O tipo de construção das barragens de rejeitos de mineração que desmoronaram culminando nas tragédias recentes ligadas à mineração eram as m...
O tipo de construção das barragens de rejeitos de mineração que desmoronaram culminando nas tragédias recentes ligadas à mineração eram as mais baratas e rápidas entre os tipos mais comuns de construção. Entenda.
Existem três tipos de construção de barragens de contenção de rejeitos de mineração mais usados classificados quanto ao alteamento: Montante, jusante e linha central. Alteamento seria, grosso modo, o processo de se incluir uma nova camada na barragem para conter mais material. Montante seria uma forma de criar camadas em direção ao interior da barragem (com uma parede externa semelhante a degraus) e o alteamento a jusante é feito na direção oposta (fazendo com que a parede externa tenha uma aparência lisa). No alteamento a linha central, como o nome já diz, se constrói uma nova camada exatamente sobre a anterior, conforme mostrado nos vídeos.
Assim, o alteamento a montante é o mais barato, rápido e inseguro. Um canto de sereia para administradores e investidores que torna a conjuntura propícia ao desastre, ainda que não exista nada 100% garantido em nenhum dos modelos de barragens hidráulicas e esse ser permitido no Brasil (embora seja proibido em alguns países, como o Chile, por exemplo).
O alteamento a jusante é a forma mais segura das três (e a mais cara) sendo também a que mais demora e ocupa maior área. O alteamento a linha central é uma forma intermediária em termos de tempo, custo e segurança.
Com exceção do do alteamento a jusante, os outros dois modelos usam parte dos rejeitos para sustentação e dependem da parte reaproveitada do material rejeitado estar seco o suficiente para que não haja liquefação do material, o que pode levar aos desmoronamentos. Essa análise é custosa, exigindo ensaios em laboratório e é um tema pouco estudado cujos critérios ainda são controversos.
É o que explica o engenheiro Paulo Ivo Braga de Queiroz em seu artigo sobre o tema (que recomendamos fortemente para quem quer se inteirar melhor do assunto):
Paulo Ivo, ou simplesmente "pi" como ele prefere ser chamado, é professor do ITA e atuou por 12 anos em projetos geotécnicos. Ele lembra que as chacoalhadas que poderiam promover o tal cisalhamento levando à liquefação podem vir de explosões para abertura de minas próximas até mesmo tremores de terra naturais. Que embora não sejam tão fortes quanto ocorrem em países como Chile ou Japão costumam ocorrer com razoável frequência no Brasil.
Por tudo que foi mostrado podemos concluir que o alteamento a jusante é o mais garantido. Além de ser mais seguro pois as novas camadas se assentam sobre bases mais estáveis, a altura da barragem tende a não ser tão grande, uma vez que os custos tende a ser praticamente exponenciais, o que obrigaria os administradores a pensarem duas vezes antes de autorizar um aumento da altura da parede da barragem.
Os vídeos selecionados acima ajudarão a entender melhor as diferenças entre os modelos.
Fonte: YouTube, OVale
[Visto no Brasil Acadêmico]
Existem três tipos de construção de barragens de contenção de rejeitos de mineração mais usados classificados quanto ao alteamento: Montante, jusante e linha central. Alteamento seria, grosso modo, o processo de se incluir uma nova camada na barragem para conter mais material. Montante seria uma forma de criar camadas em direção ao interior da barragem (com uma parede externa semelhante a degraus) e o alteamento a jusante é feito na direção oposta (fazendo com que a parede externa tenha uma aparência lisa). No alteamento a linha central, como o nome já diz, se constrói uma nova camada exatamente sobre a anterior, conforme mostrado nos vídeos.
Assim, o alteamento a montante é o mais barato, rápido e inseguro. Um canto de sereia para administradores e investidores que torna a conjuntura propícia ao desastre, ainda que não exista nada 100% garantido em nenhum dos modelos de barragens hidráulicas e esse ser permitido no Brasil (embora seja proibido em alguns países, como o Chile, por exemplo).
O alteamento a jusante é a forma mais segura das três (e a mais cara) sendo também a que mais demora e ocupa maior área. O alteamento a linha central é uma forma intermediária em termos de tempo, custo e segurança.
Com exceção do do alteamento a jusante, os outros dois modelos usam parte dos rejeitos para sustentação e dependem da parte reaproveitada do material rejeitado estar seco o suficiente para que não haja liquefação do material, o que pode levar aos desmoronamentos. Essa análise é custosa, exigindo ensaios em laboratório e é um tema pouco estudado cujos critérios ainda são controversos.
É o que explica o engenheiro Paulo Ivo Braga de Queiroz em seu artigo sobre o tema (que recomendamos fortemente para quem quer se inteirar melhor do assunto):
Mas o que é a liquefação do solo da barragem? Bom, esta lama das barragens tem um comportamento chamado tixotrópico: ela parece com o ketchup. Às vezes, você compra um cachorro quente e vai colocar molho de tomate nele. Se o molho está parado há mais de um dia, ele vai estar viscoso o suficiente para nem sair do fundo do tubo. Você precisa “lembrar” a este molho que ele já foi líquido, para usá-lo no seu sanduíche. Dá para fazer isso de dois jeitos: por carga cíclica ou por cisalhamento. Carga cíclica consiste em chacoalhadas; você sacode o tubo e o ketchup fica líquido de novo. Caso a ponta do tubo esteja entupida mesmo, você pode aplicar forças diferentes em várias direções, o que resulta em cisalhamento.
Paulo Ivo, ou simplesmente "pi" como ele prefere ser chamado, é professor do ITA e atuou por 12 anos em projetos geotécnicos. Ele lembra que as chacoalhadas que poderiam promover o tal cisalhamento levando à liquefação podem vir de explosões para abertura de minas próximas até mesmo tremores de terra naturais. Que embora não sejam tão fortes quanto ocorrem em países como Chile ou Japão costumam ocorrer com razoável frequência no Brasil.
Por tudo que foi mostrado podemos concluir que o alteamento a jusante é o mais garantido. Além de ser mais seguro pois as novas camadas se assentam sobre bases mais estáveis, a altura da barragem tende a não ser tão grande, uma vez que os custos tende a ser praticamente exponenciais, o que obrigaria os administradores a pensarem duas vezes antes de autorizar um aumento da altura da parede da barragem.
Os vídeos selecionados acima ajudarão a entender melhor as diferenças entre os modelos.
Fonte: YouTube, OVale
[Visto no Brasil Acadêmico]
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