Andrew Pelling é um "biohacker", e a natureza é o seu hardware. Seus materiais prediletos são os mais simples (e, na maioria das v...
Andrew Pelling é um "biohacker", e a natureza é o seu hardware. Seus materiais prediletos são os mais simples (e, na maioria das vezes, ele os procura no lixo).
Na estrutura de celulose que dá forma à maçã, ele "cultiva "orelhas vivas", na vanguarda de um processo que poderá um dia ser usado para reparar partes do corpo de forma segura e barata. E ele tem ideias ainda mais surpreendentes para compartilhar... "Mas fico imaginando se algum dia vai ser possível reparar, reconstruir e melhorar nosso próprio corpo com coisas fabricadas na cozinha de casa", diz ele.
Tenho uma confissão a fazer: adoro bisbilhotar o lixo alheio. Mas não é uma bizarrice. Normalmente procuro por eletrônicos velhos para, na minha oficina, transformá-los. Tenho um fetiche por leitores de CD-ROM. Eles têm três motores que me permitem construir coisas que se movem. Há interruptores para ligar e desligar coisas. Tem até um laser irado que permite transformar um robô legal num robô incrível.
Construí um monte de coisas com sucata, e algumas delas até são úteis. Mas o negócio é o seguinte: para mim, o lixo é apenas uma chance de brincar, ser criativo e construir coisas para me divertir. Como adoro fazer isso, incorporei esse hábito no meu trabalho. Dirijo um laboratório universitário de pesquisa biológica onde valorizamos acima de tudo a curiosidade e a exploração. Não focamos nenhum problema em particular, e não estamos tentando curar nenhuma doença específica. É apenas um lugar onde as pessoas podem fazer perguntas fascinantes e encontrar respostas. E percebi há muito tempo que desafiar as pessoas a construírem o equipamento de que precisam com as coisas que pego no lixo é uma excelente maneira de estimular a criatividade. E o que aconteceu foi que artistas e cientistas do mundo todo começaram a vir ao meu laboratório. E isso não só por valorizarmos ideias inovadoras, mas porque as testamos e validamos com rigor científico.
Um dia, eu estava transformando algo, separando as peças, e de repente me veio uma ideia: "Seria possível fazer com a biologia como fazemos com o hardware? Seria possível desmontar um sistema biológico, misturar e combinar as partes e depois montá-las novamente de uma forma nova e criativa?" Meu laboratório começou a trabalhar nisso, e quero lhes mostrar o resultado.
Vocês sabem me dizer que fruta é esta?
Plateia: Maçã!
Andrew Pelling: Isso mesmo, é uma maçã. Gostaria que notassem como ela é um pouco mais vermelha do que a maioria das maçãs. E a razão é que cultivamos células humanas dentro dela. Pegamos uma simples maçã McIntosh, removemos as suas células e o seu DNA e, no lugar, implantamos células humanas. Após removermos todas as células da maçã, sobrou este "scaffold" de celulose. É isso o que dá às plantas sua forma e textura. E é nestes buraquinhos aqui que ficavam todas as células da maçã. Implantamos ali células de mamíferos, que vocês podem ver em azul. Elas começaram a se multiplicar e acabaram preenchendo todo o scaffold.
Curiosamente, este scaffold na verdade nos lembra a forma como nossos tecidos se organizam. E, em nosso trabalho pré-clínico, descobrimos que é possível não só implantar estes scaffolds no corpo, mas que este envia células e suprimento sanguíneo para manter tais estruturas vivas. Foi aí que começaram a me perguntar: "Andrew, você consegue fazer partes do corpo com maçãs?" E eu: "Você veio ao lugar certo".
(Risos)
Na verdade, criei isso com minha esposa. Ela fabrica instrumentos musicais e trabalha com escultura em madeira. Então, pedi a ela: "Você poderia literalmente esculpir algumas orelhas de maçã para nós?" E ela esculpiu. Daí, levei as orelhas para o laboratório e começamos a prepará-las. Sim, eu sei.
(Risos)
É um bom laboratório, gente.
(Risos)
Então cultivamos células nelas. E este foi o resultado.
Vejam bem, meu laboratório não está no ramo da fabricação de orelhas. Na verdade, há pessoas trabalhando nisso há décadas. Mas tem um problema: os scaffolds comerciais podem ser muito caros e problemáticos, porque utilizam produtos patenteados, animais ou cadáveres. Mas usamos maçãs, e saiu a preço de banana.
O mais legal disso tudo é que não é difícil fazer essas coisas. O equipamento necessário pode ser construído com sucata, e o passo-chave desse processo requer apenas água e sabão. Depois, deixamos todas as instruções on-line com o código aberto. Então fundamos uma empresa social e estamos desenvolvendo kits para que seja possível a qualquer pessoa que tenha uma pia e um ferro de solda fazer essas coisas em casa. Mas fico imaginando se vai ser possível reparar, reconstruir e melhorar nosso próprio corpo com coisas fabricadas na cozinha de casa.
Falando em cozinha, tenho aqui alguns aspargos. Eles são saborosos e dão um cheiro estranho ao xixi.
(Risos)
Estava na cozinha de casa e notei que, nos talos desses aspargos, existiam uns vasos minúsculos. E, numa tomografia feita no laboratório, pudemos ver como a celulose forma essas estruturas. Essa imagem me lembra duas coisas: nossos vasos sanguíneos e a estrutura e a organização de nossos nervos e da coluna vertebral.
Portanto, eis a questão: podemos cultivar axônios e neurônios nesses canais? Porque, se pudermos, então talvez possamos usar aspargos para formar novas conexões entre as extremidades de nervos danificados e rompidos. Quem sabe até uma coluna vertebral. Mas preciso esclarecer: isso ainda demanda um trabalho extremamente desafiador e difícil, e não somos os únicos trabalhando nisso. Mas somos os únicos usando aspargos.
(Risos)
Neste exato momento, temos dados-piloto realmente promissores e engenheiros de tecidos e neurocirurgiões trabalhando para descobrir o que é realmente possível.
Mas todo este trabalho mostrado aqui, as coisas que construímos, tudo isso ao meu redor aqui no palco e os outros projetos do meu laboratório, são todos eles o resultado direto da minha brincadeira com o seu lixo. Brincar... brincar é uma parte fundamental da minha prática científica. É minha forma de treinar minha mente para inovar e criar e decidir fazer orelhas de maçã humanas.
Assim, da próxima vez que virem alguma porcaria tecnológica quebrada, funcionando mal, quero que pensem em mim. Porque eu a quero.
(Risos)
Sério, por favor, encontrem uma forma de entrar em contato comigo, e vamos ver o que podemos construir.
Obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
Na estrutura de celulose que dá forma à maçã, ele "cultiva "orelhas vivas", na vanguarda de um processo que poderá um dia ser usado para reparar partes do corpo de forma segura e barata. E ele tem ideias ainda mais surpreendentes para compartilhar... "Mas fico imaginando se algum dia vai ser possível reparar, reconstruir e melhorar nosso próprio corpo com coisas fabricadas na cozinha de casa", diz ele.
Tenho uma confissão a fazer: adoro bisbilhotar o lixo alheio. Mas não é uma bizarrice. Normalmente procuro por eletrônicos velhos para, na minha oficina, transformá-los. Tenho um fetiche por leitores de CD-ROM. Eles têm três motores que me permitem construir coisas que se movem. Há interruptores para ligar e desligar coisas. Tem até um laser irado que permite transformar um robô legal num robô incrível.
Construí um monte de coisas com sucata, e algumas delas até são úteis. Mas o negócio é o seguinte: para mim, o lixo é apenas uma chance de brincar, ser criativo e construir coisas para me divertir. Como adoro fazer isso, incorporei esse hábito no meu trabalho. Dirijo um laboratório universitário de pesquisa biológica onde valorizamos acima de tudo a curiosidade e a exploração. Não focamos nenhum problema em particular, e não estamos tentando curar nenhuma doença específica. É apenas um lugar onde as pessoas podem fazer perguntas fascinantes e encontrar respostas. E percebi há muito tempo que desafiar as pessoas a construírem o equipamento de que precisam com as coisas que pego no lixo é uma excelente maneira de estimular a criatividade. E o que aconteceu foi que artistas e cientistas do mundo todo começaram a vir ao meu laboratório. E isso não só por valorizarmos ideias inovadoras, mas porque as testamos e validamos com rigor científico.
Um dia, eu estava transformando algo, separando as peças, e de repente me veio uma ideia: "Seria possível fazer com a biologia como fazemos com o hardware? Seria possível desmontar um sistema biológico, misturar e combinar as partes e depois montá-las novamente de uma forma nova e criativa?" Meu laboratório começou a trabalhar nisso, e quero lhes mostrar o resultado.
Vocês sabem me dizer que fruta é esta?
Plateia: Maçã!
Andrew Pelling: Isso mesmo, é uma maçã. Gostaria que notassem como ela é um pouco mais vermelha do que a maioria das maçãs. E a razão é que cultivamos células humanas dentro dela. Pegamos uma simples maçã McIntosh, removemos as suas células e o seu DNA e, no lugar, implantamos células humanas. Após removermos todas as células da maçã, sobrou este "scaffold" de celulose. É isso o que dá às plantas sua forma e textura. E é nestes buraquinhos aqui que ficavam todas as células da maçã. Implantamos ali células de mamíferos, que vocês podem ver em azul. Elas começaram a se multiplicar e acabaram preenchendo todo o scaffold.
Curiosamente, este scaffold na verdade nos lembra a forma como nossos tecidos se organizam. E, em nosso trabalho pré-clínico, descobrimos que é possível não só implantar estes scaffolds no corpo, mas que este envia células e suprimento sanguíneo para manter tais estruturas vivas. Foi aí que começaram a me perguntar: "Andrew, você consegue fazer partes do corpo com maçãs?" E eu: "Você veio ao lugar certo".
(Risos)
Na verdade, criei isso com minha esposa. Ela fabrica instrumentos musicais e trabalha com escultura em madeira. Então, pedi a ela: "Você poderia literalmente esculpir algumas orelhas de maçã para nós?" E ela esculpiu. Daí, levei as orelhas para o laboratório e começamos a prepará-las. Sim, eu sei.
(Risos)
É um bom laboratório, gente.
(Risos)
Então cultivamos células nelas. E este foi o resultado.
Vejam bem, meu laboratório não está no ramo da fabricação de orelhas. Na verdade, há pessoas trabalhando nisso há décadas. Mas tem um problema: os scaffolds comerciais podem ser muito caros e problemáticos, porque utilizam produtos patenteados, animais ou cadáveres. Mas usamos maçãs, e saiu a preço de banana.
O mais legal disso tudo é que não é difícil fazer essas coisas. O equipamento necessário pode ser construído com sucata, e o passo-chave desse processo requer apenas água e sabão. Depois, deixamos todas as instruções on-line com o código aberto. Então fundamos uma empresa social e estamos desenvolvendo kits para que seja possível a qualquer pessoa que tenha uma pia e um ferro de solda fazer essas coisas em casa. Mas fico imaginando se vai ser possível reparar, reconstruir e melhorar nosso próprio corpo com coisas fabricadas na cozinha de casa.
Falando em cozinha, tenho aqui alguns aspargos. Eles são saborosos e dão um cheiro estranho ao xixi.
(Risos)
Estava na cozinha de casa e notei que, nos talos desses aspargos, existiam uns vasos minúsculos. E, numa tomografia feita no laboratório, pudemos ver como a celulose forma essas estruturas. Essa imagem me lembra duas coisas: nossos vasos sanguíneos e a estrutura e a organização de nossos nervos e da coluna vertebral.
Portanto, eis a questão: podemos cultivar axônios e neurônios nesses canais? Porque, se pudermos, então talvez possamos usar aspargos para formar novas conexões entre as extremidades de nervos danificados e rompidos. Quem sabe até uma coluna vertebral. Mas preciso esclarecer: isso ainda demanda um trabalho extremamente desafiador e difícil, e não somos os únicos trabalhando nisso. Mas somos os únicos usando aspargos.
(Risos)
Neste exato momento, temos dados-piloto realmente promissores e engenheiros de tecidos e neurocirurgiões trabalhando para descobrir o que é realmente possível.
Mas todo este trabalho mostrado aqui, as coisas que construímos, tudo isso ao meu redor aqui no palco e os outros projetos do meu laboratório, são todos eles o resultado direto da minha brincadeira com o seu lixo. Brincar... brincar é uma parte fundamental da minha prática científica. É minha forma de treinar minha mente para inovar e criar e decidir fazer orelhas de maçã humanas.
Assim, da próxima vez que virem alguma porcaria tecnológica quebrada, funcionando mal, quero que pensem em mim. Porque eu a quero.
(Risos)
Sério, por favor, encontrem uma forma de entrar em contato comigo, e vamos ver o que podemos construir.
Obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
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