Falar é fácil. Principalmente depois do ocorrido. Mas é assombroso o quanto nossa polícia é amadora para tomar decisões e despreparada quant...
Falar é fácil. Principalmente depois do ocorrido. Mas é assombroso o quanto nossa polícia é amadora para tomar decisões e despreparada quanto ao uso de técnicas para contornar conflitos do tipo que ocorreu em Santo André. Lamentável. Conheça os detalhes do caso.
Não queremos aqui ofender nossos bravos soldados que arriscam a vida (mais do que o necessário, certamente) e se submetem a políticos e políticas de segurança pública ineficazes. Para se dizer o mínimo.
Lindenberg Fernades Alves, 22 anos, assistente de produção e entregador de pizza, começou um namoro com a adolescente Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, há cerca de três meses atrás. O namoro durou dois meses e Lindemberg terminou o relacionamento mas se arrependeu logo em seguida (no Fantástico apareceu outra versão, dizendo que o namoro começou quando Eloá tinha 12 anos, e que durara dois anos e sete meses, cheio de idas e vindas). Quando tentou reatar Eloá não concordou. A rejeição parece ter afetado definitivamente o rapaz. Lindenberg começou a ameaçar Eloá, segundo relatos de Francismar, irmã do seqüestrador, investigava seus passos e passava todos os dias, com sua motocicleta, em frente ao colégio de Eloá, para saber se ela andava com outras pessoas. Deixando os colegas da jovem assustados.
Se fosse em Goiás ou em Barretos, talvez o jovem, um craque das peladas em campo de terra, que jogava em todas as posições do time e era um jovem tranqüilo, segundo seus companheiros, pegasse seu violão e fosse compor uma canção estilo meu-amor-me-deixou-e-eu-fiquei-na-pior. Mas, o agora transtornado Liso, tem outras idéias. Tanto que no final de semana passado causou estranheza pois ficou na beira do campo de futebol só olhando, sem jogar, e declarou: -Nessa semana vocês vão ouvir falar muito de mim.
Segunda-feira passada, dia 13, Lindemberg arrumou um revólver (cuja a origem ainda é desconhecida), ofereceu uma volta de moto para o irmão da garota deixando longe (para afastá-lo da residência da menina) e entrou no apartamento de Eloá, que fica em um conjunto habitacional em um bairro pobre de Santo André, às 13h30.
Eloá se encontrava estudando geografia com três colegas: a amiga Nayara Rodrigues da Silva e dois garotos (Vítor e Iago, namorado de Nayara). Ambas as amigas faziam parte do grupo das meninas mais bonitas da escola, autodenominado Bonde das Glamurosas. Todos os estudantes foram feitos reféns. Lindemberg proibiu todos de se aproximarem do apartamento, que fica no 3o andar e a polícia cercou o edifício. No fim da noite da segunda, o desequilibrado seqüestrador libertou os dois garotos. A mãe de Eloá, cozinheira de uma creche, se preocupava com o que aconteceria com Lindemberg quando as garotas fossem libertadas.
Dia 14, 15h25, terça-feira. A energia elétrica do apartamento é desligada.
Lindemberg: - Liga essa porra dessa luz aí, mano.
Cap. Adriano Jovaninni do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais): - Eu ligo, eu ligo. Mas vamos conversar.
Lindemberg: - Liga essa porra dessa luz aí, senão eu vou começar a bater nas meninas. Eu vou começar a agredir as meninas, as meninas vai sofrer. Presta muita atenção.
(Voz de mulher): -Pára. Ai. Pára.
Na noite do dia 14, 10h50, ocorre a libertação de Nayara em troca de se religar a energia. Nayara relatou para polícia que Lindenberg apresentava um comportamento extremamente violento. Tinha amarrado Eloá, xingava, batia e ameaçava a ex-namorada de morte.
Agora a mídia cobria o caso dia e noite e o status de celebridade aparentemente influenciava Lindemberg. Ele chegou a dar entrevistas por telefone a programas de TV, chegou a exibir a camisa de seu time de futebol na janela e parecia gostar da situação.
Dia 16, quinta-feira, aconteceu o erro estratégico que deve parar nos manuais de instrutoria da polícia do mundo todo (na seção "Como não proceder"). Permitiram que a ex-refém se aproximasse da porta do apartamento para tentar convencer o rapaz a se entregar e o rapaz, coroando o absurdo, tomou Nayara novamente como refém. Diz o comando da operação que a moça deveria ficar a uma certa distância e ela resolveu se aproximar voluntariamente do cárcere, uma espécie de Big Brother ao contrário. A tal Síndrome de Estocolmo pode ter agido contra a garota que estava sozinha em frente ao psicopata armado que tinha o poder de transformar a todos em celebridades. Talvez a corajosa Nayara não soubesse a dimensão do risco que corria. Afinal, estava sendo orientada e monitorada pela polícia e a amiga, coitada, estava sem ninguém que a ajudasse, ela tinha que fazer algo. Nayara aprendeu muito sobre tomada de decisões naquela manhã (e a polícia, espera-se, também). O pai de Nayara, separado da mãe da jovem e que não fora consultado pelos policiais, se desesperou com a ação policial.
Sexta-feira, 17, Lindemberg dava sinais de cansaço o que dava esperanças à polícia que o caso se aproximava do fim.
Os policiais ouviram disparos, pela manhã, mas Lindemberg falou que estava tudo bem, porém não iria se entregar pois temia ser baleado se assim fizesse. Diálogos dos momentos finais da negociação:
Lindenberg (dia 17 17h35): -Tem um anjinho aqui falando "não faz isso". Do meu lado tem outro. Um diabinho falando: "Faz. Não deixa passar não." Tem um anjinho e um diabinho aqui.
Cap. Adriano: -Dá ouvido ao lado bom. Ao anjinho. Não é melhor.
Lindenberg: -Não sei não. Não sei qual é o melhor não.
Adriano: -Claro que é melhor.
Aproximadamente meia hora antes da invasão, o promotor Augusto Rossini tenta convencer Lindemberg:
Augusto (dia 17 17h39): - Eu vou garantir sua integridade. Pensa nisso. A vida continua. É bonita a vida.
Lindemberg: - A minha cabeça tá a milhão.
Augusto: - Não, velho. Velho, não tem que ficar assim. Vem aqui, vamos sair.
Lindemberg: - Não imagina. Todo mundo aí fora não tem nada a ver com isso que tá acontecendo não.
Lindemberg disse ainda, sem detalhar, que a situação piorou depois de uma conversa que teve com as duas meninas. E chegou a pedir que a polícia invadisse o local.
Lindemberg (17h40): - Mano, invade essa porra logo, mano.
Augusto: - Quê? Não, não tem nada disso.
Lindemberg: - Tô doido pra você invadir.
Augusto: - Não, não. Na verdade, eu quero que você saia daí, tranqüilo, com as duas.
Lindemberg: - Deixa outro cara vim pro outro cara invadir, pra resposa cair em cima dele. Não cair em você.
Augusto: - Não, não. Isso eu não posso fazer. Isso aí é... eu trabalho só nisso.
Lindemberg: - Deixa outro cara vim negociar comigo. Se o cara invadir eu vou acabar com isso tudo aqui mano.
(...)
Lindemberg: (17h44) - Não tenho expectativa de vida mais não mano. Não tenho mais motivação para buscar. Antes, eu tinha um sonho. Sonho de ter uma família, sonho de ter uma casa, um carro.
O promotor e o Capitão já falam entre eles que o jovem pensava em se matar:
Augusto: - Suicida.
Adriano: - Conversa de suicida.
(...)
Lindemberg: (17h47) - Não tenho vontade de ter mais ninguém, mano. Não tenho vontade de ter nem a Eloá, mano, mais. Tem um mês tentando esquecer ela. Tem um mês tentando sair, me divertir, me distrair. Mas não dá, mano. Não dá. Alguma coisa tá falando pra mim: "Cobra... cobra, mano. Cobra e cobra."
(...)
Lindemberg: (17h49) -Uma situação só de vingança. Só de vingança.
Negociador: - Não, não é. É só cansaço mesmo, viu Liso?
Lindemberg: - Sabe por que, mano? Muita gente aí fora vai pagar por isso. Muita gente aí fora vai sofrer. Vai chorar.
(...)
Lindemberg: (17h50): - Vou acabar com isso tudo.
Negociador: - Essa parte psicológica...
Lindemberg: - Deixa bem claro aí pra população que tá chegando ao fim, meu. Tudo o que eu tinha não é nada. Tudo o que eu não tenho mais não é nada.
Uma equipe da polícia ficou no apartamento vizinho para ouvir o que se passava no local do seqüestro e às 18 horas relatou ter ouvido tiros. Imediatamente receberam sinal verde para invadir o apartamento de Eloá. Colocaram um explosivo plástico em forma de fita na porta, e arrobaram-na com a explosão, demoraram alguns segundos para se livrarem de móveis que bloqueavam a porta e, nesse intervalo, foram ouvidos disparos dentro da residência. Em seguida policiais entraram pela janela e completaram a invasão. Pouco depois Nayara surge baleada na boca, amparada por um policial, e Lindemberg saí dominado por outros 4 agentes. Eloá, atingida no rosto e na virilha vai de maca em estado grave para o hospital, onde veio a óbito.
Lindemberg foi levado para o Cadeião de Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, onde o seqüestrador está preso desde a madrugada do sábado.
O brasileiro Marcos do Val, é um instrutor da SWAT em Dallas há 9 anos, uma força de elite da polícia dos EUA que cuida de operações de emergência. Marcos em entrevista ao Fantástico da Rede Globo apontou os erros da polícia:
1) permitir que a negociação se arrastasse por cinco dias. Ele diz que a Swat estabelece um prazo limite de 24h para libertar o refém. Mas que a Swat de Dallas nunca passou de nove horas. A partir desse prazo se dá a invasão.
2) deixar de acertar um tiro de precisão no seqüestrador quando ele apareceu na janela, na quarta-feira, obrigando a refém a puxar o almoço em uma corda improvisada. Naquela oportunidade a refém se abaixou para pegar o alimento liberando a visão do alvo. Ao contrário da polícia daqui, que descartou essa hipótese por se tratar de um jovem com uma desilusão amorosa, lá a polícia não diferencia jovens de adultos, considerando apenas que há vidas em jogo. Lá eles poderiam usar outra tática, denominada triangulação, onde dois policiais ficariam sobre escadas fora do campo de visão do seqüestrador e um terceiro viria por cima de rappel. Enquanto um puxaria a refém para liberar o alvo, o outro daria cobertura enquanto o soldado usando corda deslizaria até a frente da janela e atiraria no meliante. Tudo sincronizado.
3) Quanto a volta da refém ao apartamento Marcos foi taxativo: -"Eu sinto vergonha de ser brasileiro e saber que a polícia brasileira fez isso." E explica que deveria haver um policial com escudo balístico à frente e ainda segurando a menina pelo braço. Nunca permitir que ela se aproximasse da porta. Isso deu uma sensação de poder ao seqüestrador que recapturou a refém.
4) Outro problema foi a falta de sincronia na invasão. Não entrar simultaneamente pela frente, janela e fundos (transcorreu 40s entre a explosão e a entrada de um policial pela janela) com o uso de bombas de luz e som, que deixariam o seqüestrador desnorteado. "Esse tipo de bomba é para dar aquela sensação de desespero para o seqüestrador. Ele não sabe de onde está vindo a polícia."
5) A demora na entrada do apartamento, devido ao desconhecimento dos obstáculos, e o excesso de explosivo. O tempo que demorou para se adentrar no local propiciou que o seqüestrador atirasse onde quisesse.
É comum em filmes vermos a polícia especializada americana com um aparelho, semelhante a um endoscópio, introduzido por baixo da porta de cativeiros para se ter mais informações sobre a situação. No momento que o seqüestrador estivesse na janela, isso poderia ter sido feito com segurança. E os obstáculos seriam revelados, dando mais elementos para se planejar a invasão.
A revista Veja consultou quatro especialistas em negociação de reféns que listaram os seguintes erros:
1) Permitir a reintrodução de uma vítima na cena de risco. Segundo Rodrigo Pimentel, ex-comandante do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) da PM do Rio: "A devolução de Nayara afrontou os padrões mais básicos de comportamento do negociador em casos com refém". O coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública arremata: "Era uma situação típica de seqüestrador emocionalmente instável. Eles deveriam tê-la colocado em contato somente por telefone."
2) Não isolar o seqüestrador, permitindo que ele desse até entrevistas.
3) Não cortar o fornecimento de água e luz no local. A polícia tem que criar necessidades ao invés de facilidades, dizem os especialistas.
Pelo menos não houve altas autoridades negociando como no caso do ônibus 174, que envolveu o governador ou no caso da fuga de Leonardo Pareja, onde o diretor do presídio foi feito refém e o secretário de segurança pública negociou diretamente com o criminoso.
Agora, uma dúvida que ficou foi se a polícia realmente invadiu o prédio após um disparo ou se resolveu agir por achar que a situação caminhava para o homicídio, cortes no vídeo feito pela PM no momento da negociação final pode indicar que a decisão tomada foi censurada.
O perito Ricardo Molina disse que através do áudio e do vídeo do momento da explosão até o final da invasão só se indetificam três disparos e um quarto disparo com características acústicas diferentes (certamente um tiro vindo da PM, com bala de borrracha) e que não se ouve nenhum outro tiro em 1 minuto e 10 segundos antes da explosão (que é quando se inicia o vídeo).
Em tempo: os órgão de Heloá foram doados e podem beneficiar até sete receptores. Nayara não corre risco de morte.
Não queremos aqui ofender nossos bravos soldados que arriscam a vida (mais do que o necessário, certamente) e se submetem a políticos e políticas de segurança pública ineficazes. Para se dizer o mínimo.
O caso
Lindenberg Fernades Alves, 22 anos, assistente de produção e entregador de pizza, começou um namoro com a adolescente Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, há cerca de três meses atrás. O namoro durou dois meses e Lindemberg terminou o relacionamento mas se arrependeu logo em seguida (no Fantástico apareceu outra versão, dizendo que o namoro começou quando Eloá tinha 12 anos, e que durara dois anos e sete meses, cheio de idas e vindas). Quando tentou reatar Eloá não concordou. A rejeição parece ter afetado definitivamente o rapaz. Lindenberg começou a ameaçar Eloá, segundo relatos de Francismar, irmã do seqüestrador, investigava seus passos e passava todos os dias, com sua motocicleta, em frente ao colégio de Eloá, para saber se ela andava com outras pessoas. Deixando os colegas da jovem assustados.
Se fosse em Goiás ou em Barretos, talvez o jovem, um craque das peladas em campo de terra, que jogava em todas as posições do time e era um jovem tranqüilo, segundo seus companheiros, pegasse seu violão e fosse compor uma canção estilo meu-amor-me-deixou-e-eu-fiquei-na-pior. Mas, o agora transtornado Liso, tem outras idéias. Tanto que no final de semana passado causou estranheza pois ficou na beira do campo de futebol só olhando, sem jogar, e declarou: -Nessa semana vocês vão ouvir falar muito de mim.
Segunda-feira passada, dia 13, Lindemberg arrumou um revólver (cuja a origem ainda é desconhecida), ofereceu uma volta de moto para o irmão da garota deixando longe (para afastá-lo da residência da menina) e entrou no apartamento de Eloá, que fica em um conjunto habitacional em um bairro pobre de Santo André, às 13h30.
Eloá se encontrava estudando geografia com três colegas: a amiga Nayara Rodrigues da Silva e dois garotos (Vítor e Iago, namorado de Nayara). Ambas as amigas faziam parte do grupo das meninas mais bonitas da escola, autodenominado Bonde das Glamurosas. Todos os estudantes foram feitos reféns. Lindemberg proibiu todos de se aproximarem do apartamento, que fica no 3o andar e a polícia cercou o edifício. No fim da noite da segunda, o desequilibrado seqüestrador libertou os dois garotos. A mãe de Eloá, cozinheira de uma creche, se preocupava com o que aconteceria com Lindemberg quando as garotas fossem libertadas.
Dia 14, 15h25, terça-feira. A energia elétrica do apartamento é desligada.
Lindemberg: - Liga essa porra dessa luz aí, mano.
Cap. Adriano Jovaninni do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais): - Eu ligo, eu ligo. Mas vamos conversar.
Lindemberg: - Liga essa porra dessa luz aí, senão eu vou começar a bater nas meninas. Eu vou começar a agredir as meninas, as meninas vai sofrer. Presta muita atenção.
(Voz de mulher): -Pára. Ai. Pára.
Na noite do dia 14, 10h50, ocorre a libertação de Nayara em troca de se religar a energia. Nayara relatou para polícia que Lindenberg apresentava um comportamento extremamente violento. Tinha amarrado Eloá, xingava, batia e ameaçava a ex-namorada de morte.
Agora a mídia cobria o caso dia e noite e o status de celebridade aparentemente influenciava Lindemberg. Ele chegou a dar entrevistas por telefone a programas de TV, chegou a exibir a camisa de seu time de futebol na janela e parecia gostar da situação.
Dia 16, quinta-feira, aconteceu o erro estratégico que deve parar nos manuais de instrutoria da polícia do mundo todo (na seção "Como não proceder"). Permitiram que a ex-refém se aproximasse da porta do apartamento para tentar convencer o rapaz a se entregar e o rapaz, coroando o absurdo, tomou Nayara novamente como refém. Diz o comando da operação que a moça deveria ficar a uma certa distância e ela resolveu se aproximar voluntariamente do cárcere, uma espécie de Big Brother ao contrário. A tal Síndrome de Estocolmo pode ter agido contra a garota que estava sozinha em frente ao psicopata armado que tinha o poder de transformar a todos em celebridades. Talvez a corajosa Nayara não soubesse a dimensão do risco que corria. Afinal, estava sendo orientada e monitorada pela polícia e a amiga, coitada, estava sem ninguém que a ajudasse, ela tinha que fazer algo. Nayara aprendeu muito sobre tomada de decisões naquela manhã (e a polícia, espera-se, também). O pai de Nayara, separado da mãe da jovem e que não fora consultado pelos policiais, se desesperou com a ação policial.
Sexta-feira, 17, Lindemberg dava sinais de cansaço o que dava esperanças à polícia que o caso se aproximava do fim.
Os policiais ouviram disparos, pela manhã, mas Lindemberg falou que estava tudo bem, porém não iria se entregar pois temia ser baleado se assim fizesse. Diálogos dos momentos finais da negociação:
Lindenberg (dia 17 17h35): -Tem um anjinho aqui falando "não faz isso". Do meu lado tem outro. Um diabinho falando: "Faz. Não deixa passar não." Tem um anjinho e um diabinho aqui.
Cap. Adriano: -Dá ouvido ao lado bom. Ao anjinho. Não é melhor.
Lindenberg: -Não sei não. Não sei qual é o melhor não.
Adriano: -Claro que é melhor.
Aproximadamente meia hora antes da invasão, o promotor Augusto Rossini tenta convencer Lindemberg:
Augusto (dia 17 17h39): - Eu vou garantir sua integridade. Pensa nisso. A vida continua. É bonita a vida.
Lindemberg: - A minha cabeça tá a milhão.
Augusto: - Não, velho. Velho, não tem que ficar assim. Vem aqui, vamos sair.
Lindemberg: - Não imagina. Todo mundo aí fora não tem nada a ver com isso que tá acontecendo não.
Lindemberg disse ainda, sem detalhar, que a situação piorou depois de uma conversa que teve com as duas meninas. E chegou a pedir que a polícia invadisse o local.
Lindemberg (17h40): - Mano, invade essa porra logo, mano.
Augusto: - Quê? Não, não tem nada disso.
Lindemberg: - Tô doido pra você invadir.
Augusto: - Não, não. Na verdade, eu quero que você saia daí, tranqüilo, com as duas.
Lindemberg: - Deixa outro cara vim pro outro cara invadir, pra resposa cair em cima dele. Não cair em você.
Augusto: - Não, não. Isso eu não posso fazer. Isso aí é... eu trabalho só nisso.
Lindemberg: - Deixa outro cara vim negociar comigo. Se o cara invadir eu vou acabar com isso tudo aqui mano.
(...)
Lindemberg: (17h44) - Não tenho expectativa de vida mais não mano. Não tenho mais motivação para buscar. Antes, eu tinha um sonho. Sonho de ter uma família, sonho de ter uma casa, um carro.
O promotor e o Capitão já falam entre eles que o jovem pensava em se matar:
Augusto: - Suicida.
Adriano: - Conversa de suicida.
(...)
Lindemberg: (17h47) - Não tenho vontade de ter mais ninguém, mano. Não tenho vontade de ter nem a Eloá, mano, mais. Tem um mês tentando esquecer ela. Tem um mês tentando sair, me divertir, me distrair. Mas não dá, mano. Não dá. Alguma coisa tá falando pra mim: "Cobra... cobra, mano. Cobra e cobra."
(...)
Lindemberg: (17h49) -Uma situação só de vingança. Só de vingança.
Negociador: - Não, não é. É só cansaço mesmo, viu Liso?
Lindemberg: - Sabe por que, mano? Muita gente aí fora vai pagar por isso. Muita gente aí fora vai sofrer. Vai chorar.
(...)
Lindemberg: (17h50): - Vou acabar com isso tudo.
Negociador: - Essa parte psicológica...
Lindemberg: - Deixa bem claro aí pra população que tá chegando ao fim, meu. Tudo o que eu tinha não é nada. Tudo o que eu não tenho mais não é nada.
Uma equipe da polícia ficou no apartamento vizinho para ouvir o que se passava no local do seqüestro e às 18 horas relatou ter ouvido tiros. Imediatamente receberam sinal verde para invadir o apartamento de Eloá. Colocaram um explosivo plástico em forma de fita na porta, e arrobaram-na com a explosão, demoraram alguns segundos para se livrarem de móveis que bloqueavam a porta e, nesse intervalo, foram ouvidos disparos dentro da residência. Em seguida policiais entraram pela janela e completaram a invasão. Pouco depois Nayara surge baleada na boca, amparada por um policial, e Lindemberg saí dominado por outros 4 agentes. Eloá, atingida no rosto e na virilha vai de maca em estado grave para o hospital, onde veio a óbito.
Lindemberg foi levado para o Cadeião de Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, onde o seqüestrador está preso desde a madrugada do sábado.
Os erros da ação da polícia
O brasileiro Marcos do Val, é um instrutor da SWAT em Dallas há 9 anos, uma força de elite da polícia dos EUA que cuida de operações de emergência. Marcos em entrevista ao Fantástico da Rede Globo apontou os erros da polícia:
1) permitir que a negociação se arrastasse por cinco dias. Ele diz que a Swat estabelece um prazo limite de 24h para libertar o refém. Mas que a Swat de Dallas nunca passou de nove horas. A partir desse prazo se dá a invasão.
2) deixar de acertar um tiro de precisão no seqüestrador quando ele apareceu na janela, na quarta-feira, obrigando a refém a puxar o almoço em uma corda improvisada. Naquela oportunidade a refém se abaixou para pegar o alimento liberando a visão do alvo. Ao contrário da polícia daqui, que descartou essa hipótese por se tratar de um jovem com uma desilusão amorosa, lá a polícia não diferencia jovens de adultos, considerando apenas que há vidas em jogo. Lá eles poderiam usar outra tática, denominada triangulação, onde dois policiais ficariam sobre escadas fora do campo de visão do seqüestrador e um terceiro viria por cima de rappel. Enquanto um puxaria a refém para liberar o alvo, o outro daria cobertura enquanto o soldado usando corda deslizaria até a frente da janela e atiraria no meliante. Tudo sincronizado.
3) Quanto a volta da refém ao apartamento Marcos foi taxativo: -"Eu sinto vergonha de ser brasileiro e saber que a polícia brasileira fez isso." E explica que deveria haver um policial com escudo balístico à frente e ainda segurando a menina pelo braço. Nunca permitir que ela se aproximasse da porta. Isso deu uma sensação de poder ao seqüestrador que recapturou a refém.
4) Outro problema foi a falta de sincronia na invasão. Não entrar simultaneamente pela frente, janela e fundos (transcorreu 40s entre a explosão e a entrada de um policial pela janela) com o uso de bombas de luz e som, que deixariam o seqüestrador desnorteado. "Esse tipo de bomba é para dar aquela sensação de desespero para o seqüestrador. Ele não sabe de onde está vindo a polícia."
5) A demora na entrada do apartamento, devido ao desconhecimento dos obstáculos, e o excesso de explosivo. O tempo que demorou para se adentrar no local propiciou que o seqüestrador atirasse onde quisesse.
É comum em filmes vermos a polícia especializada americana com um aparelho, semelhante a um endoscópio, introduzido por baixo da porta de cativeiros para se ter mais informações sobre a situação. No momento que o seqüestrador estivesse na janela, isso poderia ter sido feito com segurança. E os obstáculos seriam revelados, dando mais elementos para se planejar a invasão.
A revista Veja consultou quatro especialistas em negociação de reféns que listaram os seguintes erros:
1) Permitir a reintrodução de uma vítima na cena de risco. Segundo Rodrigo Pimentel, ex-comandante do BOPE (Batalhão de Operações Especiais) da PM do Rio: "A devolução de Nayara afrontou os padrões mais básicos de comportamento do negociador em casos com refém". O coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública arremata: "Era uma situação típica de seqüestrador emocionalmente instável. Eles deveriam tê-la colocado em contato somente por telefone."
2) Não isolar o seqüestrador, permitindo que ele desse até entrevistas.
3) Não cortar o fornecimento de água e luz no local. A polícia tem que criar necessidades ao invés de facilidades, dizem os especialistas.
Pelo menos não houve altas autoridades negociando como no caso do ônibus 174, que envolveu o governador ou no caso da fuga de Leonardo Pareja, onde o diretor do presídio foi feito refém e o secretário de segurança pública negociou diretamente com o criminoso.
Agora, uma dúvida que ficou foi se a polícia realmente invadiu o prédio após um disparo ou se resolveu agir por achar que a situação caminhava para o homicídio, cortes no vídeo feito pela PM no momento da negociação final pode indicar que a decisão tomada foi censurada.
O perito Ricardo Molina disse que através do áudio e do vídeo do momento da explosão até o final da invasão só se indetificam três disparos e um quarto disparo com características acústicas diferentes (certamente um tiro vindo da PM, com bala de borrracha) e que não se ouve nenhum outro tiro em 1 minuto e 10 segundos antes da explosão (que é quando se inicia o vídeo).
Em tempo: os órgão de Heloá foram doados e podem beneficiar até sete receptores. Nayara não corre risco de morte.
Vão tomar no cú seus cagalhões de merda, não sabem que seu especialista nunca foi policial somente participou de ações como expectador. Vocês tem o que merecem seus putos.
ResponderExcluirÉ interessante como pessoas que não têm a mínima idéia do que é grenciamento de crise e da dificuldade e limitações enfrentadas pela Polícia num evento como este se arvoram a criticar ou dar "pitacos" sobre esta ou aquela maneira de agir. Só quem vive diariamente em um ambiente hostil e possui a responsabilidade de resguardar a vida e o patrimônio dentro da legalidade e das limitações jurídicas para isso é quem tem autoridade e legitimidade para tecer comentários e opiniões técnicas à respeito.
ResponderExcluirÉ preciso sim apoiar a atividade policial e dotá-la de maior autonomia para a tomada de decisões, além de investir em equipamentos e educação desses profissionais.Portanto, é preciso que a mídia brasileira tem consciência da necessidade de se parar de espetacularizar a violência, de forma sensacionalista,como tem feito e reconhecer, realisticamente, as dificuldades eenfrentadas pela polícia.
A imprensa deveria sim cooperar e apoiar o trabalho policial, pois todos nós somos responsáveis pela preservação da segunça pública e pela aquisição de uma sociedade mais pacífica e justa. A imprensa é capaz de resolver o problema sozinha? Pois é! A polícia também não. Então, deixemos de hipocrisia e sensacionalisom barato e nos unamos no combate à violência. Talvez assim conseguiremos nos aproximar do que desejamos para nossa convivência em sociedade.
Sou Gilmar Mendes Cavalcante, cadete da Polícia Militar do Estado do Pará e ex-oficial do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe.
Ok, Oficial. Mas é preciso escancarar os bastidores quando falhas são detectadas. É sabido que há um espírito de corpo nas instituições militares, como em qualquer corporação, que impede a sociedade civil de conhecer a realidade do meio. Analistas econômicos da TV dizem que já se gasta bastante com a segurança pública mas não temos uma diminuição da violência na mesma proporção. Gastamos mal? E quanto a operações como as citadas no post? Estamos preparados? Há ingerência política? Os oficiais estão mal treinados? A corporação está corrompida? Os concursados novos estão melhorando a qualificação daqueles que deveriam nos proteger e possuem porte de arma?
ResponderExcluirNo Rio mata-se muito e não há uma maior sensação de segurança. E Salvador? Os bandidos que estão matando policiais estão conseguindo acuar a polícia? Essa deve ser a receita para todo país, levar os líderes para cadeias de segurança máxima longe do local onde atuavam? A polícia está preparada para impedir o terrorismo? Há investimento em um serviço de inteligência? Em estratégia? É claro que a TV vive de Ibope, que rima com o BOPE que é a cara da polícia "boa" para o brasileiro hoje.
Não estamos aqui, criticando os heróis da polícia, que em situações de crise improvisam e rezam para tomar as melhores decisões.
Estamos criticando é o fato de precisarmos deles, quando na verdade deveríamos ter pessoas que já teriam simulado os vários tipos de ocorrência milhares de vezes para obter a mais alta eficiência nas ações.
E unificar as polícias não seria uma boa? Todas essas questões acabam ficando sem respostas satisfatórias e ficam adormecidas até a próxima crise. Mas não tenha dúvida que respeitamos muito a atividade policial. E sinta a vontade para expor seu ponto de vista.