Pesquisadores usaram a cidade turística de Alagoas para entender a dinâmica da evolução da pandemia de Covid-19. Dados ajudam a prefeitura a...
Pesquisadores usaram a cidade turística de Alagoas para entender a dinâmica da evolução da pandemia de Covid-19. Dados ajudam a prefeitura a chegar a quem teve contato com infectado.
Sim, já foram encontradas algumas minas por lá cerca de uma década atrás. Todavia, o interessante é que, coincidentemente, minas desse tipo costumam ser redondas com algumas espículas ao redor semelhantes ao… isso mesmo. Ele! O coronavírus! (Na verdade, o formato dessa mina brasileira tem mais buracos do que espinhos em sua superfície).
Talvez por não querer mais essa bomba a manchar a imagem dos resorts all-inclusive da cidade a prefeitura resolveu logo no início da pandemia a agir proativamente e fez uma parceria com cientistas da USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade de Campinas), FGV (Fundação Getúlio Vargas), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e Ufal (Universidade Federal de Alagoas) para entender a pandemia que conta com apoio do Instituto Serrapilheira, maior instituição privada de fomento à Ciência no país. Além deles, a equipe conta com cinco alunos do ensino médio público de Alagoas premiados em olimpíadas brasileiras de Matemática ou Informática.
“A pergunta fundamental inicial era: qual o principal foco, o motor da doença? A partir dessa questão, a gente começou a estudar o problema.”
Tiago Pereira. Professor do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria da USP.
O projeto se iniciou em março de 2020, com a elaboração de uma plataforma para montagem de um banco de dados. A ferramenta ficou pronta em meados de maio e não só ajudou a compreender a pandemia, como ainda hoje auxilia a prefeitura a encontrar os contaminados na cidade.
“Como os pesquisadores da UFAL tinham uma parceria desde o ano passado com a Prefeitura de Maragogi para monitorar a pandemia, podemos contar hoje com dados consistentes da evolução da Covid-19 na cidade que são essenciais para tornar nossas simulações bem mais próximas da realidade.”
Tiago Pereira para o Agenda A.
Os pesquisadores então se utilizaram das informações coletadas de pessoas doentes que compõem um banco de dados com cerca de 5.900 pacientes para formar um entendimento e chegar a algumas conclusões. Essas tuplas de informações trazem detalhes como pessoas com quem o paciente teve contato e a localização de seu trabalho e moradia. Assim, foram criados modelos que mostravam os locais responsáveis pela proliferação do coronavírus.
De acordo com esses modelos, descobriram, por exemplo, que, ao contrário do que era esperado, a Feira Livre de Maragogi não era um importante núcleo de disseminação da doença. Em contrapartida, os modelos fizeram emergir a convicção que, além de postos de saúde e hospitais, os supermercados eram o segundo tipo de estabelecimento com maior probabilidade de disseminação do vírus – A explicação parece ser que, diferentemente da feira, o supermercado é um ambiente fechado.
De acordo com esses modelos, descobriram, por exemplo, que, ao contrário do que era esperado, a Feira Livre de Maragogi não era um importante núcleo de disseminação da doença. Em contrapartida, os modelos fizeram emergir a convicção que, além de postos de saúde e hospitais, os supermercados eram o segundo tipo de estabelecimento com maior probabilidade de disseminação do vírus – A explicação parece ser que, diferentemente da feira, o supermercado é um ambiente fechado.
“Para nossa surpresa, o monitoramento da Feira Livre da cidade, que contou com uso até de drones para identificar pontos de maior aglomeração, indicou que ela não havia tido um papel relevante na disseminação da doença como esperávamos. E isso mostra como a tomada de decisões sobre o fechamento ou reabertura de locais sem apoio de dados pode resultar em medidas ineficazes.”
Aderente aos modelos aplicados pelos pesquisadores, uma das estratégias mais eficazes para conter a escalada de casos e de ocupação de leitos da UTI seria vacinar, além de profissionais da saúde e idosos, grupos de trabalhadores com contato rotineiro com um grande número de pessoas, como caixas de supermercado e outras categorias.
“Como essas pessoas são potenciais vetores importantes da doença, os modelos indicam que a vacinação desses grupos específicos seriam decisivos para diminuir o número de casos e ocupação de leitos. E isso poderia ajudar na definição de melhores estratégias futuras de vacinação”.
Prof. Tiago Pereira (Foto:Serrapilheira) |
“Assim, conseguimos achar assintomáticos e podemos isolá-los antes de contaminar mais pessoas.”
Agora, plataforma está disponível para todas as prefeituras de Alagoas de forma gratuita e pode servir para entender o quão pervasiva é essa epidemia. Assim, com os modelos já desenvolvidos, Maragogi também serviu como base experimental para indicar uma estratégia de vacinação que diminuísse a contaminação.
“A gente fez algumas simulações. Uma delas seria vacinar todos os idosos de Maragogi. Isso diminui o número de mortes , mas praticamente não tem impacto nenhum na propagação da epidemia como um todo. Se vacinarmos também trabalhadores dos serviços essenciais, além de conseguir salvar os idosos, ainda se consegue um impacto muito grande na população.”Além do aspecto epidemiológico, o professor de Matemática e coordenador local do projeto, Krerley Oliveira, acredita que o monitoramento de Maragogi também deixará um legado na formação de pesquisadores locais especialistas no monitoramento de pandemias.
“Como contamos não apenas com a participação de pesquisadores do Instituto de Matemática da Ufal, mas com um grupo que inclui pesquisadores e alunos de Farmacologia, Medicina, Física, Engenharia da Computação, entre outros, o conhecimento acumulado desde o ano passado poderá deixar um legado importante não apenas no combate à disseminação do coronavírus, como no controle de outras epidemias no Estado.”Fonte: Agenda A, Tilt, Serrapilheira, Naval
Prof. Krerley Oliveira
Visto no Brasil Acadêmico
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