Em entrevista ao The New York Times, especialista em segurança hospitalar defende que dar mais autonomia para a enfermagem pode reduzir a ta...
Em entrevista ao The New York Times, especialista em segurança hospitalar defende que dar mais autonomia para a enfermagem pode reduzir a taxa de erro e salvar vidas.
Em uma palestra sobre biotecnologia que presenciei no SESC em Anápolis-GO. Fui informado que o Hospital de Base de Brasília havia implementado um complexo sistema de isolamento e controle do uso de antibióticos combinando procedimento com softwares para determinar quando uma bactéria desenvolvia resistência a um certa droga e com isso até mudar o paciente de ala (para poderem administrar drogas mais eficazes). Tudo isso para conseguir controlar e minimizar o problema da infecção hospitalar a qual foi apontada como a o problema que veio causar a morte de Tancredo Neves, que fora internado inicialmente naquele hospital (e por causa disso veio a assumir José Sarney, mudando toda a história da redemocratização).
Pois o Dr. Peter Pronovost, diretor médico do Grupo de Pesquisa de Qualidade e Segurança do Hospital John Hopkins em Baltimore, EUA, e eleito pela revista Time como uma das personalidades mais influentes de 2008, persegue o mesmo objetivo, reduzir os índices de infecção hospitalar, mas para isso ele entende que o problema
passa por mudanças na hierarquia médico-enfermeiro.
Para entender como Pronovost chegou a essas conclusões é preciso voltar um pouco no tempo. Quando seu pai ainda era vivo e sofria de câncer. Ele tinha um linfoma mas foi dagnosticado erradamente como tendo leucemia. Quando Pronovost estava no primeiro ano de medicina no John Hopkins, levou seu pai a um especialista para uma segunda opinião que disse: "Se você tivesse vindo antes, seria elegível para um transplante de medula óssea, mas o câncer já está muito avançado." O pai de Pronovost morreu aos 50 anos de idade.
Essa tragédia pessoal revoltou Pronovost que ficou com raiva dos clínicos e dele mesmo. Embora a palavra “erro” nunca tenha sido pronunciada estava claro que havia ocorrido.
Após o doutorado em segurança hospitalar, anos mais tarde, conhecera uma mulher cuja filha de 18 meses havia morrido de infecção e desidratação no John Hopkins, após a inserção de um cateter.
A mãe e os enfermeiros havia percebido que a criança estava com problemas. Mas alguns médicos encarregados de seus cuidados simplesmente não ouviam.
Ou seja, uma criança que morreu de desidratação, uma doença do terceiro mundo, em um dos melhores hospitais do mundo. A autocrítica que se seguiu permitiu que fosse possível para ele realizar novas pesquisas sobre segurança e pressionar por mudanças.
Segundo Peter Pronovost, havia lá, como em muitos hospitais, um trabalho em equipe disfuncional por causa de uma cultura excessivamente hierárquica.
Quando ocorriam confrontações, era assim: “Eu estou certo. Sou mais experiente que você. Não me diga o que fazer.” Com a causa da morte da menina (infecção após introdução de cateter), os índices eram altíssimos: cerca de 11 em mil, o que colocava o Hopkins, na época, entre os 10% piores do país.
Cateteres são inseridos nas veias próximas do coração antes de grandes cirurgias, na UTI, para quimioterapia e diálise. O Centro de Controle de Doenças calcula que 31 mil pessoas por ano morrem de infecções no sangue contraídas em hospitais dessa forma.
Dr. Pronovost pensou: "Isso pode ser impedido. Infecções hospitalares não são como uma doença sem cura. Vamos tentar fazer um check list que padronize o que os clínicos fazem antes do cateterismo."
Se uma nova droga salvasse tantas vidas quanto o checklist do Dr. Peter haveria uma campanha nacional para que os médicos a adotassem urgentemente. - The New Yorker
Peter acreditava que se elegesse as medidas de segurança mais importantes e encontrasse uma forma de torná-las uma rotina, o cenário poderia ser alterado.
E o check list desenvolvido era bem simples, a saber:
Na entrevista dada ao NYT, Peter foi questionado sobre o item "lavar as mãos". Como assim? Os médicos não lavam as mãos? Aí ele apresentou estatísticas típicas do best-seller Freakonomics.
Em hospitais que estão trabalhando para melhorar seu desempenho de segurança, o número chega a 70%. Ou seja, mesmo nesses hospitais em 30% das vezes os médicos não lavam as mãos.
No Hopkins, eles testaram a ideia do check list na UTI cirúrgica. Ajudou, mas era preciso fazer mais para diminuir os índices de infecção. Era preciso garantir que os suprimentos – desinfetante, panos, cateteres – estivessem próximos e à mão.
Observou-se que esses itens eram armazenados em oito lugares diferentes dentro do hospital e por isso, nas emergências, muitas vezes, a pessoas “pulavam” passos.
Assim, foi reunido todo o material necessário o colocado junto em um carrinho acessível. Uma pessoa foi designada para ficar responsável pelo carrinho e sempre garantir que ele estivesse abastecido. Também foram instituímos supervisores para garantir que o check list estivesse sendo seguido.
Aí veio a parte mais difícil. Eles disseram: “Médicos, sabemos que vocês são pessoas ocupadas e às vezes se esquecem de lavar as mãos. Então, enfermeiros, vocês devem garantir que os médicos o façam. Se eles não o fizerem, vocês estão autorizados a interromper o início de um procedimento.”
Nesse ponto Dr. Provonost interveio dizendo: "Médicos, sabemos que não somos perfeitos e que podemos esquecer importantes medidas de segurança. Enfermeiros, como vocês podem permitir que um médico comece sem ter lavado as mãos?"
Além disso, disse aos enfermeiros que eles poderiam mandar mensagens de celular de dia ou de noite, que eles os apoiaria.
O esforço valeu a pena: em quatro anos eles conseguiram reduzir a quase zero os níveis de infecção na UTI.
Levaram a ideia a 100 UTIs de 70 hospitais de Michigan. Mediram suas taxas de infecção, implementamos o check list, trabalharam para obter uma cultura de mais cooperação, para que os enfermeiros pudessem falar e novamente reduziram as taxas a quase zero. Agora estão motivando hospitais de todo o país a implementar sistemas de check list similares.
É por isso que Peter diz que os pacientes morrem de hierarquia e quando perguntado como o paciente pode se proteger dessa "doença" ele diz sem pestanejar:
Vai ser uma mudança cultural difícil por aqui. Será que a Anvisa possui um levantamento estatístico sobre o percentual de vezes que o médico brasileiro (não) lava as mãos antes de um procedimento? A população poderia ter acesso a um quadro com a taxa de de infecção hospitalar de cada UTI do país. Já seria uma forma de pressioná-los a seguir padrões mais rígidos de controle e do cidadão se proteger. Se é que esses dados foram levantados.
Hoje, o site do Ministério da Saúde (MS), na seção Informações para o Cidadão, traz principalmente informações sobre a H1N1, onde se destaca a importância de se lavar as mãos. Mas nem no site nem no Disque Saúde havia informações sobre a taxa de infecção hospitalar das UTIs.
A Ruth, da ouvidoria, me disse que ligasse para a Vigilância à Saúde do DF e me informou dois telefones: 3325-4811/4812. Pois o SUS funciona assim mesmo, descentralizado. Acatei a indicação, não sem antes registrar a sugestão de que seria um bom serviço ao cidadão, se o MS coletar as informações das pontas e disponibilizasse no seu site (alguém poderia optar em sair daqui e ir para São Paulo, como Tancredo fez).
Liguei para o primeiro número informado e lá, o Anacleto me disse que esse tipo de informação eu teria no Núcleo de Vigilância à Saúde: 3325-4803. Nesse novo número me informaram que essa informação eu obteria com a chefe Nazaré. Que chegaria em torno das 15h.
Para um governo quase acéfalo que corre o risco de ter intervenção federal, como aparenta ser o caso do GDF, ser atendido às 11:50h com a esperança de obter essa informação às 15h já estaria bom. Mas para um paciente que vai ingressar em um hospital e pretende escolher uma UTI não é nada prático. A sua melhor chance é perguntar para o seu médico de confiança e confiar no feeling dele.
Aposto que se a FIFA exigisse, os hospitais trariam esses índices na porta, que nem os postos de gasolina divulgam seus preços.
Fonte: G1, Portal da Saúde
Em uma palestra sobre biotecnologia que presenciei no SESC em Anápolis-GO. Fui informado que o Hospital de Base de Brasília havia implementado um complexo sistema de isolamento e controle do uso de antibióticos combinando procedimento com softwares para determinar quando uma bactéria desenvolvia resistência a um certa droga e com isso até mudar o paciente de ala (para poderem administrar drogas mais eficazes). Tudo isso para conseguir controlar e minimizar o problema da infecção hospitalar a qual foi apontada como a o problema que veio causar a morte de Tancredo Neves, que fora internado inicialmente naquele hospital (e por causa disso veio a assumir José Sarney, mudando toda a história da redemocratização).
Pois o Dr. Peter Pronovost, diretor médico do Grupo de Pesquisa de Qualidade e Segurança do Hospital John Hopkins em Baltimore, EUA, e eleito pela revista Time como uma das personalidades mais influentes de 2008, persegue o mesmo objetivo, reduzir os índices de infecção hospitalar, mas para isso ele entende que o problema
passa por mudanças na hierarquia médico-enfermeiro.
Para entender como Pronovost chegou a essas conclusões é preciso voltar um pouco no tempo. Quando seu pai ainda era vivo e sofria de câncer. Ele tinha um linfoma mas foi dagnosticado erradamente como tendo leucemia. Quando Pronovost estava no primeiro ano de medicina no John Hopkins, levou seu pai a um especialista para uma segunda opinião que disse: "Se você tivesse vindo antes, seria elegível para um transplante de medula óssea, mas o câncer já está muito avançado." O pai de Pronovost morreu aos 50 anos de idade.
Essa tragédia pessoal revoltou Pronovost que ficou com raiva dos clínicos e dele mesmo. Embora a palavra “erro” nunca tenha sido pronunciada estava claro que havia ocorrido.
A medicina tem de ser melhor que isso.
Dr. Peter Pronovost. Especialista em segurança hospitalar
Após o doutorado em segurança hospitalar, anos mais tarde, conhecera uma mulher cuja filha de 18 meses havia morrido de infecção e desidratação no John Hopkins, após a inserção de um cateter.
A mãe e os enfermeiros havia percebido que a criança estava com problemas. Mas alguns médicos encarregados de seus cuidados simplesmente não ouviam.
Ou seja, uma criança que morreu de desidratação, uma doença do terceiro mundo, em um dos melhores hospitais do mundo. A autocrítica que se seguiu permitiu que fosse possível para ele realizar novas pesquisas sobre segurança e pressionar por mudanças.
Segundo Peter Pronovost, havia lá, como em muitos hospitais, um trabalho em equipe disfuncional por causa de uma cultura excessivamente hierárquica.
Quando ocorriam confrontações, era assim: “Eu estou certo. Sou mais experiente que você. Não me diga o que fazer.” Com a causa da morte da menina (infecção após introdução de cateter), os índices eram altíssimos: cerca de 11 em mil, o que colocava o Hopkins, na época, entre os 10% piores do país.
Cateteres são inseridos nas veias próximas do coração antes de grandes cirurgias, na UTI, para quimioterapia e diálise. O Centro de Controle de Doenças calcula que 31 mil pessoas por ano morrem de infecções no sangue contraídas em hospitais dessa forma.
Dr. Pronovost pensou: "Isso pode ser impedido. Infecções hospitalares não são como uma doença sem cura. Vamos tentar fazer um check list que padronize o que os clínicos fazem antes do cateterismo."
Se uma nova droga salvasse tantas vidas quanto o checklist do Dr. Peter haveria uma campanha nacional para que os médicos a adotassem urgentemente. - The New Yorker
Peter acreditava que se elegesse as medidas de segurança mais importantes e encontrasse uma forma de torná-las uma rotina, o cenário poderia ser alterado.
E o check list desenvolvido era bem simples, a saber:
- lavar as mãos;
- limpar a pele com chlorhexidina;
- evitar colocar cateteres na virilha;
- cobrir o paciente e a si mesmo enquanto insere o cateter;
- manter um campo esterilizado;
- se perguntar todos os dias se os benefícios do cateterismo são maiores que os riscos.
Na entrevista dada ao NYT, Peter foi questionado sobre o item "lavar as mãos". Como assim? Os médicos não lavam as mãos? Aí ele apresentou estatísticas típicas do best-seller Freakonomics.
Na média dos EUA, os médicos lavam as mãos no trabalho de 30% a 40% das vezes.
Em hospitais que estão trabalhando para melhorar seu desempenho de segurança, o número chega a 70%. Ou seja, mesmo nesses hospitais em 30% das vezes os médicos não lavam as mãos.
No Hopkins, eles testaram a ideia do check list na UTI cirúrgica. Ajudou, mas era preciso fazer mais para diminuir os índices de infecção. Era preciso garantir que os suprimentos – desinfetante, panos, cateteres – estivessem próximos e à mão.
Observou-se que esses itens eram armazenados em oito lugares diferentes dentro do hospital e por isso, nas emergências, muitas vezes, a pessoas “pulavam” passos.
Assim, foi reunido todo o material necessário o colocado junto em um carrinho acessível. Uma pessoa foi designada para ficar responsável pelo carrinho e sempre garantir que ele estivesse abastecido. Também foram instituímos supervisores para garantir que o check list estivesse sendo seguido.
Aí veio a parte mais difícil. Eles disseram: “Médicos, sabemos que vocês são pessoas ocupadas e às vezes se esquecem de lavar as mãos. Então, enfermeiros, vocês devem garantir que os médicos o façam. Se eles não o fizerem, vocês estão autorizados a interromper o início de um procedimento.”
Você ia achar que eu tinha começado a Terceira Guerra Mundial! Os enfermeiros disseram que não era parte do trabalho deles monitorar os médicos; os médicos disseram que nenhum enfermeiro interromperia o início de um procedimento.
Dr. Peter Pronovost
Nesse ponto Dr. Provonost interveio dizendo: "Médicos, sabemos que não somos perfeitos e que podemos esquecer importantes medidas de segurança. Enfermeiros, como vocês podem permitir que um médico comece sem ter lavado as mãos?"
Além disso, disse aos enfermeiros que eles poderiam mandar mensagens de celular de dia ou de noite, que eles os apoiaria.
O esforço valeu a pena: em quatro anos eles conseguiram reduzir a quase zero os níveis de infecção na UTI.
Levaram a ideia a 100 UTIs de 70 hospitais de Michigan. Mediram suas taxas de infecção, implementamos o check list, trabalharam para obter uma cultura de mais cooperação, para que os enfermeiros pudessem falar e novamente reduziram as taxas a quase zero. Agora estão motivando hospitais de todo o país a implementar sistemas de check list similares.
É por isso que Peter diz que os pacientes morrem de hierarquia e quando perguntado como o paciente pode se proteger dessa "doença" ele diz sem pestanejar:
Eu diria que um paciente pode fazer a seguinte pergunta: “Qual a taxa de infecção do hospital?” Se esse número for alto ou o hospital disser que não sabe, você deve sair correndo. Em qualquer caso, você também deve perguntar se eles usam um sistema de check list.
Quando você já for paciente internado do hospital, pergunte: “Será que eu realmente preciso desse cateter? Estou recebendo benefícios o suficiente para compensar os riscos?” A qualquer pessoa que lhe tocar, pergunte: “Você lavou as mãos?” Parece tolice, mas você tem de ser seu próprio protetor.
Vai ser uma mudança cultural difícil por aqui. Será que a Anvisa possui um levantamento estatístico sobre o percentual de vezes que o médico brasileiro (não) lava as mãos antes de um procedimento? A população poderia ter acesso a um quadro com a taxa de de infecção hospitalar de cada UTI do país. Já seria uma forma de pressioná-los a seguir padrões mais rígidos de controle e do cidadão se proteger. Se é que esses dados foram levantados.
Hoje, o site do Ministério da Saúde (MS), na seção Informações para o Cidadão, traz principalmente informações sobre a H1N1, onde se destaca a importância de se lavar as mãos. Mas nem no site nem no Disque Saúde havia informações sobre a taxa de infecção hospitalar das UTIs.
A Ruth, da ouvidoria, me disse que ligasse para a Vigilância à Saúde do DF e me informou dois telefones: 3325-4811/4812. Pois o SUS funciona assim mesmo, descentralizado. Acatei a indicação, não sem antes registrar a sugestão de que seria um bom serviço ao cidadão, se o MS coletar as informações das pontas e disponibilizasse no seu site (alguém poderia optar em sair daqui e ir para São Paulo, como Tancredo fez).
Liguei para o primeiro número informado e lá, o Anacleto me disse que esse tipo de informação eu teria no Núcleo de Vigilância à Saúde: 3325-4803. Nesse novo número me informaram que essa informação eu obteria com a chefe Nazaré. Que chegaria em torno das 15h.
Para um governo quase acéfalo que corre o risco de ter intervenção federal, como aparenta ser o caso do GDF, ser atendido às 11:50h com a esperança de obter essa informação às 15h já estaria bom. Mas para um paciente que vai ingressar em um hospital e pretende escolher uma UTI não é nada prático. A sua melhor chance é perguntar para o seu médico de confiança e confiar no feeling dele.
Aposto que se a FIFA exigisse, os hospitais trariam esses índices na porta, que nem os postos de gasolina divulgam seus preços.
Fonte: G1, Portal da Saúde
Parabéns uma ótima matéria.
ResponderExcluirAbraços forte
materia atual e muito informativa.
ResponderExcluirOlá amigo!
ResponderExcluirExcelente informação! É incrível como actos tão simples podem fazer a diferença entre a vida e a morte!
Abraços
Luísa
Acredito que deveríamos adotar essas práticas por aqui. Tornar essas informações públicas (índices de infecções hospitalares) seria um passo importante. Disseminar e conscientizar seria outra boa medida.
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