Conversas gravadas secretamente entre soldados alemães prisioneiros revelam a mentalidade dos combatentes. Transcrições foram achadas por ac...
Conversas gravadas secretamente entre soldados alemães prisioneiros revelam a mentalidade dos combatentes. Transcrições foram achadas por acaso.
Soldado da Wehrmacht durante a Segunda Guerra
Em 2001, o historiador alemão Sönke Neitzel descobriu os documentos no Arquivo Nacional Britânico. Ele sabia o valor histórico da pilha de papéis ignorada por tantos anos pois acabara de achar transcrições de conversas entre soldados alemães prisioneiros durante a Segunda Guerra, registradas secretamente. Eram diálogos íntimos entre colegas que ignoravam que um terceiro escutava e anotava tudo nos mínimos detalhes.
Os britânicos e norte-americanos, que mantinham os alemães aprisionados, alimentavam a esperança que tais conversas pudessem revelar informações militares estratégicas. Todavia, as transcrições foram úteis para a finalidade esperada. No entanto, os registros mostraram, em sua maior parte, como era o cotidiano dos homens durante a guerra, como eles lutavam, matavam e morriam.
Sönke Neitzel e o psicanalista Harald Welzer ficaram tão fascinados com as 150 mil páginas de transcrições que decidiram estudar esse estranho material. Os resultados de suas observações foram publicados no livro Soldaten – Protokolle vom Kämpfen, Töten und Sterben (Soldados: Atas de lutar, matar e morrer).
O foco do livro não é um julgamento das atrocidades cometidas na guerra.
Em invés disso, eles queriam entender o que os soldados pensavam, e como eles foram levados a esses atos terríveis.
Mas mergulhar em relatos de mentes tão violentas não deixaria de emocionar ambos os pesquisadores. Em determinados trechos, se viam diante de histórias sobre como os soldados discutiam entre si sobre o gosto pelo assassinato, ou sobre a quantidade de mulheres que haviam estuprado.
Era rara a vez que algum dos participantes das conversas expressava qualquer objeção ou criticava esse ato de se vangloriar.
Frequentemente historiadores tem a oportunidade de estudar memórias de guerra ou as cartas que os soldados enviavam às suas famílias, porém, estas têm valor limitado, relata Welzer.
Porém, quando Neitzel contou a Welzer sobre as transcrições, este último logo percebeu o quão raros e valiosos eram aqueles documentos.
Essas transcrições, por sua vez, são uma sensação para o mundo acadêmico.
O livro lançado pelos estudiosos examina assuntos relacionados à mentalidade dos soldados envolvidos no combate diário e como eles viam a guerra. Um dos aspectos surpreendentes para os autores foi o fato de as atitudes dos soldados não variarem muito segundo a idade, histórico pessoal ou hierarquia militar.
Ambos estão convictos de que essas conversas francas entre os combatentes alemães da Segunda Guerra também permitem penetrar na mente de soldados envolvidos em outros conflitos. Uma constatação perturbadora é que a própria lógica da guerra é o que os transforma em seres humanos brutais.
E é esse ponto que não muda de uma guerra para outra.
Neitzel está convencido de que a ideologia não entra na cabeça dos soldados, nessas situações: os da Wehrmacht não ponderavam sobre a ideologia dos nazistas, os da Bundeswehr hoje provavelmente não refletem por um só momento sobre a Constituição alemã.
Soldados da Bundeswehr (Wikimedia)
Segundo Neitzel e Welzer, não há dúvida que havia nazistas convictos entre os soldados alemães da Segunda Guerra, e essas convicções lhes diziam que matar judeus era a coisa certa a fazerem. Esses, no entanto, constituíam uma minoria.
Eles também argumentam que os atos de violência cometidos sob o regime nazista não foram mais brutais do que os cometidos em outras situações. Eles creem que uma ideologia como o nazismo não é o fator mais importante que leva a atrocidades, mas sim um sistema de valores militares que transforma homens em assassinos.
Harald Welzer considera fútil o clamor público em relação aos crimes de guerra, pois a lógica da guerra tende a gerar crimes.
Fonte:
Conversas entre soldados nazistas revelam lógica secreta da guerra - DW
[Via BBA]
Em 2001, o historiador alemão Sönke Neitzel descobriu os documentos no Arquivo Nacional Britânico. Ele sabia o valor histórico da pilha de papéis ignorada por tantos anos pois acabara de achar transcrições de conversas entre soldados alemães prisioneiros durante a Segunda Guerra, registradas secretamente. Eram diálogos íntimos entre colegas que ignoravam que um terceiro escutava e anotava tudo nos mínimos detalhes.
Os britânicos e norte-americanos, que mantinham os alemães aprisionados, alimentavam a esperança que tais conversas pudessem revelar informações militares estratégicas. Todavia, as transcrições foram úteis para a finalidade esperada. No entanto, os registros mostraram, em sua maior parte, como era o cotidiano dos homens durante a guerra, como eles lutavam, matavam e morriam.
Para mim, jogar bombas se tornou uma necessidade. Dá mesmo um arrepio na espinha, é uma sensação ótima. Tão gostoso fuzilar alguém.
Trecho de uma das conversas registradas
Sönke Neitzel e o psicanalista Harald Welzer ficaram tão fascinados com as 150 mil páginas de transcrições que decidiram estudar esse estranho material. Os resultados de suas observações foram publicados no livro Soldaten – Protokolle vom Kämpfen, Töten und Sterben (Soldados: Atas de lutar, matar e morrer).
O foco do livro não é um julgamento das atrocidades cometidas na guerra.
Tomamos o cuidado de evitar julgamentos. Não queríamos apenas mostrar as coisas terríveis que os soldados fizeram.
Sönke Neitzel. Historiador
Em invés disso, eles queriam entender o que os soldados pensavam, e como eles foram levados a esses atos terríveis.
Mas mergulhar em relatos de mentes tão violentas não deixaria de emocionar ambos os pesquisadores. Em determinados trechos, se viam diante de histórias sobre como os soldados discutiam entre si sobre o gosto pelo assassinato, ou sobre a quantidade de mulheres que haviam estuprado.
Era rara a vez que algum dos participantes das conversas expressava qualquer objeção ou criticava esse ato de se vangloriar.
De certo modo, eram conversas mais ou menos normais entre dois colegas. A única diferença é que seu trabalho era a guerra.
Harald Welzer. Psicanalista
Frequentemente historiadores tem a oportunidade de estudar memórias de guerra ou as cartas que os soldados enviavam às suas famílias, porém, estas têm valor limitado, relata Welzer.
Porém, quando Neitzel contou a Welzer sobre as transcrições, este último logo percebeu o quão raros e valiosos eram aqueles documentos.
Quando alguém escreve uma carta para a mamãe, certamente não comenta quantas mulheres estuprou.
Essas transcrições, por sua vez, são uma sensação para o mundo acadêmico.
Não temos material comparável nem mesmo de guerras contemporâneas, como a do Afeganistão. Por um lado, conversas desse tipo provavelmente não estão sendo registradas, por outro, mesmo que estivessem, não teríamos acesso a elas.
O livro lançado pelos estudiosos examina assuntos relacionados à mentalidade dos soldados envolvidos no combate diário e como eles viam a guerra. Um dos aspectos surpreendentes para os autores foi o fato de as atitudes dos soldados não variarem muito segundo a idade, histórico pessoal ou hierarquia militar.
Ambos estão convictos de que essas conversas francas entre os combatentes alemães da Segunda Guerra também permitem penetrar na mente de soldados envolvidos em outros conflitos. Uma constatação perturbadora é que a própria lógica da guerra é o que os transforma em seres humanos brutais.
No primeiro dia, pareceu terrível. Mas aí eu disse para mim mesmo: 'Dane-se, ordem é ordem'. No segundo e terceiro dias, pensei 'tanto faz, de qualquer jeito'. No quarto, comecei a gostar.
Trecho dos documentos estudados
Lutar numa guerra é como um ofício especializado, e quanto melhor os soldados dominarem essas aptidões, maiores são suas chances de sobrevivência e de sucesso. E eles se definem por esse sucesso.
Sönke Neitzel
E é esse ponto que não muda de uma guerra para outra.
No fim das contas, um franco-atirador da Wehrmacht na Segunda Guerra e um da Bundeswehr no Afeganistão estão fazendo o mesmo trabalho. A arma e uniforme são diferentes hoje, mas o trabalho é o mesmo, é atirar para matar, é exatamente a mesma coisa.
Sönke Neitzel. Historiador
Neitzel está convencido de que a ideologia não entra na cabeça dos soldados, nessas situações: os da Wehrmacht não ponderavam sobre a ideologia dos nazistas, os da Bundeswehr hoje provavelmente não refletem por um só momento sobre a Constituição alemã.
Segundo Neitzel e Welzer, não há dúvida que havia nazistas convictos entre os soldados alemães da Segunda Guerra, e essas convicções lhes diziam que matar judeus era a coisa certa a fazerem. Esses, no entanto, constituíam uma minoria.
Eles também argumentam que os atos de violência cometidos sob o regime nazista não foram mais brutais do que os cometidos em outras situações. Eles creem que uma ideologia como o nazismo não é o fator mais importante que leva a atrocidades, mas sim um sistema de valores militares que transforma homens em assassinos.
Harald Welzer considera fútil o clamor público em relação aos crimes de guerra, pois a lógica da guerra tende a gerar crimes.
Em qualquer guerra moderna, acontecem exatamente as mesmas coisas que esses soldados alemães da Segunda Guerra discutiam. A única maneira de se erradicar isso seria acabar com a guerra inteiramente e substituí-la por uma outra maneira de os países resolverem suas diferenças, sem recorrer ao assassinato.
Harald Welzer. Psicanalista
Fonte:
Conversas entre soldados nazistas revelam lógica secreta da guerra - DW
[Via BBA]
A guerra põe a tona o que de pior há no ser humano e que, normalmente, subjaz sob um verniz de civilidade e educação.Alguem ja disse :"As guerras começam antes em nossos corações.Ali começamos matar nossos semelhantes"
ResponderExcluirA guerra é injustificavel, pois é reflexo dos pensamentos mais egoistas, e o alimento da vaidade de um ser humano.
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