No mesmo diapasão educacional, as opiniões de Claudia Costin e Alexandre Schneider parecem um mesmo refrão no canto da volta às aulas prese...
No mesmo diapasão educacional, as opiniões de Claudia Costin e Alexandre Schneider parecem um mesmo refrão no canto da volta às aulas presenciais.O programa Canal Livre desta semana, da TV Bandeirantes, discutiu a retomada das aulas presenciais e os desafios da educação brasileira no pós-pandemia e possíveis soluções. A intenção era saber do presente cenário e o que se vislumbra para o futuro. Então os jornalistas Fernando Mitre e Veruska Boechat e o apresentador Rodolfo Schneider receberam dois dos maiores especialistas do país: Claudia Costin, diretora do Centro de Excelência e Inovação em políticas Educacionais da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial. E Alexandre Schneider, pesquisador da Universidade de Columbia, Presidente do Instituto Singularidades, professor da FGV e ex-secretário de educação de São Paulo.
O que ficou meio engraçado, embora bastante didático, foi que os convidados falaram em momentos distintos – primeiro a Costin e depois Schneider – e como o segundo provavelmente não viu a fala do primeiro entrevistado, muito foi repetido no segundo bloco. O que pelo menos mostrou não haver contradição ou muita divergência entre os especialistas, talvez por ambos serem ligados à FGV. E também o público pode assimilar melhor, já que a repetição não deixa de ser uma forma eficiente de melhorar o aprendizado. Especialmente se tiver uma pausa entre as iterações.
Segundo Scheneider, pesquisa do Unicef feita pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) – o instituto que substituiu o Ibope – levantou que 71% dos alunos brasileiros (0 a 17 anos) tiveram contato com a escola via Whatsapp. Apesar desses números, trazer os estudantes de volta para a escola e, pior ainda, mantê-los na escola, será o grande desafio.
Evasão escolar
Ambos os especialistas reforçaram a ideia de que a escola deve ACOLHER esses estudantes. Eles já não são mais os mesmo de antes de pandemia. Scheiner ainda ressalta haver a necessidade da escola realizar uma “busca ativa” desses alunos. Isto é, caso o aluno não apareça nos primeiros dias, a escola deve ir atrás do aluno procurando trazê-lo de volta ao ambiente escoalar. Por meio da atuação das equipes de assistência social já existentes.
O governo precisa apoiar as famílias para que o cessar da renda familiar, ou mesmo a diminuição da renda, acabe por tirar o estudante da escola para que ele venha a trabalhar.
Recuperação do aprendizado
Pegando um recorte da situação da língua portuguesa, Costin lembrou que antes da pandemia, 55% das crianças de escola pública do ensino fundamental, saíam analfabetas. No 3º ano só 29,1% sabiam o suficiente de língua portuguesa.
Depois de um ano e meio de escolas fechadas, sem conectividade, com alunos sem livros em casa e com pais com baixo repertório cultural, a desigualdade tende a se aprofundar. Apesar de todo os esforços dos professores na linha de frente.
Costin acrescentou que os estados, após esse acolhimento emocional, deverão fazer avaliações diagnósticas para levantar quais foram as perdas, fazer um nivelamento – retomar o que foi perdido em 2020 – e um sistema de recuperação da aprendizagem. A tecnologia pode ser usada para isso inclusive com gamificação (São Paulo, Espírito Santo e Paraná seriam bons exemplos). Mas não devemos alimentar ilusões de que não haverá perdas.
Esa recuperação vai levar mais de um ano, talvez dois ou três. Para as crianças pequenas será mais fácil de resolver. E os meninos que estão no 3º ano do ensino médio? Partes dessa educação serão perdidas.Cláudia Costin – Especialista em educação
Inclusão digital
Ambos concordam que a pandemia acelerou a inclusão digital. Costin apontou a existência de plataformas onde você tem pequenos questionários que permitem indentificar de modo personalizado o que a criança não aprendeu e que joga o aluno até a aula que reõe aquele conteúdo. Auxiliando o professor na tarefa de nivelamento do conhecimento dos estudantes.
Aqui em São Paulo, 10% das crianças do ensino fundamental, mais ou menos 60 mil crianças, nunca Acessaram a plataforma proposta pela Secretaria Municipal de Educação.Alexandre Scheneider – Especialista em educação
O Estado de São Paulo criou uma plataforma digital de ensino e 80% dos alunos acessaram só por duas horas durane o ano inteiro de 2020.
Além de se valorizar o papel do professor, a pandemia proporcionou a valorização da educação a distância.
No Maranhão, um dos estados mais pobres, por exemplo, 61% dos alunos utilizando seus celulares estiveram sistematicamente na plataforma digital. Então de alguma maneira a gente teve um aprendizado construído. Era boa essa plataforma? Nós não sabemos. Mas aconteceu!
Escola fechada ou aberta?
Costin defendeu que se deve evitar fechar a escola, especialmente a escola pública, por ser esta – além de uma forma de expandir as relações sociais do estudante para além da família – um importante meio de ajudar a defender os alunos de ameaças como violência doméstica, exploração de trabalho infantil e exploração sexual de crianças e adolescentes.
Valorização da escola e dos professores
Também é um ponto de concordância o fato de que a pandemia mostrou para a sociedade a importância e as dificuldades do papel do professor na educação dos jovens. Ainda que eles e a escola não tivessem sido preparados para essa difícil tarefa de promover alguma aprendizagem remotamente.
Costin lembrou que no nordeste chegaram até mesmo a transmitir aulas pelo rádio. Todavia, o segundo setor que mais demitiu foi o da educação. Os professores da escola privada foram demitidos, bem como os temporárias da escola pública.
Escola pública
Parte dos desafios da escola pública é que ela recebe todas as crianças e jovens, não tem prova para entrar, uma parte do desafio seria essa. O Brasil foi um dos últimos países americanos a universalizar o acesso ao ensino fundamental, o que só ocorreu na primeira década do século XXI.
Antigamente, a escola pública era muito boa. Só que no final dos anos 1960, só havia 40% das crianças na escola primária. Ela atendia prioritariamente o filho dos letrados. Pesquisa de Naércio Menezes do Insper mostrou que 68% do sucesso de uma criança depende dos anos de escolaridade de seus pais. Naquele tempo era os alunos que não se comportavam bem que acabavam indo para uma escola particular – chamadas pejorativamente de papai-pagou-passou.
Desde os anos 1990 que vem mudando o olhar sobre a escola pública. Primeiro colocar todo mundo na escola. Depois começar a avaliar. É claro que as primeiras avaliações mostravam um quadro muito ruim, mas desde 2005 o ensino fundamental 1 vem melhorando. O fundamental 2, nas cinco últimas edições da avaliação nacional, que é muito bem feita, mostra que nós melhoramos. E em 2019 finalmente essa melhor apareceu no ensino médio público.
Ou seja, nós estamos fazendo alguma coisa correta só que não na velocidade certa nós vamos ter que aprender a pisar no acelerador.
Dada as dificuldades econômicas muitõs estudantes estão migrando da escola privada para pública. Na capital do Rio de Janeiro, por exemplo, 30%, cerca de 50 mil alunos, fizeram essa migração. Vão encontrar muitas dificuldades mas um lado positivo é que encontrarão diversidade. O que é muito bom já que a classe média vem vivendo em bolhas.
Como casos positivos, segundo Costin, alguns estados brasileiros precisam ser observados, de todo o espectro político. O Ceará, no ensino fundamental. Eles tem a cidade de Sobral que de fato possui um desempenho admirável. Mesmo sem grande diferencial em infraestrutura possui boa aprendizagem e a alfabetização funciona bem.
Em pernambuco o ensino médio funciona bem com uma proposta de tempo integral muito boa. Desde 2007 quando eram os últimos no ranking do Ideb (um índice que mede a qualidade do ensino médio) vindo a ocupar hoje o terceiro lugar. A Paraíba e o Espírito Santo resolveram copiar Pernambuco sendo que no ES começaram a apoiar os municípios que implantarem o ensino integral no ensino fundamental. O ES voltou ao presencial antes dos outros estados e tornou a volta obrigatória.
Scheneider citou que os professores devem ter uma formação que vise a teoria e a prática. Além disso, o professor brasileiro não deveria trabalhar em vários lugares, isso atrapalha o profissional a formar vínculos com a escola. Nos melhores sistemas brasileiros o professor fica em tempo integral na escola e, com isso, o grupo de profissionais de educação tende a agir como um time.
Sobre exemplos que vêm de fora, Costin citou Xanguai, cidade chinesa de 23 milhões de habitantes. Lá os professores lecionam em uma única escola, ao invés de se deslocarem para dar aulas em várias escolas – algo que poderia facilmente ser implantado no Brasil – e eles aprendem uns com os outros – por exemplo, um professor assiste a aula de outro mais experiente, por exemplo.
A Finlândia voltou a ter curso profissionalizante para professor para aliar a prática com a teoria.
Fonte: Canal Livre
Visto no Brasil Acadêmico
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