite. No entanto, este atendimento é feito às custas da sociedade como um todo que, naturalmente, compõem-se de mais pessoas do que aquelas que compõem sua elite.
Esse modelo talvez se aplique ao Brasil, embora seja cada vez mais difícil imaginar que tamanho alinhamento midiático não seja, de fato, conspiratório. Uma vez que o próprio Chomsky declarou sobre Dilma e sobre o processo de impeachment:
Fonte: DW (Versão em português), GGN, The Intercept (Versão em português), Folha
[Visto no Brasil Acadêmico]
Deu na versão em português do jornal alemão Deutsche Welle: "Segundo Datafolha, 62% são a favor de novas eleições". Não parece nada de mais, uma vez que o mesmo levamento feito em abril - questionando especificamente se os participantes da pesquisa seriam a favor de ambos, Temer e Dilma, renunciarem para a convocação de novas eleições - esse percentual era de 79%, contra os atuais 62%.
Ocorre que o jornal Folha de S. Paulo dava a entender que apenas 3% eram favoráveis à novas eleições, omitindo a outra questão levantada - um infográfico de capa, no último domingo (17/07), mostrava que 50% da população preferem manter Temer no governo até 2018 e 32% defendem a volta de Dilma Rousseff. Nesse gráfico, a opção "Eleições" aparece com apenas 3%.
Infográfico da Folha: Um caso especial de Gráficos que Mentem onde o engodo parece estar na omissão dos dados coletados pelo instituto do próprio veículo. |
...qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seria imprecisa, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas.Diante da polêmica, a Folha publicou nova matéria nesta quarta-feira, reafirmando que tanto o jornal como o instituto agiram com transparência e que os 3% foram destacados por se tratar de um número significativo de pessoas que mencionaram novas eleições de forma espontânea.
O editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, defendeu que é prerrogativa da redação do jornal escolher o que acha jornalisticamente mais relevante no momento em que decide publicar a pesquisa.
O resultado da questão sobre a dupla renúncia de Dilma e Temer não nos pareceu especialmente noticioso por praticamente repetir a tendência de pesquisa anterior e pela mudança no atual cenário político, em que essa possibilidade não é mais levada em conta. Sérgio Dávila.
Editor-executivo da Folha, em matéria publicada no jornal.
O site de notícias GGN destacou o "silêncio absoluto nos veículos de comunicação consolidados" sobre a "fraude jornalística" como indício de uma pauta comum da grande mídia.
Para o analista João Feres Junior, Coordenador do Manchetômetro (laboratório de estudo de mídias), isso é sinal de “corporativismo sim, mas menos para proteger a Folha [da denúncia de fraude jornalística] e mais para proteger a linha editorial geral da mídia atual, de apoio ao governo Temer”.
A Folha faz isso há muito tempo.Segundo Feres, é importante ler a fraude na divulgação da pesquisa de opinião pública no domingo (17) dentro do contexto de blindagem ao governo Temer. “Para entender o nível da manipulação, tem que dar uma olhada na cobertura do jornal como um todo. Por exemplo: no dia 15 de julho, eles não deram nada, sequer uma nota na capa sobre o Ministério Público Federal ter determinado o arquivamento da investigação pedida pelo Tribunal de Contas da União sobre as pedaladas de Dilma”, lembrou o especialista.
João Feres Junior. Doutor em ciência política e professor da UERJ
Eles publicaram a pesquisa manipulando os dados na mesma edição em que há um editorial com posição bem clara, falando que Temer trouxe estabilidade à economia. A manipulação está totalmente coerente com a linha editorial do jornal. Estão embarcando na aventura Temer.
Desmascarada no caso Datafolha, a direção do jornal divulgou uma matéria informando que não publicou nem no dia 17 nem posteriormente que 62% querem novas eleições porque a redação não viu “relevância” nesse dado.
Para Feres, é natural que a Folha não dê o braço a torcer, pois a linha do jornal é fingir pluralidade perante os leitores.
O fato é que os editores acham que tem muita gente que se convence da política de neutralidade da Folha. Eles mantêm Boulos, Duvivier e Saflate, que são três contra 30 colunistas à direita, para dar o verniz de pluralidade.
Furando o bloqueio
Em 2014, Feres coordenou o projeto Manchetômetro, que qualificou a cobertura da imprensa ao longo das eleições daquele ano em relação à Dilma Rousseff, então candidata à reeleição, e seus principais adversários. O resultado foi que Folha, Estadão e o O Globo massacraram a candidata governista.Hoje, a imprensa vive um “esforço duplo”, diz Feres.
Tem que elogiar cada vez mais o Temer ou fazer cobertura neutra, com destaque para política econômica ou coisas que as pessoas possam achar positivas, e ao mesmo tempo tratar a Dilma como se fosse passado.Para o cientista político, a saída é construir “alternativas à mídia tradicional”, que já deu mais de um “golpe neste país e não vai mudar os modos”.
É imprescindível que as forças progressistas e a imprensa independente se unam e criem o esforço para uma mídia alternativa, algo que vá além da pulverização dos blogs. Os blogs são ótimos, mas são muito pulverizados. Era preciso uma centralização mínima para que não ficassem todos fazendo o mesmo trabalho, para que pudessem produzir mais e aumentar o alcance da cobertura. Só assim a gente consegue se livrar do oligopólio da imprensa tradicional.
Meios de comunicação de massa segundo Noam Chomsky
Avram Noam Chomsky é um linguista, filósofo, cientista cognitivo, comentarista e ativista político norte-americano, reverenciado em âmbito acadêmico como "o pai da linguística moderna", também é uma das mais renomadas figuras no campo da filosofia analítica.Parte importante do trabalho político de Chomsky é a análise dos meios de comunicação de massa (especialmente dos meios norte-americanos), de suas estruturas, de suas restrições e do seu papel no apoio aos interesses das grandes empresas e do governo americano.
Em A Manipulação do Público, livro escrito em conjunto por Edward S. Herman e Noam Chomsky, os autores exploram este tema em profundidade e apresentam o seu modelo da propaganda dos meios de comunicação com numerosos estudos de caso extremamente detalhados para demonstrar seu funcionamento.
Em resumo, o modelo mostra que esse viés deriva da existência de cinco filtros que todas as notícias precisam ultrapassar antes de serem publicadas e que, combinados, distorcem sistematicamente a cobertura das notícias pelos meios de comunicação.
- O primeiro filtro - o da propriedade dos meios de comunicação - deriva do fato de que a maioria dos principais meios de comunicação pertencem às grandes empresas (isto é, às "corporations").
- O segundo - o do financiamento - deriva do fato dos principais meios de comunicação obterem a maior parte de sua receita não de seus leitores mas sim de publicidade (que, claro, é paga pelas grandes empresas). Como os meios de comunicação são, na verdade, empresas orientadas para o lucro a partir da venda de seu produto - os leitores! - para outras empresas - os anunciantes! - o modelo de Herman e Chomsky prevê que se deve esperar a publicação apenas de notícias que reflitam os desejos, as expectativas e os valores dessas empresas.
- O terceiro filtro é o fato de que os meios de comunicação dependem fortemente das grandes empresas e das instituições governamentais como fonte de informações para a maior parte das notícias. Isto também cria um viés sistêmico contra a sociedade.
- O quarto filtro é a crítica realizada por vários grupos de pressão que procuram as empresas dos meios de comunicação para pressioná-los caso eles saiam de uma linha editorial que esses grupos acham a mais correta (isto é, mais de acordo com seus interesses do que de toda a sociedade).
- As normas da profissão jornalista, o quinto filtro, referem-se aos conceitos comuns divididos por aqueles que estão na profissão do jornalismo.
O modelo descreve como os meios de comunicação formam um sistema de propaganda descentralizado e não conspiratório o qual, no entanto, é extremamente poderoso. Esse sistema cria um consenso entre a elite da sociedade sobre os assuntos de interesse público estruturando esse debate em uma aparência de consentimento democrático que atendem aos interesses dessa elite. No entanto, este atendimento é feito às custas da sociedade como um todo que, naturalmente, compõem-se de mais pessoas do que aquelas que compõem sua elite.
Esse modelo talvez se aplique ao Brasil, embora seja cada vez mais difícil imaginar que tamanho alinhamento midiático não seja, de fato, conspiratório. Uma vez que o próprio Chomsky declarou sobre Dilma e sobre o processo de impeachment:
Uma líder política que não roubou para enriquecer a si mesma, sendo acusada por uma gangue de corruptos que fizeram isso. É uma espécie de golpe brando.Acrescentou ainda que a elite brasileira sempre resistiu ao PT e viu na crise política a oportunidade de se “livrar do partido”.
Fonte: DW (Versão em português), GGN, The Intercept (Versão em português), Folha
[Visto no Brasil Acadêmico]
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