Como resolver o problema dos subúrbios? O urbanista Jeff Speck mostra como podemos nos libertar da dependência de carros - que ele chama de ...
Como resolver o problema dos subúrbios? O urbanista Jeff Speck mostra como podemos nos libertar da dependência de carros - que ele chama de "dispositivos protéticos, que expelem fumaça, gastam tempo e ameaçam a vida" - tornando nossas cidades mais 'caminháveis' e agradáveis para as pessoas.
Bem, eu sou um planejador de cidades, um designer urbano, ex-defensor das artes, com formação em arquitetura e história da arte, e quero falar hoje não sobre design, mas sobre os Estados Unidos e como os Estados Unidos podem ser mais economicamente resilientes, como os Estados Unidos podem ser mais saudáveis e como os Estados Unidos podem ser mais ambientalmente sustentáveis. Eu sei que este é um fórum global, mas acho que preciso falar sobre os Estados Unidos porque existe uma história, em alguns lugares, não em todos, de que as ideias americanas são copiadas, sendo imitadas, tanto as boas quanto as ruins, ao redor do mundo.
E a pior ideia que já tivemos é a expansão urbana. Ela está sendo imitada em diversos lugares enquanto falamos. Digo expansão urbana referindo-me à reorganização da paisagem e à criação da paisagem em torno da necessidade de utilização de automóvel, e de que esse automóvel que antes era um instrumento de liberdade tornou-se um dispositivo protético, que expele fumaça, gasta tempo e ameaça a vida e que muitos de nós precisamos simplesmente -- a maioria dos americanos, na verdade, precisa apenas para viver suas vidas. E há uma alternativa. Sabe, dizemos que metade do mundo vive em cidades. Bem, nos Estados Unidos, esse "viver em cidades", para muitos, é viver em cidades onde ainda são dependentes do automóvel. E o meu trabalho, o que procuro fazer, é tornar nossas cidades mais 'caminháveis'. Mas não posso dar argumentos de design para isso que tenham tanto impacto quanto os argumentos que aprendi com os economistas, os epidemiologistas e os ambientalistas. Então, esses são os três argumentos que vou dar a vocês hoje, rapidamente.
Enquanto eu crescia, nos anos 70, o americano típico gastava um décimo de sua renda da família americana, em transporte. Desde então, dobramos o número de estradas nos Estados Unidos e, atualmente, gastamos um quinto de nossa renda com transporte. Famílias que trabalham, que se enquadram na faixa de renda entre 20 e 50 mil dólares por ano, nos Estados Unidos, estão gastando mais em transporte agora do que em habitação, ligeiramente mais, por causa de um fenômeno chamado "dirija até que se qualifique", encontrando casas cada vez mais e mais distantes dos centros urbanos e de seus empregos, ficando presos em duas, três, ou quatro horas de viagem diariamente. E esses são os bairros, por exemplo, no Vale Central da Califórnia, que não sofreram quando houve o estouro da bolha imobiliária, nem quando os preços do combustível aumentaram; eles foram dizimados. Na verdade, essas são muitas das comunidades parcialmente vazias que você encontra hoje. Imagine investir tudo o que você tem em sua hipoteca, você fica sem nada e tem de pagar duas vezes mais pelas viagens de carro que faz.
Então, sabemos o que isso causou à nossa sociedade e todo o trabalho extra que temos para manter nossos carros. O que acontece quando uma cidade decide que estabelecerá outras prioridades? E, provavelmente, o melhor exemplo que temos aqui nos Estados Unidos é Portland, no Oregon. Portland tomou algumas decisões, nos anos 70, que começaram a distingui-la de quase todas as outras cidades americanas. Enquanto a maioria das outras cidades estava incentivando uma expansão de pneus sobressalentes sem planejamento, Portland instituiu um limite de crescimento urbano. Enquanto a maioria das cidades estava ampliando suas estradas, removendo árvores e estacionamentos paralelos às calçadas, para que o o tráfego de carros aumentasse, Portland instituiu um programa de ruas estreitas. E, enquanto a maioria das cidades estava investindo em mais estradas e em mais rodovias, eles, na verdade, investiam em bicicletas e caminhadas. E gastaram 60 milhões de dólares em bicicletários, o que parece muito dinheiro, mas foram gastos ao longo de 30 anos, então, 2 milhões de dólares por ano -- não é muito -- e a metade do preço de um único trevo rodoviário que eles decidiram reformar na cidade. Essas mudanças e outras parecidas transformaram o modo de viver dos cidadãos de Portland, e a quilometragem diária percorrida por eles, o que cada um percorre de carro, que, na verdade, teve seu pico em 1996, tem caído desde então, e atualmente dirigem 20% menos do que o restante do país. O típico cidadão de Portland dirige 6 km a menos e 11 minutos a menos por dia do que dirigia antes. O economista Joe Cortright fez os cálculos e descobriu que esses 6 km com os 11 minutos totalizam 3,5% de toda a renda da região.
Então, se eles não estão gastando esse dinheiro dirigindo -- e, a propósito, 85% do dinheiro que gastamos dirigindo não fica na economia local -- se não estão gastando esse dinheiro dirigindo, em que o estão gastando? Bem, Portland tem a fama de ter mais tejadilhos per capita, mais livrarias independentes per capita, mais clubes de striptease per capita. Tudo isso é exagero, leves exageros de uma verdade fundamental, de que os cidadãos de Portland gastam muito mais em diversão de todos os tipos do que o restante dos Estados Unidos. Na verdade, os cidadãos de Oregon gastam mais em álcool do que a maioria dos outros estados, o que pode ser uma coisa boa ou ruim, mas ficamos felizes por eles estarem dirigindo menos.
(Risadas)
Mas, na verdade, eles gastam a maior parte disso em suas casas, e investir em sua casa é o investimento mais local que você pode fazer. Mas existe uma outra história diferente sobre Portland, que não está nesses cálculos, que pessoas jovens e com bom grau de instrução têm se mudado para Portland aos montes, tanto que entre os dois últimos censos, houve um aumento de 50% em pessoas da geração Y, com educação superior o que é 5 vezes mais do que se viu em qualquer outro lugar do país, ou, devo dizer, do que a média nacional.
Então, por um lado, a cidade economiza dinheiro para seus cidadãos, sendo mais mais amiga dos pedestres e das bicicletas, mas, por outro lado, é um tipo legal de cidade onde as pessoas querem estar hoje em dia. Então, a melhor estratégia econômica que se pode desenvolver em uma cidade não é o jeito antigo, atraindo corporações e tentando ter um aglomerado biotecnológico ou um aglomerado da área médica, ou um aglomerado aeroespacial, mas tornar-se um lugar onde as pessoas querem estar. E a geração Y, certamente, essas locomotivas de empreendedorismo, 64% dos quais decidem primeiro onde querem morar, então se mudam para lá, e então procuram um emprego, eles virão para sua cidade.
O argumento de saúde é assustador, e provavelmente vocês já ouviram parte dele antes. Novamente, de volta aos anos 70, muita coisa mudou desde então. Nos anos 70, 1 em cada 10 americanos era obeso. Hoje, 1 em cada 3 americanos é obeso, e outro terço da população está acima do peso. 25% dos rapazes e 40% das moças estão pesados demais para se alistarem em nossas forças armadas. Segundo o Centro de Controle de Doenças americano, um terço de todas as crianças nascidas depois de 2000 vai desenvolver diabetes.
Acredito que essa crise no sistema de saúde americano, da qual todos ouvimos falar, é uma crise de design urbano, e que o design de nossas cidades é a cura para isso. Porque falamos durante muito tempo sobre dietas, e sabemos que as dietas influenciam o peso, e o peso, obviamente, influencia a saúde. Mas apenas começamos a falar sobre a ociosidade, e como ela é consequência de nossa paisagem, a ociosidade, que se deve ao fato de vivermos em um lugar onde não há mais coisas como um boa caminhada, está nos fazendo ganhar peso. E finalmente temos pesquisas, uma no Reino Unido, chamada "Gula versus Preguiça", que acompanhou o peso com dieta e acompanhou o peso com ociosidade, e descobriu uma correlação muito maior e mais forte entre os dois últimos. O Dr. James, neste caso, na apropriadamente chamada Clínica Mayo (maionese), pôs as pessoas que participaram de sua pesquisa em roupas íntimas eletrônicas, manteve firme suas dietas, e então começou a mandar calorias para dentro. Algumas pessoas ganharam peso, outras pessoas não ganharam peso. Esperando que houvesse algum fator metabólico ou de DNA atuando, eles ficaram chocados ao saber que a única diferença entre os participantes que eles puderam perceber foi o quanto estavam se locomovendo, e que, na verdade, aqueles que ganharam peso ficavam sentados, em média, duas horas a mais por dia do que os que não ganharam peso.
Então, temos essas pesquisas que relacionam o peso à ociosidade, mas mais ainda, temos agora pesquisas que relacionam o peso ao lugar onde se mora. Você vive em uma cidade mais 'caminhável' ou vive em uma cidade menos 'caminhável', ou em que parte de sua cidade você mora? Em San Diego, eles usaram Walk Score -- Walk Score avalia cada endereço dos Estados Unidos e, em breve, do mundo, em termos de 'caminhabilidade' -- eles usaram o Walk Score para selecionar os bairros mais 'caminháveis' e os bairros menos 'caminháveis'. Bem, adivinhem? Se você vivesse em um bairro mais 'caminhável', você teria 35% de chance de ficar acima do peso. Se vivesse em um bairro menos 'caminhável', você teria 60% de chance de ficar acima do peso. Então, agora temos pesquisas e mais pesqusas que estão relacionando o local onde você mora à sua saúde, principalmente já que nos EUA, a maior crise de saúde que temos é essa que tem origem na ociosidade induzida pelo ambiente onde se vive. E aprendi uma palavra nova na semana passada. Chamam esses bairros de "obesogenéricos" Talvez a palavra não seja exatamente assim, mas vocês entenderam.
Mas isso é uma coisa, é claro. Uma observação rápida: temos uma epidemia de asma neste país. Talvez vocês não pensem muito sobre isso. 14 americanos morrem de asma a cada dia, três vezes mais que nos anos 90, e quase todos os casos se devem à emissão de gases dos automóveis.
E a intensidade do tráfego em sua cidade, a sua quilometragem, é um bom indicador dos problemas de asma em sua cidade.
E, finalmente, em termos de andar de carro, existe a questão do maior assassino de adultos saudáveis, e um dos maiores assassinos de todos são os acidentes de carro. E já estamos acostumados com acidentes de carro. Entendemos que é um risco natural de estar na estrada. Mas, na verdade, aqui nos Estados Unidos, 12 pessoas em cada 100 mil morrem a cada ano em acidentes de carro. Aqui o trânsito é seguro. Bem, adivinhem? Na Inglaterra, são 7 em cada 100 mil. No Japão, são 4 em cada 100 mil. Sabem onde são 3 em cada 100 mil? Na cidade de Nova Iorque. Em São Francisco, a mesma coisa. Em Portland, a mesma coisa. Ah, as cidades ficam mais seguras porque estamos dirigindo menos? Tulsa: 14 em cada 100 mil. Orlando: 20 em cada 100 mil. A questão não é se você está ou não na cidade.
Porque, se a sua cidade está voltada aos carros, ela está bem propícia a que se choquem uns contra os outros.
Isso é parte de uma discussão bem mais ampla sobre saúde.
Finalmente, o argumento ambiental é fascinante, porque os ambientalistas lançaram a sorte cerca de 10 anos atrás. O movimento ambientalista nos EUA historicamente tem sido um movimento antiurbano, desde Thomas Jefferson.
Parece que ele tinha senso de humor.
E aí, o movimento ambientalista americano tem sido um movimento classicamente arcadiano. Para nos tornarmos mais ambientais, nós nos mudamos para o interior, temos comunhão com a natureza, construímos subúrbios. Mas, é claro, já vimos o que isso causa.
O mapa de emissões de carbono dos EUA, ou onde o CO2 tem sido emitido, durante muitos anos apenas incutiu de forma mais forte esse argumento. Se olharmos um mapa de carbono, porque mapeamos por milha quadrada, qualquer mapa de emissão de carbono dos EUA vai parecer uma foto de satélite dos EUA em céu noturno: mais aceso nas cidades, mais ameno nos subúrbios, escuro e pacato no interior. Até que alguns economistas disseram: "Sabe, será que esse é o jeito certo de medir emissões de CO2?" Há um número limitado de gente neste país, em qualquer época, e podemos optar por viver onde, talvez, causássemos um impacto menor. E disseram: "Vamos medir as emissões de CO2 por residência". E quando fizeram isso, os mapas mudaram totalmente, mais amenos nas cidades, mais acesos nos subúrbios, e totalmente iluminados nos bairros fora dos centros urbanos, onde se "dirige até se qualificar". Então, uma mudança fundamental, e hoje temos ambientalistas e economistas como Ed Glaeser, dizendo que somos uma espécie destrutiva. Se você ama a natureza, a melhor coisa a fazer é, poxa, ficar longe dela, mudar-se para uma cidade, e quanto mais densa melhor, e as cidades mais densas, como Manhattan, são as cidades que se saem melhor. Então, o cidadão típico de Manhattan consome combustível a uma taxa que o restante do país não vê desde os anos 20, consumindo metade da eletricidade de Dallas. Mas, é claro, podemos fazer melhor.
As cidades canadenses consomem metade da gasolina das cidades americanas. As cidades europeias também consomem metade. Então, é óbvio que podemos melhorar, e queremos melhorar e todos estamos tentando ser mais sustentáveis.
Minha última colocação sobre esse assunto é que acho que estamos tentando ser sustentáveis da forma errada, e sou um entre várias pessoas que acreditam que o foco nas engenhocas, nos acessórios - "O que posso acrescentar à minha casa, o que posso acrescentar àquilo que já tenho, para tornar meu estilo de vida mais sustentável?" - meio que dominou o debate. Então, não estou imune a isso. Minha mulher e eu construímos uma nova casa em um terreno abandonado em Washington, D.C., e fizemos o melhor possível para limpas as prateleiras da loja de sustentabilidade. Compramos o sistema fotovoltaico solar, aquecedor de água solar, sanitários de descarga dupla, pisos de bambu. Uma tora queimando em meu moderníssimo fogão alemão, aparentemente, supostamente, emite menos gás carbônico na atmosfera do que se estivesse na floresta decompondo-se sozinha. Ainda assim, todas essas inovações -- foi o que disseram no folheto. (Risadas) Todas essas inovações juntas contribuem com apenas uma fração da contribuição que damos por viver em bairros 'caminháveis', a três quarteirões do metrô, no coração da cidade. Trocamos todas as nossas lâmpadas para as que economizam energia, e vocês devem fazer o mesmo, mas trocar todas as suas lâmpadas por outras que economizam energia poupa tanta energia em um ano quanto se mudar para uma cidade 'caminhável' poupa em uma semana.
E não queremos abrir esse debate. Os políticos e marqueteiros têm medo do "marketing verde" como uma "escolha por um estilo de vida". Você não vai querer dizer aos americanos, Deus nos livre, que eles têm de mudar seu estilo de vida. Mas e estilo de vida tivesse realmente a ver com qualidade de vida e, talvez, como algo todos aproveitaríamos mais, algo que fosse melhor do que o que temos agora?
Bem, o mais alto padrão de classificação da qualidade de vida se chama Pesquisa Mercer. Vocês já devem ter ouvido falar. Eles classificam centenas de países em todo o mundo, segundo 10 critérios que eles acreditam resultarem em qualidade de vida: saúde, economia, educação, habitação, e por aí vai. Há outros seis. E pronto.
(Risadas)
E é muito interessante ver que Honolulu, a cidade americana com a melhor classificação, número 28, é seguida das cidades de sempre, Seattle e Boston, todas cidades 'caminháveis'. As cidades motorizadas no Cinturão do Sol, Dallas, Phoenix e, desculpem-me, Atlanta, essas cidades não aparecem na lista. Mas quem está ainda melhor? As cidades canadenses como Vancouver, onde, novamente, queima-se metade do combustível. Então, normalmente quem vence são as cidades onde se fala alemão, como Dusseldorf ou Viena, onde, mais uma vez, queima-se metade do combustível que queimamos.
Eu diria que a mesma coisa que nos torna mais sustentáveis é a que nos dá uma melhor qualidade de vida, que é viver em um bairro 'caminhável'. Então, a sustentabilidade, que inclui nossa riqueza e nossa saúde, talvez não tenha relação direta com a nossa sustentabilidade. Mas, particularmente aqui nos EUA, estamos poluindo demais, porque estamos desperdiçando nosso tempo e nosso dinheiro e nossas vidas na estrada. Portanto, esses dois problemas parecem compartilhar a mesma solução, que é tornar nossas cidades mais 'caminháveis'.
Fazer isso não é fácil, mas é possível, já foi realizado e tem sido realizado agora em muitas cidades, em todo o mundo e em nosso país. O meu consolo vem de Winston Churchill, que explica isso da seguinte maneira:
Obrigado.
(Aplausos)
[Via BBA]
Bem, eu sou um planejador de cidades, um designer urbano, ex-defensor das artes, com formação em arquitetura e história da arte, e quero falar hoje não sobre design, mas sobre os Estados Unidos e como os Estados Unidos podem ser mais economicamente resilientes, como os Estados Unidos podem ser mais saudáveis e como os Estados Unidos podem ser mais ambientalmente sustentáveis. Eu sei que este é um fórum global, mas acho que preciso falar sobre os Estados Unidos porque existe uma história, em alguns lugares, não em todos, de que as ideias americanas são copiadas, sendo imitadas, tanto as boas quanto as ruins, ao redor do mundo.
E a pior ideia que já tivemos é a expansão urbana. Ela está sendo imitada em diversos lugares enquanto falamos. Digo expansão urbana referindo-me à reorganização da paisagem e à criação da paisagem em torno da necessidade de utilização de automóvel, e de que esse automóvel que antes era um instrumento de liberdade tornou-se um dispositivo protético, que expele fumaça, gasta tempo e ameaça a vida e que muitos de nós precisamos simplesmente -- a maioria dos americanos, na verdade, precisa apenas para viver suas vidas. E há uma alternativa. Sabe, dizemos que metade do mundo vive em cidades. Bem, nos Estados Unidos, esse "viver em cidades", para muitos, é viver em cidades onde ainda são dependentes do automóvel. E o meu trabalho, o que procuro fazer, é tornar nossas cidades mais 'caminháveis'. Mas não posso dar argumentos de design para isso que tenham tanto impacto quanto os argumentos que aprendi com os economistas, os epidemiologistas e os ambientalistas. Então, esses são os três argumentos que vou dar a vocês hoje, rapidamente.
Enquanto eu crescia, nos anos 70, o americano típico gastava um décimo de sua renda da família americana, em transporte. Desde então, dobramos o número de estradas nos Estados Unidos e, atualmente, gastamos um quinto de nossa renda com transporte. Famílias que trabalham, que se enquadram na faixa de renda entre 20 e 50 mil dólares por ano, nos Estados Unidos, estão gastando mais em transporte agora do que em habitação, ligeiramente mais, por causa de um fenômeno chamado "dirija até que se qualifique", encontrando casas cada vez mais e mais distantes dos centros urbanos e de seus empregos, ficando presos em duas, três, ou quatro horas de viagem diariamente. E esses são os bairros, por exemplo, no Vale Central da Califórnia, que não sofreram quando houve o estouro da bolha imobiliária, nem quando os preços do combustível aumentaram; eles foram dizimados. Na verdade, essas são muitas das comunidades parcialmente vazias que você encontra hoje. Imagine investir tudo o que você tem em sua hipoteca, você fica sem nada e tem de pagar duas vezes mais pelas viagens de carro que faz.
Então, sabemos o que isso causou à nossa sociedade e todo o trabalho extra que temos para manter nossos carros. O que acontece quando uma cidade decide que estabelecerá outras prioridades? E, provavelmente, o melhor exemplo que temos aqui nos Estados Unidos é Portland, no Oregon. Portland tomou algumas decisões, nos anos 70, que começaram a distingui-la de quase todas as outras cidades americanas. Enquanto a maioria das outras cidades estava incentivando uma expansão de pneus sobressalentes sem planejamento, Portland instituiu um limite de crescimento urbano. Enquanto a maioria das cidades estava ampliando suas estradas, removendo árvores e estacionamentos paralelos às calçadas, para que o o tráfego de carros aumentasse, Portland instituiu um programa de ruas estreitas. E, enquanto a maioria das cidades estava investindo em mais estradas e em mais rodovias, eles, na verdade, investiam em bicicletas e caminhadas. E gastaram 60 milhões de dólares em bicicletários, o que parece muito dinheiro, mas foram gastos ao longo de 30 anos, então, 2 milhões de dólares por ano -- não é muito -- e a metade do preço de um único trevo rodoviário que eles decidiram reformar na cidade. Essas mudanças e outras parecidas transformaram o modo de viver dos cidadãos de Portland, e a quilometragem diária percorrida por eles, o que cada um percorre de carro, que, na verdade, teve seu pico em 1996, tem caído desde então, e atualmente dirigem 20% menos do que o restante do país. O típico cidadão de Portland dirige 6 km a menos e 11 minutos a menos por dia do que dirigia antes. O economista Joe Cortright fez os cálculos e descobriu que esses 6 km com os 11 minutos totalizam 3,5% de toda a renda da região.
Então, se eles não estão gastando esse dinheiro dirigindo -- e, a propósito, 85% do dinheiro que gastamos dirigindo não fica na economia local -- se não estão gastando esse dinheiro dirigindo, em que o estão gastando? Bem, Portland tem a fama de ter mais tejadilhos per capita, mais livrarias independentes per capita, mais clubes de striptease per capita. Tudo isso é exagero, leves exageros de uma verdade fundamental, de que os cidadãos de Portland gastam muito mais em diversão de todos os tipos do que o restante dos Estados Unidos. Na verdade, os cidadãos de Oregon gastam mais em álcool do que a maioria dos outros estados, o que pode ser uma coisa boa ou ruim, mas ficamos felizes por eles estarem dirigindo menos.
(Risadas)
Mas, na verdade, eles gastam a maior parte disso em suas casas, e investir em sua casa é o investimento mais local que você pode fazer. Mas existe uma outra história diferente sobre Portland, que não está nesses cálculos, que pessoas jovens e com bom grau de instrução têm se mudado para Portland aos montes, tanto que entre os dois últimos censos, houve um aumento de 50% em pessoas da geração Y, com educação superior o que é 5 vezes mais do que se viu em qualquer outro lugar do país, ou, devo dizer, do que a média nacional.
Então, por um lado, a cidade economiza dinheiro para seus cidadãos, sendo mais mais amiga dos pedestres e das bicicletas, mas, por outro lado, é um tipo legal de cidade onde as pessoas querem estar hoje em dia. Então, a melhor estratégia econômica que se pode desenvolver em uma cidade não é o jeito antigo, atraindo corporações e tentando ter um aglomerado biotecnológico ou um aglomerado da área médica, ou um aglomerado aeroespacial, mas tornar-se um lugar onde as pessoas querem estar. E a geração Y, certamente, essas locomotivas de empreendedorismo, 64% dos quais decidem primeiro onde querem morar, então se mudam para lá, e então procuram um emprego, eles virão para sua cidade.
O argumento de saúde é assustador, e provavelmente vocês já ouviram parte dele antes. Novamente, de volta aos anos 70, muita coisa mudou desde então. Nos anos 70, 1 em cada 10 americanos era obeso. Hoje, 1 em cada 3 americanos é obeso, e outro terço da população está acima do peso. 25% dos rapazes e 40% das moças estão pesados demais para se alistarem em nossas forças armadas. Segundo o Centro de Controle de Doenças americano, um terço de todas as crianças nascidas depois de 2000 vai desenvolver diabetes.
Temos a primeira geração de crianças nos Estados Unidos que espera-se viverem menos que seus pais.
Acredito que essa crise no sistema de saúde americano, da qual todos ouvimos falar, é uma crise de design urbano, e que o design de nossas cidades é a cura para isso. Porque falamos durante muito tempo sobre dietas, e sabemos que as dietas influenciam o peso, e o peso, obviamente, influencia a saúde. Mas apenas começamos a falar sobre a ociosidade, e como ela é consequência de nossa paisagem, a ociosidade, que se deve ao fato de vivermos em um lugar onde não há mais coisas como um boa caminhada, está nos fazendo ganhar peso. E finalmente temos pesquisas, uma no Reino Unido, chamada "Gula versus Preguiça", que acompanhou o peso com dieta e acompanhou o peso com ociosidade, e descobriu uma correlação muito maior e mais forte entre os dois últimos. O Dr. James, neste caso, na apropriadamente chamada Clínica Mayo (maionese), pôs as pessoas que participaram de sua pesquisa em roupas íntimas eletrônicas, manteve firme suas dietas, e então começou a mandar calorias para dentro. Algumas pessoas ganharam peso, outras pessoas não ganharam peso. Esperando que houvesse algum fator metabólico ou de DNA atuando, eles ficaram chocados ao saber que a única diferença entre os participantes que eles puderam perceber foi o quanto estavam se locomovendo, e que, na verdade, aqueles que ganharam peso ficavam sentados, em média, duas horas a mais por dia do que os que não ganharam peso.
Então, temos essas pesquisas que relacionam o peso à ociosidade, mas mais ainda, temos agora pesquisas que relacionam o peso ao lugar onde se mora. Você vive em uma cidade mais 'caminhável' ou vive em uma cidade menos 'caminhável', ou em que parte de sua cidade você mora? Em San Diego, eles usaram Walk Score -- Walk Score avalia cada endereço dos Estados Unidos e, em breve, do mundo, em termos de 'caminhabilidade' -- eles usaram o Walk Score para selecionar os bairros mais 'caminháveis' e os bairros menos 'caminháveis'. Bem, adivinhem? Se você vivesse em um bairro mais 'caminhável', você teria 35% de chance de ficar acima do peso. Se vivesse em um bairro menos 'caminhável', você teria 60% de chance de ficar acima do peso. Então, agora temos pesquisas e mais pesqusas que estão relacionando o local onde você mora à sua saúde, principalmente já que nos EUA, a maior crise de saúde que temos é essa que tem origem na ociosidade induzida pelo ambiente onde se vive. E aprendi uma palavra nova na semana passada. Chamam esses bairros de "obesogenéricos" Talvez a palavra não seja exatamente assim, mas vocês entenderam.
Mas isso é uma coisa, é claro. Uma observação rápida: temos uma epidemia de asma neste país. Talvez vocês não pensem muito sobre isso. 14 americanos morrem de asma a cada dia, três vezes mais que nos anos 90, e quase todos os casos se devem à emissão de gases dos automóveis.
A poluição americana não vem mais das fábricas. Ela vem dos escapamentos dos carros.
E a intensidade do tráfego em sua cidade, a sua quilometragem, é um bom indicador dos problemas de asma em sua cidade.
E, finalmente, em termos de andar de carro, existe a questão do maior assassino de adultos saudáveis, e um dos maiores assassinos de todos são os acidentes de carro. E já estamos acostumados com acidentes de carro. Entendemos que é um risco natural de estar na estrada. Mas, na verdade, aqui nos Estados Unidos, 12 pessoas em cada 100 mil morrem a cada ano em acidentes de carro. Aqui o trânsito é seguro. Bem, adivinhem? Na Inglaterra, são 7 em cada 100 mil. No Japão, são 4 em cada 100 mil. Sabem onde são 3 em cada 100 mil? Na cidade de Nova Iorque. Em São Francisco, a mesma coisa. Em Portland, a mesma coisa. Ah, as cidades ficam mais seguras porque estamos dirigindo menos? Tulsa: 14 em cada 100 mil. Orlando: 20 em cada 100 mil. A questão não é se você está ou não na cidade.
A questão é: como a sua cidade é projetada? Ela foi planejada para os carros ou para as pessoas?
Porque, se a sua cidade está voltada aos carros, ela está bem propícia a que se choquem uns contra os outros.
Isso é parte de uma discussão bem mais ampla sobre saúde.
Finalmente, o argumento ambiental é fascinante, porque os ambientalistas lançaram a sorte cerca de 10 anos atrás. O movimento ambientalista nos EUA historicamente tem sido um movimento antiurbano, desde Thomas Jefferson.
As cidades são prejudiciais à saúde, às liberdades, e aos princípios morais do homem. Se continuarmos nos empilhar uns nos outros nas cidades, como fazem na Europa, nós nos tornaremos tão corruptos como eles são na Europa e passaremos a comer uns os outros como eles fazem lá.
Parece que ele tinha senso de humor.
E aí, o movimento ambientalista americano tem sido um movimento classicamente arcadiano. Para nos tornarmos mais ambientais, nós nos mudamos para o interior, temos comunhão com a natureza, construímos subúrbios. Mas, é claro, já vimos o que isso causa.
O mapa de emissões de carbono dos EUA, ou onde o CO2 tem sido emitido, durante muitos anos apenas incutiu de forma mais forte esse argumento. Se olharmos um mapa de carbono, porque mapeamos por milha quadrada, qualquer mapa de emissão de carbono dos EUA vai parecer uma foto de satélite dos EUA em céu noturno: mais aceso nas cidades, mais ameno nos subúrbios, escuro e pacato no interior. Até que alguns economistas disseram: "Sabe, será que esse é o jeito certo de medir emissões de CO2?" Há um número limitado de gente neste país, em qualquer época, e podemos optar por viver onde, talvez, causássemos um impacto menor. E disseram: "Vamos medir as emissões de CO2 por residência". E quando fizeram isso, os mapas mudaram totalmente, mais amenos nas cidades, mais acesos nos subúrbios, e totalmente iluminados nos bairros fora dos centros urbanos, onde se "dirige até se qualificar". Então, uma mudança fundamental, e hoje temos ambientalistas e economistas como Ed Glaeser, dizendo que somos uma espécie destrutiva. Se você ama a natureza, a melhor coisa a fazer é, poxa, ficar longe dela, mudar-se para uma cidade, e quanto mais densa melhor, e as cidades mais densas, como Manhattan, são as cidades que se saem melhor. Então, o cidadão típico de Manhattan consome combustível a uma taxa que o restante do país não vê desde os anos 20, consumindo metade da eletricidade de Dallas. Mas, é claro, podemos fazer melhor.
As cidades canadenses consomem metade da gasolina das cidades americanas. As cidades europeias também consomem metade. Então, é óbvio que podemos melhorar, e queremos melhorar e todos estamos tentando ser mais sustentáveis.
Minha última colocação sobre esse assunto é que acho que estamos tentando ser sustentáveis da forma errada, e sou um entre várias pessoas que acreditam que o foco nas engenhocas, nos acessórios - "O que posso acrescentar à minha casa, o que posso acrescentar àquilo que já tenho, para tornar meu estilo de vida mais sustentável?" - meio que dominou o debate. Então, não estou imune a isso. Minha mulher e eu construímos uma nova casa em um terreno abandonado em Washington, D.C., e fizemos o melhor possível para limpas as prateleiras da loja de sustentabilidade. Compramos o sistema fotovoltaico solar, aquecedor de água solar, sanitários de descarga dupla, pisos de bambu. Uma tora queimando em meu moderníssimo fogão alemão, aparentemente, supostamente, emite menos gás carbônico na atmosfera do que se estivesse na floresta decompondo-se sozinha. Ainda assim, todas essas inovações -- foi o que disseram no folheto. (Risadas) Todas essas inovações juntas contribuem com apenas uma fração da contribuição que damos por viver em bairros 'caminháveis', a três quarteirões do metrô, no coração da cidade. Trocamos todas as nossas lâmpadas para as que economizam energia, e vocês devem fazer o mesmo, mas trocar todas as suas lâmpadas por outras que economizam energia poupa tanta energia em um ano quanto se mudar para uma cidade 'caminhável' poupa em uma semana.
E não queremos abrir esse debate. Os políticos e marqueteiros têm medo do "marketing verde" como uma "escolha por um estilo de vida". Você não vai querer dizer aos americanos, Deus nos livre, que eles têm de mudar seu estilo de vida. Mas e estilo de vida tivesse realmente a ver com qualidade de vida e, talvez, como algo todos aproveitaríamos mais, algo que fosse melhor do que o que temos agora?
Bem, o mais alto padrão de classificação da qualidade de vida se chama Pesquisa Mercer. Vocês já devem ter ouvido falar. Eles classificam centenas de países em todo o mundo, segundo 10 critérios que eles acreditam resultarem em qualidade de vida: saúde, economia, educação, habitação, e por aí vai. Há outros seis. E pronto.
(Risadas)
E é muito interessante ver que Honolulu, a cidade americana com a melhor classificação, número 28, é seguida das cidades de sempre, Seattle e Boston, todas cidades 'caminháveis'. As cidades motorizadas no Cinturão do Sol, Dallas, Phoenix e, desculpem-me, Atlanta, essas cidades não aparecem na lista. Mas quem está ainda melhor? As cidades canadenses como Vancouver, onde, novamente, queima-se metade do combustível. Então, normalmente quem vence são as cidades onde se fala alemão, como Dusseldorf ou Viena, onde, mais uma vez, queima-se metade do combustível que queimamos.
E percebe-se um alinhamento, um estranho alinhamento. Será que ser mais sustentável é o que nos dá uma qualidade de vida maior?
Eu diria que a mesma coisa que nos torna mais sustentáveis é a que nos dá uma melhor qualidade de vida, que é viver em um bairro 'caminhável'. Então, a sustentabilidade, que inclui nossa riqueza e nossa saúde, talvez não tenha relação direta com a nossa sustentabilidade. Mas, particularmente aqui nos EUA, estamos poluindo demais, porque estamos desperdiçando nosso tempo e nosso dinheiro e nossas vidas na estrada. Portanto, esses dois problemas parecem compartilhar a mesma solução, que é tornar nossas cidades mais 'caminháveis'.
Fazer isso não é fácil, mas é possível, já foi realizado e tem sido realizado agora em muitas cidades, em todo o mundo e em nosso país. O meu consolo vem de Winston Churchill, que explica isso da seguinte maneira:
Pode-se contar que os americanos farão a coisa certa quando não tiverem mais alternativa.
Obrigado.
(Aplausos)
[Via BBA]
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