O que acontece se você for infectado pelo coronavírus? Quem corre mais risco? Como você pode se proteger? O especialista em saúde pública Da...
O que acontece se você for infectado pelo coronavírus? Quem corre mais risco? Como você pode se proteger? O especialista em saúde pública David Heymann, que liderou a resposta global ao surto da SARS em 2003, compartilha as últimas descobertas sobre o COVID-19 e o que o futuro nos reserva.
Na manhã de 27 de fevereiro de 2020, havia pelo menos 82 mil casos confirmados do coronavírus em todo o mundo, com 2.810 mortes. O TED convidou o Dr. David Heymann para falar sobre as últimas descobertas sobre o surto. O que acontece se você for infectado pelo coronavírus?
Parece uma doença muito leve, como um resfriado comum, na maioria das pessoas. Certas pessoas são infectadas, e a doença se agrava muito, vide os profissionais de saúde. É uma infecção muito grave para eles, pois recebem uma dose maior do que pessoas comuns e, ao mesmo tempo, não têm imunidade.
[Visto no Brasil Acadêmico]
Na manhã de 27 de fevereiro de 2020, havia pelo menos 82 mil casos confirmados do coronavírus em todo o mundo, com 2.810 mortes. O TED convidou o Dr. David Heymann para falar sobre as últimas descobertas sobre o surto. O que acontece se você for infectado pelo coronavírus?
Parece uma doença muito leve, como um resfriado comum, na maioria das pessoas. Certas pessoas são infectadas, e a doença se agrava muito, vide os profissionais de saúde. É uma infecção muito grave para eles, pois recebem uma dose maior do que pessoas comuns e, ao mesmo tempo, não têm imunidade.
Na população em geral, é provável que a dose de vírus que você receba quando estiver infectado seja muito menor do que a dose recebida por profissionais de saúde, que têm infecções mais graves.É de esperar que sua infecção seja menos grave. Isso faz com que os idosos e aqueles com comorbidades sejam as pessoas a quem temos que garantir o atendimento nos hospitais.
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- Quais as pessoas que deveriam estar mais preocupadas com a doença?
- Quem deve se preocupar mais são, em primeiro lugar, pessoas de países em desenvolvimento, que não têm acesso a boa assistência médica e podem não ter acesso algum a hospitais, caso ocorra uma epidemia no país delas. Essas pessoas estariam em grande risco, principalmente os idosos. Idosos de todas as populações estão em risco, mas principalmente aqueles que não podem obter oxigênio. Em países industrializados, são os idosos que têm comorbidades, diabetes e outras doenças, que estão em risco. Parece que a população em geral não corre grande risco.
- Quais condições médicas pré-existentes colocam as pessoas em maior risco?
- Antes de mais nada, a doença pulmonar que existe como comorbidade também é importante. Em geral, os idosos correm maior risco, principalmente aqueles com mais de 70 anos, porque o sistema imunológico deles não é tão eficaz quanto antes, e eles estão mais suscetíveis a infecções. Além disso, em alguns casos na China, houve uma coinfecção com influenza e, ao mesmo tempo, houve superinfecções bacterianas nas pneumonias existentes.
- Onde podemos encontrar informações atualizadas?
- O Centro de Controle de Doenças de Atlanta faz o acompanhamento e atualiza frequentemente seu site. A Organização Mundial da Saúde em Genebra, que coordena muitas das atividades em andamento internacionalmente, também tem um site com atualizações diárias. É nossa responsabilidade obter essas informações como indivíduos, para que possamos entender e garantir que podemos contribuir de nossa própria maneira para a prevenção de uma propagação maior.
- Você liderou a resposta global ao surto da SARS em 2003. Como esse surto se compara?
- É o mesmo problema com infecções novas. Essa é uma infecção que chega a seres humanos, que nunca foram expostos a esse vírus antes. Eles não têm proteção de anticorpos, e não está claro se o sistema imunológico deles pode lidar com esse vírus ou não. Esse vírus é encontrado geralmente em morcegos ou em outros animais e, de repente, está em seres humanos. E os seres humanos simplesmente não têm experiência com esse vírus. Mas, pouco a pouco, começamos a aprender muito, como aprendemos com a SARS. Com certeza, há um número maior de mortes do que havia com a SARS, mas, quando dividimos isso por um denominador de pessoas infectadas, há muito mais pessoas infectadas do que havia com a SARS. A proporção de casos fatais, ou seja, a proporção de mortes e o número de casos da SARS, era de cerca de 10%. Com o coronavírus atual, COVID-19, é de 2% ou provavelmente menos. Portanto, é um vírus muito menos virulento, mas ainda é um vírus mortal, e não o queremos em populações humanas.
- Estamos respondendo de modo adequado em fronteiras, como aeroportos?
- Entende-se claramente que aeroportos ou quaisquer fronteiras terrestres não conseguem impedir a entrada de uma doença. Pessoas no período de incubação podem atravessar fronteiras, entrar em países e infectar outras pessoas quando ficarem doentes. Portanto, as fronteiras não são um meio de impedir a entrada de infecções no país medindo-se temperaturas. As fronteiras são importantes porque podemos fornecer às pessoas que chegam de áreas que podem estar em risco de ter havido infecção, fornecer a elas um conhecimento, seja impresso ou verbal, de quais são os sinais e sintomas dessa infecção, e o que elas devem fazer se sentirem que podem estar infectadas.
- Qual é o cronograma para uma vacina?
- Vacinas já estão em desenvolvimento. Há muitas pesquisas em andamento. Essas pesquisas exigem primeiro que a vacina seja desenvolvida, para depois ser estudada quanto à segurança e eficácia em animais, que são desafiados com o vírus após a vacinação, e depois incluída em estudos em seres humanos. Os estudos em animais ainda não começaram, mas logo começarão para certas vacinas. Acredita-se que, até o final do ano, ou no início do próximo ano, possa haver algumas vacinas candidatas a serem estudadas para licenciamento por agências reguladoras. Estamos falando de, pelo menos, um ano até que haja uma vacina disponível que possa ser usada em muitas populações.
- Que perguntas sobre o surto ainda não foram respondidas?
- É claro que sabemos como é transmitido. Não sabemos com que facilidade é transmitido em seres humanos, em comunidades ou em áreas abertas. Sabemos, por exemplo, que, na área fechada de um transatlântico, ele se espalhou com muita facilidade. Precisamos entender melhor como ele se espalhará assim que entrar em áreas mais abertas, onde as pessoas estão expostas a pessoas que podem estar doentes.
- E a resposta global poderia ser melhorada?
- Um problema principal do mundo atual é que consideramos os surtos em países em desenvolvimento como algo que precisamos impedir. Quando há um surto de ebola, pensamos: "Como podemos impedir esse surto no país?" Não pensamos em como podemos ajudar esse país a fortalecer sua capacidade para que possa detectar e responder a infecções. Não investimos o suficiente para ajudar países a desenvolver sua capacidade básica em saúde pública. Investimos em muitos mecanismos, de maneira global, que podem fornecer apoio a outros países para ajudar a impedir surtos. Mas queremos ver um mundo em que cada país possa fazer o melhor para impedir seus surtos.
- Veremos mais surtos de doenças emergentes no futuro?
- Hoje, há mais de 7 bilhões de pessoas e, quando essas pessoas vêm ao mundo, elas exigem mais alimentos, toda uma série de coisas, e vivem mais próximas. Na realidade, somos um mundo urbano, em que as pessoas vivem em áreas urbanas. Ao mesmo tempo, estamos criando mais animais, que também contribuem para a alimentação humana. Vemos que essa interface animal-humana está ficando cada vez mais próxima. E essa agropecuária intensiva e esse aumento profundo de populações humanas que vivem juntas no mesmo planeta são realmente uma mistura em que surtos podem ocorrer e ocorrem de fato. No final, teremos cada vez mais desses surtos. Portanto, uma infecção emergente hoje é apenas um aviso do que acontecerá no futuro. Temos que garantir que a colaboração técnica no mundo esteja lá para trabalharmos juntos para garantir que possamos entender esses surtos quando eles ocorrerem e fornecer rapidamente as informações necessárias para controlá-los.
- O pior já passou?
- Não posso prever com precisão. Tudo o que posso dizer é que todos devemos estar preparados para o pior cenário e, ao mesmo tempo, aprender a nos proteger e proteger os outros caso nos tornemos parte dessa epidemia.
- Para saber mais
[Visto no Brasil Acadêmico]
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