“Os seres humanos são obras em progresso que equivocadamente pensam que estão prontos.” Dan Gilbert compartilha uma pesquisa recente sobre u...
“Os seres humanos são obras em progresso que equivocadamente pensam que estão prontos.” Dan Gilbert compartilha uma pesquisa recente sobre um fenômeno que ele chama de “ilusão do fim da história”, onde nós, de alguma forma, imaginamos que a pessoa que somos agora é a pessoa que seremos até o fim da vida. Dica: não é bem assim.
Em todas as fases de nossas vidas tomamos decisões que influenciarão profundamente as vidas das pessoas que nos tornaremos, e, quando nos tornamos essas pessoas, nem sempre nos empolgamos com as decisões que tomamos. Pessoas jovens pagam caro para remover tatuagens que os adolescentes pagaram caro para fazer.
Pessoas de meia idade correm para divorciarem-se daqueles que os jovens adultos correram para casar. Adultos mais velhos se esforçam para perder o que adultos de meia idade se esforçaram para ganhar. É sempre a mesma coisa. Como psicólogo, a pergunta que me fascina é:
Bem, eu acho que uma das razões — vou tentar convencê-los hoje — é que temos uma ideia fundamentalmente errada a respeito do poder do tempo. Todos vocês sabem que a taxa de mudança desacelera ao longo da vida humana, que nossos filhos parecem mudar a cada minuto, mas nossos pais parecem mudar a cada ano. Mas qual é o nome desse ponto mágico na vida, onde a mudança de repente passa de um galope para um rastejo? Seria a adolescência? A meia idade? A terceira idade? Ao que parece, a resposta para a maioria das pessoas é “agora”, onde quer que esteja o “agora”. O que eu quero convencê-los hoje é de que todos nós estamos andando por aí com uma ilusão, uma ilusão de que a história, nossa história pessoal, acabou de chegar ao fim, de que recentemente nos tornamos a pessoa que estávamos destinados a ser, e seremos pelo resto de nossas vidas.
Vou lhes mostrar alguns dados para apoiar essa afirmação. Eis um estudo de mudanças no valor pessoal das pessoas ao longo do tempo. Aqui estão três valores. Todos aqui possuem todos eles, mas vocês devem saber que, conforme você cresce, à medida que envelhece, o equilíbrio destes valores muda. Então como acontece? Bem, nós perguntamos a milhares de pessoas. Pedimos à metade delas que previssem o quanto seus valores mudariam nos próximos 10 anos, e aos outros que nos dissessem o quanto seus valores tinham mudado nos últimos 10 anos. E isso nos permitiu fazer um tipo de análise bem interessante, porque nos permitiu comparar as previsões de pessoas, digamos, de 18 anos com os relatos de pessoas de 28, e fazer esse tipo de análise para toda a vida.
Eis o que descobrimos. Primeiro, você está certo, a mudança realmente desacelera à medida que envelhecemos, mas em segundo lugar você está errado, porque ela não desacelera nem de perto o quanto pensamos. Em todas as idades, de 18 a 68 em nosso conjunto de dados, as pessoas subestimaram muito o quanto de mudança elas sofreriam durante os próximos 10 anos. Nós chamamos isso de ilusão do “fim da história”. Para lhes dar uma ideia da magnitude desse efeito, podemos conectar essas duas linhas e o que vemos aqui é que jovens de 18 anos antecipam a mudança somente tanto quanto pessoas de 50 anos o fazem.
E não são só os valores. São todos os tipos de coisas. Por exemplo, personalidade. Muitos de vocês sabem que agora os psicólogos dizem que há 5 dimensões fundamentais de personalidade: neuroticismo, abertura a experiência, amabilidade, extroversão e consciência. De novo, perguntamos às pessoas o quanto elas esperavam mudar nos próximos 10 anos, e também o quanto tinham mudado nos últimos 10 anos, e o que descobrimos... vocês vão se acostumar com este diagrama, porque novamente, a taxa de mudança desacelera à medida que envelhecemos. Mas em todas as idades, as pessoas subestimam o quanto sua personalidade vai mudar na próxima década.
E não são somente coisas efêmeras como valores e personalidade. Podemos perguntar sobre seus gostos e desgostos, suas preferências básicas. Por exemplo, quem é seu melhor amigo, seu tipo favorito de férias, seu hobby favorito, seu tipo favorito de música. As pessoas conseguem dizer isso. Pedimos à metade delas para nos dizer: "Você acha que isso vai mudar nos próximos 10 anos?" e à outra metade para nos dizer: "Isso mudou nos últimos 10 anos?" E o que descobrimos, bem, já vimos isso duas vezes e aqui vai de novo: as pessoas preveem que o amigo que têm agora é o amigo que terão em 10 anos, as férias de que mais gostam agora é a mesma de que gostarão em 10 anos, e ainda assim, todas as pessoas 10 anos mais velhas dizem: “Eh, sabe, isso mudou mesmo.”
Qual é a importância disso? Será apenas um erro de previsão que não tem consequências? Não, é muito importante, e vou lhes dar um exemplo do motivo. Isso influencia nossa tomada de decisão, de forma importante. Pensem agora no seu músico favorito hoje, e seu músico favorito 10 anos atrás. Eu coloquei os meus na tela para ajudá-los. Então pedimos às pessoas que predissessem, que nos dissessem quanto elas pagariam agora para ver seu músico favorito atual em um show daqui a 10 anos e, em média, elas disseram que pagariam 129 dólares pelo ingresso. E quando perguntamos quanto elas pagariam para ver num show, hoje, a pessoa que era seu favorito 10 anos atrás, elas disseram apenas 80 dólares. Num mundo perfeitamente racional esses números deveriam ser iguais, mas pagamos mais pela oportunidade de satisfazer nossas preferências atuais porque superestimamos sua estabilidade.
Por que isso acontece? Não temos certeza, mas provavelmente tem a ver com a facilidade de lembrar contra a dificuldade de imaginar. A maioria de nós consegue lembrar quem éramos há 10 anos, mas temos dificuldade em imaginar quem seremos, então pensamos erroneamente que porque é difícil de imaginar, é improvável que aconteça. Desculpem, quando as pessoas dizem: “Não consigo imaginar”, normalmente estão falando de sua própria falta de imaginação, e não da improbabilidade do evento que estão descrevendo.
A questão é que o tempo é uma força poderosa. Ele transforma nossas preferências reformula nossos valores, altera nossas personalidades. Parece que apreciamos isso, mas somente em retrospecto. Só quando olhamos para trás, percebemos quanta mudança ocorre em uma década. É como se, para a maioria de nós, o presente fosse um tempo mágico. É um divisor de águas na linha do tempo. É o momento em que finalmente tornamo-nos nós mesmos.
A pessoa que você é agora é tão transiente, tão fugaz e tão temporária quanto todas as pessoas que você já foi. A única constante em nossa vida é a mudança.
Obrigado.
Fonte: TED, Abbott Brasil
[Visto no Brasil Acadêmico]
Em todas as fases de nossas vidas tomamos decisões que influenciarão profundamente as vidas das pessoas que nos tornaremos, e, quando nos tornamos essas pessoas, nem sempre nos empolgamos com as decisões que tomamos. Pessoas jovens pagam caro para remover tatuagens que os adolescentes pagaram caro para fazer.
Pessoas de meia idade correm para divorciarem-se daqueles que os jovens adultos correram para casar. Adultos mais velhos se esforçam para perder o que adultos de meia idade se esforçaram para ganhar. É sempre a mesma coisa. Como psicólogo, a pergunta que me fascina é:
Por que tomamos decisões das quais nos arrependeremos no futuro?
Bem, eu acho que uma das razões — vou tentar convencê-los hoje — é que temos uma ideia fundamentalmente errada a respeito do poder do tempo. Todos vocês sabem que a taxa de mudança desacelera ao longo da vida humana, que nossos filhos parecem mudar a cada minuto, mas nossos pais parecem mudar a cada ano. Mas qual é o nome desse ponto mágico na vida, onde a mudança de repente passa de um galope para um rastejo? Seria a adolescência? A meia idade? A terceira idade? Ao que parece, a resposta para a maioria das pessoas é “agora”, onde quer que esteja o “agora”. O que eu quero convencê-los hoje é de que todos nós estamos andando por aí com uma ilusão, uma ilusão de que a história, nossa história pessoal, acabou de chegar ao fim, de que recentemente nos tornamos a pessoa que estávamos destinados a ser, e seremos pelo resto de nossas vidas.
Vou lhes mostrar alguns dados para apoiar essa afirmação. Eis um estudo de mudanças no valor pessoal das pessoas ao longo do tempo. Aqui estão três valores. Todos aqui possuem todos eles, mas vocês devem saber que, conforme você cresce, à medida que envelhece, o equilíbrio destes valores muda. Então como acontece? Bem, nós perguntamos a milhares de pessoas. Pedimos à metade delas que previssem o quanto seus valores mudariam nos próximos 10 anos, e aos outros que nos dissessem o quanto seus valores tinham mudado nos últimos 10 anos. E isso nos permitiu fazer um tipo de análise bem interessante, porque nos permitiu comparar as previsões de pessoas, digamos, de 18 anos com os relatos de pessoas de 28, e fazer esse tipo de análise para toda a vida.
Eis o que descobrimos. Primeiro, você está certo, a mudança realmente desacelera à medida que envelhecemos, mas em segundo lugar você está errado, porque ela não desacelera nem de perto o quanto pensamos. Em todas as idades, de 18 a 68 em nosso conjunto de dados, as pessoas subestimaram muito o quanto de mudança elas sofreriam durante os próximos 10 anos. Nós chamamos isso de ilusão do “fim da história”. Para lhes dar uma ideia da magnitude desse efeito, podemos conectar essas duas linhas e o que vemos aqui é que jovens de 18 anos antecipam a mudança somente tanto quanto pessoas de 50 anos o fazem.
E não são só os valores. São todos os tipos de coisas. Por exemplo, personalidade. Muitos de vocês sabem que agora os psicólogos dizem que há 5 dimensões fundamentais de personalidade: neuroticismo, abertura a experiência, amabilidade, extroversão e consciência. De novo, perguntamos às pessoas o quanto elas esperavam mudar nos próximos 10 anos, e também o quanto tinham mudado nos últimos 10 anos, e o que descobrimos... vocês vão se acostumar com este diagrama, porque novamente, a taxa de mudança desacelera à medida que envelhecemos. Mas em todas as idades, as pessoas subestimam o quanto sua personalidade vai mudar na próxima década.
E não são somente coisas efêmeras como valores e personalidade. Podemos perguntar sobre seus gostos e desgostos, suas preferências básicas. Por exemplo, quem é seu melhor amigo, seu tipo favorito de férias, seu hobby favorito, seu tipo favorito de música. As pessoas conseguem dizer isso. Pedimos à metade delas para nos dizer: "Você acha que isso vai mudar nos próximos 10 anos?" e à outra metade para nos dizer: "Isso mudou nos últimos 10 anos?" E o que descobrimos, bem, já vimos isso duas vezes e aqui vai de novo: as pessoas preveem que o amigo que têm agora é o amigo que terão em 10 anos, as férias de que mais gostam agora é a mesma de que gostarão em 10 anos, e ainda assim, todas as pessoas 10 anos mais velhas dizem: “Eh, sabe, isso mudou mesmo.”
Qual é a importância disso? Será apenas um erro de previsão que não tem consequências? Não, é muito importante, e vou lhes dar um exemplo do motivo. Isso influencia nossa tomada de decisão, de forma importante. Pensem agora no seu músico favorito hoje, e seu músico favorito 10 anos atrás. Eu coloquei os meus na tela para ajudá-los. Então pedimos às pessoas que predissessem, que nos dissessem quanto elas pagariam agora para ver seu músico favorito atual em um show daqui a 10 anos e, em média, elas disseram que pagariam 129 dólares pelo ingresso. E quando perguntamos quanto elas pagariam para ver num show, hoje, a pessoa que era seu favorito 10 anos atrás, elas disseram apenas 80 dólares. Num mundo perfeitamente racional esses números deveriam ser iguais, mas pagamos mais pela oportunidade de satisfazer nossas preferências atuais porque superestimamos sua estabilidade.
Por que isso acontece? Não temos certeza, mas provavelmente tem a ver com a facilidade de lembrar contra a dificuldade de imaginar. A maioria de nós consegue lembrar quem éramos há 10 anos, mas temos dificuldade em imaginar quem seremos, então pensamos erroneamente que porque é difícil de imaginar, é improvável que aconteça. Desculpem, quando as pessoas dizem: “Não consigo imaginar”, normalmente estão falando de sua própria falta de imaginação, e não da improbabilidade do evento que estão descrevendo.
A questão é que o tempo é uma força poderosa. Ele transforma nossas preferências reformula nossos valores, altera nossas personalidades. Parece que apreciamos isso, mas somente em retrospecto. Só quando olhamos para trás, percebemos quanta mudança ocorre em uma década. É como se, para a maioria de nós, o presente fosse um tempo mágico. É um divisor de águas na linha do tempo. É o momento em que finalmente tornamo-nos nós mesmos.
Os seres humanos são obras em progresso, que equivocadamente pensam que estão prontos.
A pessoa que você é agora é tão transiente, tão fugaz e tão temporária quanto todas as pessoas que você já foi. A única constante em nossa vida é a mudança.
Obrigado.
Fonte: TED, Abbott Brasil
[Visto no Brasil Acadêmico]
Exemplos tão superficiais de "mudança"! Tampouco abordam questões fundamentais: O tempo nos faz mudar para melhor ou para pior? É o tempo, em si mesmo, fator de "mudança"? Qual a "mudança" que seria realmente significativa em nossas vidas? Entendo o pouco tempo da palestra e o seu objetivo central, mas quanto tempo precisamos para apenas ler as questões acima? Sem uma abordagem destas considerações o resultado é o tremendo equívoco de julgar que o tempo em si significa progresso ou melhoria, enquanto as leis da termodinâmica demonstram o contrário (ah, sim, também podemos assistir os noticiários nacionais e internacionais). Ainda,infelizes daqueles que veem a solução em apressar os processos de decadência e destruição para se chegar a um mundo "melhor".
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