Nesse dia eu beijaria emocionado as mãos dos mestres e pinçaria aleatoriamente um exemplo de vida: Da. Nazária. Durante toda a minha vida ve...
Nesse dia eu beijaria emocionado as mãos dos mestres e pinçaria aleatoriamente um exemplo de vida: Da. Nazária.
Durante toda a minha vida venho conhecendo mestres e, certamente, muitos outros terão a bondade de me ensinar coisas e saberes pela vida a fora.
Beijaria emocionado hoje, as mãos de todos os meus professores e pediria perdão pelas minhas traquinagens, minhas insubordinações, pelas macaquices, pelas vezes que compareci sem ter feito os deveres de casa.
Beijaria com lágrimas nos olhos todos eles e todas elas. Agradeceria muito e, em troca, mostraria meus êxitos, minhas vitórias e diria: obrigado por terem conduzido, orientado, compelido a estudar; àquele adolescente inquieto, rebelde, inseguro, confuso diante da vida.
Obrigado mestres do Ginásio Estadual de Ipameri, hoje: Colégio Estadual Professor Eduardo Mancine.
Obrigado funcionários da disciplina, da secretaria, porteiros, zeladores, obrigado a todos. Meu pai era bedel e sei que era peça importante, tenho orgulho dele.
Rememorando vou ao Grupo Escolar Estadual de Ipameri onde iniciei o primário e também tive mestres inesquecíveis, incluindo aí a minha mãe, Da. Maria Lemes, que era, ora Diretora, ora professora além da mãe que fazia milagres, com o ganho irrisório que sempre acompanha os professores, ao manter, com meu pai, oito bocas de oito filhos que em casa a aguardavam.
Meu amor por minha mãe necessita de muitos capítulos para ser descrito.
Com tantas imagens habitando meu peito, todas de imensurável importância; para momentaneamente me ater a uma, terei que, aleatoriamente, pinçar no fundo da mente e tentar tirar uma experiência de vida, uma mestra que tenha também marcado muito; um símbolo: Da. Nazária...
A Escola Sant’Ana; Escola de Da. Nazária é um marco inusitado e inacreditável nos dias de hoje.
A mestra ali na frente, cabelos já ficando grisalhos, olhar firme, de pequena estatura, mas forte. Os olhos vasculhavam cada cantinho da sala a todo instante. A voz era calma e eficaz. O semblante envolvia e dominava a sala toda.
Na sala, alunos de primeiro, segundo, terceiro e quarto anos primários; masculinos e femininos.
Conversa nenhuma entre os alunos. Atenção ao quadro, aos livros ou à mestra.
Disciplina plena, pela capacidade da mestra que tudo via, exigindo respeito e dedicação.
Punições existiam, mas sem serem totalmente brandas, eram mais oportunas que severas.
Sobre a mesa da mestra: uma pedrinha arredonda e antiga que era um código para saber se tinha alguém na privadinha do fundo do quintal.
Pedrinha na mesa: sanitário livre. Pedrinha ausente: sanitário ocupado. Funcionava maravilhosamente. A privadinha tinha como porta uma cortina feita com saco de aniagem e, mesmo assim, nunca houve qualquer confusão.
Ninguém nunca se atreveu a sumir com a tal pedrinha ou levá-la para casa inadvertidamente.
A escola de Da. Nazária funcionava de modo surpreendente e maravilhoso.
Imaginem que lá eram matriculados, além dos alunos comuns, os ditos problemáticos de Ipameri e de toda uma vasta região e, lá, por receberem atenção, serem incentivados, aconselhados, exigidos, todos evoluíam positivamente. A sala era pequena para tanta gente; até porque havia sempre alguém pedindo mais uma vaga e, de uma forma ou de outra; sendo atendido. Como as aulas eram no período da tarde, o calor era muito embora amplas janelas iluminassem a sala e deixassem correr um ventinho de quando em vez.
Calor, estômago cheio depois do almoço, livros, idade de menino; tudo dava um sono danado e levava a gente a querer sair um pouco da sala. Da. Nazária instituiu então um prêmio para quem fosse estudioso e confiável: permitia que tais alunos fossem estudar no quintal da escola, à sombra das árvores. Por esse prêmio, eu fazia qualquer coisa. Outro prêmio era poder sair antes do final das aulas. Após o recreio as turmas iam sendo chamadas para “dar a lição”. Série por série éramos chamados para formar um semicírculo em volta da mesa da professora e íamos respondendo a perguntas sobre os temas do dia (história, geografia, matemática, português). Quem se saísse bem era dispensado e podia ir para casa mais cedo. Esse prêmio também me encantava.
Nós adorávamos Da. Nazária, a quem pedíamos bênção na entrada da sala de aula e a apoiávamos em tudo. Ai de quem a ofendesse. Era, para nós, como uma mãe da época, que cuidava, educava, orientava, exigia e, se fosse preciso, punia na medida. Estou certo de que a relação mestre-aluno era muito boa; hoje, embora mais moderna, percebo que anda carecendo de ajustes; muitos ajustes. Sua ligação com seus alunos era tal que, para citar um exemplo, certo dia eu estava na rua catando esterco para adubar a horta lá de casa e, nesse mesmo dia nós teríamos prova de matemática. Da. Nazária, passando por ali, me chamou e perguntou se eu não estava lembrado da prova e, ao saber que eu estava cumprindo ordens de meu pai, foi lá em casa, conversou um bom tempo com meu pai que era sistemático e inacessível, nisso eu estava de longe; em seguida meu pai me chamou e me mandou ir estudar. Foi tanta responsabilidade sobre meu ombro que naquela tarde eu tirei um dez e nunca mais esqueci aquele dia, nem da atitude dela.
Permita mestra, onde você estiver que eu abrace e beije seus cabelos crespos, que possa deixar cair nas costas de suas mãos, ao beijá-las, duas lágrimas de saudade e manifeste esse apreço enorme, essa admiração e agradeça a Deus (lembra que a senhora nos ensinava tanto a amar Jesus?) por esse privilégio de ter sido seu aluno durante um tempo em que tive grandes avanços no meu aprendizado escolar e de vida.
Obrigado Mestres de todos os tempos!...
15 de outubro de 2009
Rilmar
Durante toda a minha vida venho conhecendo mestres e, certamente, muitos outros terão a bondade de me ensinar coisas e saberes pela vida a fora.
Beijaria emocionado hoje, as mãos de todos os meus professores e pediria perdão pelas minhas traquinagens, minhas insubordinações, pelas macaquices, pelas vezes que compareci sem ter feito os deveres de casa.
Beijaria com lágrimas nos olhos todos eles e todas elas. Agradeceria muito e, em troca, mostraria meus êxitos, minhas vitórias e diria: obrigado por terem conduzido, orientado, compelido a estudar; àquele adolescente inquieto, rebelde, inseguro, confuso diante da vida.
Obrigado mestres do Ginásio Estadual de Ipameri, hoje: Colégio Estadual Professor Eduardo Mancine.
Obrigado funcionários da disciplina, da secretaria, porteiros, zeladores, obrigado a todos. Meu pai era bedel e sei que era peça importante, tenho orgulho dele.
Rememorando vou ao Grupo Escolar Estadual de Ipameri onde iniciei o primário e também tive mestres inesquecíveis, incluindo aí a minha mãe, Da. Maria Lemes, que era, ora Diretora, ora professora além da mãe que fazia milagres, com o ganho irrisório que sempre acompanha os professores, ao manter, com meu pai, oito bocas de oito filhos que em casa a aguardavam.
Meu amor por minha mãe necessita de muitos capítulos para ser descrito.
Com tantas imagens habitando meu peito, todas de imensurável importância; para momentaneamente me ater a uma, terei que, aleatoriamente, pinçar no fundo da mente e tentar tirar uma experiência de vida, uma mestra que tenha também marcado muito; um símbolo: Da. Nazária...
A Escola Sant’Ana; Escola de Da. Nazária é um marco inusitado e inacreditável nos dias de hoje.
A mestra ali na frente, cabelos já ficando grisalhos, olhar firme, de pequena estatura, mas forte. Os olhos vasculhavam cada cantinho da sala a todo instante. A voz era calma e eficaz. O semblante envolvia e dominava a sala toda.
Na sala, alunos de primeiro, segundo, terceiro e quarto anos primários; masculinos e femininos.
Conversa nenhuma entre os alunos. Atenção ao quadro, aos livros ou à mestra.
Disciplina plena, pela capacidade da mestra que tudo via, exigindo respeito e dedicação.
Punições existiam, mas sem serem totalmente brandas, eram mais oportunas que severas.
Sobre a mesa da mestra: uma pedrinha arredonda e antiga que era um código para saber se tinha alguém na privadinha do fundo do quintal.
Pedrinha na mesa: sanitário livre. Pedrinha ausente: sanitário ocupado. Funcionava maravilhosamente. A privadinha tinha como porta uma cortina feita com saco de aniagem e, mesmo assim, nunca houve qualquer confusão.
Ninguém nunca se atreveu a sumir com a tal pedrinha ou levá-la para casa inadvertidamente.
A escola de Da. Nazária funcionava de modo surpreendente e maravilhoso.
Imaginem que lá eram matriculados, além dos alunos comuns, os ditos problemáticos de Ipameri e de toda uma vasta região e, lá, por receberem atenção, serem incentivados, aconselhados, exigidos, todos evoluíam positivamente. A sala era pequena para tanta gente; até porque havia sempre alguém pedindo mais uma vaga e, de uma forma ou de outra; sendo atendido. Como as aulas eram no período da tarde, o calor era muito embora amplas janelas iluminassem a sala e deixassem correr um ventinho de quando em vez.
Calor, estômago cheio depois do almoço, livros, idade de menino; tudo dava um sono danado e levava a gente a querer sair um pouco da sala. Da. Nazária instituiu então um prêmio para quem fosse estudioso e confiável: permitia que tais alunos fossem estudar no quintal da escola, à sombra das árvores. Por esse prêmio, eu fazia qualquer coisa. Outro prêmio era poder sair antes do final das aulas. Após o recreio as turmas iam sendo chamadas para “dar a lição”. Série por série éramos chamados para formar um semicírculo em volta da mesa da professora e íamos respondendo a perguntas sobre os temas do dia (história, geografia, matemática, português). Quem se saísse bem era dispensado e podia ir para casa mais cedo. Esse prêmio também me encantava.
Nós adorávamos Da. Nazária, a quem pedíamos bênção na entrada da sala de aula e a apoiávamos em tudo. Ai de quem a ofendesse. Era, para nós, como uma mãe da época, que cuidava, educava, orientava, exigia e, se fosse preciso, punia na medida. Estou certo de que a relação mestre-aluno era muito boa; hoje, embora mais moderna, percebo que anda carecendo de ajustes; muitos ajustes. Sua ligação com seus alunos era tal que, para citar um exemplo, certo dia eu estava na rua catando esterco para adubar a horta lá de casa e, nesse mesmo dia nós teríamos prova de matemática. Da. Nazária, passando por ali, me chamou e perguntou se eu não estava lembrado da prova e, ao saber que eu estava cumprindo ordens de meu pai, foi lá em casa, conversou um bom tempo com meu pai que era sistemático e inacessível, nisso eu estava de longe; em seguida meu pai me chamou e me mandou ir estudar. Foi tanta responsabilidade sobre meu ombro que naquela tarde eu tirei um dez e nunca mais esqueci aquele dia, nem da atitude dela.
Permita mestra, onde você estiver que eu abrace e beije seus cabelos crespos, que possa deixar cair nas costas de suas mãos, ao beijá-las, duas lágrimas de saudade e manifeste esse apreço enorme, essa admiração e agradeça a Deus (lembra que a senhora nos ensinava tanto a amar Jesus?) por esse privilégio de ter sido seu aluno durante um tempo em que tive grandes avanços no meu aprendizado escolar e de vida.
Obrigado Mestres de todos os tempos!...
15 de outubro de 2009
Rilmar
Dr. Rilmar é médico formado pela Universidade de Brasília, escritor e colaborador do Blog Brasil Acadêmico. Essa crônica é nossa homenagem ao Dia do Professor.
Dia do Professor
ResponderExcluirFoi em 15 de outubro, no ano de 1827, que o imperador D. Pedro I criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto, todas as cidades, vilas e lugarejos deveriam ter suas "escolas de primeiras letras". A primeira comemoração de um dia dedicado ao professor só aconteceria 120 anos depois, em 1947.
Em São Paulo, na pequena escola no número 1520 da Rua Augusta, onde existia o Ginásio Caetano de Campos, quatro professores tiveram a idéia de organizar um dia de parada. A celebração foi oficializada nacionalmente como feriado escolar em outubro de 1963.
O Decreto Federal 52.682, de 1963, define a razão do feriado: "Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias". Comemore esse dia que é de todos.
Que texto emocionante!
ResponderExcluirQuem dera nos dias de hoje pudessemos encontrar esse tipo de relação professor-aluno.
E que os professores fossem reconhecidos e respeitados como outrora.
Entretanto, ainda podemos encontrar alguns que se dediquem e que são tão apaixonados pela profissão, que ainda desperte o mesmo agradecimento do autor.
Feliz Dia do Professor a todos que de alguma forma ensinam.
Ao anônimo e à Gilene;
ResponderExcluirHá que se despertar o orgulho, a paixão, a percepção dos pápéis.
O professor tem que ter um imenso orgulho de seu papel introjectado na mente,no coração,na alma; e que se exteriorize em todos os momentos na face, nos modos, nas atitudes. Esse orgulho tem que ser estimulado por toda a sociedade e não pode, nunca, ser traído por aqueles que mais se beneficiam dele: os discípulos.
Talvez a Bíblia pudesse dizer: Honra teu pai,tua mãe e teus mestres; isto é sabedoria de vida.