Bhu Srinivasan estuda a interseção entre o capitalismo e o progresso tecnológico. Em vez de pensar no capitalismo como uma ideologia rígida ...
Bhu Srinivasan estuda a interseção entre o capitalismo e o progresso tecnológico. Em vez de pensar no capitalismo como uma ideologia rígida e inflexível, ele sugere que pensemos nele como um sistema operacional, que precisa de atualizações pra acompanhar as inovações, como a iminente decolagem dos serviços de entrega por meio de "drones". Descubra mais sobre o passado e o futuro do livre mercado (e de uma possível futura crise de identidade no que se refere à versão do capitalismo norte-americano) com esta palestra rápida e visionária.
O que é o capitalismo? Basicamente, o capitalismo é uma série de mercados. Podemos ter um mercado para limonada, um mercado para limões, um mercado para caminhões que transportam limões, um mercado para abastecer esses caminhões, mercados que comercializam madeira para construir tendas que vendem limonada. Porém, é claro, como sabemos, o capitalismo é um termo tanto celebrado quanto condenado, é venerado e também rechaçado. E estou aqui pra dizer que isso acontece pois o capitalismo, em sua versão moderna, é grandemente mal-compreendido.
No meu ponto de vista, o capitalismo não deve ser visto como uma ideologia, mas como um sistema operacional. Pensem nos seus iPhones. Eles são uma combinação de hardware e software, de aplicativos e hardware. Agora imaginem todo o hardware como toda a realidade física ao seu redor e imaginem os aplicativos como atividade empreendedora, energia criativa. Entre hardware e software, temos um sistema operacional. Assim como há avanços no hardware, há avanços no software, e o sistema operacional precisa acompanhar. Ele precisa ser reformulado, precisa ser atualizado e precisam ser lançadas as atualizações. Todas essas coisas têm que acontecer de forma simbiótica. O sistema operacional precisa evoluir cada vez mais para acompanhar as inovações.
É por isso, basicamente, que ao pensarmos na alegoria do sistema operacional, ele distingue a linguagem da ideologia daquilo que os defensores tradicionais do capitalismo pensam. Até na constituição norte-americana - antes mesmo que os fundadores chegassem à Primeira Emenda, com liberdade de expressão, de religião, de imprensa - notaremos que eles pensaram em patentes e direitos autorais. Eles falavam sobre o papel do governo na promoção das artes e das ciências. Por isso eu não posso abrir amanhã uma ferramenta de busca chamada “Goggle”.
(Risos)
A Google não é dona dos Gs, mas não poderia fazer isso porque poderia gerar confusão. Então, até os direitos de propriedade trazem ambiguidade, e por aí vai. No início do século 20, surgem outros tipos de propriedade.
Por exemplo, imaginem que, em 1900, você tivesse 100 acres de terras em algum lugar do meio-oeste dos EUA. É bem fácil ver que onde suas cercas terminam começam as terras do seu vizinho. Agora, eu pergunto: onde sua propriedade termina verticalmente? Será aos 300 metros de altura, aos 1,5 mil metros, aos 3 mil metros? Não faria diferença, porque, a não ser que passasse um ou outro balão por ali, os humanos não sabiam voar.
Dali a três anos, aprendemos a voar. De repente, passou a ser bem relevante saber se suas terras terminam a 300 metros de altura, a 1,5 mil metros, a 3 mil metros, e alguém precisa decidir isso. Foi exatamente isso que aconteceu. Daqui a cinco ou dez anos, quando a Amazon for entregar algo ao vizinho passando sobre o seu terreno, daquele caminhão de entregas, teremos que decidir se sua propriedade termina a 1,5 metros, a 3 metros, a 15 metros ou a 30 metros verticalmente. Onde termina? E não existe ideologia que vai dizer pra você onde sua propriedade termina. É um sistema operacional.
Da mesma forma, vamos ver isso acontecer com os automóveis. Alguns anos após os irmãos Wright descobrirem como voar, os humanos passaram a usar cada vez mais carros. De repente, o sistema regulador, ou operacional, teve de ser reformulado para garantir a segurança dos motoristas, pois os motoristas apresentavam riscos para cavalos, outros pedestres, carrinhos, ou o que vocês puderem imaginar. De repente, os motoristas desses carros tinham que ter carteira, fazer exames de vista, registrar seus carros, respeitar limites de velocidade, regras de trânsito, pra que cavalos, pedestres, etc., pudessem coexistir com os automóveis. Precisava haver uma adaptação reversa. Uma nova invenção tinha que basicamente se adaptar a avanços anteriores. Da mesma forma, daqui a cinco ou dez anos, veremos a mesma coisa com veículos autônomos, coexistindo com automóveis comuns.
Isso é importante porque, em dez anos, outra coisa vai acontecer além de “drones” e carros autônomos: veremos a maior economia mais valiosa do mundo, a maior economia do mundo, ser um país conduzido por comunistas. Os chineses parecem ser muitos bons em capitalismo. Isso vai gerar problemas fundamentais e uma crise de identidade para os Estados Unidos. Por muito tempo, os livres mercados coincidiram com liberdade de expressão, de imprensa, de religião, e, de repente, essa equação não será mais verdadeira. Quando isso acontecer, talvez achemos que a democracia, a multiplicidade de vozes, na verdade impossibilita o capitalismo porque um Estado que não possui nenhuma pretensão de governo limitado pode rapidamente baixar uma legislação regulatória para drones, para carros elétricos, para carros autônomos, para qualquer inovação tecnológica que ele acredite que possa superar as sociedades ocidentais.
Isso é algo bem particular na realidade norte-americana. Por isso é tão importante pensarmos no capitalismo norte-americano como um sistema operacional e não como uma ideologia. Quando pensamos nele como uma ideologia, podemos ter boa política se traduzindo em regras muito, muito ruins, e os resultados do mercado e as vozes democráticas e as batalhas por votos podem acabar sufocando o progresso.
Então, ao longo dos próximos anos, conforme esse ciclo político se desenrola, veremos a democracia norte-americana tentando enfrentar os desafios que o capitalismo e a modernidade acarretam. Eu peço aos legisladores que pensem separadamente ideologia e economia, e que pensem como boas regras podem no fim se tornar boa política.
Obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
O que é o capitalismo? Basicamente, o capitalismo é uma série de mercados. Podemos ter um mercado para limonada, um mercado para limões, um mercado para caminhões que transportam limões, um mercado para abastecer esses caminhões, mercados que comercializam madeira para construir tendas que vendem limonada. Porém, é claro, como sabemos, o capitalismo é um termo tanto celebrado quanto condenado, é venerado e também rechaçado. E estou aqui pra dizer que isso acontece pois o capitalismo, em sua versão moderna, é grandemente mal-compreendido.
No meu ponto de vista, o capitalismo não deve ser visto como uma ideologia, mas como um sistema operacional. Pensem nos seus iPhones. Eles são uma combinação de hardware e software, de aplicativos e hardware. Agora imaginem todo o hardware como toda a realidade física ao seu redor e imaginem os aplicativos como atividade empreendedora, energia criativa. Entre hardware e software, temos um sistema operacional. Assim como há avanços no hardware, há avanços no software, e o sistema operacional precisa acompanhar. Ele precisa ser reformulado, precisa ser atualizado e precisam ser lançadas as atualizações. Todas essas coisas têm que acontecer de forma simbiótica. O sistema operacional precisa evoluir cada vez mais para acompanhar as inovações.
É por isso, basicamente, que ao pensarmos na alegoria do sistema operacional, ele distingue a linguagem da ideologia daquilo que os defensores tradicionais do capitalismo pensam. Até na constituição norte-americana - antes mesmo que os fundadores chegassem à Primeira Emenda, com liberdade de expressão, de religião, de imprensa - notaremos que eles pensaram em patentes e direitos autorais. Eles falavam sobre o papel do governo na promoção das artes e das ciências. Por isso eu não posso abrir amanhã uma ferramenta de busca chamada “Goggle”.
(Risos)
A Google não é dona dos Gs, mas não poderia fazer isso porque poderia gerar confusão. Então, até os direitos de propriedade trazem ambiguidade, e por aí vai. No início do século 20, surgem outros tipos de propriedade.
Por exemplo, imaginem que, em 1900, você tivesse 100 acres de terras em algum lugar do meio-oeste dos EUA. É bem fácil ver que onde suas cercas terminam começam as terras do seu vizinho. Agora, eu pergunto: onde sua propriedade termina verticalmente? Será aos 300 metros de altura, aos 1,5 mil metros, aos 3 mil metros? Não faria diferença, porque, a não ser que passasse um ou outro balão por ali, os humanos não sabiam voar.
Dali a três anos, aprendemos a voar. De repente, passou a ser bem relevante saber se suas terras terminam a 300 metros de altura, a 1,5 mil metros, a 3 mil metros, e alguém precisa decidir isso. Foi exatamente isso que aconteceu. Daqui a cinco ou dez anos, quando a Amazon for entregar algo ao vizinho passando sobre o seu terreno, daquele caminhão de entregas, teremos que decidir se sua propriedade termina a 1,5 metros, a 3 metros, a 15 metros ou a 30 metros verticalmente. Onde termina? E não existe ideologia que vai dizer pra você onde sua propriedade termina. É um sistema operacional.
Da mesma forma, vamos ver isso acontecer com os automóveis. Alguns anos após os irmãos Wright descobrirem como voar, os humanos passaram a usar cada vez mais carros. De repente, o sistema regulador, ou operacional, teve de ser reformulado para garantir a segurança dos motoristas, pois os motoristas apresentavam riscos para cavalos, outros pedestres, carrinhos, ou o que vocês puderem imaginar. De repente, os motoristas desses carros tinham que ter carteira, fazer exames de vista, registrar seus carros, respeitar limites de velocidade, regras de trânsito, pra que cavalos, pedestres, etc., pudessem coexistir com os automóveis. Precisava haver uma adaptação reversa. Uma nova invenção tinha que basicamente se adaptar a avanços anteriores. Da mesma forma, daqui a cinco ou dez anos, veremos a mesma coisa com veículos autônomos, coexistindo com automóveis comuns.
Isso é importante porque, em dez anos, outra coisa vai acontecer além de “drones” e carros autônomos: veremos a maior economia mais valiosa do mundo, a maior economia do mundo, ser um país conduzido por comunistas. Os chineses parecem ser muitos bons em capitalismo. Isso vai gerar problemas fundamentais e uma crise de identidade para os Estados Unidos. Por muito tempo, os livres mercados coincidiram com liberdade de expressão, de imprensa, de religião, e, de repente, essa equação não será mais verdadeira. Quando isso acontecer, talvez achemos que a democracia, a multiplicidade de vozes, na verdade impossibilita o capitalismo porque um Estado que não possui nenhuma pretensão de governo limitado pode rapidamente baixar uma legislação regulatória para drones, para carros elétricos, para carros autônomos, para qualquer inovação tecnológica que ele acredite que possa superar as sociedades ocidentais.
Isso é algo bem particular na realidade norte-americana. Por isso é tão importante pensarmos no capitalismo norte-americano como um sistema operacional e não como uma ideologia. Quando pensamos nele como uma ideologia, podemos ter boa política se traduzindo em regras muito, muito ruins, e os resultados do mercado e as vozes democráticas e as batalhas por votos podem acabar sufocando o progresso.
Então, ao longo dos próximos anos, conforme esse ciclo político se desenrola, veremos a democracia norte-americana tentando enfrentar os desafios que o capitalismo e a modernidade acarretam. Eu peço aos legisladores que pensem separadamente ideologia e economia, e que pensem como boas regras podem no fim se tornar boa política.
Obrigado.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Visto no Brasil Acadêmico]
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