A COP28 obteve um avanço nas negociações sobre as mudanças climáticas. O Consenso de Dubai aborda os combustíveis fósseis como princiapl cau...
O “Consenso de Dubai”, o documento final da cúpula, representa um avanço: é a primeira vez, em 31 anos de discussões sobre mudanças climáticas no âmbito da ONU, que a principal causa do aquecimento global – o uso dos combustíveis fósseis – é diretamente abordada em uma decisão final das COPs. Mas não vai muito além disso.
Ele não detalha como essa transição deve ocorrer, não tem metas nem cronograma, motivo pelo qual os países mais vulneráveis à crise do clima e organizações da sociedade civil qualificaram o compromisso como insuficiente. Para eles, o documento deveria trazer um plano para a eliminação gradual do uso dos combustíveis fósseis – condição fundamental para que seja possível limitar o aquecimento médio global a 1,5°C em relação aos níveis pré-Revolução Industrial, a meta mais ambiciosa do Acordo de Pais.
Independentemente da falta de assertividade da decisão da COP, ficam algumas questões: Temos condições de realmente abandonar os fósseis? Sabemos como fazer isso? O que é necessário para chegar lá? Para responder a essas questões, a Agência Pública foi atrás de estudos e de especialistas que apontam como poderia se dar essa trajetória.
O ano de 2023, o mais quente da história, já teve uma temperatura próxima do limite do Acordo de Paris, o que indica que o tempo para fazer a transição é cada vez mais curto.
🔥 E POR QUE ISSO IMPORTA? 🔥
- Países sinalizaram, na Conferência do Clima da ONU, em Dubai, “início do fim da era dos combustíveis fósseis”, mas sem definir metas nem prazo para, de fato, abandonar o uso de petróleo, gás e carvão
- Mudança é considerada imprescindível para conter o aquecimento global e organizações já apontam os caminhos para isso acontecer, mas países ainda não se comprometerem com isso
- Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o cumprimento desse objetivo requer “reduções profundas, rápidas e sustentadas” nas emissões de gases de efeito estufa, como o gás carbônico (CO2), de 43% até 2030 e 60% até 2035, em relação ao nível de 2019, de modo que as emissões líquidas sejam zeradas até 2050.
Nesse cenário, conhecido como net zero, as emissões são reduzidas ao máximo, e o remanescente é removido da atmosfera por sumidouros naturais, como as florestas, ou tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês), ainda incipientes.
Um relatório produzido pelo International Institute for Sustainable Development (IISD) com base em conclusões do sexto e mais recente ciclo de análises do IPCC indica, por exemplo, que a produção de petróleo e gás precisa cair em 30% até 2030 e em 65% até 2050 para que seja mantida a meta do 1,5°C. Isso significa que, nesta década, entre 2020 e 2030, é necessária uma diminuição anual de 3% na produção das duas fontes de energia.
🌿 Desafios e Soluções Rumo ao Net Zero 🌿
A Agência Internacional de Energia (IEA), em um estudo lançado em 2023, projeta que para alcançar o net zero em 2050, é necessário uma queda de 25% na demanda por combustíveis fósseis até 2030. Isso inclui evitar novos projetos de exploração de petróleo e gás, e novas minas de carvão.
De acordo com a IEA, isso é possível com a expansão da oferta de energias renováveis, como solar e eólica. A agência sugere a necessidade de triplicar a capacidade global das renováveis até 2030 e dobrar a taxa de melhoria da eficiência energética.
Por outro lado, os planos atuais de vários países e da indústria de combustíveis fósseis sugerem uma produção muito acima do necessário para limitar o aquecimento a 1,5°C. André Ferreira, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), destaca a importância de reduzir a demanda por petróleo, gás e carvão.
Ele aponta que o desafio maior está no transporte de carga a longa distância e na substituição do óleo diesel, bem como na indústria de cimento, aço e derivados de petróleo, como o plástico. Mesmo em 2050, no cenário net zero, ainda haverá consumo de fósseis nesses setores.
🔄 Abandono dos Fósseis e Transição Justa 🔄
O abandono do carvão, gás e petróleo por fontes renováveis é urgente, mas cada país tem responsabilidades diferentes. A IEA reconhece que as economias avançadas devem atingir o net zero antes, para dar mais tempo às economias emergentes.
O relatório da Civil Society Equity Review sugere prazos diferenciados para cada país, levando em conta sua dependência dos fósseis. Além disso, enfatiza a necessidade de apoio financeiro dos países ricos aos mais pobres para facilitar essa transição.
Segundo este relatório, o Brasil está entre os países que devem abolir o uso de fósseis entre 2030 e 2035, mas precisa de suporte financeiro para isso. Países altamente dependentes da produção de petróleo, como Iraque e Guiné Equatorial, têm até 2050 para abandoná-lo, também com a condição de receber financiamento.
Os EUA, de acordo com o estudo, têm a maior responsabilidade no financiamento dessa transição, devendo prover 46,3% dos recursos necessários para os países em desenvolvimento.
Mini Glossário
Acordo de Paris: Um acordo internacional dentro da UNFCCC, visando limitar o aumento da temperatura global a abaixo de 2°C, preferencialmente a 1,5°C, comparado aos níveis pré-industriais.
Agência Internacional de Energia (IEA): Organização que fornece análises, dados e recomendações sobre energia para seus países membros e além.
Civil Society Equity Review: Relatório que avalia a equidade na distribuição das responsabilidades e recursos para combater as mudanças climáticas globais entre diferentes países.
Combustíveis Fósseis: Fontes de energia não-renováveis, como petróleo, carvão e gás natural, que emitem gases de efeito estufa quando queimados.
Consenso de Dubai: O documento final da COP28, representando um marco por ser a primeira vez que o uso de combustíveis fósseis é diretamente abordado nas decisões finais das conferências do clima da ONU.
COP28: A 28ª Conferência do Clima das Nações Unidas, onde os países se reuniram para discutir ações contra as mudanças climáticas.
Eficiência Energética: Uso eficiente de energia para realizar as mesmas tarefas, reduzindo o consumo de energia e as emissões de gases de efeito estufa.
Emissões de Gases de Efeito Estufa: Liberações de gases, como dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), que contribuem para o efeito estufa, retendo calor na atmosfera terrestre e levando ao aquecimento global.
Energias Renováveis: Fontes de energia que são obtidas de recursos naturais inesgotáveis, como solar e eólica.
Economias Avançadas e Emergentes: Termos usados para diferenciar países com base no nível de desenvolvimento econômico e industrial.
Financiamento Climático: Investimentos e recursos financeiros destinados a apoiar ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, particularmente em países em desenvolvimento.
Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema): Organização brasileira que trabalha com questões relacionadas à energia e meio ambiente.
International Institute for Sustainable Development (IISD): Uma organização independente que promove a transição para um mundo mais sustentável através de pesquisas e políticas.
Mudanças Climáticas: Alterações no clima da Terra, atribuídas em grande parte às atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, que aumentam os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera.
Net Zero / Emissões Líquidas Zero: Um estado em que as emissões de gases de efeito estufa são equilibradas pela remoção destes gases da atmosfera, por meio de sumidouros naturais ou tecnológicos.
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC): Organização científica que avalia as pesquisas sobre mudanças climáticas, fornecendo uma visão científica clara sobre o estado atual do conhecimento em mudanças climáticas e seus impactos ambientais e socioeconômicos.
Tecnologias de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS): Tecnologias projetadas para capturar e armazenar dióxido de carbono emitido por fontes industriais e de energia, evitando sua liberação na atmosfera.
Transição dos Sistemas de Energia: Refere-se ao processo de mudar de fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis para fontes renováveis e mais sustentáveis, como a energia solar, eólica e hidrelétrica.
Transição Justa: Abordagem que busca garantir que os benefícios e os custos da transição para uma economia de baixo carbono sejam compartilhados de forma equitativa, protegendo aqueles que podem ser afetados negativamente.
Com informações de Agência Pública. Imagens meramente ilustrativas.Visto no Brasil Acadêmico
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