O ex-guerrilheiro do movimento de resistência armada à ditadura militar no Brasil fala sobre seu livro, ideologia da esquerda, Black Blocs, ...
O ex-guerrilheiro do movimento de resistência armada à ditadura militar no Brasil fala sobre seu livro, ideologia da esquerda, Black Blocs, Comissão da Verdade, o sequestro do embaixador americano, o caso Celso Daniel, corrupção, tortura, Cuba, comunismo, capitalismo e a vida na Suécia, para amenizar um pouco...
Uma verdadeira memória viva do regime militar, do ponto de vista de quem resistiu a ela, Cid de Queiroz Benjamin, jornalista pernambucano, sobreviveu à tortura sem abrir o bico. Agora, ele conta tudo.
Augusto Nunes (apresentador do Roda Viva): Quem se engajou na luta armada defendia a ditadura do proletariado ou o regime democrático?
Cid Benjamim: Defendia o fim da ditadura. E havia uma perspectiva socialista. Os contornos mais precisos do que seria esse socialismo não era comum a todos nem estavam muitos precisos. A luta central era contra a ditadura.
Cid Benjamim: Eu não concordo com isso! "Que o endurecimento se deu por causa da luta armada". Se você for pegar, Nêumanne, o pessoal que deu o golpe em 64 forçou o suicídio do Getúlio, tentou impedir a posse do Juscelino, tentou impedir a posse do Jango, depois, em 61, Deu o golpe em 1964, e já estava em uma escalada de endurecimento... O Castelo, por exemplo, o Castelo Branco, que seria a linha mais branda. Ele morre em circunstâncias não esclarecidas. Aliás isso é um bom tema para a Comissão da Verdade. "Como morreu o Castelo". E o setor duro vai se afirmando muito antes da luta armada
(...)
(Clique para tocar. ← Retrocede → Avança Espaço Pausa/Continua)
Augusto Nunes: Cid, você viveu exilado em Argélia, Cuba, Chile e Suécia. Se pudesse escolher, você preferiria que o Brasil ficasse parecido com qual desses países?
Cid Benjamim: Suécia, aquela Suécia. (Risos) Porque é um país muito rico. Nem pobreza você encontrava. Durante algum tempo eu trabalhei por opção minha. Eu não sabia falar bem o sueco ainda e levava uma vida de classe média. A opção é porque eu queria ler, tinha muita literatura. E é interessante isso.
Minha mãe que já faleceu, Iramaia Benjamim, lutadora da anistia, primeira vez que foi me visitar na Suécia, chegou numa época de natal, e tava 17ºC abaixo de zero. Mas uma tempestade de neve brutal. E ela ficou inteiramente acovardada, não saia de casa e repetia como um mantra:
Quando a gente começa a fala sobre esse assunto [punir os ditadores após o relatório da Comissão da Verdade] eu gosto de citar o Mandela. Para mim, talvez, a maior figura do século XX. Um sujeito de uma grandeza humana enorme. Mandela passou 27 anos preso. Metade desse em trabalhos forçados. Quebrando pedra durante alguns anos. Ficou isolado em boa parte desse tempo. Foi barbaramente torturado. Num regime horroroso, que era aquele regime racista. E quando o regime não se sustenta mais Mandela se vê Presidente da República.
Ele tinha tudo para ser um sujeito amargurado, ressentido, rancoroso. E abrir um processo fratricida na África do Sul. Ele tratou de construir a pacificação e a reunificação nacional. Agora, não botou as coisas para baixo do tapete. Ele fez um projeto de lei, junto com o Bispo Tutu, que dizia o seguinte: Anistia inclusive para torturadores e assassinos, com uma condição. Os caras deveriam ir publicamente nos tribunais dizer tudo que fizeram. Se omitisse uma só coisa. Estavam sujeito a serem processados pela comitiva. Isso foi uma catarse na África do Sul. Agora criam anticorpos para que aquela barbárie não se repita tão cedo.
Roda Viva - Bloco 2
Sobre a morte do prefeito Celso Daniel
Mas o PT ficou refém dos mafiosos que mataram o Celso que o pressionaram e chantagearam pedindo proteção senão abririam o esquema de corrupção. (...) Isso precipitou meu afastamento do PT.
Sobre a corrupção e o PT
Laura Diniz: A frouxidão com a corrupção está no DNA do PT?
Cid Benjamim: Não, acho que está no DNA dos partidos políticos brasileiros. Eu não acho que o PT seja o mais corrupto ou que tenha começado com o PT a corrupção. Acho que lamentavelmente, para usar uma expressão do líder máximo do PT, o PT começou a fazer o que os outros já faziam.
Laura Diniz: O Brasil estaria melhor hoje sem os últimos anos de governo petista?
Cid Benjamim: Não. Eu acho que os governos que antecederam o governo petista não foram melhores. Foram todos muito ruins. Até mesmo porque esses governos petistas não foram muito não mudaram grande coisa dos anteriores. Se a gente pegar Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma. Para desgosto dos petistas, os governos deles são mais parecidos que muita gente pensa.
Roda Viva - Bloco 3
Sobre as manifestações populares recentes
Eles estavam querendo enquadram os que estavam quebrando em um lei para combater crime organizado. O que é inteiramente inconstitucional.
Sobre a sociedade
E os partidos têm responsabilidade nisso.
Sobre a política
Roda Viva - Bloco 4
Dossiê Globo News
Jogo do Poder - Bloco 1/4
Jogo do Poder - Bloco 2/4
Jogo do Poder - Bloco 3/4
Jogo do Poder - Bloco 4/4
Fonte:
[Visto no Brasil Acadêmico]
Foto: Eduardo Sarmento/Divulgação |
Uma verdadeira memória viva do regime militar, do ponto de vista de quem resistiu a ela, Cid de Queiroz Benjamin, jornalista pernambucano, sobreviveu à tortura sem abrir o bico. Agora, ele conta tudo.
Augusto Nunes (apresentador do Roda Viva): Quem se engajou na luta armada defendia a ditadura do proletariado ou o regime democrático?
Cid Benjamim: Defendia o fim da ditadura. E havia uma perspectiva socialista. Os contornos mais precisos do que seria esse socialismo não era comum a todos nem estavam muitos precisos. A luta central era contra a ditadura.
Objetivamente, nós vivíamos uma situação de ditadura militar feroz e aquela luta era parte da resistência contra a ditadura. Numa perspectiva socialista. Vários desses grupos tinham origem no partido conmunista. Mas... Por exemplo, o grupo do qual eu participava, o MR-8, tinha uma visão muito crítica daquele socialismo do leste europeu. Por exemplo, nós fomos contrários a invasão à Tchecoslováquia.
Eu sempre defendi um socialismo com liberdade partidária. O multipartidarismo. Que é uma questão central da democracia.José Nêumanne:(...)Acho até que encontrei trechos [no livro] em que você deu uma certa concordância com o que eu vou dizer. Que, de uma certa forma, o endurecimento do regime se deu por causa da luta armada. A minha pergunta...
Cid Benjamim: Eu não concordo com isso! "Que o endurecimento se deu por causa da luta armada". Se você for pegar, Nêumanne, o pessoal que deu o golpe em 64 forçou o suicídio do Getúlio, tentou impedir a posse do Juscelino, tentou impedir a posse do Jango, depois, em 61, Deu o golpe em 1964, e já estava em uma escalada de endurecimento... O Castelo, por exemplo, o Castelo Branco, que seria a linha mais branda. Ele morre em circunstâncias não esclarecidas. Aliás isso é um bom tema para a Comissão da Verdade. "Como morreu o Castelo". E o setor duro vai se afirmando muito antes da luta armada
(...)
Isso lembra um pouco aquele torturador que fala: "Você está sendo torturado porque não quer falar. A culpa é sua."
É razoável culpar quem fugiu para o quilombo pelo processo de endurecimento na senzala? Não me parece razoável.
Se foi legítima a luta armada ela foi errada politicamente. Ela não tinha chances de vitória.Roda Viva - Bloco 1
(Clique para tocar. ← Retrocede → Avança Espaço Pausa/Continua)
Augusto Nunes: Cid, você viveu exilado em Argélia, Cuba, Chile e Suécia. Se pudesse escolher, você preferiria que o Brasil ficasse parecido com qual desses países?
Cid Benjamim: Suécia, aquela Suécia. (Risos) Porque é um país muito rico. Nem pobreza você encontrava. Durante algum tempo eu trabalhei por opção minha. Eu não sabia falar bem o sueco ainda e levava uma vida de classe média. A opção é porque eu queria ler, tinha muita literatura. E é interessante isso.
País rico não é onde todo mundo tem carro. País rico é onde todo mundo anda de metrô, ônibus e trem.Eu não conheci, na Suécia, uma só escola privada.
A escola pública era tão boa que o rei estudava lá. Na escola pública.
Não conheci uma clínica ou hospital privado na Suécia.
Minha mãe que já faleceu, Iramaia Benjamim, lutadora da anistia, primeira vez que foi me visitar na Suécia, chegou numa época de natal, e tava 17ºC abaixo de zero. Mas uma tempestade de neve brutal. E ela ficou inteiramente acovardada, não saia de casa e repetia como um mantra:
Esses Vikings não podem ter sido tão bons guerreiros. Teriam conseguido lugar melhor para viver.(...)
Quando a gente começa a fala sobre esse assunto [punir os ditadores após o relatório da Comissão da Verdade] eu gosto de citar o Mandela. Para mim, talvez, a maior figura do século XX. Um sujeito de uma grandeza humana enorme. Mandela passou 27 anos preso. Metade desse em trabalhos forçados. Quebrando pedra durante alguns anos. Ficou isolado em boa parte desse tempo. Foi barbaramente torturado. Num regime horroroso, que era aquele regime racista. E quando o regime não se sustenta mais Mandela se vê Presidente da República.
Ele tinha tudo para ser um sujeito amargurado, ressentido, rancoroso. E abrir um processo fratricida na África do Sul. Ele tratou de construir a pacificação e a reunificação nacional. Agora, não botou as coisas para baixo do tapete. Ele fez um projeto de lei, junto com o Bispo Tutu, que dizia o seguinte: Anistia inclusive para torturadores e assassinos, com uma condição. Os caras deveriam ir publicamente nos tribunais dizer tudo que fizeram. Se omitisse uma só coisa. Estavam sujeito a serem processados pela comitiva. Isso foi uma catarse na África do Sul. Agora criam anticorpos para que aquela barbárie não se repita tão cedo.
Eu quero que o Brasil saiba o que aconteceu no passado e crie anticorpos para que essa coisa não se repita.
Roda Viva - Bloco 2
Sobre a morte do prefeito Celso Daniel
Eu acho que o Ministério Público está na linha correta. Havia um grande esquema de corrupção do qual o PT fazia parte junto a alguns mafiosos. Acho que não foi o PT matou o Celso.
Mas o PT ficou refém dos mafiosos que mataram o Celso que o pressionaram e chantagearam pedindo proteção senão abririam o esquema de corrupção. (...) Isso precipitou meu afastamento do PT.
Sobre a corrupção e o PT
Laura Diniz: A frouxidão com a corrupção está no DNA do PT?
Cid Benjamim: Não, acho que está no DNA dos partidos políticos brasileiros. Eu não acho que o PT seja o mais corrupto ou que tenha começado com o PT a corrupção. Acho que lamentavelmente, para usar uma expressão do líder máximo do PT, o PT começou a fazer o que os outros já faziam.
Eu não levo muito a série quem afirma princípios ideológicos e políticos mas tem frouxidão moral.
Laura Diniz: O Brasil estaria melhor hoje sem os últimos anos de governo petista?
Cid Benjamim: Não. Eu acho que os governos que antecederam o governo petista não foram melhores. Foram todos muito ruins. Até mesmo porque esses governos petistas não foram muito não mudaram grande coisa dos anteriores. Se a gente pegar Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma. Para desgosto dos petistas, os governos deles são mais parecidos que muita gente pensa.
Uma coisa que me incomodou é que eles estavam parecido demais com o PSDB na política e com o PMDB nos procedimentos.
Roda Viva - Bloco 3
Sobre as manifestações populares recentes
Interessante é que quase todos presos eram quem estava apenas olhando.
Eles estavam querendo enquadram os que estavam quebrando em um lei para combater crime organizado. O que é inteiramente inconstitucional.
Sobre a sociedade
A sociedade está mais conservadora do que há dez anos. E isso é grave.
E os partidos têm responsabilidade nisso.
Sobre a política
A política não é corrida de cavalo que eu aposto no que vai ganhar.
Roda Viva - Bloco 4
Dossiê Globo News
Jogo do Poder - Bloco 1/4
Jogo do Poder - Bloco 2/4
Jogo do Poder - Bloco 3/4
Jogo do Poder - Bloco 4/4
Fonte:
[Visto no Brasil Acadêmico]
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