O magnésio é essencial para a produção de ligas de alumínio que são amplamente usadas em componentes dos automóveis. Mas a escassez do metal...
O magnésio é essencial para a produção de ligas de alumínio que são amplamente usadas em componentes dos automóveis. Mas a escassez do metal em toda a Europa, causada por uma crise de energia na China, revela mais uma crise após a escassez de semicondutores.
Isso porque o magnésio é uma matéria-prima essencial para a produção de ligas de alumínio, aumentando sua resistência. Essas ligas que são usadas por toda parte em um automóvel. Da caixa de câmbio, passando pelas colunas de direção, estruturas dos bancos e até mesmo nas tampas do tanque de combustível. De acordo com o “Financial Times”, a questão é que os estoques desse elemento estão perigosamente baixos em toda a Europa.
“Uma escassez de magnésio poderia desencadear uma escassez de alumínio [utilizável], que por sua vez também poderia atingir a produção de automóveis. Salientamos neste ponto que tal cenário ainda não está incluído em nossas estimativas. A questão acabou de surgir e nenhum fabricante de automóveis ainda alertou sobre isso.”Analistas da BofA Securities (em relatório).
Na semana passada, a Matalco, uma empresa canadense de metais, alertou seus clientes de que a disponibilidade de magnésio “secou” e que, caso a a escassez persista, será necessário reduzir a produção de alumínio no ano que vem, de acordo com um relatório da S&P Global Platts.
“Não há substitutos para o magnésio na produção de chapas de alumínio e tarugos (barras de alumínio). 35% da demanda de magnésio a jusante é de chapas automotivas, portanto, se o fornecimento de magnésio parar, toda a indústria automóvel será potencialmente forçada a parar.”
Amos Fletcher. Analista do Barclays (em relatório).
Cerca de 85% da produção mundial de magnésio vem da China e grande parte dela vem de Yulin, uma cidade na província de Shaanxi. No mês passado, o Governo local ordenou que 35 das suas 50 fundições de magnésio fechassem até ao final do ano e que as restantes cortassem a produção em 50% para atingir as metas de consumo de energia. Para produzir uma tonelada de magnésio, são necessários entre 35 e 40 megawatts por hora de energia.
O metal é difícil de armazenar, já que começa a oxidar três meses depois de produzido, por isso os estoques podem cair criticamente antes do final do ano. A crise já se faz sentir nos preços: O magnésio importado na Europa aumentou 75% no mês passado, atingindo um recorde de 9 mil dólares por tonelada (cerca de 7772 euros).
Em vista desse quadro, pipocam alertas por todo o Velho Continente. A WV Metalle, associação comercial de metais não ferrosos da Alemanha, pediu ao Governo que iniciasse negociações diplomáticas com urgência com a China.
“Espera-se que as reservas atuais de magnésio na Alemanha e em toda a Europa se esgotem em algumas semanas, no final de novembro de 2021, o mais tardar.”
WV Metalle (em comunicado).
Já a European Aluminium (EA), associação que inclui a Norsk Hydro, Rio Tinto e Alcoa, pediu à União Europeia (UE) e aos Governos que trabalhem urgentemente em ações imediatas com as suas contrapartes chinesas. E vai além, apontando para o risco da sino-dependência.
“A atual escassez no fornecimento de magnésio é um exemplo claro do risco que a UE está a assumir ao tornar a sua economia doméstica dependente das importações chinesas. A estratégia de metais industriais da UE deve ser fortalecida.”
European Aluminium (em comunicado).
As empresas europeias, incluindo a Norsk Hydro, costumavam produzir magnésio, mas pararam porque não conseguiam competir com os produtores chineses. O magnésio já faz parte da lista de matérias-primas críticas da UE.
Mas por que a Europa foi mais atingida por essa crise? De acordo com Stephen Williamson, gerente de pesquisa da consultoria de commodities CRU, há na América do Norte um grande produtor nacional de metal, o US Magnesium, que estava oferecendo um certo grau de proteção.
“Os produtores de alumínio da América do Norte também estão trabalhando muito agressivamente em suas cadeias de fornecimento de sucata para compensar o magnésio bruto que não são capazes de obter.”
Stephen Williamson. Gerente de pesquisa da CRU
Mas essa baixo estoque também ocorre com vários outros metais. Especialmente com o cobre, cujo os estoques na Bolsa de Metais de Londres (LME) – o maior mercado mundial de metais industriais – estão no nível mais baixo desde 1974 devido a um súbito aumento de pedidos recententemente.
No último mês o cobre ainda não destinado à retirada dos armazéns da LME mergulhou de mais de 150.000 toneladas para apenas 15.225 toneladas. Para se ter um ideia do quadro geral, cerca de 25 milhões de toneladas de cobre refinado são consumidas anualmente. Na China, os estoques de cobre na bolsa de futuros de Xangai caíram para o nível mais baixo desde 2009.
Para a LME, a diminuição dos estoques de cobre poderia apresentar um problema porque a bolsa tem um contrato que é liquidado se não for fechado.
“Embora alguns metais possam entrar no sistema de armazenagem, pode não haver nenhuma solução imediata, além, talvez, de uma desaceleração econômica global.”
Michael Widmer. Estrategista de commodities da BofA Securities.
Luz no fim do túnel
Analista do setor energético apontam que a crise de oferta de eletricidade na China, a pior em duas décadas, é basicamente produto da má gestão dos mercados de energia pelos governos chineses. Embora a crise energética atinja, além da China, também a Índia, outro gigante asiático, ambos pressionaram suas mineradoras estatais de extração de carvão, usado nas usinas termoelétricas, para baixar o preço do combustível, cujo alto custo foi o que detonou a crise no abestecimento de energia elétrica.
Desde o final de setembro, os líderes chineses começaram a realizar uma série de reuniões de emergência para resolver a questão dos preços elevados de carvão. E a crise de energia elétrica não afetou apenas as fábricas. Nas redes sociais, começaram a aparecer relatos de carros rodando em estradas totalmente às escuras no nordeste da China, chineses jantando com a luz de seus smartphones e famílias presas em elevadores que pararam repentinamente.
Diante desse cenário, autoridades em Pequim também tomaram medidas para limitar os preços da commodity, eliminando algumas taxas de eletricidade, reduzindo as exportações do combustível e aumentando a aquisição de carvão, gás e diesel do exterior. A boa notícia, por ora, é que as medidas começaram a surtir efeito.
“Os dois países continuam enfrentando alguns riscos para o abastecimento no inverno, mas a escassez foi amenizada.”
Xizhou Zhou. Diretor-gerente de energia global e renovável da IHS Markit, em Washington.
Você deve estar se perguntando: Esse negócio de aumentar o consumo de carvão não vai de encontro às preocupações ambientais mundiais da cúpula climática COP26? Correto. Esse açodamento para aumentar a oferta de combustíveis fósseis também chamou a atenção para o incremento das emissões globais de gases de efeito estufa este ano, e no imenso desafio da Índia e da China para reformarem seus sistemas de energia para cumprirem com as metas de redução de emissões detalhadas nos últimos dias da COP26, em Glasgow.
A produção diária de carvão da China aumentou em mais de 1 milhão de toneladas nas últimas semanas, para cerca de 11,89 milhões de toneladas, e em breve devem ultrapassar a meta do governo de produção de 12 milhões de toneladas por dia. O aumento supera as expectativas e reduz significativamente o déficit de oferta, disseram analistas do Morgan Stanley como Sara Chan.
Os estoques de carvão nas usinas de energia da Índia aumentaram de 7,2 milhões de toneladas, no mês passado, para 12,4 milhões de toneladas, na última sexta-feira. Os principais consumidores industriais, cujo fornecimento de carvão foi limitado para priorizar usinas de energia, também declararam ter havido uma melhora nas condições.
A despeito dessa complexa engenharia da economia global, EUA e a China – os dois maiores emissores de dióxido de carbono (CO2) – anunciaram ontem um acordo para reforçar as ações climáticas nesta década. A China, maior emissora de CO2, e os EUA, o segundo colocado, disseram que pretendem cooperar em políticas para integrar “uma alta parcela de energia renovável”.
Eles se referiram à energia solar, ao armazenamento e a “outras soluções de energia limpa”, bem como aos “padrões de eficiência energética”, e disseram que os EUA vão manter o objetivo de “atingir 100% de produção de energia elétrica livre de carbono até 2035” e que a China fará “todos os esforços” para “reduzir gradualmente o consumo de carvão”. Esse acordo foi obtido faltando apenas dois dias para o final da COP26. É ou não é uma luz no fim do túnel?
Visto no Brasil Acadêmico
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